Groucho-Marxismo
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Groucho-Marxismo
“O groucho-marxismo, teoria da revolução pela comédia, é muito mais do que um esquema para a luta de classes: como uma luz vermelha na janela, ilumina o destino inevitável da humanidade, a sociedade déclassé. O groucho-marxismo é a teoria do deleite permanente”, explica logo nas primeiras linhas Bob Black, ativista, cientista social norte-americano e autor do mais novo título da Coleção Baderna: Groucho-Marxismo.
O cientista social de extrema esquerda questiona o comportamento dos militantes de esquerdas, “pseudo intelectuais” que, segundo ele, estão preocupados em se mostrar responsáveis para serem aceitos nos “grandes salões” da sociedade. Para Bob Black, os pervertidos sexuais não são mais os membros da TFP, mas sim a esquerda, a única que defende sinceramente a tradição, a família e a propriedade.
Autor de textos polêmicos publicados em veículos como o Wall Street Journal e a revista Village Voice, o escritor faz uma verdadeira ode ao que ele entitulou de teoria groucho-marxista. Não se trata de anarquismo ou de uma teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos. “Os anarquistas não se entendem sobre trabalho, industrialismo, sindicalismo, urbanismo, ciência, liberdade sexual, religião e um sem-número de coisas mais importantes, especialmente quando tomadas em conjunto. Há mais pontos discordantes do que qualquer coisa que os una”, afirma Black em um dos capítulos do livro entitulado “Meu problema com o anarquismo”, dedicado ao pensamento anarquista.
Já sobre o marxismo, no capítulo destinado a tratar as “Palavras de Poder”, Bob Black é taxativo: trata-se do “estágio mais elevado do capitalismo”. Outras palavras de poder que merecem destaque:
Arte? Um substituto cada vez mais inadequado para o sexo.
Civilização? A doença de pele da biosfera.
Política? Como um brejo – tudo o que é sujo acaba subindo.
Serviço militar? Conheça o abatedouro.
Punks? Hippies com amnésia.
Punques? Punks que cursam escolas de arte.
O rock? Tem um grande futuro por trás.
Vegetarianos? Você é o que come.
Vida após morte? Por que esperar?
Com muito humor, a linha filosófica groucho-marxista prega que “se a revolução não servir para dançar e rir, não será nossa revolução”.
O Groucho Marxismo não se trata de simples anarquismo e nem mesmo de uma nova teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos políticos.
Há dois poilares no "groucho-marxismo":
O elogio ao ócio
O humor como método de desconstrução filosófica
Ele avalia todos os lados da moeda, inclusive o “não-trabalho”: “O lazer é o não-trabalho em nome do trabalho. O lazer é o tempo gasto se recuperando do trabalho e na frenética, porém vã, tentativa de esquecer o trabalho”. Bob Black vai mais além: “A principal diferença entre o trabalho e o lazer é que trabalhando pelo menos você é pago por sua alienação e exasperação”.
O Elogio Ao Ócio
A crítica principal é que tanto o socialismo como o capitalismo são viciados em trabalho e centrados em meios de produção e crescimento. A única diferença é quem está segurando o chicote. Por outro lado o historiador Heródoto identificou o desprezo pelo trabalho como um atributo dos gregos clássicos no auge de sua cultura. Assim o Groucho Marxismo desenvolve uma proposta interessantíssima: a criação da sociedade da vagabundagem. Embora pareça algo ingênuo inicialmente suas teses são bem fundamentadas.
Para começar a entender o quão preso estamos no paradigma do trabalho basta ver que mesmo nossos momentos de lazer são subordinados a ele. O lazer é atualmente o não-trabalho em nome do trabalho. É apenas o tempo gasto se recuperando do trabalho na frenética, porém vã, tentativa de esquecê-lo.
O video a seguir foi feito tendo como base um dos textos de Bob Black, chamado "A Abolição do Trabalho" onde são apresentados alguns dos argumentos contundentes dos Groucho Marxistas contra uma dos grandes sonhos de todos os sistemas econômicos: a questão do pleno emprego.
O Humor como Método de Desconstrução Filosófica
Outra parte importante do Grouxho Marxismo é o senso de humor. Parafraseando Emma Goldman "Se não posso rir e dançar, esta não é minha revolução". É graças a esta leveza (ou levianidade?) que os groucho marxistas conseguem, inspirados no ácido gênio do humor que lhe inspirou, criticar a tudo e a todos, incluindo a si mesmo. Eles sabem que o próprio Groucho Marxismo mais enfia o dedo na ferida do que provê soluções em qualquer coisa que seja. No capitalismo o regime é oligarico, no socialismo o regime é a ditadura do proletariado, mas no groucho marxismo o regime só começa na segunda.
Este humor só pode ser completamente apreciado lendo uma das obras de Bob Black ou conversando diretamente com um groucho marxista, mas está também de certa forma presente em alguns slogans e citações comuns que merecem destaque, muitas delas tiradas do próprio Groucho Marx original e raramente creditadas:
Trabalhadores do mundo... relaxem!
Em astronomia "revolução" quer dizer uma volta inteira que acaba no mesmo lugar. Em política é mais ou menos a mesma coisa.
Há muitas coisas na vida mais importantes que o dinheiro. Mas são muito caras.
Só há um forma de saber se um homem é honesto... pergunte-o. Se ele disser 'sim', então você sabe que ele é corrupto.
A televisão é muito educativa. Toda as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro.
Inteligência Militar é uma contradição em termos.
A política é a arte de procurar problemas, encontrá-los em todos os lados, diagnosticá-los incorrectamente e aplicar as piores soluções.
O matrimônio é a principal causa do divórcio.
Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio.
Por que eu deveria me importar com a posteridade? Ela nunca fez nada por mim.
Eu não posso dizer que não discordo de você.
Ainda assim, políticos são os mentirosos ideais. É para mentir (além de dar ordens) que nós lhes pagamos, ou melhor, que eles se pagam com nossos impostos.
Em quem você vai acreditar? Em mim ou nos seus olhos?
Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.
“[Bob Black] supera qualquer ensaísta político vivo... o trocadilho mais rápido do Oeste”, define Hakim Bey, outro autor da Conrad – escreveu Caos - Terrorismo Poético e outros Crimes Exemplares e TAZ Zona Autônoma Temporária, também da Coleção Baderna
O autor
Bob Black tem uma formação acadêmica respeitável (graduações em ciências sociais e direito, dois títulos de mestrado), mas rejeitou desde o início os dois caminhos principais apresentados à intelectualidade “séria”: a segmentação cientificista liberal ou o cinismo da esquerda frígida. Em vez disso, tornou-se famoso pelos cartazes anarquistas/situacionistas/absurdistas que criou à frente da “Última Internacional”, entre 1977 e 1983
Além da ação panfletária, escreveu também centenas de ensaios, distribuídos indistintamente entre periódicos anarquistas, jornais da área de direito e órgãos da grande imprensa, como Wall Street Journal, Village Voice, Semiotext(e) e Re/Search. Publicou Friendly Fire, em 1992, Beneath the Underground, em 1994, e Anarchy after Leftism, em 1996. O texto The Abolition of Work and Other Essays que faz parte do livro Groucho-Marxismo - é o capítulo “A abolição do trabalho” - foi publicado originalmente em 1985. Também foi um dos pioneiros na divulgação do situacionismo nas Américas. Sua capacidade singular para criar jogos de palavras, aliada ao humor ácido e ao conhecimento teórico, faz dele um dos grandes nomes do anarquismo heterodoxo.
Fontes:
http://www.portal364.com/m5.asp?cod_noticia=9155&cod_pagina=1013
http://www.mortesubita.org/miscelania/textos-diversos/manifesto-groucho-marxista
TESES SOBRE O GROUCHO-MARXISMO
Bob Black
1
Groucho-marxismo, a teoria da revolução cômica, é muito mais que um projeto para a luta de classes: como uma luz vermelha numa janela, ele ilumina o destino inevitável da humanidade, a sociedade desclassificada (1). G-Marxismo é a teoria da folia permanente. (Aí, garoto! Até que enfim, eis um ótimo dogma).
2
O exemplo dos próprios Irmãos Marx mostra a unidade da teoria e prática marxista (por exemplo, quando Groucho insulta alguém enquanto Harpo depena sua carteira ). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o clássico comediante dialético?). Comediantes que fracassam em sintetizar teoria e prática (para não
mencionar aqueles que fracassam totalmente em pecar) são não-marxistas. Comediantes posteriores, fracassando em entender que a separação é “o discreto charme da burguesia”, decaíram para meras gafes, por um lado, e mera tagarelice, por outro.
3
Como o G-Marxismo é prático, seus feitos não podem nunca ser reduzidos ao mero humor, entretenimento ou “arte”. (Os estetas, afinal de contas, estão menos interessados na interpretação da arte do que na arte que interpreta.) Depois que um genuíno marxista assiste a um filme dos Irmãos Marx, ele diz para si mesmo:
“Se você achou isso engraçado, preste atenção à sua vida!”.
4
G-marxistas contemporâneos devem decididamente denunciar o “Marxismo” vulgar, de imitação, dos Três Patetas, Monty Python, e Pernalonga. Em vez do marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Retoficação (2) serve igualmente para aqueles camaradas desiludidos que pensam que “a linha
correta” é o que o tira faz quando manda eles pararem no acostamento.
5
Marxistas com consciência de classe (isto é, marxistas conscientes de que não possuem nenhuma classe) devem rejeitar a “comédia” anêmica, da moda, narcisista, de revisionistas cômicos como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução cômica já ultrapassou a mera neurose – ela é risonha mas não risível, discriminante mas
não discriminatória, militante mas não militar, e aventurosa mas não aventureira. Os marxistas percebem que hoje você deve olhar no espelho de uma casa assombrada de parque de diversões para se ver da forma que você realmente é.
6
Embora não totalmente desprovido de vislumbres de insight marxista, o (sur)realismo socialista deve ser distinguido do G-Marxismo. É verdade que Salvador Dali deu uma vez a Harpo uma harpa feita com arame farpado; no entanto, não há nenhuma evidência de que Harpo alguma vez a tenha tocado.
7
Acima de tudo, é essencial renunciar e execrar todo sectarismo cômico como o dos trotskos eqüinos. Como é bem sabido, Groucho repetidamente propunha o sexo mas se opunha às seitas. Para Groucho, havia uma diferença entre ser um trotsko e estar louco para “trotar” (3). Além disso, o slogan trotsko “Salários para o
Trabalho Eqüino” cheira a reforma, não a folia. Os esforços trotskos para reivindicar Um dia nas Corridas e Os Gênios da Pelota como de sua tendência devem ser indignadamente rejeitados; na verdade, A Mocidade é Assim Mesmo está mais na velocidade deles (4).
8
O assunto mais urgente que os G-Marxistas confrontam hoje é a questão do partido (5), que - ao invés do que pensam “marxistas” ingênuos, reducionistas – é mais que apenas “Por que não fui convidado?” Isso nunca foi impedimento para Groucho! Os marxistas precisam de seu próprio partido disciplinado de vanguarda, pois
eles são raramente bem-vindos aos de qualquer outro.
9
Guiadas pelos dogmas fundamentais do desbehaviorismo e do materialismo histérico, as massas inevitavelmente abraçarão, não apenas o G-Marxismo, mas também mutuamente uns aos outros.
10
O Groucho Marxismo, então, é o tour de farce da comédia. Como seguramente se diz que Harpo falou:
“Em outras palavras, a comédia será revoltosa ou não será!” Tanto por fazer, tantos para fazê-lo! Sobre seus Marx, está dada a largada! (6)
Notas:
1. No original, déclassé. (N. do Tradutor)
2. “Rectumfication”, neologismo bricalhão que Black inventou a partir de “retificação” e “reto” (rectum, canal do ânus). (N. do T.)
3. Trocadilho aqui intraduzível entre “Trots” (trotskistas) e “hot to trot” (excitado para trepar), sem esquecer a brincadeira com os eqüinos pois “to trot” significa trotar. (N. do T.)
4. Um dia nas Corridas (A Day in the Races) e Os Gênios da Pelota (Horse Feathers) são filmes dos Irmãos Marx, enquanto A Mocidade é Assim Mesmo (National Velvet) é um velho drama onde Liz Taylor atuou ainda garota. (N. do T.)
5. Mais um trocadilho neste texto pleno deles: “party” é tanto partido quanto festa em inglês. Para entender a piada melhor, leia o parágrafo com os dois significados, substituindo onde houver “partido” por “festa”. (N. do T.)
6. Outro trocadilho praticamente intraduzível, desta vez com a exclamação que dá início a competições de corrida : “On your marks, get set –go!” aqui trocada por “On your Marx, get set – go!”. (N. do T.)
Tradução de Ricardo Rosas
Fontes:
Página de Bob Black na Spunk: http://www.spunk.org/library/writers/black/
Rizoma: http://www.rizoma.net/interna.php?id=162&secao=intervencao
O cientista social de extrema esquerda questiona o comportamento dos militantes de esquerdas, “pseudo intelectuais” que, segundo ele, estão preocupados em se mostrar responsáveis para serem aceitos nos “grandes salões” da sociedade. Para Bob Black, os pervertidos sexuais não são mais os membros da TFP, mas sim a esquerda, a única que defende sinceramente a tradição, a família e a propriedade.
Autor de textos polêmicos publicados em veículos como o Wall Street Journal e a revista Village Voice, o escritor faz uma verdadeira ode ao que ele entitulou de teoria groucho-marxista. Não se trata de anarquismo ou de uma teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos. “Os anarquistas não se entendem sobre trabalho, industrialismo, sindicalismo, urbanismo, ciência, liberdade sexual, religião e um sem-número de coisas mais importantes, especialmente quando tomadas em conjunto. Há mais pontos discordantes do que qualquer coisa que os una”, afirma Black em um dos capítulos do livro entitulado “Meu problema com o anarquismo”, dedicado ao pensamento anarquista.
Já sobre o marxismo, no capítulo destinado a tratar as “Palavras de Poder”, Bob Black é taxativo: trata-se do “estágio mais elevado do capitalismo”. Outras palavras de poder que merecem destaque:
Arte? Um substituto cada vez mais inadequado para o sexo.
Civilização? A doença de pele da biosfera.
Política? Como um brejo – tudo o que é sujo acaba subindo.
Serviço militar? Conheça o abatedouro.
Punks? Hippies com amnésia.
Punques? Punks que cursam escolas de arte.
O rock? Tem um grande futuro por trás.
Vegetarianos? Você é o que come.
Vida após morte? Por que esperar?
Com muito humor, a linha filosófica groucho-marxista prega que “se a revolução não servir para dançar e rir, não será nossa revolução”.
O Groucho Marxismo não se trata de simples anarquismo e nem mesmo de uma nova teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos políticos.
Há dois poilares no "groucho-marxismo":
O elogio ao ócio
O humor como método de desconstrução filosófica
Ele avalia todos os lados da moeda, inclusive o “não-trabalho”: “O lazer é o não-trabalho em nome do trabalho. O lazer é o tempo gasto se recuperando do trabalho e na frenética, porém vã, tentativa de esquecer o trabalho”. Bob Black vai mais além: “A principal diferença entre o trabalho e o lazer é que trabalhando pelo menos você é pago por sua alienação e exasperação”.
O Elogio Ao Ócio
A crítica principal é que tanto o socialismo como o capitalismo são viciados em trabalho e centrados em meios de produção e crescimento. A única diferença é quem está segurando o chicote. Por outro lado o historiador Heródoto identificou o desprezo pelo trabalho como um atributo dos gregos clássicos no auge de sua cultura. Assim o Groucho Marxismo desenvolve uma proposta interessantíssima: a criação da sociedade da vagabundagem. Embora pareça algo ingênuo inicialmente suas teses são bem fundamentadas.
Para começar a entender o quão preso estamos no paradigma do trabalho basta ver que mesmo nossos momentos de lazer são subordinados a ele. O lazer é atualmente o não-trabalho em nome do trabalho. É apenas o tempo gasto se recuperando do trabalho na frenética, porém vã, tentativa de esquecê-lo.
O video a seguir foi feito tendo como base um dos textos de Bob Black, chamado "A Abolição do Trabalho" onde são apresentados alguns dos argumentos contundentes dos Groucho Marxistas contra uma dos grandes sonhos de todos os sistemas econômicos: a questão do pleno emprego.
O Humor como Método de Desconstrução Filosófica
Outra parte importante do Grouxho Marxismo é o senso de humor. Parafraseando Emma Goldman "Se não posso rir e dançar, esta não é minha revolução". É graças a esta leveza (ou levianidade?) que os groucho marxistas conseguem, inspirados no ácido gênio do humor que lhe inspirou, criticar a tudo e a todos, incluindo a si mesmo. Eles sabem que o próprio Groucho Marxismo mais enfia o dedo na ferida do que provê soluções em qualquer coisa que seja. No capitalismo o regime é oligarico, no socialismo o regime é a ditadura do proletariado, mas no groucho marxismo o regime só começa na segunda.
Este humor só pode ser completamente apreciado lendo uma das obras de Bob Black ou conversando diretamente com um groucho marxista, mas está também de certa forma presente em alguns slogans e citações comuns que merecem destaque, muitas delas tiradas do próprio Groucho Marx original e raramente creditadas:
Trabalhadores do mundo... relaxem!
Em astronomia "revolução" quer dizer uma volta inteira que acaba no mesmo lugar. Em política é mais ou menos a mesma coisa.
Há muitas coisas na vida mais importantes que o dinheiro. Mas são muito caras.
Só há um forma de saber se um homem é honesto... pergunte-o. Se ele disser 'sim', então você sabe que ele é corrupto.
A televisão é muito educativa. Toda as vezes que alguém liga o aparelho, vou para outra sala e leio um livro.
Inteligência Militar é uma contradição em termos.
A política é a arte de procurar problemas, encontrá-los em todos os lados, diagnosticá-los incorrectamente e aplicar as piores soluções.
O matrimônio é a principal causa do divórcio.
Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio.
Por que eu deveria me importar com a posteridade? Ela nunca fez nada por mim.
Eu não posso dizer que não discordo de você.
Ainda assim, políticos são os mentirosos ideais. É para mentir (além de dar ordens) que nós lhes pagamos, ou melhor, que eles se pagam com nossos impostos.
Em quem você vai acreditar? Em mim ou nos seus olhos?
Estes são os meus princípios. Se você não gosta deles, eu tenho outros.
“[Bob Black] supera qualquer ensaísta político vivo... o trocadilho mais rápido do Oeste”, define Hakim Bey, outro autor da Conrad – escreveu Caos - Terrorismo Poético e outros Crimes Exemplares e TAZ Zona Autônoma Temporária, também da Coleção Baderna
O autor
Bob Black tem uma formação acadêmica respeitável (graduações em ciências sociais e direito, dois títulos de mestrado), mas rejeitou desde o início os dois caminhos principais apresentados à intelectualidade “séria”: a segmentação cientificista liberal ou o cinismo da esquerda frígida. Em vez disso, tornou-se famoso pelos cartazes anarquistas/situacionistas/absurdistas que criou à frente da “Última Internacional”, entre 1977 e 1983
Além da ação panfletária, escreveu também centenas de ensaios, distribuídos indistintamente entre periódicos anarquistas, jornais da área de direito e órgãos da grande imprensa, como Wall Street Journal, Village Voice, Semiotext(e) e Re/Search. Publicou Friendly Fire, em 1992, Beneath the Underground, em 1994, e Anarchy after Leftism, em 1996. O texto The Abolition of Work and Other Essays que faz parte do livro Groucho-Marxismo - é o capítulo “A abolição do trabalho” - foi publicado originalmente em 1985. Também foi um dos pioneiros na divulgação do situacionismo nas Américas. Sua capacidade singular para criar jogos de palavras, aliada ao humor ácido e ao conhecimento teórico, faz dele um dos grandes nomes do anarquismo heterodoxo.
Fontes:
http://www.portal364.com/m5.asp?cod_noticia=9155&cod_pagina=1013
http://www.mortesubita.org/miscelania/textos-diversos/manifesto-groucho-marxista
TESES SOBRE O GROUCHO-MARXISMO
Bob Black
1
Groucho-marxismo, a teoria da revolução cômica, é muito mais que um projeto para a luta de classes: como uma luz vermelha numa janela, ele ilumina o destino inevitável da humanidade, a sociedade desclassificada (1). G-Marxismo é a teoria da folia permanente. (Aí, garoto! Até que enfim, eis um ótimo dogma).
2
O exemplo dos próprios Irmãos Marx mostra a unidade da teoria e prática marxista (por exemplo, quando Groucho insulta alguém enquanto Harpo depena sua carteira ). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o clássico comediante dialético?). Comediantes que fracassam em sintetizar teoria e prática (para não
mencionar aqueles que fracassam totalmente em pecar) são não-marxistas. Comediantes posteriores, fracassando em entender que a separação é “o discreto charme da burguesia”, decaíram para meras gafes, por um lado, e mera tagarelice, por outro.
3
Como o G-Marxismo é prático, seus feitos não podem nunca ser reduzidos ao mero humor, entretenimento ou “arte”. (Os estetas, afinal de contas, estão menos interessados na interpretação da arte do que na arte que interpreta.) Depois que um genuíno marxista assiste a um filme dos Irmãos Marx, ele diz para si mesmo:
“Se você achou isso engraçado, preste atenção à sua vida!”.
4
G-marxistas contemporâneos devem decididamente denunciar o “Marxismo” vulgar, de imitação, dos Três Patetas, Monty Python, e Pernalonga. Em vez do marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Retoficação (2) serve igualmente para aqueles camaradas desiludidos que pensam que “a linha
correta” é o que o tira faz quando manda eles pararem no acostamento.
5
Marxistas com consciência de classe (isto é, marxistas conscientes de que não possuem nenhuma classe) devem rejeitar a “comédia” anêmica, da moda, narcisista, de revisionistas cômicos como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução cômica já ultrapassou a mera neurose – ela é risonha mas não risível, discriminante mas
não discriminatória, militante mas não militar, e aventurosa mas não aventureira. Os marxistas percebem que hoje você deve olhar no espelho de uma casa assombrada de parque de diversões para se ver da forma que você realmente é.
6
Embora não totalmente desprovido de vislumbres de insight marxista, o (sur)realismo socialista deve ser distinguido do G-Marxismo. É verdade que Salvador Dali deu uma vez a Harpo uma harpa feita com arame farpado; no entanto, não há nenhuma evidência de que Harpo alguma vez a tenha tocado.
7
Acima de tudo, é essencial renunciar e execrar todo sectarismo cômico como o dos trotskos eqüinos. Como é bem sabido, Groucho repetidamente propunha o sexo mas se opunha às seitas. Para Groucho, havia uma diferença entre ser um trotsko e estar louco para “trotar” (3). Além disso, o slogan trotsko “Salários para o
Trabalho Eqüino” cheira a reforma, não a folia. Os esforços trotskos para reivindicar Um dia nas Corridas e Os Gênios da Pelota como de sua tendência devem ser indignadamente rejeitados; na verdade, A Mocidade é Assim Mesmo está mais na velocidade deles (4).
8
O assunto mais urgente que os G-Marxistas confrontam hoje é a questão do partido (5), que - ao invés do que pensam “marxistas” ingênuos, reducionistas – é mais que apenas “Por que não fui convidado?” Isso nunca foi impedimento para Groucho! Os marxistas precisam de seu próprio partido disciplinado de vanguarda, pois
eles são raramente bem-vindos aos de qualquer outro.
9
Guiadas pelos dogmas fundamentais do desbehaviorismo e do materialismo histérico, as massas inevitavelmente abraçarão, não apenas o G-Marxismo, mas também mutuamente uns aos outros.
10
O Groucho Marxismo, então, é o tour de farce da comédia. Como seguramente se diz que Harpo falou:
“Em outras palavras, a comédia será revoltosa ou não será!” Tanto por fazer, tantos para fazê-lo! Sobre seus Marx, está dada a largada! (6)
Notas:
1. No original, déclassé. (N. do Tradutor)
2. “Rectumfication”, neologismo bricalhão que Black inventou a partir de “retificação” e “reto” (rectum, canal do ânus). (N. do T.)
3. Trocadilho aqui intraduzível entre “Trots” (trotskistas) e “hot to trot” (excitado para trepar), sem esquecer a brincadeira com os eqüinos pois “to trot” significa trotar. (N. do T.)
4. Um dia nas Corridas (A Day in the Races) e Os Gênios da Pelota (Horse Feathers) são filmes dos Irmãos Marx, enquanto A Mocidade é Assim Mesmo (National Velvet) é um velho drama onde Liz Taylor atuou ainda garota. (N. do T.)
5. Mais um trocadilho neste texto pleno deles: “party” é tanto partido quanto festa em inglês. Para entender a piada melhor, leia o parágrafo com os dois significados, substituindo onde houver “partido” por “festa”. (N. do T.)
6. Outro trocadilho praticamente intraduzível, desta vez com a exclamação que dá início a competições de corrida : “On your marks, get set –go!” aqui trocada por “On your Marx, get set – go!”. (N. do T.)
Tradução de Ricardo Rosas
Fontes:
Página de Bob Black na Spunk: http://www.spunk.org/library/writers/black/
Rizoma: http://www.rizoma.net/interna.php?id=162&secao=intervencao
Re: Groucho-Marxismo
Manifesto Comedianista
Um fantasma ronda a Representança - o fantasma do comedianismo.
Todas as impotências políticas se unem numa aliança Nonsense para conjurá-lo: toskistas e sacerdotes do neo-liberalismo, caciquistas e dançarinos de polca, leninistas e as viúvas do estado-de-bem-estar. Ao ouvir 'os comedianistas estão chegando' até mesmo os anômicos cerram seus punhos!
Que manifestação expontânea e divertida não foi acusada de 'engraçadinha' por seus adversários? Que oposição por sua vez não se sentiu ofendida com uma tortada, vinda da direita ou da esquerda, recheada de chantilly e engraçadismo?
Duas conclusões decorrem desses fatos:
1) O comedianismo já é reconhecido como um força debochademente perigosa por todas as correntes políticas da representaça.
2) Já é tempo dos comedianistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, suas piadas, suas ironias, seus sarcasmos, contrapondo o escracho de seu manifesto às patifarias ideotrágicas e cinzentices habituais.
PARTE 1 - REPRESENTANTES E DEBOCHADOS
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das guerras de tortas. Homem livre entorta o escravo, o patrício tortilha o plebeu, o senhor torteia o servo, numa palavra, torteadores e torteados, representantes e representados, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que termina sempre com mais de uma pessoa com a cara lambuzada, ou após o aumento súbito no preço do chantilly devido a demanda.
A representança moderna, que brotou das ruínas do poder divinamente instituído, sempre foi antagônica ao riso. Criando uns cem mecanismos para punir aqueles que se opuseram a sua total falta de humor, velhas condições de opressão, novas formas de conter a gargalhada.
Entretanto, a nossa época, a época da representança, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: exploradores-representantes e representados-explorados. Debocharemos de ambos 1) se os representantes não abrirem mão de sua representança e 2) se os representados continuarem bundisticamente estáticos diante da condição dos primeiros.
De todos os grupos que hoje se contrapõem a representança, só os comedianistas constituem um grupo verdadeiramente engraçado. Todos os demais desaparecem ante a sisudez e a chatice dos eleitoreiros; os engraçadinhos, ao contrário, são, em parte, frutos desta mesma chatice.
Todos os movimentos precedentes foram movimentos de minorias. O Movimento comedianista é o movimento autônomo da gargalhada em proveito da imensa maioria. Maioria que é relegada a um segundo plano, chamada de eleitora, pelega, alienada e que tem como única utilidade votar cabrestamente. É comumente proferido em alto e bom som, em microfones, televisores, rádios e palanques “Cidadão, exerça seus direitos. Vote!” e ninguém mais sequer fica corado diante de tal estapafúrdia.
A condição essencial da existência e da supremacia eleitoreira é a acumulação da legitimidade nas mãos de uns poucos que independente de sua orientação ideológica se tornam tediosas elites. Seus interesses geralmente se assemelham: A formação de quadros, o crescimento da influência do partido, marketismo visando ás próximas eleições. Sua legitimidade está fundamentada no eterno desempoderamento que exercem sobre os passivos eleitores.
O progresso do analfabetismo político se deve em grande medida à representância, esta tendo atingido seu cume, está nos nossos dias caindo vertiginosamente indo de encontro com os fortes indícios sustentados pelo movimento internacional comedianistas de que "pra baixo todo santo ajuda".
Assim, o desenvolvimento de um grande escracho que chacoalhe o terreno em que a representança assentou seu regime de expropriação política não só é viável mas está em andamento. Os representantes são, sobre tudo, personagens excelentes para a produção quadrinhos debochados, trotes originais, boatos incriminadores e piadas desprestigiantes. Sua queda (no ridículo) e a vitória dos comedianistas são igualmente inevitáveis.
PARTE 2 - COMEDIANISTAS E APARTIDÁRIOS
Qual a posição dos comedianistas diante dos apartidários em geral? Os comedianistas não formam um grupo à parte, oposto aos outros grupos horizontais. Não têm interesses que os separem do apartidarismo em geral. Não proclamam muitos princípios particulares, segundo os quais pretenderiam brincar com massa de modelar. Os comedianistas só se distinguem dos outros grupos apartidários em dois pontos:
1) Entre as diversas formas de ação política os comedianistas elegem o deboche como elemento ontológico contra o estatus quo e em pró de um mundo mais criativo e divertido.
2) Nas diferentes frentes em que insurge a guerra entre representantes e representados, os comedianistas se dão ao direito de fazer graça e meter o bedelho, além de chineliar aqueles que entre nossos antagonistas se destaquem por sua imoralidade e ranhentice, em nome dos interesses do movimento em seu conjunto.
Praticamente, os comedianistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos representados de cada instituição, a fração que escracha demais; teoricamente têm sobre a vantagem de não concorrer a cargo nenhum se este fato não provocar o riso das multidões. O objetivo imediato dos comedianistas é o mesmo que o de todos àqueles que estão de saco cheio da política convencional: constituição de frentes humoristas de combate, derrubada da supremacia dos representantes e a divertida diluição do poder político em formas criativas de auto-governança.
O comedianismo não retira a ninguém o poder de avacalhar, apenas introduz a idéia de se avacalhar em pró de um mundo diferente. Alega-se ainda que nossa falta de seriedade nos impossibilita de fazer político. Se isso fosse verdade, há muito os comediantes, palhaços e piadistas politizados teriam perdido seus empregos, seus públicos e sua graça. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: Politico bom é politico desempregado.
Abolição dos partidos! Até os mais racionais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comedianistas. Sobre que fundamento repousa os partidos atuais, Todo partido gera corações partidos! Os partidários, na sua plenitude, só existem para as eleições, e no entanto, querem impor esta forma de organização sem-graça até os confins do horizonte político. O partido político desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento da representação. O maior defeito da representocracia é que somente o partido que não está no governo sabe governar. Acusai-nos de querer encitar a divulgação das piadas que vocês nos inspiram? Confessamos este crime.
A revolução comedianista é a ruptura mais radical com o fazer político tradicional; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais. Apesar de nos sentirmos ultrajados pela falta de humor dos partidários trotiskistas, pelo dogmatismo almofadinha neo-liberal e pelo vazio preenchido de lero-lero sustentado por outros partidos, não nos sentimos incomodados por estar ao vosso lado até que a revolução jocosa se consume, pois como já dizia um antigo provérbio chines: "As más companhias são como um mercado de peixes; acaba-se acostumando com o mau cheiro".
O comedianismo utilizará sua supremacia rídicularizante para arrancar pouco a pouco todos risos que for capaz, desacreditando todos os instrumentos de representação hierárquica o mais rapidamente possível. Sabemos algo que os eleitoreiros sequer desconfiam: "A única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo."
Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de representatividade e das rabugentice político-burocratico-administrativa, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão com ébrios e malabares, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente a ação política. Essas medidas, é claro, serão diferentes nas várias esferas de ação. Todavia, nas esferas mais fragilizadas, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas:
1. Demonstração da não-representatividade através do voto no Monteiro Lobato, nonononoonon ou em outros candidatos representativamente nulos em pró de uma crítica mesmo que passiva ao sitema político eleitoreiro;
2. lançamento progressivo de tortas, bigornas, frutas podres, frangos-de-borracha e pianos sobre os membros das esferas representantes;
3. Instituição do direito inalienável de promoção e participação da baderna, sendo esta preferencialmente uma baderna politizada, mas não excluindo outras possibilidades mais 'artisticas';
4. Elaboração de canções-escrachantes, panfletos exóticos, redes de e-mails, sites internéticos, mosquitinhos e faixas coloridas denegrindo saborosamente a imagem de candidatos e outras figuras públicas;
5. Popularização dos seguintes dizeres "Não importa de qual partido você seja, você não me representa" a serem utilizados com cara de deboche diante da menor possibilidade de representação hierárquica.
6. Lançamento de candidatos-fantasmas, tão falsos quanto os verdadeiros, possibilitando uma maior adesão ao riso desenfreado gerado pelo chamamento de eleições.
7. Distribuição obrigatória de narizes de palhaço, perucas, perfis no orkut, fantasias, máscaras e chapeus divertidos como inclemento da manifestações comedianistas pró ou contra seja lá o que for;
8. Criação de centros engraçadinhos intensivos para onde serão levados todos os eleitoreiros e candidatáveis, até se tornarem divertidos humoristas apartidários ou criaturinhas peludas que não podem comer depois da meia-noite;
9. Educação pública, gratuita, divertida e política para todas as crianças de mais de 30 centimetros bem como aos adultos com até 206 ossos;
l0. Abolição de todas as esferas de representação hierarquicas, e um tempo pós-revolucionário de festa a se perder de vista.
Uma vez desaparecidos os antagonismos de representança no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a comédia propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o caráter político perderá muito da sua graça. O poder da tiração de sarro está no seu emprego contra a opressão representante dos sem-graça.
Se o representado em sua luta contra a politiquice, se constitui forçosamente em grupo; se converte-se, por uma revolução, a revolução deve por sua vez se converter em festa, pois o tempo após a revolução será este um tempo de festa.
Em lugar das picuinhas eleitoreiras, com suas siglas e antagonismos bobinhos, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos. Mas se estivermos errados, nos permitiremos sublimemente o direito de debocharmos de nós mesmos!
Segundo Manifesto Comedianista
Conforme as diretrizes adotadas na reunião da última Internacional Comedianista, exigimos:
I – Socialização total dos meios de reprodução, abolição da família heteronormativa e a instauração de uma dita-Dura democrática.
Fisting: o carro-chefe da revolução que socializará todos os meios de reprodução.
II – A organização revolucionária da luta de crassos que culminará numa sociedade desclassificada.
II,V – A imposição da menos-valia como forma de reparar uma dívida histórica das classestrabalhadoras exploradoras com as classes dominadoras exploradas.
III – Aliberalização desdiscriminação das drogas recreativas populares como a maconha, a televisão, a música popular, etc. Também é necessária a proibição imediata das drogas capitalistas – instrumento da alienação burguesa – como a polícia e a religião católica. Esta última deve ser substituída pela Teologia da Libertinagem.
Sessão de exorcismo na Teologia da Libertinagem.
IV – Linchamento democrático reeducativo & recreativo para todos os banqueiros, ativistas, empresários, anarquistas, religiosos, caoístas, jornalistas, magistas, psicanalistas, discordianos, absurdistas e groucho-marxistas.
V – Uma sociedade igualitária onde todos tenham acesso à mesma quantidade de comida, vestimenta, habitação, água potável, ar puro, beleza, sorte, altura, idade, etc.
Uma das contradições inerentes do capetalismo é a desigualdade entre os homens
Um fantasma ronda a Representança - o fantasma do comedianismo.
Todas as impotências políticas se unem numa aliança Nonsense para conjurá-lo: toskistas e sacerdotes do neo-liberalismo, caciquistas e dançarinos de polca, leninistas e as viúvas do estado-de-bem-estar. Ao ouvir 'os comedianistas estão chegando' até mesmo os anômicos cerram seus punhos!
Que manifestação expontânea e divertida não foi acusada de 'engraçadinha' por seus adversários? Que oposição por sua vez não se sentiu ofendida com uma tortada, vinda da direita ou da esquerda, recheada de chantilly e engraçadismo?
Duas conclusões decorrem desses fatos:
1) O comedianismo já é reconhecido como um força debochademente perigosa por todas as correntes políticas da representaça.
2) Já é tempo dos comedianistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, suas piadas, suas ironias, seus sarcasmos, contrapondo o escracho de seu manifesto às patifarias ideotrágicas e cinzentices habituais.
PARTE 1 - REPRESENTANTES E DEBOCHADOS
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das guerras de tortas. Homem livre entorta o escravo, o patrício tortilha o plebeu, o senhor torteia o servo, numa palavra, torteadores e torteados, representantes e representados, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, uma guerra que termina sempre com mais de uma pessoa com a cara lambuzada, ou após o aumento súbito no preço do chantilly devido a demanda.
A representança moderna, que brotou das ruínas do poder divinamente instituído, sempre foi antagônica ao riso. Criando uns cem mecanismos para punir aqueles que se opuseram a sua total falta de humor, velhas condições de opressão, novas formas de conter a gargalhada.
Entretanto, a nossa época, a época da representança, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: exploradores-representantes e representados-explorados. Debocharemos de ambos 1) se os representantes não abrirem mão de sua representança e 2) se os representados continuarem bundisticamente estáticos diante da condição dos primeiros.
De todos os grupos que hoje se contrapõem a representança, só os comedianistas constituem um grupo verdadeiramente engraçado. Todos os demais desaparecem ante a sisudez e a chatice dos eleitoreiros; os engraçadinhos, ao contrário, são, em parte, frutos desta mesma chatice.
Todos os movimentos precedentes foram movimentos de minorias. O Movimento comedianista é o movimento autônomo da gargalhada em proveito da imensa maioria. Maioria que é relegada a um segundo plano, chamada de eleitora, pelega, alienada e que tem como única utilidade votar cabrestamente. É comumente proferido em alto e bom som, em microfones, televisores, rádios e palanques “Cidadão, exerça seus direitos. Vote!” e ninguém mais sequer fica corado diante de tal estapafúrdia.
A condição essencial da existência e da supremacia eleitoreira é a acumulação da legitimidade nas mãos de uns poucos que independente de sua orientação ideológica se tornam tediosas elites. Seus interesses geralmente se assemelham: A formação de quadros, o crescimento da influência do partido, marketismo visando ás próximas eleições. Sua legitimidade está fundamentada no eterno desempoderamento que exercem sobre os passivos eleitores.
O progresso do analfabetismo político se deve em grande medida à representância, esta tendo atingido seu cume, está nos nossos dias caindo vertiginosamente indo de encontro com os fortes indícios sustentados pelo movimento internacional comedianistas de que "pra baixo todo santo ajuda".
Assim, o desenvolvimento de um grande escracho que chacoalhe o terreno em que a representança assentou seu regime de expropriação política não só é viável mas está em andamento. Os representantes são, sobre tudo, personagens excelentes para a produção quadrinhos debochados, trotes originais, boatos incriminadores e piadas desprestigiantes. Sua queda (no ridículo) e a vitória dos comedianistas são igualmente inevitáveis.
PARTE 2 - COMEDIANISTAS E APARTIDÁRIOS
Qual a posição dos comedianistas diante dos apartidários em geral? Os comedianistas não formam um grupo à parte, oposto aos outros grupos horizontais. Não têm interesses que os separem do apartidarismo em geral. Não proclamam muitos princípios particulares, segundo os quais pretenderiam brincar com massa de modelar. Os comedianistas só se distinguem dos outros grupos apartidários em dois pontos:
1) Entre as diversas formas de ação política os comedianistas elegem o deboche como elemento ontológico contra o estatus quo e em pró de um mundo mais criativo e divertido.
2) Nas diferentes frentes em que insurge a guerra entre representantes e representados, os comedianistas se dão ao direito de fazer graça e meter o bedelho, além de chineliar aqueles que entre nossos antagonistas se destaquem por sua imoralidade e ranhentice, em nome dos interesses do movimento em seu conjunto.
Praticamente, os comedianistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos representados de cada instituição, a fração que escracha demais; teoricamente têm sobre a vantagem de não concorrer a cargo nenhum se este fato não provocar o riso das multidões. O objetivo imediato dos comedianistas é o mesmo que o de todos àqueles que estão de saco cheio da política convencional: constituição de frentes humoristas de combate, derrubada da supremacia dos representantes e a divertida diluição do poder político em formas criativas de auto-governança.
O comedianismo não retira a ninguém o poder de avacalhar, apenas introduz a idéia de se avacalhar em pró de um mundo diferente. Alega-se ainda que nossa falta de seriedade nos impossibilita de fazer político. Se isso fosse verdade, há muito os comediantes, palhaços e piadistas politizados teriam perdido seus empregos, seus públicos e sua graça. Toda a objeção se reduz a essa tautologia: Politico bom é politico desempregado.
Abolição dos partidos! Até os mais racionais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comedianistas. Sobre que fundamento repousa os partidos atuais, Todo partido gera corações partidos! Os partidários, na sua plenitude, só existem para as eleições, e no entanto, querem impor esta forma de organização sem-graça até os confins do horizonte político. O partido político desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento da representação. O maior defeito da representocracia é que somente o partido que não está no governo sabe governar. Acusai-nos de querer encitar a divulgação das piadas que vocês nos inspiram? Confessamos este crime.
A revolução comedianista é a ruptura mais radical com o fazer político tradicional; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais. Apesar de nos sentirmos ultrajados pela falta de humor dos partidários trotiskistas, pelo dogmatismo almofadinha neo-liberal e pelo vazio preenchido de lero-lero sustentado por outros partidos, não nos sentimos incomodados por estar ao vosso lado até que a revolução jocosa se consume, pois como já dizia um antigo provérbio chines: "As más companhias são como um mercado de peixes; acaba-se acostumando com o mau cheiro".
O comedianismo utilizará sua supremacia rídicularizante para arrancar pouco a pouco todos risos que for capaz, desacreditando todos os instrumentos de representação hierárquica o mais rapidamente possível. Sabemos algo que os eleitoreiros sequer desconfiam: "A única pessoa livre, realmente livre, é a que não tem medo do ridículo."
Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de representatividade e das rabugentice político-burocratico-administrativa, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão com ébrios e malabares, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente a ação política. Essas medidas, é claro, serão diferentes nas várias esferas de ação. Todavia, nas esferas mais fragilizadas, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas:
1. Demonstração da não-representatividade através do voto no Monteiro Lobato, nonononoonon ou em outros candidatos representativamente nulos em pró de uma crítica mesmo que passiva ao sitema político eleitoreiro;
2. lançamento progressivo de tortas, bigornas, frutas podres, frangos-de-borracha e pianos sobre os membros das esferas representantes;
3. Instituição do direito inalienável de promoção e participação da baderna, sendo esta preferencialmente uma baderna politizada, mas não excluindo outras possibilidades mais 'artisticas';
4. Elaboração de canções-escrachantes, panfletos exóticos, redes de e-mails, sites internéticos, mosquitinhos e faixas coloridas denegrindo saborosamente a imagem de candidatos e outras figuras públicas;
5. Popularização dos seguintes dizeres "Não importa de qual partido você seja, você não me representa" a serem utilizados com cara de deboche diante da menor possibilidade de representação hierárquica.
6. Lançamento de candidatos-fantasmas, tão falsos quanto os verdadeiros, possibilitando uma maior adesão ao riso desenfreado gerado pelo chamamento de eleições.
7. Distribuição obrigatória de narizes de palhaço, perucas, perfis no orkut, fantasias, máscaras e chapeus divertidos como inclemento da manifestações comedianistas pró ou contra seja lá o que for;
8. Criação de centros engraçadinhos intensivos para onde serão levados todos os eleitoreiros e candidatáveis, até se tornarem divertidos humoristas apartidários ou criaturinhas peludas que não podem comer depois da meia-noite;
9. Educação pública, gratuita, divertida e política para todas as crianças de mais de 30 centimetros bem como aos adultos com até 206 ossos;
l0. Abolição de todas as esferas de representação hierarquicas, e um tempo pós-revolucionário de festa a se perder de vista.
Uma vez desaparecidos os antagonismos de representança no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a comédia propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o caráter político perderá muito da sua graça. O poder da tiração de sarro está no seu emprego contra a opressão representante dos sem-graça.
Se o representado em sua luta contra a politiquice, se constitui forçosamente em grupo; se converte-se, por uma revolução, a revolução deve por sua vez se converter em festa, pois o tempo após a revolução será este um tempo de festa.
Em lugar das picuinhas eleitoreiras, com suas siglas e antagonismos bobinhos, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos. Mas se estivermos errados, nos permitiremos sublimemente o direito de debocharmos de nós mesmos!
Segundo Manifesto Comedianista
Conforme as diretrizes adotadas na reunião da última Internacional Comedianista, exigimos:
I – Socialização total dos meios de reprodução, abolição da família heteronormativa e a instauração de uma dita-Dura democrática.
Fisting: o carro-chefe da revolução que socializará todos os meios de reprodução.
II – A organização revolucionária da luta de crassos que culminará numa sociedade desclassificada.
II,V – A imposição da menos-valia como forma de reparar uma dívida histórica das classes
III – A
Sessão de exorcismo na Teologia da Libertinagem.
IV – Linchamento democrático reeducativo & recreativo para todos os banqueiros, ativistas, empresários, anarquistas, religiosos, caoístas, jornalistas, magistas, psicanalistas, discordianos, absurdistas e groucho-marxistas.
V – Uma sociedade igualitária onde todos tenham acesso à mesma quantidade de comida, vestimenta, habitação, água potável, ar puro, beleza, sorte, altura, idade, etc.
Uma das contradições inerentes do capetalismo é a desigualdade entre os homens
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