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Timóteo Pinto, o defensor da Música Original Brasileira

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Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:09 am

Tudo Junto & Misturado

por Timóteo Pinto

Latino, como sempre, é o dono das melhores sacadas. Em seu novo disco, chamou vários amigos para fazer duetos. O resultado foi uma salada de ritmos capaz de fazer os puristas vomitarem as próprias tripas por quatro dias consecutivos. Latino sacou o espírito da época e graças às parcerias, misturou diversos estilos, com diversos graus de êxito.

Mas não é do disco dele que quero falar aqui. Não agora. Agora é a hora de falar de uma revolução nem um pouco silenciosa que está ocorrendo na música brasileira. Não é a MPB, esta se encontra em estado catatônico e nada de empolgante pode se esperar dela. São os ritmos populares, aqueles que são tratados como lixo pela Zelite Cultural.

A globalização fez bem para os ritmos populares. Ao invés de comprarem briga com os pirateiros, usaram a contravenção para divulgar o seu som. Se ligaram que dinheiro se ganha é fazendo show, é trabalhando e não desfrutando a vista do mar em apartamento em Ipanema, enquanto o ECAD deposita a verba dos direitos autorais direto na conta corrente. Vai trabalhar vagabundo!

Só que o aspecto mais interessante dessa coisa toda é que os estilos começaram e se influenciar mutuamente. O sertanejo incorporou a batida do vanerão e aposentou a choradeira do primeiro boom causado por Leandro & Leonardo e Zezé di Camargo & Luciano. Os pioneiros foram Bruno & Marrone. Reparem, Chitãozinho & Chororó nunca foram muito inovadores, apenas seguiam a maré.

O vanerão, que ficou anos e anos engessado, mantido em cativeiro dentro dos CTGs (Centros de Tradição Gaúcha) chupinhou a batida do axé e do forró e modernizou-se, de modo a conquistar o público jovem, que já não suportava mais Gaúcho da Fronteira e Oswaldir & Carlos Magão. Tchê Garotos e o Grupo Tradição lotam estádios em suas turnês.

O forró, desde a inovação estética e formal que foi o Mastruz com Leite nos primórdios dos anos 90, sempre foi afeito a antropofagias diversas, por vezes as mais sem noção. Os caras são capazes de adaptar qualquer música ao ritmo do forró. Na época do frissom do filme “Tropa de Elite”, até o A-ra-pa-pá eles conseguiram. E foram os Aviões do Forró que mais uma vez inovaram o estilo, com o minimalismo e a, por que não dizer? libertinagem do Pancadão carioca.

E a Banda Calypso, que eu considero a grande banda brasileira da década, influenciou todo mundo, principalmente com seu modus operandi: produção totalmente independente e vistas grossas à pirataria. Muito mais do que o anarco-capitalista Eike Batista, se tem um brasileiro que merece estar rico, este cidadão chama-se Chimbinha e neste momento está escolhendo as músicas de sua banda que estarão no playlist da próxima versão do Guitar Hero.

Desnecessário dizer que com toda essa mistura houve um salto de qualidade no som de todo mundo. A festa é geral, tá todo mundo feliz pacas. Justamente por não pertencerem a Zelite Cultural, não ocorreram brigas de ego e nem ataques de ciumeira de parte alguma. Eu arrisco de dizer que estamos na eminência de uma grande revolução na música brasileira. Um amálgama sonoro com potencial planetário. Muito mais que aquela porcaria fabricada em laboratório chamada Lambada.

O mais irônico nisso tudo é que a enviada especial da Zelite, aquela imbecil da Regina Cazé, só fez foi atrasar essa revolução em alguns anos em seus programas em que não fazia outra coisa além de estereotipar pessoas como este que vos escreve, pobre da periferia.

E a MPB como a conhecíamos? Ah essa daí, no dia em que a MTV propôr um Estúdio Coca-Cola reunindo Latino e Caetano Veloso, aí sim deposito 5mg de esperança em sua ressurreição.

originalmente publicado no finado site Bis MTV


Ele não tem papas na língua,nem medo de censura,mas tem medo de morrer. Quem é ele?

Timpin. Quem ainda não ouviu falar nesse nome, que se prepare, pois ele começou o seu trabalho com música popular, de fato, em 2009 e neste pouquíssimo tempo já tem deixado muitos empresários e cantores de banda carecas. Ele não possui uma identidade, pelo menos, não uma conhecida. Como se mete em terrenos não autorizados, precisa usar um pseudônimo para preservar a própria vida, como ele diz. Isso mesmo. Um jornalista curitibano, estudioso da música popular brasileira, que faz uso de pseudônimos. Isso não te lembra alguma coisa? Então, vamos ao refresco de memória: censura, repressão e todos os seus AI's... Bingo! Parece que voltamos no tempo e estamos vivendo na época da ditadura. Exagero? Timpin acha que não e, se você ler essa entrevista do início ao fim, vai entender do que a Coluna Holofote está falando.

Coluna Holofote: Quem é Timpin?
Timpin: Um cara aí, surgido das profundezas do nada e que, numa tarde de sábado, tomando cerveja e escutando Tchê Garotos, Fernando & Sorocaba e Aviões do Forró, bateu os olhos na capa do livro Além do Bem e do Mal, de Friedrich Nietzsche e teve uma epifania: "Será que existiam mais pessoas como ele, que escutavam ritmos verdadeiramente populares e que gostassem de ler?" Como de resto a maiora das epifanias, a dele também foi seguida por uma cabulosa rede de sincronicidades, como se um gatilho tivesse sido apertado. Na segunda-feira, ao chegar ao trabalho e acessar o blog do André Forastieri, lá estava o texto noticiando que ele havia sido contratado pela MTV para tocar um novo blog musical. E esse blog, segundo ele, seria criado pela multidão e quem apresentasse um proposta bacana, teria seu espaço. Timpin apresentou sua proposta de uma coluna semanal falando sobre ritmos populares de maneira respeitosa, como se fosse música pop como qualquer outra. Ganhou seu espaço e desde abril deste ano está aí, fazendo alguns barulhos, escrevendo sobre o que gosta, conhecendo certos amigos e escolhendo os inimigos certos. E se divertindo muito, naturalmente.

CH: Por que você faz uso de pseudônimo?
Timpin: Por causa dos inimigos certos da reposta anterior.

CH: Você se considera o grande responsável por esse “boom” envolvendo o nome das bandas Ravelly e Djavú?
Timpin: Não diria responsável... Esse termo não combina muito com minha personalidade, eu diria mais o catalizador. As peças do dominó já estavam todas posicionadas, de pé, uma ao lado da outra. Faltava só um dedinho folgado que empurrasse uma delas.

CH: Qual a sua ligação com essas duas bandas?
Timpin: Nenhuma além de mero ouvinte. Não conheço ninguém das bandas, pelo menos até começar as investigações e não sou parente nem dos engraxates de nenhuma delas.

CH: Como começou essa sua pesquisa a respeito das bandas Ravelly e Djavú?
Timpin: Assim que os vídeos da Djavú no Youtube começaram a aparecer e os comentaristas começaram a denunciar. Eu já tinha baixado alguns shows da Djavú, porque uns contatos no interior do Pernambuco haviam me alertado que eles estavam fazendo sucesso por lá. Como quase tudo que bomba no sertão acaba estourando no resto do país por efeito de amplificação do migrantes nordestinos de São Paulo, comecei a prestar atenção neles. Com as denúncias de plágio no youtube, minha atenção foi redobrada devido ao meu hábito de virtude questionável que é apreciar uma boa fofoca.

CH: Você acusa a Djavú de plagiar a banda Ravelly. Por quê?
Timpin: Porque uma dupla de empresários de Capim Grosso, interior da Bahia, ao levar um "bolo" da Ravelly para uma turnê na região, resolveram montar uma banda a toque de caixa, gravar as mesmas músicas, do mesmo jeito e partir pra briga.

CH: Mas não é normal bandas cantarem músicas de outras, seguir o mesmo ritmo, isso não faz parte do mundo da música?
Timpin: Normal dentro de certos limites éticos e respeitando o bom senso. Os Aviões do Forró, por exemplo, fazem isso o tempo todo. Só que eles não vão tocar as músicas na TV, comportando-se como se fossem suas e mudando o nome da música nas legendas para enganar os telespectadores. Por exemplo, os Aviões tocam várias músicas do Bonde do Maluco, mas você não vê o Xandy do Avião dando entrevista dizendo que o arrocha é o novo ritmo cearense, vê? No começo, o pessoal da Djavú fez isso, o que fere o bom senso. Diante do estouro nacional, procurar os autores das músicas para regularizar a situação seria o mínimo que a Djavú deveria fazer em termos de ética, afinal, tamanho sucesso não vai ficar de fora dos livros de história e como a banda será citada nesses livros, deveria ser uma preocupação do pessoal da banda.

CH: Já que é assim, a Ravelly copiou a Calypso. É isso?
Timpin: Como dizia Vicente Mateus, lendário presidente corintiano, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A Banda Calypso é fruto de uma maneira peculiar e extremamente original de Chimbinha tocar sua guitarra. Essa maneira ele azeitou participando da gravação de mais de 200 discos de artistas bregas paraenses nos anos 90, como músico de estúdio. Após o estouro do calypso como ritmo, depois dos anos 2000, as bandas bregas do Pará, diante das dificuldades financeiras impostas pelo custo de ter um guitarrista de calypso na banda, começaram a reproduzir aquele dedilhado nos teclados. Foi assim que foi surgindo o tecnobrega. Isso no começo da década, através de bandas como a Tecnoshow de Gabi Amarantos. Já a Ravelly é uma banda nova, estreou em 2007 e a distância entre ela e a Calypso é maior que a da minha casa e do bunker de Osama Bin Laden. O pessoal costuma muito associar qualquer coisa referente ao brega à Banda Calypso pelo fato da banda da Joelma aparecer muito na mídia sem nunca ser tratada como manifestação cultural autêntica, coisa que ela é de fato, mas sim como uma peculiaridade tosca criada pelo mal gosto do povão.

CH: Há quanto tempo existe essa história da banda Djavú plagiar a Ravelly?
Timpin: Como falei, desde a segunda metade do primeiro semestre deste ano.

CH: E por que só veio à tona com o estouro da banda Djavú?
Timpin: Por causa do orgulho mais uma vez ferido do povo do Pará, que já teve sua lambada roubada pelos cearenses, o cupuaçu roubado pelos japoneses e o Paysandú mais uma vez rebaixado no Brasileirão.

CH: Na sua opinião, a banda Ravelly não está querendo pegar carona no sucesso da Djavú?
Timpin: Seria muita ingenuidade dizer que não. As queixas por plágio são justificáveis, mas se a Djavú não tivesse feito tanto sucesso, talvez essas queixas fossem apenas assunto de cervejada entre amigos. Inclusive, aqui cabe um detalhe interessante desta novela: depois do estouro da Djavú, os membros da Ravelly original, aquela que gravou as quatro músicas plagiadas, tiveram suas ambições infladas e entraram em pé de guerra entre si. Atualmente, são três facções trocando farpas, ofendendo seus ascendentes familiares e se dizendo autores das músicas. A cantora e seu marido, que tocam a Ravelly atualmente, a dupla de DJs Leo & Deivid, que fez as bases das músicas, e mais o cantor Marlon Branco.

CH: Como é essa história?
Timpin: Cada uma dessas três facções me conta uma história diferente e muito provavelmente será mais fácil eu encontrar a bota do pé esquerdo de Judas Escariotes, do que a verdade nesse rolo todo. Aliás, Judas deve estar se divertindo muito diante de tamanha profusão de trairagem desgovernada.

CH: Hum. Então, voltando à Ravelly e Djavú. A banda Ravelly não deveria ser grata à Djavú por estar colocando o ritmo nas paradas de sucesso?
Timpin: Não só a Ravelly, como a cena de tecnobrega inteira do Pará. Depois da Djavú, as aparições de artistas paraenses em programas como os de Raul Gil, Ratinho e Netinho aumentou consideravelmente, a ponto de atrair a atenção da Som Livre, que no dia 19 de dezembro, ainda este mês, vai a Belém gravar um DVD com quatro bandas de tecnobrega, reunindo as principais festas de aparelhagem da cidade. Se você não gosta de tecnobrega, acha mais interessante toques de celular, é melhor começar a ligar para agências de viagem e checar os custos de uma mudança para o Azerbaijão ou as Polinésias Francesas.

CH: Você tem algum receio de acabar criando um mal-estar entre baianos e belenenses?
Timpin: Eu com receio de criar um barraco bacana? Vou devolver a pergunta. Você está usando drogas? Pois vá tomar seus remédios e depois a gente procede a entrevista.

CH: O empresário da banda Djavú, Paulo Palcos, confessou a esta coluna que o tecnobrega já existe há mais de 40 anos e que a banda Djavú a retirou do fundo do baú para colocá-la nas paradas de sucesso. É verdade?
Timpin: Tecnobrega existente há mais de quarenta anos? Creio que você deva fornecer alguns de seus remedinhos a este cidadão. Só se, do alto de sua intelecção privilegiada e profundo conhecimento musical ele estiver confundindo tecnobrega com bossa nova. Nem o brega existe há 40 anos. O brega surgiu nos anos 70, depois que a jovem guarda minguou devido ao fato de Roberto Carlos resolver cimentar sua carreira como cantor romântico. Foram pessoas como Reginaldo Rossi, Odair José e Amado Batista que adaptaram a Jovem Guarda ao seu modo de tocar que criaram o brega.

CH: Paulo Palcos disse que a banda Djavú é que é vítima de mais de 30 plágios. Você confirma?
Timpin: Acho que ele está sendo modesto. As variantes de Djavú, do naipe de T Javu, DJ Javu, D JJavu e quejando já são tantas que é capaz do alfabeto não dar conta. Não duvide que o pessoal apele para a numeração decimal ou romana e surja uma DJA XXIIICU no Roadstar do Chevete daquele seu vizinho famoso por amargar gaias ao som de um brega qualquer.

CH: Você conhece Paulo Palcos? O que você sabe sobre ele?
Timpin: Não conheço, não quero conhecer e alimento um profundo, sincero e lancinante pesar por quem o conhece. E o que sei sobre ele, se falar aqui na Holofote, vai elevar a idade mínima de quem é permitido acessá-lo e acho que isso não é do interesse de nenhum dos anunciantes. Ou estou errado?

CH: Recentemente, você fez novas descobertas, quais foram?
Timpin: Que a Ravelly não foi a única roubada, mas apenas a que está gritando mais alto. Uma das músicas de maior sucesso da Djavú chama-se "Me Libera", cujo refrão "O que pensa que eu sou / se não sou o que pensou / Me libera / não insista / vai buscar um outro amooooor" é cantado até pelo papagaio da Dona Quitéria, proprietária do Bar Quitéria, lá no meu bairro, não é da Ravelly. Ela é do Dj Max, da banda Morena Cor e o vocalista Geanderson da Djavú vive dizendo na TV que tem autorização do autor para cantá-la onde quiser, o que é uma inverdade. Max autorizou a utilização dela na gravação de apenas mil CDs de áudio, apenas isso. No entanto, ela já foi tocada até no Programa da Eliana sem que o compositor recebesse um centavo pelo mérito de sua criação. Geaderson me disse que cabe ao Max provar que não liberou. Agora, sei lá, eu posso estar sofrendo de confusão mental devido à estafa desta investigação toda, mas me responda: Como alguém faz para mostrar um documento inexistente que prove a inexistência do mesmo documento?

CH: Por que esse interesse de ir mais a fundo e desvendar todas essas “sujeiras”?
Timpin: Por uma questão de justiça, pelo fato de em 1998, cidade de Carnaubera da Penha, interior de Pernambuco, horas depois de me descobrir corno, um disco de Roberto Villar salvou minha vida de mim mesmo. Virei fã de brega. E também pelo fato de saber que vivemos num país com uma riqueza musical sem par no planeta e que essa riqueza é desprezada pela crítica cultural como uma coisa menor, fruto de um povo brejeiro. Isso só acontece aqui. Se você tomar um país como os Estados Unidos, que pegou o blues dos pretos - e olhe que eles eram e são mais racistas que nós! - e transformaram no rock n' roll dá vontade de enfiar o dedo lá naquele lugar e puxar até rasgar, de vergonha de ser brasileiro e ter um mínimo de formação escolar.

CH: Você tem lucrado alguma coisa com essa história?
Timpin: Timpin não, mas minha quase xará Tim Telecom, com toda a certeza.

CH: Tem alguém por trás de você?
Timpin: Ui! Tá me tirando, ô profissional da imprensa? Sou heterosexual sindicalizado, praticante e só não pago dízimo porque minha religião não permite.

CH: Qual a sua opinião pessoal sobre as bandas Ravelly e Djavú?
Timpin: Sou fã, escuto direto "ambas as duas". Quando o pessoal me pergunta minha posição neste imbróglio, costumo parafrasear um senador da república em resposta a uma pergunta cabeluda do pessoal do CQC da Band: "Não sou contra e nem a favor, muito pelo contrário. A versão que a Djavú fez da música "De Tanto Te Querer" do Jorge & Mateus ficou "do cacete"!

Por Fernanda Figueiredo
coluna Holofote


Disputa pela música "Minha Mulher não deixa não" gera denuncias de esquemas empresariais
A disputa pela música Minha Mulher Não Deixa Não, de Reginho dos Teclados, evidenciou a concorrência entre as bandas de forró pelos sucessos e serviu de mote para uma série de denúncias do blogueiro Timóteo Pinto.

Os sucessos do forró estão envolvidos em esquemas empresariais de violação dos direitos autorais. É o que afirma o blog Cabaré do Timpin. A disputa pela música Minha Mulher Não deixa Não é o mote da história.

Timóteo Pinto tem pretensões de se tornar o novo Julian Assange do cenário mundial. A partir do blog Cabaré do Timpin, Timóteo tem divulgado informações sobre supostos esquemas de empresas do mercado do forró que violam os direitos autorais. Uma articulada rede de olheiros seria responsável por identificar os sucessos locais, remeter as composições para o escritório central e depois distribuir CDs gratuitamente já com a nova versão da música.

“Eu possuo várias provas testemunhais. Só que devido a quantidade imensa de histórias de violências, ninguém obviamente quer ter seu nome envolvido nisso. Até porque tem muita gente do meio musical que teme por seus empregos”, responde por e-mail Timóteo, pseudônimo do jornalista curitibano, que prefere não se identificar.

O mote para o começo dos vazamentos, que são publicados com a rubrica “Wikileaks do Forró”, foi a disputa pelos direitos do atual sucesso Minha Mulher Não Deixa Não entre as duas maiores bandas do forró nacional, os Aviões do Forró, líder do mercado forrozeiro há pelo menos meia década, e a Garota Safada, com uma ascensão vertiginosa nos últimos 3 anos.

A composição de Reginho dos Teclados, cantor brega pernambucano, colocou as duas bandas numa arenga pública. A Garota Safada tentou sair na frente e chegou a divulgar que tinha a exclusividade sobre a música, mas não demorou muito para ser desmentida pelo próprio Reginho, que apareceu em um clipe dos Aviões do Forró ao lado do vocalista Xandy. O fato contrariou o jovem líder da Garota Safada, Wesley Safadão, que trocou farpas no twitter com o veterano cantor dos Aviões.

O empresário Arionaldo Carvalho chegou nesse entretempo, viu o sucesso da música e tratou de assinar contrato com Reginho. Diretor da Premier Produções, dono de bandas como Cia. do Calypso, Ari não gostou das declarações da Garota Safada - que havia feito um acordo com Reginho antes deste integrar seu casting. Partiu dele o convite para o clipe dos Aviões, feito em Fortaleza. O vídeo conta com a participação dos quatro garotos que estouraram na Internet com um vídeo caseiro da música postado no YouTube.

“A obra é dele”, afirma Ari sobre o direito de Reginho em autorizar a execução da música para quem quiser. Apesar de isentar as duas bandas de forró nesse caso, Ari também alerta para o que bandas como a baiana Djavú tentaram fazer ao divulgarem a música como seu mais novo sucesso. “Eles tentaram pegar a música de um ‘anônimo’ e divulgar como sua”, diz. “É como se tivesse o pinto pra depois nascer o ovo”.

A Djavú, por sinal, já protagonizou o que Timóteo intitulou de “Watergate do Tecnobrega”, uma denúncia sobre a cópia baiana da banda paraense Ravely. Mais um dos casos de violação dos direitos autorais que Timóteo elenca em profusão, sem perdoar nem mesmo os Aviões do Forró, carro-chefe da A3 Entretenimento. A maior empresa do mercado forrozeiro, dona de bandas como Solteirões do Forró, Forró do Muído e Forró dos Plays, é o principal alvo das denúncia do “Wikileaks do Forró”. Timóteo aponta processos da dupla sertaneja João Marcio & Fabiano, do grupo baiano de arrocha Bonde do Maluco e de outro cantor pernambucano, autor da música Tontos & Loucos, todos movidos contra os Aviões. “Eu poderia ficar a tarde inteira relatando casos.”, resume.

É de 2003 uma das primeiras questões envolvendo violação dos direitos autorais pelos Aviões do Forró. A música Já Tomei porres por Você chegou a ser gravada pela banda sem autorização da compositora Rita de Cássia, conhecida pelos sucessos da banda Mastruz com Leite. A querela se encerrou em um acordo entre as duas partes. Rita disse por telefone não tocar mais no assunto.

Filha de Emanuel Gurgel, empresário que comandou por uma década o mercado do forró, Rebeca Gurgel administra hoje a produtora SomZoom e fala que a política de sua empresa é a de só trabalhar com músicas próprias, mas admite que existe uma acirrada disputa no mercado pelos futuros sucessos. “As pessoas ficam leiloando as músicas, mas não entramos nisso”, afirma.

“Hoje tudo no forró virou dinheiro. Manda quem tem a melhor estrutura, quem tem mais dinheiro pra dar CD e pra comprar música”, diz o empresário Karlúcio Lima. Para o dono da banda Forró na Veia, a ponto principal dessa questão no mercado do forró está na prática, inaugurada pela A3, de distribuir CDs gratuitamente. “Eles fazem um CD ao vivo, eles mesmo gravam, fazem as cópias, soltam 200 mil CDs, 400 mil, 1 milhão de discos. Daqui que o pessoal que fez a música corra atrás, a banda já estourou e ganhou o dinheiro todo”.

A reportagem entrou em contato com as empresas A3 Entretenimento e Luan Produções, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

Jornal Ibiapaba


Last edited by wodouvhaox on Sun Feb 05, 2012 9:58 am; edited 2 times in total
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Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:17 am

Pirataria legal

Gustavo CDs. Henrique CDs. Rodolfo CDs. Quem escuta os discos ao vivo das bandas do nordeste está habituado a ouvir esses nomes. Trata-se do sujeito que grava o show e que no dia seguinte colocará à venda o CD com a apresentação, de modo que o fã possa continuar se emocionando no conforto de seu lar.

Essa tradição é antiga. Ainda nos anos 90, Chiquinho da Discofran de Viçosa (CE) fazia suas gravações e as lançava em vinil. Com a chegada do CD e o consequente barateamento da gravação e reprodução, a moda pegou. Hoje em dia, praticamente todos os shows são gravados, no que pode ser classificado como institucionalização da pirataria, apesar de muitos não se considerarem pirateiros, mas divulgadores. Tanto que não é preciso pagar nada para a banda, basta um OK do dono da casa de shows e dos artistas.

Enquanto um Biquini Cavadão leva uma carreira inteira para lançar um disco ao vivo repleto de equívocos, os Aviões do Forró têm mais de duzentos “ao vivos” para download em sua comunidade no Orkut, todos relevantes, pois raramente o grupo repete músicas em seus shows. E a qualidade das gravações é surpreendente. Segundo Rodolfo Cezar, de Fortaleza, ela não depende apenas de quem grava. “Digo isso por experiência própria. O som da festa influi muito.” Mas na grande maioria dos casos, a relação custo-benefício é satisfatória.

Como esse mercado está em plena ascensão, foi criada a Associação dos Gravadores, que exige um mínimo de dois anos de experiência e comprovação da qualidade das gravações. Gustavo Parente, de Salgueiro, Pernambuco, explica a importância da criação desse orgão. “O esquema foi criado a partir de uma discussão na comunidade ‘Rede Forrozão N.1′. Com o gigantesco aumento das pessoas que se dizem gravadoras, os ‘fulanos cds’ que trabalham com profissionalismo se sentiram prejudicados por essa máfia nascida no Orkut. Sem um pingo de noção de áudio, esses caras se humilham só para ganharem alguns alôs durante o show e se acharem ‘os estourados’.” De acordo com a Associação, se o gravador for cadastrado, a qualidade é garantida.

Com a chegada do Orkut e a consolidação das redes sociais no Brasil, a distribuição das gravações deu um salto enorme. Os gravadores têm suas próprias comunidades, onde são tratados como autênticas celebridades, com direito a fãs e admiradores. A maioria dos gravadores da nova geração começou a trabalhar com isso em busca de fama, para ouvirem seus nomes nos shows e conquistar o prestígio dos amigos, para depois se profissionalizarem.

Convém frisar que esse hábito ainda está circunscrito ao norte do país. Quando artistas do sul vão se apresentar lá, não costumam permitir as gravações, com o velha e batido argumento da quebra de direitos autorais. Além de não evitar a pirataria, essa atitude burra impede os fãs de desfrutarem de performances únicas, que costumam ser feitas em momentos de especial inspiração.

Além da vantagem óbvia de usar a pirataria como divulgação, as bandas saem ganhando também na questão do teste de repertório. Todo artista sabe que no primeiro disco a escolha das músicas costuma ser mais fácil, porque a banda vem de um intenso período de shows e já sabe de antemão as músicas preferidas do público. A chamada “síndrome do segundo disco”, que muitas bandas de rock enfrentam, deriva dessa deficiência do teste ao vivo.

Ao disponibilizarem seus shows em CDs que são vendidos logo após a apresentação, o teste do repertório ao vivo continua vai além do show. E ainda há o efeito multiplicador de que, além da pessoa que adquiriu a cópia, outras pessoas ouvirão as músicas e banda ganha um feedback perfeito. Tão perfeito que ao entrar no estúdio para gravar o próximo disco oficial, já sabe qual o setlist preferido pelos fãs.

No final todo mundo sai ganhando. Artista, vendedor de CD e público. É o tipo da coisa que dá certo quando se tem uma atitude pragmática e respeito mútuo entre produtor e consumidor, pois no final das contas, são pessoas lidando com pessoas. É como Victor, da dupla Victor & Leo, afirmou em entrevista recente: “Não enxergamos fãs, enxergamos pessoas e cada pessoa tem sua história de vida, suas vitórias, seus traumas, suas virtudes. Quando estamos diante de uma multidão, sabemos que cada pessoa ali pagou um ingresso para nos assistir, se deslocou de casa ou do trabalho e veio em busca de emoção. Não há uma multidão, mas milhares de ‘cada um’”.

PS do Timpin.: Deixo aqui meus efusivos agradecimentos a Flaviane Torres do blog do muido, cuja ajuda foi fundamental para a elaboração desse texto.


Comunidade do Gustavo CDs
Comunidade do Rodolfo CDs

Podem baixar à vontade, que é tudo legal.


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Timóteo Pinto, o defensor da Música Original Brasileira Empty Re: Timóteo Pinto, o defensor da Música Original Brasileira

Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:19 am

A salvação da produção musical vem da selva

Parece que a Amazônia não detém só o potencial de salvar o ecosistema planetário, mas tambem o de salvar a produção musical da falência decretada pelo mp3. Saiu na web recentemente um livro em pdf organizado por Ronaldo Lemos e Oana Castro, dentre outros, chamado “Tecnobrega: O Pará Reinventando o Negócio da Música”, que traz a tábua de salvação para os artistas que estão vendo suas carreiras irem para o ralo com a falência da industria fonográfica.

Que esta indústria está falida, ninguém com suas faculdades mentais intactas é capaz de questionar. Os números comprovam, sob qualquer ponto de vista que se analise a questão. Victor & Leo, o maior fenômeno pop da atualidade, não consegue nem de longe chegar na marca de um milhão de discos vendidos. O próprio rei Roberto Carlos, que sempre foi aposta ganha de antemão, não consegue mais atingir a marca.

O que a cena brega de Belém inventou não foi feito com intensões políticas nem ideológicas, mas sim como alternativa de sobrevivência cultural e financeira por parte dos envolvidos. De uma maneira simplificada, podemos dizer que negócio do tecnobrega funciona de acordo com o seguinte ciclo de realimentação, composto por sete etapas:

1) Os artistas gravam seus discos em estúdio – próprio ou de terceiros.
2) As melhores produções são levadas a reprodutores de larga escala ou camelôs.
3) Camelôs vendem os discos a preços compatíveis com a realidade local e os divulgam.
4) DJs tocam esses discos nas festas.
5) Os artistas são contratados para shows.
6) Nos shows, CDs e DVDs são gravados e vendidos.
7) Músicas e bandas fazem sucesso e realimentam o processo.

Esse modelo é extremamente funcional, tanto para os artistas quanto para o público, gerando fonte de renda para muita gente. Um estudo da FGV prova isso com números: cada ambulante vende em média 300 CDs e 200 DVDs por mês. A maior parte das vendas vem dos grandes reprodutores (cerca de 80%). No entanto, 17% das vendas vêm da reprodução própria – o que, baseado no volume total de discos vendidos em Belém e na região metropolitana, é um montante considerável na análise da geração de renda.

No caso específico da cena tecnobrega, pesa também a questão das festas de aparelhagem. Elas reúnem milhares de baladeiros que veneram as aparelhagens como se fossem astros. As gigantestescas paredes de caixas de som produzem um tsunami sonoro que literalmente faz o chão tremer. A cabine dos DJs, chamadas de Altar Sonoro, têm nomes sugestivos como Nave do Som ou Duplo Cyber Comando e são equipadas com a mais alta tecnologia de produção de efeitos sonoros e visuais. Todos a observam como se fossse uma banda tocando no palco.

As aparelhagens mais famosas hoje são a Tupinambá, Rubi, Ciclone e Super Pop. Como as festas costumam durar um fim de semana inteiro, como raves, acabam gerando procura por artistas tecnobregas e favorecem o surgimentos de novos grupos, fazendo com que a cena tenha um crescimento contínuo e, dessa forma, contribuindo de forma decisiva para o novo modelo de produção musical nascido na Amazônia.

Em termos de êxito comercial, a Banda Calypso é o expoente máximo dessa metodologia de trabalho no que podemos chamar de Método Chimbinha de Gerenciamento de Carreiras. A dupla Joelma e Chimbinha inventou uma nova maneira de se virar sem depender de gravadoras comerciais. Eles criaram seu próprio selo e começaram a vender seus discos a preços mais acessíveis – entre R$ 5 e R$10 – em supermercados populares, feiras, festas e locais frequentados por fãs potenciais. A estratégia deu certo e o resultado todos já constataram.

Quando falei que a Banda Calypso era a banda brasileira da década a primeira coluna aqui no BiS, muita gente me chamou de louco suicida, esquecendo-se de que além de serem os grandes divulgadores desse modelo que pode salvar a produção de música no país, Joelma e Chimbinha são os maiores vendedores de discos do Brasil. Outra opinião minha que costuma arrancar gargalhadas de quem é adepto do senso comum é que Victor & Leo deveriam dar um pé na bunda da Sony Music. Além de não precisarem da multinacional, serviriam de exemplo para disseminar essa revolução na produção musical também no sul do país.

Como conclui Hermano Viana no texto da orelha do livro: “Quem quiser pensar o futuro da música não pode ignorar as lições tecnobregas da Amazônia digital.”


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Timóteo Pinto, o defensor da Música Original Brasileira Empty Re: Timóteo Pinto, o defensor da Música Original Brasileira

Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:22 am

Marketing Esquema Novo

Enquanto as gravadoras se enredam cada vez mais na teia global da web e projetam na pirataria toda sua frustração diante da implacável vassoura do tempo, que varre para o lixo tudo o que deixa de ser útil para a cultura humana; os artistas populares brasileiros já possuem praticamente pronto, testado e aprovado, seu novo modelo de produção, distribuição e consumo de música.

A solução para os desafios impostos pelos novos tempos foi sendo construída aos poucos, fruto da necessidade e de algumas grandes idéias. As duas primeiras grandes idéias nasceram paralelamente na cachola de duas pessoas que não tinham contato entre si: Cledivan Almeida Farias, também conhecido como Chimbinha e Antonio Isaias, o genial visionário que inventou os Aviões do Forró.

A história de Chimbinha já é relativamente conhecida, construiu uma carreira de sucesso totalmente à revelia das gravadoras e da mídia, tornando sua Banda Calypso a maior banda independente do Brasil. Já a idéia de Isaías foi bem mais radical e inusitada, distribuir CDs promocionais gratuitamente nos shows dos Aviões do Forró. E ficou rico fazendo isso! Hoje sua empresa, a A3 Entretenimentos é dona das duas maiores casas de shows de Fortaleza, o Clube Kangalha e o Forró do Sitio, além de várias bandas, dentre elas a grande promessa do forró atual: o Forró do Muído.

Como todo ovo de colombo, a lógica é simples. Como a grande maioria das bandas de forró sobrevivem de suas turnês pelo sertão e o baixo poder aquisitivo no semi-árido é um fato conhecido, o povo dava o maior valor ao presente e os discos eram escutados à exaustão. Depois de dois discos meia bomba, mas com o nome consolidado no norte e norteste, eis que os Aviões lançam o volume 3, uma das maiores obras primas da musica original brasileira moderna.

O Aviões do Forró Volume 3 caiu feito uma bomba. De repente, aquele CDzinho com a inscrição Promocional Invendável foi executado massivamente de Fortaleza a Bodocó, de Picos do Piauí a Patos da Paraíba, deixando bem claro qual era a banda de forró da década, gerando uma miríade de imitações e ditando as regras de como deveria ser a sonoridade forrozeira dali pra frente. Mas não só no som e sim demontrando a todos os mais atentos que os CDs deixaram de ser um produto com fins lucrativos e passaram a ser cartões de visita e material de divulgação.

Uma dessas pessoas mais atentas que citei, tem em seu registro de nascimento o nome de Edivaldo Fernando de Oliveira e é nacionalmente conhecido com o pseudônimo de DJ Maluco. Um ano depois de Isaias ter inventado o CD promocional invendável ele já estava adotando a prática. Dj Maluco é umas das figuras mais subestimadas da cultura brasileira. Trata-se do maior anarco capitalista deste país e com sua banda Bonde do Forró, faz um trabalho de divulgação fantástico do ritmo nas regões sulinas. Além de ser uma pessoa com uma sinceridade cortante. Quando o questionei qual era o gênero musical do disco que ele gravou em dupla com Aladin, não vacilou em responder: “seria sertanejo oportunista?” Quando perguntado sobre o porque de ele divulgar os links para downloads das obras de suas bandas em tudo quanto é comunidade do Orkut, mandou essa: “cada download que alguém faz, é um disco a menos que preciso dar”.

- E você distribui o CDs onde, DJ Maluco?
- Nos shows de outros artistas, na saída, pra neguinho não perder.
- De outros artistas?
- Sim, pois quem gosta de Gino e Geno ou Rio Negro & Solimões, provavelmente gostará de Bonde do Forró ou Bonde Sertanejo. Além do quê, se meu produto for bom, estoura.

A prática chegou agora ao extremo sul. Semana passada, no show de lançamento do novo disco do Tchê Barbaridade, todo mundo voltou pra casa com seu disquinho promocional. Segundo o agitador cultural gaúcho Dj Gotcha, os números comprovam a viabilidade da gratuidade. Com capa de papelão, um disco destes sai por menos de R$2,00 e será tocado em diversos players para diversos ouvintes, num custo final muito menor do que o jabá para as radios e infinitamente menor, por exemplo, do que uma Som Livre da vida gasta em propagandas em horário nobre para telespectadores que provavelmente não compram mais CDs em lojas.

A outra ponta de lança do Marketing Esquema Novo, que é como eu chamo a forma de contribuição para a Fundação Trocadalhos do Carilho, é a pirataria. Hoje em dia os artistas que querem acontecer no mercado precisam ter seu DVD. Alguns, como Jorge e Mateus ou Fernando & Sorocaba, só possuem DVDs em suas discografias, o áudio praticamente só serve para os MP3 players. Como o custo de um DVD nos megastores atinge valores caralhosféricos, a pirataria é saída para o consumo destes produtos.

Então, os mais espertos entregam seus DVDs nas mãos dos pirateiros e aguardam a roleta da seleção natural do gosto popular. Stefhany fez isso e se deu bem. João Bosco & Vinicius, apesar de hoje renegarem a pirataria, fizeram isso e se deram bem. A banda de Tecno Melody Baiana Djavú, também fez isso ao dar uma resteira na Banda Ravelly regravando seu disco inteiro e se deu tão bem que fazem mais de cinquenta shows por mês e estão tão famosos a ponto das pessoas pensarem que a Ravelly que é a imitação.

Como as gravadoras estão reagindo diante desse cenário? Na maior parte dos casos fechando os olhos ou enfiando a cabeça em um buraco e repetindo mentalmente: “eu não estou aqui e isso não está acontecendo, eu não estou aqui e isso não está acontecendo…” enquanto seus gráficos de vendas despencam em queda livre. A crise é generalizada e a única solução que se ouve falar é de um possível acordo com empresas de telecom para venda casada de música e acesso a web em celulares. Se eu não tivesse perdido milhares de Reais em CDs que hoje estão todos arranhados, sentiria compaixão por essa gente.

É claro que eu posso estar completamente equivocado com minhas teorias, mas adoraria saber que foi aquele povinho sem cultura que os intelectuais desprezam, que inventou o Marketing Esquema Novo que deu o tiro de misericórdia na exploração capitalista da cultura musical e realizou o sonho de Walter Benjamim.

PS.: Você não sabe que diabéisso de Walter Benjamin? Explico direitinho nesta minha antiga coluna.

publicado originalmente no site Bis
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Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:23 am

Gang do Eletro, a banda mais internacional do Pará

Matéria publicada no jornal O Liberal, do estado do Pará (28/09/2010)

Alguns encontros costumam mudar o rumo da história. Na Londres do começo dos anos 60 Keith Richards estava em um trem quando os discos que carregava debaixo do braço chamaram a atenção de um outro rapaz que viajava junto. O rapaz se chamava Mick Jagger, que puxou assunto e a conversa virou amizade e a amizade virou os Rolling Stones.

No final de 2008, num restaurante perto do terminal de ônibus do São Bráz, na periferia de Belém, dois rapazes com gosto musical semelhante partilhavam uma carne assada e o almoço virou amizade e a amizade virou a banda Gang do Eletro, umas das mais originais e promissoras bandas surgidas do cenário do Tecnomelody paraense.

O nome dos ingleses dos Stones são de conhecimento público no mundo inteiro, já os paraenses ainda são pouco conhecidos fora do circuito do tecnomelody, mas tem tudo para conquistarem seu lugar ao sol. Estamos falando do DJ Waldo Squash e do cantor Marcos Maderito.

Maderito já cantava melodys desde 2002, depois de ralar pesado como roadie da banda Açaí Machine, do seu tio Tony Brasil e debutar como backing vocal da Banda Bundas. Através de parcerias com DJs como Betinho Isabelense e Rafael Teletubies, dentre outros, Maderito foi afinando seu talento como compositor usando o mote de Garoto Alucinado, até em em 2007 teve o insight que o distinguiria dentre as centenas de artistas de tecnomelody. Acelerar as batidas, inserir elementos da eletro-dance européia e samples de techno, inaugurando assim uma nova vertente da música eletrônica paraense, o Eletro Melody.

A aceitação por parte do público que frequenta as aparelhagens foi imediata. A música “Galera da Laje” foi um dos maiores sucessos do verão de 2008. Mas foi após o encontro com Waldo Squash e a criação da Gang do Eletro que as coisas realmente começaram a dar certo.

Waldo é um daqueles típicos casos de self-made man, um autodidata que começou a discotecar muito cedo, com os equipamentos de som de seu pai, aprendendo aos poucos as técnicas de compasso musical, harmonia e tempos de mixagem. Mesmo sem curso de computação, foi se familiarizando com softwares como Sound Forge e Vegas até chegar ao ponto de poder colocar em prática suas idéias de melodias.

Seu talento acabou por levá-lo a trabalhar como locutor e produtor de algumas rádios FM do interior do Pará. E foi quando trabalhava na rádio Sorriso FM de São Miguel do Guamá que teve a idéia de adaptar o flashback “Don Pichote” para a aparelhagem Super Pop. O resultado foi a música “Super Pop é curtição” que estourou no estado inteiro e chegou aos ouvidos de Marcelo Maderito, que gostou tanto que primeiro propôs a carne assada no São Braz e depois a criação da Gang do Eletro.

A parceria dos dois comprova a tese de que o todo é maior que a soma das partes. O talento de Maderito para inventar rimas em ritmo industrial e o fantástico senso intuitivo de Waldo Squah ao caçar referências sonoras na Internet faz da Gang do Eletro uma banda internacional. Suas músicas podem perfeitamente serem tocadas numa boate de Nova York ou nas raves da praia de Ibiza, na Espanha.

No ano passado a Gang emplacou o sucesso “Eletro da Indiana”, mas foi em 2010 que a banda deu salto qualitativo impressionante ao inserir samples de Cúmbia Villera argentina em seu som. O golpe de mestre que elevou a banda ao patamar da genialidade reside no fato da Cúmbia Villera ser justamente a música produzida nas periferias pobres de Buenos Aires. Qualquer semelhança com o tecnomelody não é uma mera coinscidência.

Esse link cultural pode ser ouvido em singles como “Arrazadora Sanfona Mix”, “Tecnocúmbia Colombiana”, “Galera da Barca” e até mesmo em seu mais recente sucesso “Panamericano”, uma divertida versão do sucesso que toca sem parar nas baladas eletrônicas do mundo iteiro.

A Gang do Eletro, por mais impressionante que isso seja, ainda não tem empresário. Para contratar os caras para alucinar uma festa, tem que falar diretamente com os rapazes. O Maderito através do 8144 7575 e o Waldo do 8853 9364.
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Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:25 am

A nova Cultura de Massas brasileira e o sucateamento da Escola…de Frankfurt

Em meio a todo o barulho causado pelas críticas à educação púplica no Brasil e o consequente sucateamento de suas escolas, quase ninguém se atentou ao fato de que o povo brasileiro “deseducado”, “ignorante” e “malandro”, sem nunca ter sido consultado sobre o que pensava sobre a crise da indústria fonográfica ou a questão dos direitos autorais diante das novas tecnologias, não se fez de rogado, fez um admirável uso dessas mesmas tecnologias e mesmo sem saber o que estava fazendo – e talvez, graças a isso – implodiu a Escola de Frankfurt e toda a ideologia que ela exportou para a teoria da comunicação do século XX.

Não. Você não precisa ser formado em comunicação pela USP para seguir lendo esse post. A maioria das teorias, se despidas de sua linguagem empolada, podem ser facilmente explicadas em meia dúzia de linhas.

A Escola de Frankfurt era basicamente um grupo de pensadores alemães que viviam nesta cidade e que não viam com bons olhos as novas mídias que emergiam na época – o rádio, a televisão e principalmente as reproduções em disco. Segundo eles, a reprodução em escala industrial das obras de arte destruiria a aura mágica do “original” e do “único” e, num último grau, mataria a diversidade e acabaria por criar uma cultura global homogênia e facilmente controlável pelas forças opressoras das classes dominantes.

Era a emergente Cultura de Massas, baseada no que se chamava de Broadcasting, onde poucos veículos emissores difundiriam a informação que seria consumida por uma ampla massa de receptadores passivos.

Papo de comunista mal amado, eis a verdade. O triste é que esse pensamento contaminou o meio intelectual por mais de meio século – e ainda continua contaminando! – apesar dos surtos de pós-modernismo dos anos 60. Aliás, pós-modernismo é um termo que até hoje ninguém soube explicar satisfatoriamente. Talvez a melhor explicação seja: a tentativa de sintetizar uma cultura que por sua própria natrureza, não pode ser sintetizada. Ou seja, uma desonesta manobra por parte de filósofos e pensadoreas para manterem seus empregos.

Por sorte, nosso populacho, livre de patrulhamentos ideológicos e culturais – posto que o que ele produz não é considerado cultura – conseguiu subverter o termo Cultura de Massas. Tudo porque ele soube, mais do que qualquer outro povo de qualquer outro país do mundo, fazer bom uso das novas mídias digitais.

Enquanto as classes dominantes ficaram enxugando gelo e chorando as pitangas diante da impossibilidade de se criar um mercado viável para a música diante da queda do controle sobre os direitos autorais, o povo não sabia dessa impossibilidade e por isso, conseguiu criar seu mercado.

O inicio da revolução proletária se deu nos camelódromos, no começo dos anos 90. Era a época das fitas cassete, mas somente os durangos consumiam aquelas infames fitinhas, pois a qualidade do som não chegava aos pés dos originais. Com o advento dos CDs o cenário começou a mudar, já não eram só os durangos que frequentavam os camelódromos, mas também os primeiros consumidores pragmáticos que levavam em conta a relação custo/benefício na hora de comprar discos.

Não se sabe se o mercado por si só teria dado conta do recado, o que se sabe é que duas mentes visionárias foram fundamentais para que a revolução tomasse o rumo que tomou – Chimbinha da banda Calypso e Antonio Isaias, empresário dos Aviões do Forró.

Chimbinha não tinha empresário nem gravadora, mas tinha a cara e a coragem. A cara para dar aos tapas batendo de porta em porta das rádios para implorar que tocassem suas músicas e a coragem para reinvestir tudo o que ganhava, em CDs do disco de estréia da sua banda que eram vendidos a preços praticamente de custo para os logistas das cidades em que se apresentava. Foi o primeiro a fazer uso inteligente do barateamento das gravações. Depois de dois anos praticamente passando fome em cidades nem sempre maravilhosas, a estratégia deu certo e hoje ele tem mansão em Alphaville e jatinho particular. Além de fazer de sua banda um paradigma de ruptura dentro da musica brasileira, mas isso já é outra história.

Antonio Isaias foi mais radical. E mais esperto. Ao invés de vender seus discos a preços de custo e esperar pela sorte de alguém comprar em uma loja, resolveu dar os discos de graça para quem fosse aos shows dos Aviões. Eram os Promocionais Invendáveis. A vitória do ovo de um colombo histórico diante do ovo dourado de uma galinha folclórica. E a esperteza residia no fato de que, uma vez que os CDs não eram comercializados, estavam livres para gravar qualquer música, sem o empecilho de ter que pagar direitos autorais. Em menos de dois anos os Aviões passaram a ser a maior banda de forró do mundo e a empresa de Isaias, a mais poderosa do mercado. E a mais polêmica e criticada, mas isso também já é outra história.

Paralelamente a estas empreitadas invodoras, popularizava-se no Brasil a banda larga e as redes sociais, que o povo recebeu entusiasticamente, principalmente o Orkut e o MSN. Popularizaram-se os downloads. Os camelôs logo se reiventaram e passaram a trabalhar mais em cima dos DVDs, o que ajudou ainda mais na divulgação dos artistas, pois junto ao som foi adionada a imagem, para beneficio de todo mundo. Nunca tinha se consumido tanta música nesse país.

As classes dominantes continuavam enxugando gelo e a música “séria e de qualidade” produzida e consumida por essas classes permanecia numa espécie de stand by, no aguardo da resolução dos problemas de direitos autorais. O povo, ignorando esses problemas e diante de uma enorme oferta, acabou por obrigar a demanda a se qualificar, ou seja, os artistas se viram forçados a se diferenciarem da grande concorrência, fazendo de nossa música popular a torna-se a mais rica e diversificada do planeta.

O paradigma da Cultura de Massas, aquele onde poucos veículos emitiam uma informação que seria consumida por uma população passiva estava mudando. A informação passou a ser distribuída em rede. O termo hit passou a dar lugar ao viral. Era o começo do fim do Broadcasting.

Só que outra bronca dos malas de Frankfurt continuava de pé: a reprodutibilidade técnica e o fim da aura mágica” do “único” e “original”. E não é que o povo brasileiro, com seu famoso jeitinho, conseguiu dar cabo disso?

A coisa toda começou lá no Ceará, no mesmo começo dos anos 90 em que as fitas cassete começaram a proliferar. Foi um cara chamado Chiquinho, da Discofran de Viçosa no Ceará, que começou a gravar os shows a partir da mesa de som onde trabalhava nos eventos. A principio era para ele mesmo escutar em casa e no carro, mas com o tempo, mais pessoas passaram a se interessar pelas gravações e ele passou a vender as fitas – inclusive alguns shows ele lençava em vinil! Inaugurou-se um mercado que foi crescendo aos poucos.

Na verdade era uma bomba relógio esperando o estopim digital para explodir.E a explosão aconteceu.

Foi tudo tão rápido e tão recente que talvez esse seja um dos primeiros artigos da imprensa a abordarem o tema. É dificil rastrear quem foram os pioneiros, isso demandaria uma pesquisa longa que estrapola os limites deste post, mas a coisa começou lá pela metade dos anos 00, quando as máquinas de múltiplos gravadores dos pirateiros passaram a serem usadas para reproduzir em CD as gravações dos shows assim que eles ocorriam. Esses discos eram disponibilizados para venda na saída, como souvenir.

Uma idéia genial, afinal de contas, quem não gosta de escutar no conforto de seu lar aquele show bacana que tanto o divertiu ou emocionou? Surgiam assim os chamados Fulanos CDs, gravadores que passaram a ser tratados como estrelas, disputando entre si quem tinha a fama de melhor qualidade na gravação. China CDs, Gustavo CDs, Clebemilton CDs, surgiram centenas deles. Daí para as gravações cairem nas redes sociais foi um pulo, mais inevitável que uma derrota em Copa do Mundo tendo um Dunga no comando e um Grafitte entre a lista de convocados.

São centenas de comunidades para downloads de shows no Orkut. Além da qualidade de gravação, a velocidade na postagem dos links para download passou a ser fator de concorrência entre os Fulanos CDs, criando entre o público uma nova forma de consumir música. Agora o pessoal não se contenta mais em escutar o último promocional de sua banda preferida, agora a galera quer escutar o show mais recente. E consegue.

Se a banda Garota Safada tocar hoje de madrugada em Patos da Paraíba, o fã que mora Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, pode escutar a gravação – com boa qualidade – antes que o dia amanheça.

Por essa, certamente os sizudos pensadores de Frankfurt não esperavam. Se eles queriam a unicidade de cada apresentação ou apreciação de uma obra de arte, aí está! Com a vantagem de que estas apresentações únicas estão aí para todos, de graça. É a classe operária indo ao paraíso.

É certo que essa cultura libertária ainda não foi disseminada homogeniamente por todo o país. O Sul/Sudeste – olhe que curioso dizer isso! – ainda está muito atrasado com relação ao Norte/Nordeste. Pra se ter uma idéia, o pessoal do Norte, mais especificamente a cena tecnomelody de Belém, a muito abandonou o conceito ultrapassado de disco e trabalha majoritariamente em cima de singles, coisa que as bandas mais descoladas do primeiro mundo estão apenas engatinhando na prática. Enquanto isso, os artistas de sertanejo ou pagode do Sul/Sudeste ainda estão na fase de distribuir CDs de graça nos shows.

Mas é uma questão de tempo. A crônica da morte anunciada da indústria fonográfica é implacável. Os pagodeiros e sertanejeiros – e toda a produção musical do Rio Grande do Sul, infelizmente – ainda estão muito amarrados ao esquema das gravadoras. Falta um Chimbinha ou um Antonio Isaias no setor. O Sorocaba, que faz dupla com Fernando, era um vislumbre de esperaça quando arquitetou na base da independência o fenômeno Luan Santana. Mas foram ambos cooptados pela Som Livre, a gravadora que atualmenta representa o maior perigo para a moderna música sertaneja, mas isso, mais uma vez, é outra história.

O legal de tudo isso é que essa inversão completa do paradigma da cultura de massas não foi empreendida por meia dúzia de intelectuais ou artistas metidos a vanguarda, mas sim por uma massa anônima e caótica, que se auto-organiza espontaneamente, supera as contingências e se diverte pra cacete.

Claro que os repeitáveis acadêmicos estudiosos de Frankfurt torçem o nariz quando alguém passa na frente de sua casa escutando alto no som do carro coisas como “Você diz que não me ama / você diz que não me quer / mas fica pagando pau…” e com certeza se recusarão a admitir que terão que aprender tudo de novo. Claro também que os respeitáveis músicos da MPB também torçem o nariz quando ouvem coisas como “Na sua boca eu viro fruta / chupa que é de uva…” e com certeza se recusarão a admitir que a “linha evolutiva da musica popular brasileira” é apenas uma linha, arbitrária e equivocadamente criada, que não representa em nada a realidade musical desse país.

Azar o deles. Na hora em que eles vierem com a cebola e o tomate, já estaremos com o molho pronto, o churrasco no fogo, a cerveja gelada, o som no talo e fazendo a maior festa sobre os escombros de Frankfurt.
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Post by wodouvhaox Sun Feb 13, 2011 10:28 am

O dia em que Nietzsche foi no Super Pop

Sem a menor sombra de dúvida, se de posse de uma máquina do tempo pudéssemos trazer para a atualidade o filósofo alemão Friedrich Nietzsche e o levássemos para uma noitada na Super Pop, ele piraria o cabeção e chacoalharia o bigodão ao som de Elisson e Juninho. Antes que o leitor questione o prazo de validade da maionese do X-Salada que comi pela manhã ou antecipe o destino de embrulho de peixe deste jorna, peço apenas alguns parágrafos de sua atenção.

Em seu primeiro livro, O Nascimento da Tragédia, Nietzsche faz uma exaltação à cultura pré-socrática. Segundo ele, depois de sócrates a humanidade entrou em um ciclo de decadência cultural que perdura até os dias de hoje. A argumentação do bigodudo era mais ou menos assim.

Durante as celebrações rituais das tragédias, os gregos cultuavam dois deuses opostos e complementares. Apolo, o deus das formas ideiais, da ordem e do mundo perfeitos dos sonhos e Dioniso, o deus da fertilidade, da orgia e da sensualidade. Em um resumo grosseiro, Apolo seria o deus das expressões mentais enquanto Dioniso se encarregaria das expressões corporais. A tragédia grega unia estas duas figuras opostas, fazendo daquela cultura a mais perfeita da história da civilização. Dionisíaca e apolínia, a civilização mais bem resolvida consigo mesma, por assim dizer.

Com a filosofia de Sócrates esse par perfeito de desfez e o apolínio passou a sobrepujar o dionisíaco. E o cristianismo ainda calhou de cimentar ainda mais essa visão de mundo ao decretar que e pecado estava na carne. Durante a idade média esse pensamento gerou muitas atrocidades. Com o renascimento a humanidade teve sua chance de ouro para resgatar a glória dos velhos tempos, no entanto a nascente burguesia, na hora de resgatar o período classico grego, focou-se na filosofia socrética e Dioniso continuou escanteado.

Com a ascenção da burguesia e o surgimento do conceito de alta cultura, Apolo passou definitivamente a dar as cartas no mundo da arte. Mas o povão, esta imensa massa de seres rudes e incultos, manteve em suas festas e carnavais a chama dionisíaca acesa. E aqui é chegado o momento de apertarmos o botão Go Future de nossa hipotética máquina do tempo e trazermos nosso polêmico filosofo alemão, das frias salas de aula da Basiléia para as quentes periferias de Belem.

- Olá Fritz?
- Opa!
- Cara, esse teu bigode hoje em dia está meio demodê, mas vou te levar numa balada que talvez você ache interessante.
- Balada? Você está maluco? Fui eu cunhei a famosa expressão "Deus está morto", você está me convidando para ouvir o sino de uma igreja badalar?
- Não cara, trata-se de uma festa popular.
- Festa popular? Só de for agora.

Embarcamos nosso livre pensador em um confortável pô pô pô e o conduzimos até uma apresentação da aparelhagem Super Pop na Ilha do Mosqueiro. Ao nos aproximarmos ele já começa a demonstrar sinais de excitação ao notar as luzes coloridas e aquelas retumbantes batidas. Ao chegarmos no local seus olhos brilham, seus braços se agitam e tomado por um frenesi incontrolável começa a exclamar aos berros, mal acostumado coitado com tamanha potência sonora.

- Pelas basrbas de Netuno! O que é isso meu jovem? O que é esta música?! O que é esta dança?!
- É tecnomelody véinho!
- Rapaz como o povo evuiu! Nada daqueles carnavais italianos com gente suja e fedendo a mijo e esterco, sinto-me inebriado com o perfume dessas belas moçoilas! Se me permitido fosse trazer Lou Salomé a uma festa como essa, eu não teria levado aquele inexorável pé na bunda. Onde está a estátua de Dionísio?
- Bom, observe aquela cabine lá no centro, onde estão aqueles dois caras.
- Hummm, quem são?
- Elisson e Juninho.
- Entendi, Aguia de Fogo é o simbolismo de Dionisio e pode me levar de volta pra Basiléia, voltarei embriagado do mais puro sentimento de esperança, agora sei que um futuro promissor espera pelos pobres seres do século XIX.

Esta alegoria pode soar como piada para muitos incautos. Talvez seja, mas o preconceito que nossas elites culturais paraenses alimentam contra o tecnomelody, será que não um pouquinho a ver com o desprezo pelo corpo e pela sensualidade que o excesso apolínio impôs a sua cultura? Será que as manifestações culturais populares, que mais do que em qualquer outro país do mundo, estão arrombando as portas da cultura de massas, não farão do Brasil o palco de uma nova renascença? Será? Hein? Que tal?
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