Conheça o Bela-Parrachianismo
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Conheça o Bela-Parrachianismo
Parrachia
De Discordiapédia
Parrachia é uma derivação de "Bela-Parrachia", uma cultura tradicional dos chinos.
Não se tem registro histórico preciso de sua origem ou de sua localidade de origem, já
que eles são uma etinia nômade e sua modalidade de escrita seja posterior.
Os Bela-Parrachia defendiam um sistema de ventaval, repudiando a verdade, o real, o
fictício e a tradição, partindo de uma tradição não tradicional ou não ordinária.
Sob tais perspectivas anti-perspectivistas antecipou o movimento discordiano em pelo
menos 3000 anos e pode ser considerada mãe-doadora e legado para as posteriores
tradições do ceticismo radical e da pragmática do caos.
Seus principais pensadores foram Von Darsê (salve Von Darsê 08/08) e Kuhn Hu, que
foram várias pessoas ao longo dos séculos.
O parrachianismo ainda encontrou um conflito interno entre monistas (cf. a conjectura
de BubleonHarashingá e o Ganso) dualistas (cf. ganso x pato no plano cósmico) e
polimorfistas (não há nada além dos ritos de transformação, p.ex, rito do arroz, da bola
de gude, etc.).
Recentemente na cidade do Rio de Janeiro (Brasil) surgiu a vertente "Caco-Parrachia",
influenciada pela contracultura e pelos happenings estilo cacofônicos.
É mister afirmar, portanto, que não é o parrachianismo uma forma de discordianismo,
mas antes que o discordianismo é uma forma tardia de parrachianismo.
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Apócrifos Cabalísticos
Introdução
Bela-Parrachia , 10 de julho de 56 D.V (correspondente a 153 d.c)
Sou um eremita da seita mais conhecida como Bela-Parrachia, chamam-me hoje de Von Darsê, somos um grupo de pessoas obstinadas a querer saber em que acreditar, mas nada acreditamos, melhor dizendo, acreditamos nas respostas que encontramos durante um tempo mas sabemos que respostas nunca são verdades. Vivemos como errantes rodando por esse mundo, a procura de respostas que escreveremos sempre a carvão, assim até mesmo o vento poderá apaga-las. Von-Darsê sempre foi fiel sua cultura, mesmo que fidelidade aqui não signifique respeito a tradição, nem mesmo concordância. Nascida na terra do sol nascente sempre a magia e os sonhos fizeram parte dos seus cultos incultos. Vou contar-lhes então algumas historias que aconteceram conosco para que possam compreender melhor a nossa seita tão religiosamente pagã.
Bela-Parrachia e a Linguagem.
Espíritos “nômades” vagaram muito tempo, pelas mais diversas terras inabitadas e mórbidas, alegres e ensolaradas, entre essas ja tinham passado uma vez por uma cidade chamada Swan-Tao, a muito, muito tempo….
O povo dessa cidade não podia se lembrar bem, aquele povo ja era agitado demais, vivam em função do futuro, não tinham tempo para lembrar o passado, tampouco o presente. Os espíritos voltaram a aparecer na cidade de Swan-Tao de modo tão espontâneo que chocaram as pessoas desprecavidas, um espirito chamava demasiada atenção, esse espirito era mais conhecido por Von Darsê, um eremita “solitário” da seita Bela-Parrachia.
O povo em Swan-Tao falava tanto do acontecimento que nada comunicava, sua linguagem era pura verborragia, a alma deste povo era fraca, talvez consumida demais pelas excentricidades sadomisticas do mundo moderno, sua linguagem era tão rica, sua língua tão bem escrita que nada comunicava, intrigado pela linguagem harmoniosamente brilhante dos Bela-Parrachia, um sujo e nobre camponês resolve perguntar a Von Darsê :
- O que precisamos para dizer como dizes? Comunicar como comunicas? Ser o que sois?
- Precisardes antes de mais nada serdes sexualmente ativos, assim não precisaras mais gaguejar a um instinto reprimido, não precisais de linguagens tão complexas quanto a complexidade que não alcanças por estardes tão presos e cansados como mortos. Palavras são palavras, olhe em meus olhos e veja além…
O jovem compreenderá a mensagem, olhará não só para os olhos de Von Darsê mas também para seus gestos, a velocidade de sua fala, sua movimentação labial, e começou a compreender o que nunca havia compreendido.
Posso ver não só teus movimentos, como teus sentimentos, mas como posso ser livre? Como posso gozar do livre sentido do nonsense ? O sábio ficou parado observando o jovem conseguir sua própria resposta….
O jovem olhou para o chão então e pode ver uma formiga que batalhava para levar um pequeno pedaço de arroz para tua casa, o jovem pegou teu arroz naquele momento, observou-o e disse:
- Todos somos grandes, todos devemos ser um pouco abusados e nunca humildes demais, devemos ser naturais e espontâneos e comeu o pedaço de arroz. Eu hoje desejo sangue, desejo com inocência, desejo acima de tudo arroz. Disse tudo com um sorriso altamente natural no rosto enquanto bebia vinho e comia arroz.
Era visível demais, Khon Hu, o jovem , apresentou-se aos espíritos e disse-lhes : Descobri todo sentido da comunicação mas não devo agradecer-lhes, apenas pelo arroz que jogastes no chão, esse me trouxe luz.
Sobre o Criador
O povo Bela-Parrachia dirigiu-se ao centro de Swan-Tao e começaram a montar um gigantesco ganso de bambu, o povo de Swan-Tao parou para observá-los, entrando em choque com a cena incomum de seus dias monótonos, o mais interessante era que o ganso de bambu de aproximadamente 2 metros possuía uma genital de aproximadamente 40cm, alguns então começaram a debochar do ganso e Khon-Hu deteve-os com sua neo-sabia-linguagem.
- Ganso, Deus, Genital Grande, Valor Sexo, Risadas, Pequenez, Moralismo, Embriaguez, Estupidez….então ficou olhando para cima e para baixo, depois manteve suas mãos numa linha retilínea, na linha do horizonte, na aurora, tocou então no cerne da questão.
O homem que até então zombava ajoelhou-se e disse:
- Perdoe-me, o tempo me matou, a falta de sexo enrijeceu-me, a moral trancafiou-me, preciso livrar-me de toda essa morte
Então gritou com toda força :
- 1, 2, 3, 90, 4 !!!!
Com esse gesto mesmo o homem comum tornou-se ali um Bela-Parrachia e quebrou o encanto nebuloso que haviam feito em ti. O homem então começou lentamente a andar de trás pra frente criando não só uma nova maneira de andar, criará ali, um novo mundo, e afirmará aos prantos:
- SOU TÃO DEUS QUANTO DEUS FOR O GANSO!! Seguirdes então o caminho que não levas aonde deseja chegar..
Von Darsê ainda falará com a multidão que aos poucos se ajoelhava para a estatua de bambu do ganso:
- A magia vos cerca, e não deveis temer, pois tudo que será feito poderá ser desfeito, pois tudo que ostentastes, tudo que tomastes, será roubado de ti pela magia. A magia de nosso criador que procuramos eternamente sem nunca ter encontrado, que procuramos eternamente sem ao menos querer encontrar. Viva Parrachia, que bela!!!
O povo então começou a observar a magia, observar que um ganso de bambu era tão poderosamente místico quanto mística fosse a magia de quem pudesse olha-lo, e as pessoas eram tão deuses quanto mágicos fossem eles mesmos, mas o povo ainda não compreenderá os arrozes que a todo momento os Bela-Parrachia jogavam no chão, e a todo momento comiam…
O Arroz e o Mito
Enquanto os Bela-Parrachia jogavam bolinha de gude, grande parte do povo os observava e tentava compreender aqueles espíritos ensolarados, alguns insultavam-os, alguns os veneravam, mas ninguém era de forma alguma indiferente.
Durante um ritual os Bela-Parrachia disseram todos juntos como num grande refrão harmoniosamente caótico:
- Bolas de gude, acerte aquela bola, derrube-a, esmague-a, aquela bola ja é velha demais.
Ficaram então correndo em círculos, gritando essa frase repetitivamente, eis então que a chuva começava a jorrar, destruindo sua própria cerimonia das bolas de gude, eles então começaram a comer arroz e dançar, esse era o famoso ritual da auto-destruição.
Nesse ritual destruíam suas próprias crenças em prol de novas crenças, assim poderiam sempre ir além na procura do desconhecido.
O arroz era um dos reagentes que utilizavam para fazer suas magias, utilizar sua alquimia, além de um grande vício que nunca poderiam largar se quisessem realmente superar a si próprios. O arroz continha uma magia tão grande que foi utilizada pelos Chineses para plantar e pelos Bela-Parrachia para chegar a um estado meta universal, o arroz produzia sensações neles que podiam ser comparadas aos transes hipnóticos produzidos em algumas tribos durante cerimonias religiosas, porem não se tratava simplesmente de um mero recurso psicológico.
Pelo arroz conheceram além do universo, e mostraram suas experiências para todos, mostraram o poder da dança dos deuses, depois aprendida por outras culturas e religiões, afirmaram que todos deveriam satisfazer seus desejos, qualquer que fossem, desde brincadeiras até os sexuais, independente de serem poligamicos ou monogamicos, independente de ordens políticas ou religiosas e assim o foi até a repressão e mutilação da naturalidade por pessoas quase sempre mal intencionadas.
“A grande verdade: a verdade temporal, a verdade que não afirma, a eterna duvida.”
A espontaneidade e o Caos Ordenado
Chuvia muito em Shaw-Tao, estavam todos no templo Quay-Wan, era um dia que não se podia ir as ruas, pois estava-se no dia da constelação Chen, dia sagrado para a religiosidade conterrânea. Um menino, porém, pedia muito aos país para irem a rua com ele, pois na rua se encontravam os Bela-Parrachia dançando e comendo arroz na chuva.
O pai revoltou-se e bravejou com sua áspera voz :
- Isso é um absurdo, hoje é dia de Chen, algo terrível acontecerá a aqueles incrédulos, os ceticos sempre foram uma praga filho, escute-me bem.
Um ancião Bela-Parrachia que estava perto não pode deixar de ouvir, e retrucou:
- Digo-vos irmão, tens tanto medo do perigo do fogo, que não percebeste que o fogo ja te queimaste por dentro, enquanto vos o prendestes. Liberte teu filho, não permita que vossa prole queime convosco. Recusar-lhe-ei a vida?
O pai do garoto mordeu os dentes e começou a pensar, observou que toda sua vida havia reprimido seus sonhos, seus desejos, do que sempre quis fazer e não o fez pelo medo e obediência das tradições e moralismos mas ainda tinha medo de seu filho servir de teste para o azar.
Resolveu então sair junto de seu filho, abalaram-se os portões da ordem, tiraram as roupas e saíram correndo pela chuva, em pouco tempo estavam dançando pelados como os Bela-Parrachia, e claro, comendo arroz.
Tinham agora uma nova tradição, caoticamente destruíram a ordem e então constituíram essa nova ordem, a de se despir, dançar, comer arroz…os Bela-Parrachia juntaram-se então, começaram a jogar bolas de gude até que resolveram não mais dançar e sim ler, entrava-se na era da leitura na China.
Leitura de um trecho do diário de Von Darsê :
- Hoje 16 de abril de 48, o sol já se esconde dentre as montanhas, estou muito feliz, estamos conseguindo comprir nosso objetivo, apesar de não termos uma meta paradigmática, o povo ja se solta mais, dança mais, ri mais, se diverte mais e se preocupa menos. O imperador está preocupado com a diminuição do trabalho dos camponeses e parece desejar nossas cabeças, não me é estranho esse comportamento de um ser que prende dentro de si tanto fogo, as queimaduras, a depressão e o desespero se fazem assim. Nós desejamos sexo, sorrisos, diversão, cultura, leitura e caos harmônico. Estou realmente surpreso pela vida que podemos levar quando negamos a morte na vida.
Espaço, Tempo e a Felicidade
As pessoas se perderam no tempo e no espaço, as pessoas roubam o tempo e o espaço uma das outras, como querer encontrar a felicidade se você não detêm o tempo-espaço da sua vida?
Um escravo conhecido como Amadah-Len veio perguntar aos Bela-Parrachia : Estou tão deprimido, como posso ser feliz?
Jung de Miro e Von Darsê responderam-no com a suavidade drástica dos Bela-Parrachia : Como quereres ser feliz, enquanto procuras a felicidade de olhos vendados? Como podes comer se não tens a comida, onde plantar e nem ao menos o tempo para comer? Para ser feliz precisas antes de mais nada de tempo para ser feliz, precisaste ter o teu tempo para ti…enquanto teu tempo é roubado, não poderás encontrar a felicidade, precisas pois tomar o tempo de quem te rouba, tua majestade, teu senhor, tua religião ou tua política e após retomar a terra roubada que outrora foste tua, e hoje te negam com veemência.
Ai jaz a essência da felicidade, mas não só ai, se tua religião te aprisiona em vida ou em morte não podes ser feliz, precisastes na vida do gozo que outrora fostes pecaminoso, precisastes viver no mundo, para fora, e não se trancar em si mesmo, o orgasmo pleno de um ser se faz ai.
Von Darsê então lhe deu uma lição que o escravo jamais esqueceria :
Seja livre mas não se esqueça, te prende um pouco também, não viva só como um animal, só pelos instintos, do mesmo modo que um pouco de veneno pode curar um envenenamento, um pouco de mal pode curar o mal da totalidade, vos é necessário um pouco de cada doença para que possas viver curado e não arriscar-se contaminar até a morte. Mais quando chegar tua hora terás de saber o momento certo de ficar doente e largar teus remédios, pois a doença é também uma cura.
Não se iluda com teóricos que lhe dizem que o tempo vai acabar, ou que começou por obra do divino, nem que o tempo é uma reta ou um circulo, o tempo é mais que simples teorias, o tempo não volta, o tempo não para, por isso precisastes da mudança, porque o tempo não vai acabar, mais vos um dia irá perecer, as ações humanas são infinitas porque infinitas são tuas idéias. Portanto não tema, retome teu tempo, retome teu espaço, retome tua vida, assim encontrarás, ou melhor, poderás encontrar a felicidade.
O Ritual da Autodestruição
Um dia de sol, as gramas estavam verdes em Swan-Tao, as pessoas ja tinham aprendido não só a aceitar os Bela-Parrachia mas também a adora-los, a maioria da população tornara-se Bela-Parrachiana e os que ainda se prendiam a neuroses e fobias começavam a desvirtuar aquela seita ou anti-seita que negava-se sendo. Criaram dogmas, verdade Parrachianas e começavam a dizer que só se chegaria a luz através do “ideal” Parrachiano.
Enquanto acontecia essa desvirtuação pálida dos Bela-Parrachia o jovem Khon-Hu olhava-se no espelho e conversava consigo mesmo:
- O que queremos? Era isso? Mais uma anestesia psíquica? Não, nunca foi e nunca será essa lastima, devemos negar toda verdade imortal e divina, devemos negar toda verdade imutável, devemos queimala ou devemos esperar que o tempo a queime?
Von Darsê que vinha passando não pode de deixar de escutar, escutou a conversa do jovem e chamou-lhe :
- Veja. (apontou para o sol e para as pessoas que ali trabalhavam).
- O que vê? – perguntava Darsê num tom melodioso.
O jovem Khon-Hu respondeu-lhe com sua percepção místicamente realista:
- Vejo pessoas que trabalham de dia, porque aprenderam que assim podem produzir mais e melhor. Nós não viemos aqui para ensinar-lhes o trabalho, contudo se tiverem duvidas, podemos reafirmar-lhes que o dia é melhor do que a noite.
- Sim, respondeu Darsê, contudo esqueceste de algo, esqueceste da noite, assim como no dia pode-se trabalhar, descansar e praticar o coito, a noite também é hora, a noite também é dia. Não deves prender-te a respostas tão superficiais como noite/dia, verdade/mentira, bem e mau, a austeridade se torna a miséria de quem a prática, o maniqueismo do tirano.
Khon-Hu então correu para a praça e começou a fazer movimentos que ninguem podia compreender, deu um berro de fúria, um piso no chão de raiva, fez algumas caretas, e começou a dançar mexendo bastante a região pélvica.
O que ele estava querendo? A maioria do povo olhava intrigada, alguns acusando-o de exibicionismo e falta de pudor, mas foi o sábio Arachimini um garoto de 13 anos que pode dizer aos intrigados cidadãos.
- Vocês estão cegos? Seus olhos estão tão fechados que não conseguem perceber a voz que sai dos movimentos? Ele está tentando mostrar-nos que a movimentação natural do corpo tanto pode trazer a tranqüilidade, a emoção, os sentimentos de volta, como nela não existe verdade, existe caos ordenado, existe vida, existe livre liberação de fluxo e não tentativas forçadas de tentar impor-lhes verdades como fazem. Ele dança como quer, faz o que quer, o que teu corpo quer e o que aprendeu e não nega o novo, jamais. Por isso ele não pode ser como aqueles que desejam tornar a beleza dos Bela-Parrachia mais um túmulo como o Cristianismo, o Judaísmo, e essas auto-sacrificações masoquistas.
Logo após o discurso flamejante do garoto, Jung de Miro foi a praça central da cidade conclamou o povo e disse :
- Vim dizer que nós Bela-Parrachia estamos partindo da cidade, porem antes de irmos proclamo a todos os Bela-Parrachianos a fazer o ritual da bola de gude sobre tudo que sabemos para que não nos tornemos jamais padres Parrachianos, essa aberração nunca existiu e não deve vir a ser. Deixemos que o devir entre em nossas vidas…
Então o povo Parrachiano voltou a sua essência lúdica, jogou bolas de gude, divertiu-se, dançou, comeu arroz e no final destrui qualquer vestígio de império e autoridade.
A Deriva e o Errantismo Parrachiano
“Vamos atravessar pontes
E de pontes para pontes
Assim urge nosso destino
Não ficaremos parados
Estagnados, esperando o acaso.
Não ficaremos parados
Com a faca na mão,
E a justiça no peito…nos matando a cada segundo.”
Os Bela-Parrachia então saíram de cidade de Swan-Tao e começaram seu caminho rumo aonde a beleza os levasse, é importante ter um objetivo, mas não para vida toda, todos objetivos devem cair para dar lugar a novos objetivos, para a vida não ficar rígida demais, assim como todas as localidades e condições de vida devem ser trocadas periodicamente para não se prender a um padrão de vida ou um padrão de ambiente, assim os Bela Parrachia construíam sua anti-sistemática, não confiando em verdades imutáveis, formava-se a deriva e a constante da revolução, o devir.
Foi com essa convicção que os Parrachia saíram em direção aos desertos Árabes enfrentando condições climáticas para eles aterradoras, o perigo era tão constante que levou a muitos a superarem a si mesmos para enfrentar a morte. Agüentaram bravamente tanto o clima do local quanto o tempo (quando se diz tempo, está se referindo não só a condições climáticas e sim a duração do próprio dia e indo alem do próprio minuto.).
Após dias de truculência chegaram a um Oásis onde vivia um tribo, essa tribo defenderia sua localidade estratégica com a vida, eles detinham armas (lanças, escudos, arcos…) enquanto os Bela-Parrachia não tinham nenhum tipo de armamento bélico. Tudo insinuava que eram os últimos momentos de respiração dos bombeiros incendiários, mas os Bela-Parrachia possuíam uma grande arma escondida na manga, a revolução do gato amargo.
Aproximadamente 300 guerreiros armados partiram em direção aos cerca de 150 Parrachianos, eis então que a situação mudou, quem vive no mato aprende com o coelho. “ Nas ocasiões que tudo inspira temor, nada deves temer. Quando estiveres cercado de todos os perigos, não deves temer nenhum. Quando estiveres sem nenhum recurso, deves contar com todos. Quando fores surpreendido, surpreende o inimigo”
Sun Tzu foi um grande inspirador dos Bela-Parrachianos, e foi exatamente a sua mentalidade que o povo Bela-Parrachiano utilizou para revirar a situação.
Os Bela-Parrachia então começaram a dançar e comer arroz na frente dos 300 guerreiros tribais e como era de se esperar a chuva jorrou, o místico ar tomará conta do local, os 300 guerreiros acreditaram ser os Bela-Parrachias Deuses, enquanto eles eram apenas parte da natureza, melhor dizendo, não apenas parte, ele eram a natureza propriamente dita, assim como você e eu.
A partir dai os tribais juntaram-se aos Parrachia, começaram a adora-los, mais logo os Parrachia os demonstraram que não só eles eram Deuses, mostraram que todos os são. Aqueles dois povos à partir dali aprenderam muito mutuamente como bons seres humanos, ou bons Deuses. A magia da deriva, como a magia do errantismo trouxe aos Bela-Parrachia muito conhecimento, evolução, força e afetividades guardadas de todos os locais, alem da possibilidade de manter-se em constante movimento, o constante movimento da vida.
A Virtude da Loucura (diário de Von Darse)
Durante as áridas caminhadas sobre desertos, florestas tropicais, vimos de tudo que se possa imaginar, até mesmo o inimaginável. Aquele sonho que se tem a noite ou mesmo de dia, para nós era realidade, o sonho e o pesadelo eram-nos igualmente virtudes, pois da vida, eles faziam parte.
Passou-se neve e chuva, sol e seca, até que podemos encontrar uma das maiores dadivas que nos esperavam… Encontramos jovens nômades durante o trajeto e ficamos muito amigos daqueles eruditos, mas um deles se destacava demais, tanto por sua anti-sociabilidade, como pela sua magia, seu intelecto e sua honestidade vibrantes.
Conheci esse Santo enquanto ele conversava sozinho, achei inicialmente estranho tal fato, comecei a achar que tal homem possuíra poderes sobrenaturais alem da luz, mais tarde iria comprovar minha teoria. Resolvi perguntar então a alguns Nômades sobre tal estranha figura.
Contaram-me que ele era um caso realmente muito estranho, não se envolvia muito bem com os outros Nômades, principalmente os mais austeros que traziam a estase daquele povo. Estes nômades austeros e jactanciosos que odiavam o jovem estranho eram os mesmos que traziam a paralisação daquela sociedade e sem duvidas o diferencial entre os Bela-Parrachia e eles.
Eu resolvi então falar com o jovem que era conhecido como Iquiz Tao Hiad e descobriu no jovem tanto uma noite* imensa quanto uma sombra ardente, o jovem era honesto de uma maneira una, não continha a peste da falsidade e da mentira trazidos da rigidez das cidades falsas.
O jovem dizia com os olhos ao mesmo tempo tão distantes como tão próximos do mundo como é raro de ser ver :
- As cidades fantasmas querem roubar minha alma, dentre este povo existem desde as mais celebres pessoas, até os mais árduos tiranos, me chamam de louco, dizem que perdi minha cabeça, mais quem quer tirar minha cabeça são “eles” (claramente falava sobre mais de uma entidade). Os normais estão loucos, e agora querem dominar a “loucura” dos normais, assim ninguém irá atrapalha-los a deter o poder, por isso fugi para essa tribo nômade que me acolheu de braços abertos.
Chamavam-no de louco, mas loucura para Von Darsê** ainda não era de certo aquilo, compreendo que em tal jovem haviam coisas um tanto quanto assombrosas, parecia que ele tinha fugido do mundo, criado seus próprios significantes, tanto para as palavras, quanto para a vida em si mesma. Eu resolvi ajudar (ainda que com medo de destruir-lhe a magia) aquele jovem, que apesar de tão honestamente inteligente, possuía uma angústia de uma tonelada ( se é que podemos medir os sentimentos.), mas não escreverei aqui como o ajudei, apenas quero relatar o meu encontro com o mais inteligente dos homens, mesmo porque foi o mais sábio e honesto deles.
* - Noite claramente no sentido de harmonia e beleza natural.
** - Aqui, falando sobre ele mesmo em terceira pessoa.
Usando o Vivido, Não se Vive, se Usa.
Os Bela-Parrachia após o encontro com os Nômades partiram para a maior cidade de Oriente, ja Ocidentalizada a tempos, Bombain, lá puderam observar as pedras que se locomovem e ficaram impressionados, terrivelmente impressionados, viram pela primeira vez uma cachoeira que não flui.
As pedras andavam a seus objetivos tão superficiais como elas mesmas, azedas, imóveis e duras, duras como….pedras. Seus únicos objetivos (que elas próprias não sabiam) era manter o grande pedregulho que mantinha seus status de pedra. Os pássaros que ali viviam largaram tudo que era vida, eles não possuíam possuindo, a partir de agora, tudo que eles detinham não detendo em prol de transformar toda aquela vida em simples uso. Foi ai que a maldição travou-se sobre Bombain, todos os pássaros viraram pedras e o pior, não sabiam que eram pedras, e defenderiam a condição de pedras, aqueles que um dia ja foram pássaros. Tudo aquilo era demasiado triste, ver aquilo era quase que como transformar-se em estatua e estar morto também.
Os Bela-Parrachia estressados e perplexos sabiam que aquela era a maldição para aqueles que transformam suas vidas em epílogos, e começaram a gritar sem se preocupar com as pedras e seus pseudo-objetos de uso, CRIEM INTRODUÇÕES, PROLOGOS, VIVA O INICIO, O MEIO E PRINCIPALMENTE O FIM, NÃO O FIM COMO DESFECHO, JAMAIS O FIM COMO CONCLUSÃO, MAS O FIM COMO A PERCEPÇÃO DO ETERNO ERRO!!!!
Enquanto berravam essas palavras, alguns vomitavam, outros praticavam o onanismo e gozavam, outros simplesmente cuspiam, outros respiravam com vontade e jogavam para fora todo ar velho, o fato era que todos demostravam o novo, todos mostravam o fluido da vida em oposição a estagnação e a reificação que os rochedos trouxeram.
Todos os Bela Parrachia viviam e mesmo que estivessem usando roupas, objetos, livros, eles viam tudo isso como vindo do mundo, melhor dizendo, tudo como participação do mundo e não objetos fragmentados, viam tudo como vindo e ainda presentes na terra, viam tudo como partes de si mesmos, viam a vida, eram ainda pássaros.
Enquanto os Bela-Parrachia viam tudo na vida, as pedras, viam tudo como objetos de uso, viam tudo até mesmo os animais como utilidades, tiravam suas características, tiravam suas vidas, fragmentavam tudo, transformando-os em objetos.
“ Se eu mantive-me inteiro até aqui,
O sonho, o sono, o despertar, não acabou
Aqui então viverei, aqui então morrerei
A energia fluiu, o mar de risos, de gritos,
De raiva, alegria, paixão, amor e ódio
Na noite ensolarada,
Tudo se vive, tudo é da terra,
A terra é de tudo, o cosmos, é tudo,
São de tudo, são de todos, são o tudo.
Somos nós. “
A Raiva e os Sentimentos
Evitam a raiva PRISÃOSem Sentimentos
Tem amor VIDA Tem raiva
Amor HARMONIA Ódio
Tensão GOZO Climax, Alivio
Sexo MAGIARitual da Auto-Destruição
Antagonismos formam sinteses ? Paradoxos naturais ou natureza
paradoxal ? Naturezas naturalistas, biopoliteistas ateus do devir?
——-x—————————X—————————-x———x
A quebra do equilibrio.
Estavamos numa floresta, realmente alegres em nossa caminhada
errante escutando o ancião Jung de Miro que contava-nos historias na
roda que se formara entre a fogueira e o vinho.
- A muito, muito tempo, existia um povo que não sabia rir, esse povo
era dominador, tinham lanças que cuspiam fogo*, guerreiros montados
em criaturas rapidas como dragões. Este povo era terrivel, rangiam
os dentes de tão angustiados, tinham os braços rigidos e os olhos
sem expressão. Tornaram a terra das tribos daquela floresta puro
fogo, pura lama, mataram todos animais e faziam panos com a pele
desses animais para vestirem-se e mostrarem seu status.
- Eles sabiam matar, eles sabiam dominar, mas nem ao menos sabiam o
que eram os sentimentos, a muito ja tinha se perdido disso, sabiam
matar, sabiam destruir. Um dia um desses guerreiros insensíveis
encontrou um menino Bela-Parrachiano e perguntou : Onde estão os
guerreiros Parrachianos? Enquanto olhava tenso para todos os lados e
suas mãos suavam rígidas como pedras segurando a lança que cospe
fogo.
- Eles estão como de custume brincando, tomando chá, vinho, fumando,
fazendo sexo, dançando ou caçando, aqui tudo é alegria e tristeza,
todos os sentimentos fazem parte de nossa vida, sabemos que negar um
sentimento é negar a todos, mas porque deseja saber? Deseja se
divertir conosco? Venha, venha! O garoto que antes fazia malabarismo
então deu as três maças que segurava ao guerreiro e disse, venha
brinque comigo.
Nesse momento o mundo parou, o guerreiro olhou com os olhos
lacrimejando, parecia que toda aquela sua defesa, toda aquela
barreira que o impedia de comunicar-lhe com o mundo havia sido
quebrada ali, por um simples menino, por simples bolas de
malabarismo. O céu refletiu o pranto e a chuva jorrou, jorrou tão
bela quanto a inocência daquele menino que transformara uma lagarta
em uma borboleta. O guerreiro então lhe disse:
- Por favor menino, seja meu mestre, ensine-me a sentir novamente,
isso é a melhor coisa que poderia ter me acontecido, não quero mais
viver a austeridade, deixe-me tornar um Bela-Parrachia.
Deve aprender então a raiva, pois a tristeza é tão linda como a
alegria, o que sente dos que fizeram de tua vida uma prisão? O que
sente com relação a aqueles que matam e destroem todos os
sentimentos, todos os povos que destroem a harmonia com a natureza,
pois se alienam da vida, o que sente?
Uma fúria incontrolavel tomou conta do guerreiro que começou a
chutar uma arvore ao lado e soca-la, seu choro não caia mais do céu
e sim de seus olhos, a vida pela primeira vez transpareceu para o
guerreiro que gritou :
- O QUE ERA A ORDEM QUE ME IMPUNHAM ? NÃO ERA PODRIDÃO E MORALISMO
LASTIMAVEL ? ME DERAM A MORTE E FALARAM QUE ERA VIDA, HOJE OS ÓDEIO!
O guerreiro então sentou-se e começou a meditar, meditava não
interiorizando o ódio e sim exteriorizando-se e entrando em contato
com o mundo real, tornava-se ali parte da natureza, tornara-se ali
um Bela-Parrachia.
Após o ódio o guerreiro pode compreender também o amor, pode
compreender todos os sentimentos que a vida traz, pode compreender a
própria vida. O guerreiro então agradeceu muito o menino e partiu
com sua missão de trazer de volta a vida para seu povo natal. Reza a
lenda que ele conseguiu, e todo seu povo hoje vive em montanhas
isolados em contato com os animais e a floresta.
* Acho que aqui fica claro a clarividência e os deja-vus dos
Bela-Parrachia, indo alem, fica claro a superação do tempo pela
psique Parrachiana.
A Família Parrachiana e a Guerra da Doença Contra a Natureza
“A família, tão consagrada instituição, tão famigerada relíquia,
passando tradições, contradizendo emoções, limitando relações.” Lyn
Myhn. 37 d.l (depois de Lyn)
Morte!!! Pecadores!!!!! Gritava enfurecida uma multidão de
religiosos que corriam atrás dos Bela-Parrachia… Tudo começou
quando os Bela-Parrachia resolveram acampar um tempo, bem próximo a
uma cidade religiosa, a grande questão que gerou o conflito entre
esses dois povos, foi justamente a questão sexual e familiar.
A família Parrachiana não continha os padrões monogamicos, rígidos,
culturalmente tradicionais assim como os desse povo “religioso”,
mesmo porque o Deus da religião que condenara os Bela-Parrachia era
um Deus assexuado (e a sexualidade para aquele povo se resumia a
procriação), e os deuses e deusas Bela-Parrachianos, sempre morrendo
e dando lugar a outros (ou não) eram em grande parte altamente
sexuados e altamente diversos, entre eles existiam deuses (e Deuses)
assexuados, poligamicos, monogamicos, heterossexuais, bissexuais,
etc..(entre eles animais, Deusas, deuses que não eram seres,
energias…), poderia-se até considerar que toda a natureza era a
deusa desse povo.
Dessa forma a família Parrachiana não existia como fragmentação
social, existia como totalidade popular e natural. Se formos
considerar uma família Parrachiana, deveríamos considerar todos os
adultos como pais e todas mulheres como mães, as crianças recebiam
educação de todos, principalmente dos mais velhos, assim como muitas
tribos indígenas que foram influenciadas místicamente e
atemporalmente pelos Bela-Parrachia.
Após a ardida fuga do povo Parrachiano pelas florestas de Swe’rohw,
o povo Parrachiano ainda estava confuso sobre o que aconteceu e
conversavam sobre o fato :
Kohn Hu : “ Perigo, incompreensão do amigo, então apontou uma arvore
caída sobre diversas plantas (a arvore tivera matado as plantas).” O
que devemos fazer? Lutar ou fugir? A terra deveria ser de todos,
mais eles a tomaram, nos atacaram simplesmente porque alguns de nos
faziam sexo no meio da praça, que fica no nosso próprio acampamento.
Von Darsê : Kohn Hu, a praça não é nossa, é deles e de todos, eles
querem nos impor suas leis, eles querem nos impor suas tradições,
acusaste-os de derrubar arvores sobre plantas, inferiste-nos de uma
pequenez ilusória. Eu compreendo que eles dominam o seu próprio povo
através de sua família e de suas leis, mas escute-me, nos não somos
libertadores, os maiores libertadores sempre foram os maiores
opressores, se querem acabar com o domínio devem fazer isso com as
próprias asas, se aquela febre patológica voltar a nos assombrar,
nos defenderemos com nossos remédios.
“ A prisão da família,
sentida na pele,
sentida a ferida.
Os olhos brilhavam,
enquanto descobria a vida,
Mais tudo aquilo lhe foi negado,
o mundo lhe foi roubado
Pobre garoto,
que hoje esconde o que quer,
Descobriu a felicidade na família Parrachiana,
Descobriu a liberdade,
descobriu a amizade,
Descobriu que tudo é de todos,
e todos são o tudo,
Descobriu que tudo é parte,
Daquela maravilha,
que se chama mundo.”
Kohn Hu, 23 d.k
A Maldição que Salvou Vidas. (diário de Von Darse)
Escuto um esporro, mas não aguço minha neurose, entro em contato com
o silencio esperando a cada vão o respaldo das ondas de som, que
adentrariam meu ouvido caso fosse necessário. Meu ouvido como o de
uma águia capta a maldição, alguém, algo, teria nos amaldiçoado, eu
ainda não pude saber o porque, ainda não pude prever e prevenir, só
sabia que meu povo estava doente.
Porque? perguntava a Deusa Éris, porque teriam os Deuses cometido
tal ato? xinguei-os, não pude evitar, não importava, estaria selado
nosso destino? Seria esse o grande fim que nós aguardava? Não podia
acreditar, comecei a chorar diante da chuva que completava o clima
de instabilidade, a chuva caia como que me corroendo, era tão acida,
era o reflexo de minha dor.
- Ei, Porque choras meu jovem? – Perguntou um senhor que passava.
- Não posso evitar, meu povo está doente, grande parte esta com
perigo real de vida, só o que fazem é ler, comer e dormir, mal
conseguem se locomover. Nosso povo sempre foi andarilho, sempre foi
atlético e nunca nenhuma doença nos assombrou com tal intensidade. –
respondi com voz mórbida
- Então o que estás fazendo a chorar? Procuraste a cura pro teu
choro e de teu povo? Nenhum Deus comanda nada, olhe para natureza,
observe como ela se locomove, Gaia*, é assim que a chamamos em minha
terra. – disse-me o velho que tinha os olhos indiscritivelmente
profundos.
- Você tem toda razão, muito obrigado.
Agradeci-o e parti rapidamente com uma parte do grupo que ainda não
estava doente a procura de cura, mas o mais interessante foi
observar que quem descobriu a cura para doença foram os próprios
doentes que estavam a ler bastante, como única atividade que eles
poderiam realizar.
Depois de uma pequena busca podemos encontrar os remédios para os
doentes e cura-los, e incrivelmente saímos daquela “maldição”
vigorosamente mais fortes, a nossa informação havia crescido,
conhecíamos agora melhor as curas e as próprias doenças e felizmente
não houve preços para isso. Jamais pagaríamos um preço alto para nós
trazer tais informações, ou tecnologias, como as pedras as chamam,
jamais seriamos cruéis como as pedras de sacrificar vidas por tais
tecnologias, mesmo porque estas nos trazem informação, o que é bom,
porem não nos trazem o mais importante, que é a felicidade e
harmonia de nosso povo.
Mais tarde so que Von Darsê** foi saber que o velho que lhe falará
era o famoso e hermético Dan Ki Chopper***, um santo ateu que
grassava pelas cidades mostrando o mundo para os que se atolam em
metafísicas e esquecem de viver.
* - Aqui fica claro de onde surgiram as teorias de Gaia que só hoje
são reconhecidas, iniciadas com o mestre Dan Ki Chopper
** - Novamente Von Darsê usa seu nome em terceira pessoa.
*** - Dan Ki Chopper alem de santo ateu foi o criador de uma técnica
oriental de concentração que é utilizada até hoje.
O Mapa da Felicidade (diário de Kohn Hu)
Onde está ela que todos procuram? Onde está a Deusa, o mar, a luz e
a razão da vida? Onde está a felicidade?
O céu caiu sobre as flores que murcharam, o céu se abriu e as flores
levantaram, onde está a felicidade? Onde está a felicidade? No
levantar da pétala? Ou no murchar da dádiva colorida da Deusa?
Resplandece-me os olhos tanto a morte quanto a vida, tanto o inicio
como o final e igualmente o decurso. Onde desses itens estará a
felicidade? Em si mesmo, na alma ou na sociedade, no barco ou na
viagem? No mar ou na terra? Na certeza ou na duvida?
Resolvi perguntar ao mestre Von Darsê onde poderia encontrar a
felicidade, e se eu fosse ajudar as pessoas a encontra-la, para onde
eu deveria apontar.
- Von Darsê, preciso de uma resposta, onde posso encontrar a
felicidade? Perguntei-o
- Estais triste? Não encontrastes vossa musa?
- Não. Estou feliz, sei que me tornei feliz quando vim pra ca, antes
eu era muito triste, então a felicidade se encontra onde vivemos e
como vivemos?
- Talvez, o que achas?
- Não sei ao certo, porque apesar dos pesares em minha antiga terra
haviam pessoas felizes, é realmente muito estranho, existem pessoas
felizes em tantos lugares. Na minha antiga terra sempre diziam que
felicidade era encontrada na raiz do coqueiro, mais eu nunca vi
felicidade ali, na raiz do coqueiro. Porventura eu a encontrei nos
cocos e não na raiz do coqueiro. Sinto-me confuso, acho que a
felicidade não está em nenhum lugar definido e sim onde cada pessoa
possa encontra-la de acordo com sua formação histórica e intelectual.
- Talvez, vossa opinião é sabia, assim como a verdade não é una, a
felicidade pode encontrar-se tanto no raiz do coqueiro, como no
próprio coco, na queda do coqueiro, e mesmo a própria tristeza pode
encontrar-se nos mesmos lugares que a felicidade. Porem é necessário
dizer-vos que existem coisas que podem trazer doenças e limitar ou
mesmo destruir qualquer possibilidade de felicidade. Não deveis
deixar de lado vossas necessidades e as de teu corpo, porque tua
religião ou tua política te prendem, isso se queres ser feliz. Não
devemos colocar a felicidade num pilar e criar teorias para
alcança-la, devemos vive-la.
E assim disse Von Darsê, influenciado pelo espírito místico de
Ninguém, espírito esse que influenciou muito os Bela-Parrachia. Mais
não vou me adentrar nesse sacro santo nesse momento. Eu pude
compreender a felicidade, que tantos procuraram sem querer
encontrar. Muitos da minha antiga cidade diziam procura-la mais
estavam a todo tempo se punindo, como querer encontrar a felicidade
na punição, na dor e na amargura? A doença ja defecara naquele
local, e seu povo esta doente demais para perceber “a praga”.
“A felicidade do velho coelho,
Jamais se traduziu em palavras
Era vista em gestos, doces lagrimas
Que caiam, subindo ao céu
A doença, a praga não lhe acometera
A sua cachoeira não era paralisia,
Era fluxo, vida, nunca hipocondria
A própria vida era felicidade, e tristeza
O mundo inteiro era sua vaidade
Que se entrelaçava nas arvores da verdade
Não tinha lar, não tinha medo,
Tudo era teu, nunca em segredo
Teus muitos filhos brincavam
Teus e de todo povo
O sol brilhava
Também a lua,
Na floresta o povo sentia,
Amor”
Kohn Hu
A Vida dos Gansos e o Culto ao Lúdico
A vida dos gansos Parrachianos “sempre” foi a marca do júbilo e do
culto ao lúdico, e por isso, talvez, as árduas críticas por povos
que “necessitavam” (ou simplesmente queriam) que o trabalho fosse
cultuado e mistificado como algo sagrado, nobre, onde invertiam as
relações de dominação teoricamente. A realidade desses povos contudo
como ja lhes disse, é exatamente o inverso, o proprietário que não
trabalha (ou trabalha menos, superficialmente..) é o nobre, ja o
camponês que trabalha arduamente acometido pela peste trabalhista é
o pobre e o escravo.
Os gansos Parrachianos então renegavam o trabalho trabalhando, a
questão para eles era, o que é o trabalho? Se o trabalho é
obrigação, se trabalho é imposição, se o trabalho é chatice, se teu
trabalho é usado contra ti ou roubado de ti, se o trabalho é
evolução para os donos do poder, devemos amaldiçoa-lo, abomina-lo,
destrui-lo, agora se teu trabalho é diversão, felicidade, superação,
evolução, mobilidade, expressão e mesmo tristeza pode-se ou mesmo
deve-se ama-lo.
A vida dos gansos Parrachianos era lotada de diversões, entre elas
um jogo onde usavam uma bola e com os pés devia-se ludibriar o
adversário*, esse jogo cabalístico foi inventado por um ganso
Parrachiano chamado Ganso Goiano ou G.G.Elder, essas diversões
tinham fim em si próprias contudo eram também rituais místicos.
O trabalho para eles não era “trabalho” pois detinha essa conotação
de diversão, alegria, brincadeira, etc.. portanto mesmo quando
procurando, produzindo coisas essenciais os gansos Parrachianos
faziam jogos, por exemplo : quando tinham que caçar disputavam quem
conseguiria abater primeiro um animal, então iam se divertindo.
Na sociedade dos gansos Parrachianos não existia propriedade, era
como um anarquismo primitivo, ressaltando novamente que nada era
trocado, vendido, negociado, usado, tudo era vivido e pertencia a
todos, não porque tudo era distribuído e sim porque tudo era da
natureza, mesmo o modificado pelo homem era em essência natural,
assim como os próprios homens, portanto tudo era de todos mesmo sem
haver uma conceituação disso.
No errantismo Parrachiano não havia lugar para lideres, somente em
casos de guerra ou real perigo de sobrevivência, como pragas os mais
sábios ou mais velhos assumiam uma postura de organização ou
coordenação da comunidade Parrachiana e assim que a guerra, ou peste
sumissem esses “lideres” eram depostos e assim vivam os gansos
Parrachianos e assim Parrachiavam os gansos vividos.
“Livros a ler, trabalho a fazer, diversão a acometer, vida a
decorrer, Saúde a vencer, mente a voar, pássaros a cantar, arvores a
viver, morrer, respirar, sementes a brotar, bebes a nascer e
verdades a transgredir”
* - essa prática foi fulminar no futebol moderno.
Sobre o Suicídio Místico
Trevas, escuridão, as gramas submersas na água escura naquele
pequeno alagamento, apenas uma planta tinha força para se manter em
pé e em estado deplorável, se antes tivesse morrido a desgraçada. O
que fazia de pé? Deveria ter morrido, faz parte do fluxo da vida,
faz parte da própria existência.
A verdade absoluta sempre foi vista como desgraça para os
Parrachianos, isso não é segredo para ninguém, simplesmente é vista
com desdém. A planta velha que não morre, deve morrer, deve deixar
que as novas plantas triunfem, deveria permitir sempre a renovação.
Começou a estranha história num árduo dia de chuva, nos primórdios
Parrachianos, uma tempestade terrível atolará tanto os pés quanto a
mente de alguns Bela-Parrachia. Em todo esse “caos” na tribo, alguns
Parrachianos resolveram “tomar conta da situação” e começaram a
criar mitos e autoridades, começaram a resplandecerem-se como
salvadores.
Observando abertamente a situação, diversos Parrachianos entre eles
Von Darsê, Jung de Miro, Kohn-Hu, entre outros resolveram intervir e
chamaram todos os Parrachianos e demonstraram o fato, os próprios
suspeitos concordaram com a suspeita e admitiram estar fazendo
aquilo. Deveria a comunidade chegar a uma conclusão de como combater
o vicio do narcisismo, a exaltação do nome, o desejo de entrar para
história Parrachiana.
Essa situação incrivelmente foi tomar um rumo bem parecido com o
ritual de autodestruição, incrivelmente a superação do narcisismo.
(diário de Von Darsê)
- Andávamos pela floresta de Macatú, Hujará (um dos “narcisistas”),
Jung de Miro e eu, estávamos a procura de respostas, tanto mentais
quanto da resolução dos problemas da enchente. Espreitando a
escuridão e o medo escuto um berro : AREIA MOVEDIÇA, CUIDADO!!
Afastei-me e olhei com cuidado, era Hujará, com sua face pálida,
encolhia-se como um verme com um terrível medo da situação, contudo,
quando fomos ajuda-lo nos disse com árduas palavras – deixe-me, irei
me libertar sozinho – eu via o estopim da situação, o narcisismo
máximo, o limiar entre o narcisismo e a separação do mundo, a
angustia pura.
- Deixe-nos ajuda-lo Hujará, de que vale todo essa egolatria? Não é
isso imundice e pequenez? O grande homem se faz na vida e não
precisa deixar marcas, não precisa de monumentos, ele é grande, ele
foi grande, não precisa e nem quer provar isso a ninguém.
Hujará nos escutou e sorriu, ajudem-me gritou o homem, gritou o
menino, gritou o idoso, não importa a idade, Hujará foi sabiamente
inocente. Nos o ajudamos, ele saiu da areia movediça… e começamos
a refletir juntos sobre o que tinha acontecido.
- Como podemos acabar com esse narcisismo? Alias, como podemos
diminui-lo? Como podemos fazer que as pessoas queiram crescer por
elas, e não para um futuro ilusório, e não só para “imortalizar-se”
– perguntou Jung de Miro
- Qual o mecanismo que as permite tal vontade de “imortalizar-se” –
perguntei-os e a resposta veio dos dois ao mesmo tempo.
- É o nome, responderam confusos
- Então ai está, derrubem o nome e estarão derrubando também a
identidade imortal, a autoridade, o ídolo e o estigmatizado.
- Mais não estaremos deixando assim de sermos nos mesmos? argumentou
sabiamente Hujará
- Você é seu nome ou você é o que vive? Você é palavra ou você é
mundo? Respondi-o
- Tem razão Darsê, mais o nome facilita a comunicação, talvez fosse
mais sábio a troca após um tempo.
- Sabia opinião, estou de acordo.
Então voltamos a aldeia e discutimos com as pessoas da tribo e no
final todos concordaram com a idéia, conversamos bastante, tomando
muito chá, comendo maças, dançando, gritando, rindo…tudo era
motivo de festa para nós, a vida era festa, a tristeza era festa, o
amor é lindo, o ódio necessário, então após a nossa esplendida
confraternização juntamo-nos e mudamos de nome, simplesmente assim.
Neste momento então o céu abriu, o chuva parou, a volúpia tomou
conta de todos, era lindo, as gotas de água caiam lentamente das
plantas refletindo os sorrisos das pessoas, o arco-íris surgiu e
resplandeceu as lagrimas que corriam o rosto de alguns, era O NOVO
NASCER DA VIDA, um segundo parto, uma segunda vida, e desde então
fazemos o suicídio místico de tempos em tempos.
Seja Você ( Diário de Von Darsê )
Importa-se? É tudo isso verossímil? Meu diário uma farsa? Nossa
seita uma ameaça? Um mito, um santo, um Deus, um pranto? Sim, talvez
seja tudo uma mentira, importa-se? Exporta-se? Não importa se sua
verdade é real, ou uma ilusão, uma mentira. Nós continuamos a
existir, na mente de quem for demente, o louco gênio que não pode
ser compreendido por quem não se sublevar contra a normalidade, o
homo normallis, a autoridade, o rei, o papa, a mitologia.
Iremos continuar por ai a fora, matando deuses, criando mitos,
construindo alicerces e os quebrando, continuaremos a jornada da
vida, evoluindo, desiludindo, disseminando o fogo e a chuva.
Importa-se? Exporta-se?
Ao seu lado estará um Bela-Parrachia, ao teu lado estará a vida e a
morte, sem medo, com medo, sentindo a vida mesmo que com dor, com
coragem. Daqui a 1800 anos, estarei ao teu lado para destruir a
ordem, causar o caos harmônico, estarei ao teu lado para trazer o
novo, o devir, porque? Porque nos somos imortais. Porque a Deusa
Éris está ao nosso lado, porque Jesus ja foi um de nossos guias
porém ja o quebramos, melhor, ja quebramos parte de suas idéias, ja
não está mais entre nós. E você homo normallis, importa-se? Teu
trieb* está morto, da demasiado valor a mentira, a falsidade e a
irracionalidade, está é a sociedade que estais a criar, o aviso ja
foi dado pelos Deuses, pelos Gansos, a natureza ja se rebela contra
ti, um segundo mais, um segundo mais, o tempo gira e você não muda,
gira, gira, gira, gira, gira.
Mate-se homem, mate-se mulher, crie um pouco de esperança, VA LER,
VA VIVER, CANTE, DANÇE, não tenha medo dos outros, não tenha medo do
Outro. Sente-se e medite, sente-se e suicide-se, viva uma nova vida,
seja outra pessoa. SEJA VOCÊ!
“ revivere, revigorum semper”
* Trieb – Instinto
:
Contos e Encontros: O Bela-Parrachia e o Bêbado Lúcido
- Dançando com os gansos – Ensaios sobre o saber viver.
“E quando tudo sumiu de sua vista, ele viu finalmente”. Kohn-Hu 88 d.KH
Prefacio de Frei Nando.
Este é apenas um pequeno conto, que remonta das tradições modernas do Bela-Parrachianismo. Em 1971 foi publicado a guisa de re-introduzir o Parrachianismo na cultura contemporânea. Ele saiu num Zine alternativo francês chamado: “Les mots”, e o texto saiu na publicação como: “Il faut savoir-vivre, le Parrachian en dance avec les jars” (É preciso saber viver, o parrachiano dançando com os gansos) tendo pouca repercussão na época, em especial pela publicação ter ficado pouco conhecida. O protagonista do texto chamava-se na época de Dr.Spotin, apesar do texto ter sido publicado por um insurgente da época, que foi amigo de franceses que ficaram famosos, como os Situacionistas. O nome desse jovem era Ruy Garcia (1942-1986) e foi jornalista.
Sabemos que, contudo, esse nome não significa muita coisa na tradição Parrachiana, pois os nomes nesta tradição são trocados eventualmente, em especial através do ritual das bolas de gude¹. O motivo especial desta troca é não favorecer o que chamamos na moderna psicologia de “Ego”, pois é através do nome que identificamos a algo como nossa propriedade, isto é “meu”.
Não desejo estender-me muito sobre esse prefacio, gostaria apenas de ressaltar que este documento é extremamente interessante devido a falta de traduções de textos no Brasil sobre o Parrachianismo. Inclusive, creio que este é o único documento que temos em português que o autor aborda a tradição dos gansos, tão conhecida e ao mesmo tempo tão pouco conhecida em nossa contemporaneidade. O texto mostra também que o Parrachianismo não se resume a um nomadismo territorial, e qual sua origem, permanece mutante, e adepto do arroz.
Faço apenas o apelo final para que os Parrachianos possam além de estar suprindo-nos de novos textos, possam também estar fazendo traduções e trazendo a tona textos arcaicos dessa tradição tão bonita que foi perdida as margens da história.
Frei Nando, 2006. Um ávido Parrachiano.
O encontro: O bêbado e o Parrachiano.
Eram dez da noite, e eu acompanhava de perto a procissão que passava pela rua, eram tochas e pedras de estudantes rebeldes. Mas, ainda, algo me interessou como um relâmpago: Era um ser, com um olhar de cabra e um cheiro de tinta óleo misturado com canela. Ele olhou para mim, como um qualquer, e jogou uma caneta no chão. Fiquei durante uns cinco minutos parado, olhando para a caneta, tentando entender aquele gesto, foi quando ele levantou-se da cadeira e veio andando com sua bengala até perto de mim e soprou na minha cara.
Eu imediatamente sentei, e meditei: “Estou demasiado bêbado ou este ser é louco?”. Neste momento a luz do bar piscou, e sentamos para tomar uma cerveja. Eu comecei imediatamente a perguntar qual era seu nome, e por que diabos ele tinha cheiro de tinta óleo e canela, ao que ele me disse:
- Estou com fome, vou abrir um saco de amendoins.
Então ele abriu o saco de amendoins e começou a botá-los na mesa formando, no final, o esboço de um desenho que se parecia um elefante, foi quando ele me perguntou:
- O que você acha?
Respondi após tomar um gole de minha cerveja:
- É bonito. Você provavelmente é um artista.
Ele me olhou com assombro e disse:
- Se é bonito, por que você está parado?
Após dizer isso, comeu o elefante e riu, falou que eu era estranho e se apresentou:
- Me chamo Spotin e o senhor?
- Ruy Garcia, é um prazer conhecê-lo.
- Spotin, o que faz nesse bar? Perguntei.
- Bebo. Respondeu.
Nesse momento percebi que não se tratava de uma pessoa comum e que eu estava perante um grande sábio. Resolvi então fazer-lhe perguntas que pudessem nos levar a algum lugar avançado.
- Mr. Spotin, posso lhe fazer algumas perguntas?
- Você pode beber cerveja.
- O que você acha desta revolta?
- Exatamente. Respondeu.
Então ele começou a falar, precedendo minhas perguntas:
- Bem, já que você parece um gravador com pernas, eu lhe darei bons ouvidos. Eu sou de uma religião conhecida como Bela-Parrachia. Certamente, você nunca ouviu falar dela, pois já percebi que você não tem bons ouvidos.
- E no que ela consiste? Perguntei, antes que ele pudesse pagar a conta e fugir.
- Ela se resume a tudo mais. Me diga, meu jovem: Você já viu seu bisneto?
- Mas, senhor, meu único filho só tem 2 anos!
- Eu sabia que você era cego! Eu acabo de beber o seu neto!
Fiquei apavorado! Eu sabia que eu já tinha bebido demais, e talvez por isso desse tanto valor a aquelas palavras enigmáticas que beiravam a loucura. Eu sabia, no fundo de minha alma, que deveria continua a beber. Aquele dia, apenas aquele dia.
- E quem é meu neto? Perguntei, enquanto começava a vê-lo duplicado.
- Seu neto é um ganso.
- E como então você o bebeu?
- Ora! Se eu não bebesse gansos, eu já estaria morto!
Então ele explicou-me que a realidade ultima provinha dos gansos, e que tudo mais era ganso, exceto o nada, o não-ser, o não-aí, isso era o Pato. Explicou-me que a medida que o ganso ganseia o mundo se faz, e a medida que o pato – que não tem um pescoção – se move, o mundo caminha a seu fim, ao apocalipse.
O mais estranho foi que a medida que eu ia bebendo, eu começava a escutar um barulho estranho, um Q, após um U… Tive medo, terror, angustia! Finalmente pude compreender o que era: “Quên, quên”, ouvi aquele barulho assustador em minha mente, como um canhão rosnando em uma guerra… Desmaiei imediatamente.
Quando acordei, percebi que eu não estava mais bêbado, mas algo havia mudado em mim. Vi amendoins jogados no chão, e compreendi a realidade. Peguei-se e os organizei. Comecei a jogar os amendoins como bolas de gude, então começou a chover, e a chuva jorrava de maneira linda! Como eu nunca havia visto antes.
Depois do jogo foi andar na chuva, eu tornei-me um ganso, percebi plenamente a medida que eu batia minhas asas e andava nu por aquelas calçadas. As pessoas passavam e não percebiam a minha nudez, mas afinal, aquilo não tinha mais sentido. Eu era ganso, eles eram ganso, o chão era ganso. Comecei a beijá-los todos, os gansos-gentes, os gansos-chãos e até mesmo os gansos cervejas, em poucos segundos eu fui deslizando pela cidade como uma lesma e uma multidão de animais, pessoas, coisas, me seguia, de maneiras muito diferentes, e partia em direção a algum lugar. Acordei, por volta das três da manhã perto de um lago, achei que eu estivera muito bêbado. Comprei um jornal e fui descobrir que ontem a noite, por volta das 22:00 uma multidão de pessoas parecendo gansos selvagens havia invadido um mercado e “roubado” diversos itens argumentando que os itens roubados eram eles mesmos e numa outra praça publica diversas pessoas, agindo como gansos, haviam tirado suas roupas e feito uma festa, com direito a orgias e muito arroz, segundo o jornalista.
Ruy Garcia.
.Texto dedicado ao excelentíssimo Parrachino, senhor: Dr. Spotin que me proporcionou a maior vivencia da minha existência.
Asa Pada
Que me importam os vultos? Os vultos dizem muito mais do que uma clareira numa noite de verão… versão acabada da neblina, tonteia as vistas dos visores. Só um idiota pode ser engolido por seus olhos. Aquele que de fato vê se esforça por nublar o mundo, acaba por chacoalhar as pedras. Os sonhos de verdade estão nas mãos.
Depois do estilete verbal de Von Darsê, as pessoas fecharam os olhos e abriram as bocas, línguas se entrelaçaram e massas viraram moças, maças fizeram-se em rostos e vermelhas frutas. Quantos cantos não saíram daquele lago aberto ao fechado. Mãos manearam os arquetes e fizeram salgadas comidas: está é a santidade da massa, fazer comida com. Aqueceram-se junto ao fogo, pois é o fogo que queimou a tristeza e a melancolia. E.T.ernidade.
Fraternos irmãos, se aconchegou de suas palavras Gagaya Mana. Que hoje seja um dia e não mais outro, que hoje seja uma noite e não mais outra. Vocês me escutam com as mãos e eu lhe falo com a pele: não queridos concubinatos, o concúbito não é de se fazer de paisagens! Um pintor que se rende a iluminação não passa de um holofote! Imbecil, não consegue criar! Imbecil, não consegue concertar! Imbecil, não consegue construir!
Os meus pés dançam e minha mente morreu para dar lugar a minha alma. A alma não sabe da linguagem, o automatismo da linguagem se contrabalanceia pela fluidez da língua. Não, amados, chega de fotógrafos! Roubam nossa almas as fotografias, roubam todo poder do deus do momento, Jihoku-Uhuban. Uhuban nos deu(s) a luz e a volúpia de tal forma que a forma se perdeu, meu corpo agora é corpo. O circulo, a reta, o hexágono são todos possibilidades. Ninguém nasceu para se perder em fotografias, ninguém nasceu para ser gravador de vozes, ninguém nasceu para repetir, ninguém nasceu para olhar no espelho. Idiotas, ainda não aprenderam o valor que o fogo tem! Idiotas, ainda não tomaram uma ducha de luar! Idiotas, não viram que a aurora era feita com corpos e salivas? Idiotas, não sabem ainda construir!
Meu ódio é de um amor tremendo, e assim me aniquilo, não de palavras, nem de imagens, não de sentimentos, nem de pensamentos. As respostas foram feitas para quem não sabe formular perguntas. Nada é tão visível quanto um neblina. A turvidão é mais reta do que o claridão. Aloha irmãos, toquem pois vossos corpos e estejam a espreita do matagal, pois é do mato que surge o que tem valia. O sapo pula e águia voa, mas ainda nossos espelhos não aprenderam a falar.
Por que o Bela-Parrachianismo não desenvolveu no Brasil ou de como o Sol secou a terra
Por FernandoR.¹
Depois de séculos de bela-parrachianismo é interessante fazermos uma pequena, quiçá ridícula, re-visão crítica. Analisarmos de que forma os Bela-Parrachia sucumbiram na tarefa de chuvar os áridos desertos pomposos de verdades irrefutáveis na região brasileira.
Para quem não sabe o bela-parrachianismo começou na China, não se sabe a data certa dessa gênese, pois os bela-parrachianos tem um sistema de datação muito complexo, que parte da data de nascimento dos sujeitos particulares, p.ex. eu que me auto-denomino “Frei Nando” possuo 42 anos, logo, a data plausível seria: 42 p.F (pós Frei, polícia federal ou prato feito). Existia também, nas sociedades nômades propriamente parrachianas, um sistema de datas coletivo que era dado por uma representação fantasmática, como um Luther Blissett ou Timóteo Pinto modernos. Mas havia uma diferença. Embora esses seres não sejam, em última instância, identidades particulares como nossos nomes próprios, eram nomes que pertenciam a uma única pessoa e que, de tempos em tempos – normalmente uma estação de ano – mudavam de lar.
Esses nomes eram compostos de certa animosidade, como se ao incorporar aquele nome o sujeito tomasse para si um pouco da história do nome, um pouco da herança ancestral que vivia naquele nomina.
Mas vamos às contemporaneidades. Esses seres tão fabulosos, os bela-parrachia, como Jung de Miro, Von Darsê, Kohn Hu, Kai Mai Ching e Fernando Rivelino, Hujará, e, last but not least, Lyn Myn, dominaram o imaginário “underground” chinês durante séculos, entretanto, no Brasil sua aparição é atualíssima. Foi um árabe que se chamava Kohn Hu que trouxe os alfarrábios parrachianos que chegaram a minha mão, ainda em 1994. Este douto árabe já tinha traduzido alguns textos, que na época, muito me interessaram. Em 1999 comecei meu aprendizado de árabe com o professor Arthur e, em algum tempo, pude decifrar o estranho “Bela-Parrachia: Vida e Morte dos Mitos”. Evidente que já haviam outras tentativas de fazer-adentrar o parrachianismo no Ocidente, como na França em 1971. (cf. Contos e Encontros).
O livro trata de assuntos muito diversos, mas procura trazer um pouco de flexibilidade as verdades escritas a diamante. Ora, com tamanha estranheza o livro foi interessar especialmente os discordianos, os freaks, além de alguns anarquistas ontológicos e detratores do mainstream. O fato é que este livro ameaçava as rígidas convicções de estruturas inapeláveis: de diversas formas de “ismo”.
De certa forma é importante considerarmos que o bela-parrachianismo foi derrotado na guerra contra a paranóia. As verdades venceram, o literalismo, a seriedade e o trabalho. Fomos derrotados em nosso próprio terreno tropical. A chuva cessou, o deserto resplandeceu: a comédia morreu.
¹ - FernandoR. é pesquisador da CNPQ para estudos parrachianos, além de membro do comite inter-setorial para divulgação e promoção de realidades alternativas.
http://tudismocroned.blogspot.com.br/p/delirio-coletivo-news-golds-tudo-junto.html
De Discordiapédia
Parrachia é uma derivação de "Bela-Parrachia", uma cultura tradicional dos chinos.
Não se tem registro histórico preciso de sua origem ou de sua localidade de origem, já
que eles são uma etinia nômade e sua modalidade de escrita seja posterior.
Os Bela-Parrachia defendiam um sistema de ventaval, repudiando a verdade, o real, o
fictício e a tradição, partindo de uma tradição não tradicional ou não ordinária.
Sob tais perspectivas anti-perspectivistas antecipou o movimento discordiano em pelo
menos 3000 anos e pode ser considerada mãe-doadora e legado para as posteriores
tradições do ceticismo radical e da pragmática do caos.
Seus principais pensadores foram Von Darsê (salve Von Darsê 08/08) e Kuhn Hu, que
foram várias pessoas ao longo dos séculos.
O parrachianismo ainda encontrou um conflito interno entre monistas (cf. a conjectura
de BubleonHarashingá e o Ganso) dualistas (cf. ganso x pato no plano cósmico) e
polimorfistas (não há nada além dos ritos de transformação, p.ex, rito do arroz, da bola
de gude, etc.).
Recentemente na cidade do Rio de Janeiro (Brasil) surgiu a vertente "Caco-Parrachia",
influenciada pela contracultura e pelos happenings estilo cacofônicos.
É mister afirmar, portanto, que não é o parrachianismo uma forma de discordianismo,
mas antes que o discordianismo é uma forma tardia de parrachianismo.
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Apócrifos Cabalísticos
Introdução
Bela-Parrachia , 10 de julho de 56 D.V (correspondente a 153 d.c)
Sou um eremita da seita mais conhecida como Bela-Parrachia, chamam-me hoje de Von Darsê, somos um grupo de pessoas obstinadas a querer saber em que acreditar, mas nada acreditamos, melhor dizendo, acreditamos nas respostas que encontramos durante um tempo mas sabemos que respostas nunca são verdades. Vivemos como errantes rodando por esse mundo, a procura de respostas que escreveremos sempre a carvão, assim até mesmo o vento poderá apaga-las. Von-Darsê sempre foi fiel sua cultura, mesmo que fidelidade aqui não signifique respeito a tradição, nem mesmo concordância. Nascida na terra do sol nascente sempre a magia e os sonhos fizeram parte dos seus cultos incultos. Vou contar-lhes então algumas historias que aconteceram conosco para que possam compreender melhor a nossa seita tão religiosamente pagã.
Bela-Parrachia e a Linguagem.
Espíritos “nômades” vagaram muito tempo, pelas mais diversas terras inabitadas e mórbidas, alegres e ensolaradas, entre essas ja tinham passado uma vez por uma cidade chamada Swan-Tao, a muito, muito tempo….
O povo dessa cidade não podia se lembrar bem, aquele povo ja era agitado demais, vivam em função do futuro, não tinham tempo para lembrar o passado, tampouco o presente. Os espíritos voltaram a aparecer na cidade de Swan-Tao de modo tão espontâneo que chocaram as pessoas desprecavidas, um espirito chamava demasiada atenção, esse espirito era mais conhecido por Von Darsê, um eremita “solitário” da seita Bela-Parrachia.
O povo em Swan-Tao falava tanto do acontecimento que nada comunicava, sua linguagem era pura verborragia, a alma deste povo era fraca, talvez consumida demais pelas excentricidades sadomisticas do mundo moderno, sua linguagem era tão rica, sua língua tão bem escrita que nada comunicava, intrigado pela linguagem harmoniosamente brilhante dos Bela-Parrachia, um sujo e nobre camponês resolve perguntar a Von Darsê :
- O que precisamos para dizer como dizes? Comunicar como comunicas? Ser o que sois?
- Precisardes antes de mais nada serdes sexualmente ativos, assim não precisaras mais gaguejar a um instinto reprimido, não precisais de linguagens tão complexas quanto a complexidade que não alcanças por estardes tão presos e cansados como mortos. Palavras são palavras, olhe em meus olhos e veja além…
O jovem compreenderá a mensagem, olhará não só para os olhos de Von Darsê mas também para seus gestos, a velocidade de sua fala, sua movimentação labial, e começou a compreender o que nunca havia compreendido.
Posso ver não só teus movimentos, como teus sentimentos, mas como posso ser livre? Como posso gozar do livre sentido do nonsense ? O sábio ficou parado observando o jovem conseguir sua própria resposta….
O jovem olhou para o chão então e pode ver uma formiga que batalhava para levar um pequeno pedaço de arroz para tua casa, o jovem pegou teu arroz naquele momento, observou-o e disse:
- Todos somos grandes, todos devemos ser um pouco abusados e nunca humildes demais, devemos ser naturais e espontâneos e comeu o pedaço de arroz. Eu hoje desejo sangue, desejo com inocência, desejo acima de tudo arroz. Disse tudo com um sorriso altamente natural no rosto enquanto bebia vinho e comia arroz.
Era visível demais, Khon Hu, o jovem , apresentou-se aos espíritos e disse-lhes : Descobri todo sentido da comunicação mas não devo agradecer-lhes, apenas pelo arroz que jogastes no chão, esse me trouxe luz.
Sobre o Criador
O povo Bela-Parrachia dirigiu-se ao centro de Swan-Tao e começaram a montar um gigantesco ganso de bambu, o povo de Swan-Tao parou para observá-los, entrando em choque com a cena incomum de seus dias monótonos, o mais interessante era que o ganso de bambu de aproximadamente 2 metros possuía uma genital de aproximadamente 40cm, alguns então começaram a debochar do ganso e Khon-Hu deteve-os com sua neo-sabia-linguagem.
- Ganso, Deus, Genital Grande, Valor Sexo, Risadas, Pequenez, Moralismo, Embriaguez, Estupidez….então ficou olhando para cima e para baixo, depois manteve suas mãos numa linha retilínea, na linha do horizonte, na aurora, tocou então no cerne da questão.
O homem que até então zombava ajoelhou-se e disse:
- Perdoe-me, o tempo me matou, a falta de sexo enrijeceu-me, a moral trancafiou-me, preciso livrar-me de toda essa morte
Então gritou com toda força :
- 1, 2, 3, 90, 4 !!!!
Com esse gesto mesmo o homem comum tornou-se ali um Bela-Parrachia e quebrou o encanto nebuloso que haviam feito em ti. O homem então começou lentamente a andar de trás pra frente criando não só uma nova maneira de andar, criará ali, um novo mundo, e afirmará aos prantos:
- SOU TÃO DEUS QUANTO DEUS FOR O GANSO!! Seguirdes então o caminho que não levas aonde deseja chegar..
Von Darsê ainda falará com a multidão que aos poucos se ajoelhava para a estatua de bambu do ganso:
- A magia vos cerca, e não deveis temer, pois tudo que será feito poderá ser desfeito, pois tudo que ostentastes, tudo que tomastes, será roubado de ti pela magia. A magia de nosso criador que procuramos eternamente sem nunca ter encontrado, que procuramos eternamente sem ao menos querer encontrar. Viva Parrachia, que bela!!!
O povo então começou a observar a magia, observar que um ganso de bambu era tão poderosamente místico quanto mística fosse a magia de quem pudesse olha-lo, e as pessoas eram tão deuses quanto mágicos fossem eles mesmos, mas o povo ainda não compreenderá os arrozes que a todo momento os Bela-Parrachia jogavam no chão, e a todo momento comiam…
O Arroz e o Mito
Enquanto os Bela-Parrachia jogavam bolinha de gude, grande parte do povo os observava e tentava compreender aqueles espíritos ensolarados, alguns insultavam-os, alguns os veneravam, mas ninguém era de forma alguma indiferente.
Durante um ritual os Bela-Parrachia disseram todos juntos como num grande refrão harmoniosamente caótico:
- Bolas de gude, acerte aquela bola, derrube-a, esmague-a, aquela bola ja é velha demais.
Ficaram então correndo em círculos, gritando essa frase repetitivamente, eis então que a chuva começava a jorrar, destruindo sua própria cerimonia das bolas de gude, eles então começaram a comer arroz e dançar, esse era o famoso ritual da auto-destruição.
Nesse ritual destruíam suas próprias crenças em prol de novas crenças, assim poderiam sempre ir além na procura do desconhecido.
O arroz era um dos reagentes que utilizavam para fazer suas magias, utilizar sua alquimia, além de um grande vício que nunca poderiam largar se quisessem realmente superar a si próprios. O arroz continha uma magia tão grande que foi utilizada pelos Chineses para plantar e pelos Bela-Parrachia para chegar a um estado meta universal, o arroz produzia sensações neles que podiam ser comparadas aos transes hipnóticos produzidos em algumas tribos durante cerimonias religiosas, porem não se tratava simplesmente de um mero recurso psicológico.
Pelo arroz conheceram além do universo, e mostraram suas experiências para todos, mostraram o poder da dança dos deuses, depois aprendida por outras culturas e religiões, afirmaram que todos deveriam satisfazer seus desejos, qualquer que fossem, desde brincadeiras até os sexuais, independente de serem poligamicos ou monogamicos, independente de ordens políticas ou religiosas e assim o foi até a repressão e mutilação da naturalidade por pessoas quase sempre mal intencionadas.
“A grande verdade: a verdade temporal, a verdade que não afirma, a eterna duvida.”
A espontaneidade e o Caos Ordenado
Chuvia muito em Shaw-Tao, estavam todos no templo Quay-Wan, era um dia que não se podia ir as ruas, pois estava-se no dia da constelação Chen, dia sagrado para a religiosidade conterrânea. Um menino, porém, pedia muito aos país para irem a rua com ele, pois na rua se encontravam os Bela-Parrachia dançando e comendo arroz na chuva.
O pai revoltou-se e bravejou com sua áspera voz :
- Isso é um absurdo, hoje é dia de Chen, algo terrível acontecerá a aqueles incrédulos, os ceticos sempre foram uma praga filho, escute-me bem.
Um ancião Bela-Parrachia que estava perto não pode deixar de ouvir, e retrucou:
- Digo-vos irmão, tens tanto medo do perigo do fogo, que não percebeste que o fogo ja te queimaste por dentro, enquanto vos o prendestes. Liberte teu filho, não permita que vossa prole queime convosco. Recusar-lhe-ei a vida?
O pai do garoto mordeu os dentes e começou a pensar, observou que toda sua vida havia reprimido seus sonhos, seus desejos, do que sempre quis fazer e não o fez pelo medo e obediência das tradições e moralismos mas ainda tinha medo de seu filho servir de teste para o azar.
Resolveu então sair junto de seu filho, abalaram-se os portões da ordem, tiraram as roupas e saíram correndo pela chuva, em pouco tempo estavam dançando pelados como os Bela-Parrachia, e claro, comendo arroz.
Tinham agora uma nova tradição, caoticamente destruíram a ordem e então constituíram essa nova ordem, a de se despir, dançar, comer arroz…os Bela-Parrachia juntaram-se então, começaram a jogar bolas de gude até que resolveram não mais dançar e sim ler, entrava-se na era da leitura na China.
Leitura de um trecho do diário de Von Darsê :
- Hoje 16 de abril de 48, o sol já se esconde dentre as montanhas, estou muito feliz, estamos conseguindo comprir nosso objetivo, apesar de não termos uma meta paradigmática, o povo ja se solta mais, dança mais, ri mais, se diverte mais e se preocupa menos. O imperador está preocupado com a diminuição do trabalho dos camponeses e parece desejar nossas cabeças, não me é estranho esse comportamento de um ser que prende dentro de si tanto fogo, as queimaduras, a depressão e o desespero se fazem assim. Nós desejamos sexo, sorrisos, diversão, cultura, leitura e caos harmônico. Estou realmente surpreso pela vida que podemos levar quando negamos a morte na vida.
Espaço, Tempo e a Felicidade
As pessoas se perderam no tempo e no espaço, as pessoas roubam o tempo e o espaço uma das outras, como querer encontrar a felicidade se você não detêm o tempo-espaço da sua vida?
Um escravo conhecido como Amadah-Len veio perguntar aos Bela-Parrachia : Estou tão deprimido, como posso ser feliz?
Jung de Miro e Von Darsê responderam-no com a suavidade drástica dos Bela-Parrachia : Como quereres ser feliz, enquanto procuras a felicidade de olhos vendados? Como podes comer se não tens a comida, onde plantar e nem ao menos o tempo para comer? Para ser feliz precisas antes de mais nada de tempo para ser feliz, precisaste ter o teu tempo para ti…enquanto teu tempo é roubado, não poderás encontrar a felicidade, precisas pois tomar o tempo de quem te rouba, tua majestade, teu senhor, tua religião ou tua política e após retomar a terra roubada que outrora foste tua, e hoje te negam com veemência.
Ai jaz a essência da felicidade, mas não só ai, se tua religião te aprisiona em vida ou em morte não podes ser feliz, precisastes na vida do gozo que outrora fostes pecaminoso, precisastes viver no mundo, para fora, e não se trancar em si mesmo, o orgasmo pleno de um ser se faz ai.
Von Darsê então lhe deu uma lição que o escravo jamais esqueceria :
Seja livre mas não se esqueça, te prende um pouco também, não viva só como um animal, só pelos instintos, do mesmo modo que um pouco de veneno pode curar um envenenamento, um pouco de mal pode curar o mal da totalidade, vos é necessário um pouco de cada doença para que possas viver curado e não arriscar-se contaminar até a morte. Mais quando chegar tua hora terás de saber o momento certo de ficar doente e largar teus remédios, pois a doença é também uma cura.
Não se iluda com teóricos que lhe dizem que o tempo vai acabar, ou que começou por obra do divino, nem que o tempo é uma reta ou um circulo, o tempo é mais que simples teorias, o tempo não volta, o tempo não para, por isso precisastes da mudança, porque o tempo não vai acabar, mais vos um dia irá perecer, as ações humanas são infinitas porque infinitas são tuas idéias. Portanto não tema, retome teu tempo, retome teu espaço, retome tua vida, assim encontrarás, ou melhor, poderás encontrar a felicidade.
O Ritual da Autodestruição
Um dia de sol, as gramas estavam verdes em Swan-Tao, as pessoas ja tinham aprendido não só a aceitar os Bela-Parrachia mas também a adora-los, a maioria da população tornara-se Bela-Parrachiana e os que ainda se prendiam a neuroses e fobias começavam a desvirtuar aquela seita ou anti-seita que negava-se sendo. Criaram dogmas, verdade Parrachianas e começavam a dizer que só se chegaria a luz através do “ideal” Parrachiano.
Enquanto acontecia essa desvirtuação pálida dos Bela-Parrachia o jovem Khon-Hu olhava-se no espelho e conversava consigo mesmo:
- O que queremos? Era isso? Mais uma anestesia psíquica? Não, nunca foi e nunca será essa lastima, devemos negar toda verdade imortal e divina, devemos negar toda verdade imutável, devemos queimala ou devemos esperar que o tempo a queime?
Von Darsê que vinha passando não pode de deixar de escutar, escutou a conversa do jovem e chamou-lhe :
- Veja. (apontou para o sol e para as pessoas que ali trabalhavam).
- O que vê? – perguntava Darsê num tom melodioso.
O jovem Khon-Hu respondeu-lhe com sua percepção místicamente realista:
- Vejo pessoas que trabalham de dia, porque aprenderam que assim podem produzir mais e melhor. Nós não viemos aqui para ensinar-lhes o trabalho, contudo se tiverem duvidas, podemos reafirmar-lhes que o dia é melhor do que a noite.
- Sim, respondeu Darsê, contudo esqueceste de algo, esqueceste da noite, assim como no dia pode-se trabalhar, descansar e praticar o coito, a noite também é hora, a noite também é dia. Não deves prender-te a respostas tão superficiais como noite/dia, verdade/mentira, bem e mau, a austeridade se torna a miséria de quem a prática, o maniqueismo do tirano.
Khon-Hu então correu para a praça e começou a fazer movimentos que ninguem podia compreender, deu um berro de fúria, um piso no chão de raiva, fez algumas caretas, e começou a dançar mexendo bastante a região pélvica.
O que ele estava querendo? A maioria do povo olhava intrigada, alguns acusando-o de exibicionismo e falta de pudor, mas foi o sábio Arachimini um garoto de 13 anos que pode dizer aos intrigados cidadãos.
- Vocês estão cegos? Seus olhos estão tão fechados que não conseguem perceber a voz que sai dos movimentos? Ele está tentando mostrar-nos que a movimentação natural do corpo tanto pode trazer a tranqüilidade, a emoção, os sentimentos de volta, como nela não existe verdade, existe caos ordenado, existe vida, existe livre liberação de fluxo e não tentativas forçadas de tentar impor-lhes verdades como fazem. Ele dança como quer, faz o que quer, o que teu corpo quer e o que aprendeu e não nega o novo, jamais. Por isso ele não pode ser como aqueles que desejam tornar a beleza dos Bela-Parrachia mais um túmulo como o Cristianismo, o Judaísmo, e essas auto-sacrificações masoquistas.
Logo após o discurso flamejante do garoto, Jung de Miro foi a praça central da cidade conclamou o povo e disse :
- Vim dizer que nós Bela-Parrachia estamos partindo da cidade, porem antes de irmos proclamo a todos os Bela-Parrachianos a fazer o ritual da bola de gude sobre tudo que sabemos para que não nos tornemos jamais padres Parrachianos, essa aberração nunca existiu e não deve vir a ser. Deixemos que o devir entre em nossas vidas…
Então o povo Parrachiano voltou a sua essência lúdica, jogou bolas de gude, divertiu-se, dançou, comeu arroz e no final destrui qualquer vestígio de império e autoridade.
A Deriva e o Errantismo Parrachiano
“Vamos atravessar pontes
E de pontes para pontes
Assim urge nosso destino
Não ficaremos parados
Estagnados, esperando o acaso.
Não ficaremos parados
Com a faca na mão,
E a justiça no peito…nos matando a cada segundo.”
Os Bela-Parrachia então saíram de cidade de Swan-Tao e começaram seu caminho rumo aonde a beleza os levasse, é importante ter um objetivo, mas não para vida toda, todos objetivos devem cair para dar lugar a novos objetivos, para a vida não ficar rígida demais, assim como todas as localidades e condições de vida devem ser trocadas periodicamente para não se prender a um padrão de vida ou um padrão de ambiente, assim os Bela Parrachia construíam sua anti-sistemática, não confiando em verdades imutáveis, formava-se a deriva e a constante da revolução, o devir.
Foi com essa convicção que os Parrachia saíram em direção aos desertos Árabes enfrentando condições climáticas para eles aterradoras, o perigo era tão constante que levou a muitos a superarem a si mesmos para enfrentar a morte. Agüentaram bravamente tanto o clima do local quanto o tempo (quando se diz tempo, está se referindo não só a condições climáticas e sim a duração do próprio dia e indo alem do próprio minuto.).
Após dias de truculência chegaram a um Oásis onde vivia um tribo, essa tribo defenderia sua localidade estratégica com a vida, eles detinham armas (lanças, escudos, arcos…) enquanto os Bela-Parrachia não tinham nenhum tipo de armamento bélico. Tudo insinuava que eram os últimos momentos de respiração dos bombeiros incendiários, mas os Bela-Parrachia possuíam uma grande arma escondida na manga, a revolução do gato amargo.
Aproximadamente 300 guerreiros armados partiram em direção aos cerca de 150 Parrachianos, eis então que a situação mudou, quem vive no mato aprende com o coelho. “ Nas ocasiões que tudo inspira temor, nada deves temer. Quando estiveres cercado de todos os perigos, não deves temer nenhum. Quando estiveres sem nenhum recurso, deves contar com todos. Quando fores surpreendido, surpreende o inimigo”
Sun Tzu foi um grande inspirador dos Bela-Parrachianos, e foi exatamente a sua mentalidade que o povo Bela-Parrachiano utilizou para revirar a situação.
Os Bela-Parrachia então começaram a dançar e comer arroz na frente dos 300 guerreiros tribais e como era de se esperar a chuva jorrou, o místico ar tomará conta do local, os 300 guerreiros acreditaram ser os Bela-Parrachias Deuses, enquanto eles eram apenas parte da natureza, melhor dizendo, não apenas parte, ele eram a natureza propriamente dita, assim como você e eu.
A partir dai os tribais juntaram-se aos Parrachia, começaram a adora-los, mais logo os Parrachia os demonstraram que não só eles eram Deuses, mostraram que todos os são. Aqueles dois povos à partir dali aprenderam muito mutuamente como bons seres humanos, ou bons Deuses. A magia da deriva, como a magia do errantismo trouxe aos Bela-Parrachia muito conhecimento, evolução, força e afetividades guardadas de todos os locais, alem da possibilidade de manter-se em constante movimento, o constante movimento da vida.
A Virtude da Loucura (diário de Von Darse)
Durante as áridas caminhadas sobre desertos, florestas tropicais, vimos de tudo que se possa imaginar, até mesmo o inimaginável. Aquele sonho que se tem a noite ou mesmo de dia, para nós era realidade, o sonho e o pesadelo eram-nos igualmente virtudes, pois da vida, eles faziam parte.
Passou-se neve e chuva, sol e seca, até que podemos encontrar uma das maiores dadivas que nos esperavam… Encontramos jovens nômades durante o trajeto e ficamos muito amigos daqueles eruditos, mas um deles se destacava demais, tanto por sua anti-sociabilidade, como pela sua magia, seu intelecto e sua honestidade vibrantes.
Conheci esse Santo enquanto ele conversava sozinho, achei inicialmente estranho tal fato, comecei a achar que tal homem possuíra poderes sobrenaturais alem da luz, mais tarde iria comprovar minha teoria. Resolvi perguntar então a alguns Nômades sobre tal estranha figura.
Contaram-me que ele era um caso realmente muito estranho, não se envolvia muito bem com os outros Nômades, principalmente os mais austeros que traziam a estase daquele povo. Estes nômades austeros e jactanciosos que odiavam o jovem estranho eram os mesmos que traziam a paralisação daquela sociedade e sem duvidas o diferencial entre os Bela-Parrachia e eles.
Eu resolvi então falar com o jovem que era conhecido como Iquiz Tao Hiad e descobriu no jovem tanto uma noite* imensa quanto uma sombra ardente, o jovem era honesto de uma maneira una, não continha a peste da falsidade e da mentira trazidos da rigidez das cidades falsas.
O jovem dizia com os olhos ao mesmo tempo tão distantes como tão próximos do mundo como é raro de ser ver :
- As cidades fantasmas querem roubar minha alma, dentre este povo existem desde as mais celebres pessoas, até os mais árduos tiranos, me chamam de louco, dizem que perdi minha cabeça, mais quem quer tirar minha cabeça são “eles” (claramente falava sobre mais de uma entidade). Os normais estão loucos, e agora querem dominar a “loucura” dos normais, assim ninguém irá atrapalha-los a deter o poder, por isso fugi para essa tribo nômade que me acolheu de braços abertos.
Chamavam-no de louco, mas loucura para Von Darsê** ainda não era de certo aquilo, compreendo que em tal jovem haviam coisas um tanto quanto assombrosas, parecia que ele tinha fugido do mundo, criado seus próprios significantes, tanto para as palavras, quanto para a vida em si mesma. Eu resolvi ajudar (ainda que com medo de destruir-lhe a magia) aquele jovem, que apesar de tão honestamente inteligente, possuía uma angústia de uma tonelada ( se é que podemos medir os sentimentos.), mas não escreverei aqui como o ajudei, apenas quero relatar o meu encontro com o mais inteligente dos homens, mesmo porque foi o mais sábio e honesto deles.
* - Noite claramente no sentido de harmonia e beleza natural.
** - Aqui, falando sobre ele mesmo em terceira pessoa.
Usando o Vivido, Não se Vive, se Usa.
Os Bela-Parrachia após o encontro com os Nômades partiram para a maior cidade de Oriente, ja Ocidentalizada a tempos, Bombain, lá puderam observar as pedras que se locomovem e ficaram impressionados, terrivelmente impressionados, viram pela primeira vez uma cachoeira que não flui.
As pedras andavam a seus objetivos tão superficiais como elas mesmas, azedas, imóveis e duras, duras como….pedras. Seus únicos objetivos (que elas próprias não sabiam) era manter o grande pedregulho que mantinha seus status de pedra. Os pássaros que ali viviam largaram tudo que era vida, eles não possuíam possuindo, a partir de agora, tudo que eles detinham não detendo em prol de transformar toda aquela vida em simples uso. Foi ai que a maldição travou-se sobre Bombain, todos os pássaros viraram pedras e o pior, não sabiam que eram pedras, e defenderiam a condição de pedras, aqueles que um dia ja foram pássaros. Tudo aquilo era demasiado triste, ver aquilo era quase que como transformar-se em estatua e estar morto também.
Os Bela-Parrachia estressados e perplexos sabiam que aquela era a maldição para aqueles que transformam suas vidas em epílogos, e começaram a gritar sem se preocupar com as pedras e seus pseudo-objetos de uso, CRIEM INTRODUÇÕES, PROLOGOS, VIVA O INICIO, O MEIO E PRINCIPALMENTE O FIM, NÃO O FIM COMO DESFECHO, JAMAIS O FIM COMO CONCLUSÃO, MAS O FIM COMO A PERCEPÇÃO DO ETERNO ERRO!!!!
Enquanto berravam essas palavras, alguns vomitavam, outros praticavam o onanismo e gozavam, outros simplesmente cuspiam, outros respiravam com vontade e jogavam para fora todo ar velho, o fato era que todos demostravam o novo, todos mostravam o fluido da vida em oposição a estagnação e a reificação que os rochedos trouxeram.
Todos os Bela Parrachia viviam e mesmo que estivessem usando roupas, objetos, livros, eles viam tudo isso como vindo do mundo, melhor dizendo, tudo como participação do mundo e não objetos fragmentados, viam tudo como vindo e ainda presentes na terra, viam tudo como partes de si mesmos, viam a vida, eram ainda pássaros.
Enquanto os Bela-Parrachia viam tudo na vida, as pedras, viam tudo como objetos de uso, viam tudo até mesmo os animais como utilidades, tiravam suas características, tiravam suas vidas, fragmentavam tudo, transformando-os em objetos.
“ Se eu mantive-me inteiro até aqui,
O sonho, o sono, o despertar, não acabou
Aqui então viverei, aqui então morrerei
A energia fluiu, o mar de risos, de gritos,
De raiva, alegria, paixão, amor e ódio
Na noite ensolarada,
Tudo se vive, tudo é da terra,
A terra é de tudo, o cosmos, é tudo,
São de tudo, são de todos, são o tudo.
Somos nós. “
A Raiva e os Sentimentos
Evitam a raiva PRISÃOSem Sentimentos
Tem amor VIDA Tem raiva
Amor HARMONIA Ódio
Tensão GOZO Climax, Alivio
Sexo MAGIARitual da Auto-Destruição
Antagonismos formam sinteses ? Paradoxos naturais ou natureza
paradoxal ? Naturezas naturalistas, biopoliteistas ateus do devir?
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A quebra do equilibrio.
Estavamos numa floresta, realmente alegres em nossa caminhada
errante escutando o ancião Jung de Miro que contava-nos historias na
roda que se formara entre a fogueira e o vinho.
- A muito, muito tempo, existia um povo que não sabia rir, esse povo
era dominador, tinham lanças que cuspiam fogo*, guerreiros montados
em criaturas rapidas como dragões. Este povo era terrivel, rangiam
os dentes de tão angustiados, tinham os braços rigidos e os olhos
sem expressão. Tornaram a terra das tribos daquela floresta puro
fogo, pura lama, mataram todos animais e faziam panos com a pele
desses animais para vestirem-se e mostrarem seu status.
- Eles sabiam matar, eles sabiam dominar, mas nem ao menos sabiam o
que eram os sentimentos, a muito ja tinha se perdido disso, sabiam
matar, sabiam destruir. Um dia um desses guerreiros insensíveis
encontrou um menino Bela-Parrachiano e perguntou : Onde estão os
guerreiros Parrachianos? Enquanto olhava tenso para todos os lados e
suas mãos suavam rígidas como pedras segurando a lança que cospe
fogo.
- Eles estão como de custume brincando, tomando chá, vinho, fumando,
fazendo sexo, dançando ou caçando, aqui tudo é alegria e tristeza,
todos os sentimentos fazem parte de nossa vida, sabemos que negar um
sentimento é negar a todos, mas porque deseja saber? Deseja se
divertir conosco? Venha, venha! O garoto que antes fazia malabarismo
então deu as três maças que segurava ao guerreiro e disse, venha
brinque comigo.
Nesse momento o mundo parou, o guerreiro olhou com os olhos
lacrimejando, parecia que toda aquela sua defesa, toda aquela
barreira que o impedia de comunicar-lhe com o mundo havia sido
quebrada ali, por um simples menino, por simples bolas de
malabarismo. O céu refletiu o pranto e a chuva jorrou, jorrou tão
bela quanto a inocência daquele menino que transformara uma lagarta
em uma borboleta. O guerreiro então lhe disse:
- Por favor menino, seja meu mestre, ensine-me a sentir novamente,
isso é a melhor coisa que poderia ter me acontecido, não quero mais
viver a austeridade, deixe-me tornar um Bela-Parrachia.
Deve aprender então a raiva, pois a tristeza é tão linda como a
alegria, o que sente dos que fizeram de tua vida uma prisão? O que
sente com relação a aqueles que matam e destroem todos os
sentimentos, todos os povos que destroem a harmonia com a natureza,
pois se alienam da vida, o que sente?
Uma fúria incontrolavel tomou conta do guerreiro que começou a
chutar uma arvore ao lado e soca-la, seu choro não caia mais do céu
e sim de seus olhos, a vida pela primeira vez transpareceu para o
guerreiro que gritou :
- O QUE ERA A ORDEM QUE ME IMPUNHAM ? NÃO ERA PODRIDÃO E MORALISMO
LASTIMAVEL ? ME DERAM A MORTE E FALARAM QUE ERA VIDA, HOJE OS ÓDEIO!
O guerreiro então sentou-se e começou a meditar, meditava não
interiorizando o ódio e sim exteriorizando-se e entrando em contato
com o mundo real, tornava-se ali parte da natureza, tornara-se ali
um Bela-Parrachia.
Após o ódio o guerreiro pode compreender também o amor, pode
compreender todos os sentimentos que a vida traz, pode compreender a
própria vida. O guerreiro então agradeceu muito o menino e partiu
com sua missão de trazer de volta a vida para seu povo natal. Reza a
lenda que ele conseguiu, e todo seu povo hoje vive em montanhas
isolados em contato com os animais e a floresta.
* Acho que aqui fica claro a clarividência e os deja-vus dos
Bela-Parrachia, indo alem, fica claro a superação do tempo pela
psique Parrachiana.
A Família Parrachiana e a Guerra da Doença Contra a Natureza
“A família, tão consagrada instituição, tão famigerada relíquia,
passando tradições, contradizendo emoções, limitando relações.” Lyn
Myhn. 37 d.l (depois de Lyn)
Morte!!! Pecadores!!!!! Gritava enfurecida uma multidão de
religiosos que corriam atrás dos Bela-Parrachia… Tudo começou
quando os Bela-Parrachia resolveram acampar um tempo, bem próximo a
uma cidade religiosa, a grande questão que gerou o conflito entre
esses dois povos, foi justamente a questão sexual e familiar.
A família Parrachiana não continha os padrões monogamicos, rígidos,
culturalmente tradicionais assim como os desse povo “religioso”,
mesmo porque o Deus da religião que condenara os Bela-Parrachia era
um Deus assexuado (e a sexualidade para aquele povo se resumia a
procriação), e os deuses e deusas Bela-Parrachianos, sempre morrendo
e dando lugar a outros (ou não) eram em grande parte altamente
sexuados e altamente diversos, entre eles existiam deuses (e Deuses)
assexuados, poligamicos, monogamicos, heterossexuais, bissexuais,
etc..(entre eles animais, Deusas, deuses que não eram seres,
energias…), poderia-se até considerar que toda a natureza era a
deusa desse povo.
Dessa forma a família Parrachiana não existia como fragmentação
social, existia como totalidade popular e natural. Se formos
considerar uma família Parrachiana, deveríamos considerar todos os
adultos como pais e todas mulheres como mães, as crianças recebiam
educação de todos, principalmente dos mais velhos, assim como muitas
tribos indígenas que foram influenciadas místicamente e
atemporalmente pelos Bela-Parrachia.
Após a ardida fuga do povo Parrachiano pelas florestas de Swe’rohw,
o povo Parrachiano ainda estava confuso sobre o que aconteceu e
conversavam sobre o fato :
Kohn Hu : “ Perigo, incompreensão do amigo, então apontou uma arvore
caída sobre diversas plantas (a arvore tivera matado as plantas).” O
que devemos fazer? Lutar ou fugir? A terra deveria ser de todos,
mais eles a tomaram, nos atacaram simplesmente porque alguns de nos
faziam sexo no meio da praça, que fica no nosso próprio acampamento.
Von Darsê : Kohn Hu, a praça não é nossa, é deles e de todos, eles
querem nos impor suas leis, eles querem nos impor suas tradições,
acusaste-os de derrubar arvores sobre plantas, inferiste-nos de uma
pequenez ilusória. Eu compreendo que eles dominam o seu próprio povo
através de sua família e de suas leis, mas escute-me, nos não somos
libertadores, os maiores libertadores sempre foram os maiores
opressores, se querem acabar com o domínio devem fazer isso com as
próprias asas, se aquela febre patológica voltar a nos assombrar,
nos defenderemos com nossos remédios.
“ A prisão da família,
sentida na pele,
sentida a ferida.
Os olhos brilhavam,
enquanto descobria a vida,
Mais tudo aquilo lhe foi negado,
o mundo lhe foi roubado
Pobre garoto,
que hoje esconde o que quer,
Descobriu a felicidade na família Parrachiana,
Descobriu a liberdade,
descobriu a amizade,
Descobriu que tudo é de todos,
e todos são o tudo,
Descobriu que tudo é parte,
Daquela maravilha,
que se chama mundo.”
Kohn Hu, 23 d.k
A Maldição que Salvou Vidas. (diário de Von Darse)
Escuto um esporro, mas não aguço minha neurose, entro em contato com
o silencio esperando a cada vão o respaldo das ondas de som, que
adentrariam meu ouvido caso fosse necessário. Meu ouvido como o de
uma águia capta a maldição, alguém, algo, teria nos amaldiçoado, eu
ainda não pude saber o porque, ainda não pude prever e prevenir, só
sabia que meu povo estava doente.
Porque? perguntava a Deusa Éris, porque teriam os Deuses cometido
tal ato? xinguei-os, não pude evitar, não importava, estaria selado
nosso destino? Seria esse o grande fim que nós aguardava? Não podia
acreditar, comecei a chorar diante da chuva que completava o clima
de instabilidade, a chuva caia como que me corroendo, era tão acida,
era o reflexo de minha dor.
- Ei, Porque choras meu jovem? – Perguntou um senhor que passava.
- Não posso evitar, meu povo está doente, grande parte esta com
perigo real de vida, só o que fazem é ler, comer e dormir, mal
conseguem se locomover. Nosso povo sempre foi andarilho, sempre foi
atlético e nunca nenhuma doença nos assombrou com tal intensidade. –
respondi com voz mórbida
- Então o que estás fazendo a chorar? Procuraste a cura pro teu
choro e de teu povo? Nenhum Deus comanda nada, olhe para natureza,
observe como ela se locomove, Gaia*, é assim que a chamamos em minha
terra. – disse-me o velho que tinha os olhos indiscritivelmente
profundos.
- Você tem toda razão, muito obrigado.
Agradeci-o e parti rapidamente com uma parte do grupo que ainda não
estava doente a procura de cura, mas o mais interessante foi
observar que quem descobriu a cura para doença foram os próprios
doentes que estavam a ler bastante, como única atividade que eles
poderiam realizar.
Depois de uma pequena busca podemos encontrar os remédios para os
doentes e cura-los, e incrivelmente saímos daquela “maldição”
vigorosamente mais fortes, a nossa informação havia crescido,
conhecíamos agora melhor as curas e as próprias doenças e felizmente
não houve preços para isso. Jamais pagaríamos um preço alto para nós
trazer tais informações, ou tecnologias, como as pedras as chamam,
jamais seriamos cruéis como as pedras de sacrificar vidas por tais
tecnologias, mesmo porque estas nos trazem informação, o que é bom,
porem não nos trazem o mais importante, que é a felicidade e
harmonia de nosso povo.
Mais tarde so que Von Darsê** foi saber que o velho que lhe falará
era o famoso e hermético Dan Ki Chopper***, um santo ateu que
grassava pelas cidades mostrando o mundo para os que se atolam em
metafísicas e esquecem de viver.
* - Aqui fica claro de onde surgiram as teorias de Gaia que só hoje
são reconhecidas, iniciadas com o mestre Dan Ki Chopper
** - Novamente Von Darsê usa seu nome em terceira pessoa.
*** - Dan Ki Chopper alem de santo ateu foi o criador de uma técnica
oriental de concentração que é utilizada até hoje.
O Mapa da Felicidade (diário de Kohn Hu)
Onde está ela que todos procuram? Onde está a Deusa, o mar, a luz e
a razão da vida? Onde está a felicidade?
O céu caiu sobre as flores que murcharam, o céu se abriu e as flores
levantaram, onde está a felicidade? Onde está a felicidade? No
levantar da pétala? Ou no murchar da dádiva colorida da Deusa?
Resplandece-me os olhos tanto a morte quanto a vida, tanto o inicio
como o final e igualmente o decurso. Onde desses itens estará a
felicidade? Em si mesmo, na alma ou na sociedade, no barco ou na
viagem? No mar ou na terra? Na certeza ou na duvida?
Resolvi perguntar ao mestre Von Darsê onde poderia encontrar a
felicidade, e se eu fosse ajudar as pessoas a encontra-la, para onde
eu deveria apontar.
- Von Darsê, preciso de uma resposta, onde posso encontrar a
felicidade? Perguntei-o
- Estais triste? Não encontrastes vossa musa?
- Não. Estou feliz, sei que me tornei feliz quando vim pra ca, antes
eu era muito triste, então a felicidade se encontra onde vivemos e
como vivemos?
- Talvez, o que achas?
- Não sei ao certo, porque apesar dos pesares em minha antiga terra
haviam pessoas felizes, é realmente muito estranho, existem pessoas
felizes em tantos lugares. Na minha antiga terra sempre diziam que
felicidade era encontrada na raiz do coqueiro, mais eu nunca vi
felicidade ali, na raiz do coqueiro. Porventura eu a encontrei nos
cocos e não na raiz do coqueiro. Sinto-me confuso, acho que a
felicidade não está em nenhum lugar definido e sim onde cada pessoa
possa encontra-la de acordo com sua formação histórica e intelectual.
- Talvez, vossa opinião é sabia, assim como a verdade não é una, a
felicidade pode encontrar-se tanto no raiz do coqueiro, como no
próprio coco, na queda do coqueiro, e mesmo a própria tristeza pode
encontrar-se nos mesmos lugares que a felicidade. Porem é necessário
dizer-vos que existem coisas que podem trazer doenças e limitar ou
mesmo destruir qualquer possibilidade de felicidade. Não deveis
deixar de lado vossas necessidades e as de teu corpo, porque tua
religião ou tua política te prendem, isso se queres ser feliz. Não
devemos colocar a felicidade num pilar e criar teorias para
alcança-la, devemos vive-la.
E assim disse Von Darsê, influenciado pelo espírito místico de
Ninguém, espírito esse que influenciou muito os Bela-Parrachia. Mais
não vou me adentrar nesse sacro santo nesse momento. Eu pude
compreender a felicidade, que tantos procuraram sem querer
encontrar. Muitos da minha antiga cidade diziam procura-la mais
estavam a todo tempo se punindo, como querer encontrar a felicidade
na punição, na dor e na amargura? A doença ja defecara naquele
local, e seu povo esta doente demais para perceber “a praga”.
“A felicidade do velho coelho,
Jamais se traduziu em palavras
Era vista em gestos, doces lagrimas
Que caiam, subindo ao céu
A doença, a praga não lhe acometera
A sua cachoeira não era paralisia,
Era fluxo, vida, nunca hipocondria
A própria vida era felicidade, e tristeza
O mundo inteiro era sua vaidade
Que se entrelaçava nas arvores da verdade
Não tinha lar, não tinha medo,
Tudo era teu, nunca em segredo
Teus muitos filhos brincavam
Teus e de todo povo
O sol brilhava
Também a lua,
Na floresta o povo sentia,
Amor”
Kohn Hu
A Vida dos Gansos e o Culto ao Lúdico
A vida dos gansos Parrachianos “sempre” foi a marca do júbilo e do
culto ao lúdico, e por isso, talvez, as árduas críticas por povos
que “necessitavam” (ou simplesmente queriam) que o trabalho fosse
cultuado e mistificado como algo sagrado, nobre, onde invertiam as
relações de dominação teoricamente. A realidade desses povos contudo
como ja lhes disse, é exatamente o inverso, o proprietário que não
trabalha (ou trabalha menos, superficialmente..) é o nobre, ja o
camponês que trabalha arduamente acometido pela peste trabalhista é
o pobre e o escravo.
Os gansos Parrachianos então renegavam o trabalho trabalhando, a
questão para eles era, o que é o trabalho? Se o trabalho é
obrigação, se trabalho é imposição, se o trabalho é chatice, se teu
trabalho é usado contra ti ou roubado de ti, se o trabalho é
evolução para os donos do poder, devemos amaldiçoa-lo, abomina-lo,
destrui-lo, agora se teu trabalho é diversão, felicidade, superação,
evolução, mobilidade, expressão e mesmo tristeza pode-se ou mesmo
deve-se ama-lo.
A vida dos gansos Parrachianos era lotada de diversões, entre elas
um jogo onde usavam uma bola e com os pés devia-se ludibriar o
adversário*, esse jogo cabalístico foi inventado por um ganso
Parrachiano chamado Ganso Goiano ou G.G.Elder, essas diversões
tinham fim em si próprias contudo eram também rituais místicos.
O trabalho para eles não era “trabalho” pois detinha essa conotação
de diversão, alegria, brincadeira, etc.. portanto mesmo quando
procurando, produzindo coisas essenciais os gansos Parrachianos
faziam jogos, por exemplo : quando tinham que caçar disputavam quem
conseguiria abater primeiro um animal, então iam se divertindo.
Na sociedade dos gansos Parrachianos não existia propriedade, era
como um anarquismo primitivo, ressaltando novamente que nada era
trocado, vendido, negociado, usado, tudo era vivido e pertencia a
todos, não porque tudo era distribuído e sim porque tudo era da
natureza, mesmo o modificado pelo homem era em essência natural,
assim como os próprios homens, portanto tudo era de todos mesmo sem
haver uma conceituação disso.
No errantismo Parrachiano não havia lugar para lideres, somente em
casos de guerra ou real perigo de sobrevivência, como pragas os mais
sábios ou mais velhos assumiam uma postura de organização ou
coordenação da comunidade Parrachiana e assim que a guerra, ou peste
sumissem esses “lideres” eram depostos e assim vivam os gansos
Parrachianos e assim Parrachiavam os gansos vividos.
“Livros a ler, trabalho a fazer, diversão a acometer, vida a
decorrer, Saúde a vencer, mente a voar, pássaros a cantar, arvores a
viver, morrer, respirar, sementes a brotar, bebes a nascer e
verdades a transgredir”
* - essa prática foi fulminar no futebol moderno.
Sobre o Suicídio Místico
Trevas, escuridão, as gramas submersas na água escura naquele
pequeno alagamento, apenas uma planta tinha força para se manter em
pé e em estado deplorável, se antes tivesse morrido a desgraçada. O
que fazia de pé? Deveria ter morrido, faz parte do fluxo da vida,
faz parte da própria existência.
A verdade absoluta sempre foi vista como desgraça para os
Parrachianos, isso não é segredo para ninguém, simplesmente é vista
com desdém. A planta velha que não morre, deve morrer, deve deixar
que as novas plantas triunfem, deveria permitir sempre a renovação.
Começou a estranha história num árduo dia de chuva, nos primórdios
Parrachianos, uma tempestade terrível atolará tanto os pés quanto a
mente de alguns Bela-Parrachia. Em todo esse “caos” na tribo, alguns
Parrachianos resolveram “tomar conta da situação” e começaram a
criar mitos e autoridades, começaram a resplandecerem-se como
salvadores.
Observando abertamente a situação, diversos Parrachianos entre eles
Von Darsê, Jung de Miro, Kohn-Hu, entre outros resolveram intervir e
chamaram todos os Parrachianos e demonstraram o fato, os próprios
suspeitos concordaram com a suspeita e admitiram estar fazendo
aquilo. Deveria a comunidade chegar a uma conclusão de como combater
o vicio do narcisismo, a exaltação do nome, o desejo de entrar para
história Parrachiana.
Essa situação incrivelmente foi tomar um rumo bem parecido com o
ritual de autodestruição, incrivelmente a superação do narcisismo.
(diário de Von Darsê)
- Andávamos pela floresta de Macatú, Hujará (um dos “narcisistas”),
Jung de Miro e eu, estávamos a procura de respostas, tanto mentais
quanto da resolução dos problemas da enchente. Espreitando a
escuridão e o medo escuto um berro : AREIA MOVEDIÇA, CUIDADO!!
Afastei-me e olhei com cuidado, era Hujará, com sua face pálida,
encolhia-se como um verme com um terrível medo da situação, contudo,
quando fomos ajuda-lo nos disse com árduas palavras – deixe-me, irei
me libertar sozinho – eu via o estopim da situação, o narcisismo
máximo, o limiar entre o narcisismo e a separação do mundo, a
angustia pura.
- Deixe-nos ajuda-lo Hujará, de que vale todo essa egolatria? Não é
isso imundice e pequenez? O grande homem se faz na vida e não
precisa deixar marcas, não precisa de monumentos, ele é grande, ele
foi grande, não precisa e nem quer provar isso a ninguém.
Hujará nos escutou e sorriu, ajudem-me gritou o homem, gritou o
menino, gritou o idoso, não importa a idade, Hujará foi sabiamente
inocente. Nos o ajudamos, ele saiu da areia movediça… e começamos
a refletir juntos sobre o que tinha acontecido.
- Como podemos acabar com esse narcisismo? Alias, como podemos
diminui-lo? Como podemos fazer que as pessoas queiram crescer por
elas, e não para um futuro ilusório, e não só para “imortalizar-se”
– perguntou Jung de Miro
- Qual o mecanismo que as permite tal vontade de “imortalizar-se” –
perguntei-os e a resposta veio dos dois ao mesmo tempo.
- É o nome, responderam confusos
- Então ai está, derrubem o nome e estarão derrubando também a
identidade imortal, a autoridade, o ídolo e o estigmatizado.
- Mais não estaremos deixando assim de sermos nos mesmos? argumentou
sabiamente Hujará
- Você é seu nome ou você é o que vive? Você é palavra ou você é
mundo? Respondi-o
- Tem razão Darsê, mais o nome facilita a comunicação, talvez fosse
mais sábio a troca após um tempo.
- Sabia opinião, estou de acordo.
Então voltamos a aldeia e discutimos com as pessoas da tribo e no
final todos concordaram com a idéia, conversamos bastante, tomando
muito chá, comendo maças, dançando, gritando, rindo…tudo era
motivo de festa para nós, a vida era festa, a tristeza era festa, o
amor é lindo, o ódio necessário, então após a nossa esplendida
confraternização juntamo-nos e mudamos de nome, simplesmente assim.
Neste momento então o céu abriu, o chuva parou, a volúpia tomou
conta de todos, era lindo, as gotas de água caiam lentamente das
plantas refletindo os sorrisos das pessoas, o arco-íris surgiu e
resplandeceu as lagrimas que corriam o rosto de alguns, era O NOVO
NASCER DA VIDA, um segundo parto, uma segunda vida, e desde então
fazemos o suicídio místico de tempos em tempos.
Seja Você ( Diário de Von Darsê )
Importa-se? É tudo isso verossímil? Meu diário uma farsa? Nossa
seita uma ameaça? Um mito, um santo, um Deus, um pranto? Sim, talvez
seja tudo uma mentira, importa-se? Exporta-se? Não importa se sua
verdade é real, ou uma ilusão, uma mentira. Nós continuamos a
existir, na mente de quem for demente, o louco gênio que não pode
ser compreendido por quem não se sublevar contra a normalidade, o
homo normallis, a autoridade, o rei, o papa, a mitologia.
Iremos continuar por ai a fora, matando deuses, criando mitos,
construindo alicerces e os quebrando, continuaremos a jornada da
vida, evoluindo, desiludindo, disseminando o fogo e a chuva.
Importa-se? Exporta-se?
Ao seu lado estará um Bela-Parrachia, ao teu lado estará a vida e a
morte, sem medo, com medo, sentindo a vida mesmo que com dor, com
coragem. Daqui a 1800 anos, estarei ao teu lado para destruir a
ordem, causar o caos harmônico, estarei ao teu lado para trazer o
novo, o devir, porque? Porque nos somos imortais. Porque a Deusa
Éris está ao nosso lado, porque Jesus ja foi um de nossos guias
porém ja o quebramos, melhor, ja quebramos parte de suas idéias, ja
não está mais entre nós. E você homo normallis, importa-se? Teu
trieb* está morto, da demasiado valor a mentira, a falsidade e a
irracionalidade, está é a sociedade que estais a criar, o aviso ja
foi dado pelos Deuses, pelos Gansos, a natureza ja se rebela contra
ti, um segundo mais, um segundo mais, o tempo gira e você não muda,
gira, gira, gira, gira, gira.
Mate-se homem, mate-se mulher, crie um pouco de esperança, VA LER,
VA VIVER, CANTE, DANÇE, não tenha medo dos outros, não tenha medo do
Outro. Sente-se e medite, sente-se e suicide-se, viva uma nova vida,
seja outra pessoa. SEJA VOCÊ!
“ revivere, revigorum semper”
* Trieb – Instinto
:
Contos e Encontros: O Bela-Parrachia e o Bêbado Lúcido
- Dançando com os gansos – Ensaios sobre o saber viver.
“E quando tudo sumiu de sua vista, ele viu finalmente”. Kohn-Hu 88 d.KH
Prefacio de Frei Nando.
Este é apenas um pequeno conto, que remonta das tradições modernas do Bela-Parrachianismo. Em 1971 foi publicado a guisa de re-introduzir o Parrachianismo na cultura contemporânea. Ele saiu num Zine alternativo francês chamado: “Les mots”, e o texto saiu na publicação como: “Il faut savoir-vivre, le Parrachian en dance avec les jars” (É preciso saber viver, o parrachiano dançando com os gansos) tendo pouca repercussão na época, em especial pela publicação ter ficado pouco conhecida. O protagonista do texto chamava-se na época de Dr.Spotin, apesar do texto ter sido publicado por um insurgente da época, que foi amigo de franceses que ficaram famosos, como os Situacionistas. O nome desse jovem era Ruy Garcia (1942-1986) e foi jornalista.
Sabemos que, contudo, esse nome não significa muita coisa na tradição Parrachiana, pois os nomes nesta tradição são trocados eventualmente, em especial através do ritual das bolas de gude¹. O motivo especial desta troca é não favorecer o que chamamos na moderna psicologia de “Ego”, pois é através do nome que identificamos a algo como nossa propriedade, isto é “meu”.
Não desejo estender-me muito sobre esse prefacio, gostaria apenas de ressaltar que este documento é extremamente interessante devido a falta de traduções de textos no Brasil sobre o Parrachianismo. Inclusive, creio que este é o único documento que temos em português que o autor aborda a tradição dos gansos, tão conhecida e ao mesmo tempo tão pouco conhecida em nossa contemporaneidade. O texto mostra também que o Parrachianismo não se resume a um nomadismo territorial, e qual sua origem, permanece mutante, e adepto do arroz.
Faço apenas o apelo final para que os Parrachianos possam além de estar suprindo-nos de novos textos, possam também estar fazendo traduções e trazendo a tona textos arcaicos dessa tradição tão bonita que foi perdida as margens da história.
Frei Nando, 2006. Um ávido Parrachiano.
O encontro: O bêbado e o Parrachiano.
Eram dez da noite, e eu acompanhava de perto a procissão que passava pela rua, eram tochas e pedras de estudantes rebeldes. Mas, ainda, algo me interessou como um relâmpago: Era um ser, com um olhar de cabra e um cheiro de tinta óleo misturado com canela. Ele olhou para mim, como um qualquer, e jogou uma caneta no chão. Fiquei durante uns cinco minutos parado, olhando para a caneta, tentando entender aquele gesto, foi quando ele levantou-se da cadeira e veio andando com sua bengala até perto de mim e soprou na minha cara.
Eu imediatamente sentei, e meditei: “Estou demasiado bêbado ou este ser é louco?”. Neste momento a luz do bar piscou, e sentamos para tomar uma cerveja. Eu comecei imediatamente a perguntar qual era seu nome, e por que diabos ele tinha cheiro de tinta óleo e canela, ao que ele me disse:
- Estou com fome, vou abrir um saco de amendoins.
Então ele abriu o saco de amendoins e começou a botá-los na mesa formando, no final, o esboço de um desenho que se parecia um elefante, foi quando ele me perguntou:
- O que você acha?
Respondi após tomar um gole de minha cerveja:
- É bonito. Você provavelmente é um artista.
Ele me olhou com assombro e disse:
- Se é bonito, por que você está parado?
Após dizer isso, comeu o elefante e riu, falou que eu era estranho e se apresentou:
- Me chamo Spotin e o senhor?
- Ruy Garcia, é um prazer conhecê-lo.
- Spotin, o que faz nesse bar? Perguntei.
- Bebo. Respondeu.
Nesse momento percebi que não se tratava de uma pessoa comum e que eu estava perante um grande sábio. Resolvi então fazer-lhe perguntas que pudessem nos levar a algum lugar avançado.
- Mr. Spotin, posso lhe fazer algumas perguntas?
- Você pode beber cerveja.
- O que você acha desta revolta?
- Exatamente. Respondeu.
Então ele começou a falar, precedendo minhas perguntas:
- Bem, já que você parece um gravador com pernas, eu lhe darei bons ouvidos. Eu sou de uma religião conhecida como Bela-Parrachia. Certamente, você nunca ouviu falar dela, pois já percebi que você não tem bons ouvidos.
- E no que ela consiste? Perguntei, antes que ele pudesse pagar a conta e fugir.
- Ela se resume a tudo mais. Me diga, meu jovem: Você já viu seu bisneto?
- Mas, senhor, meu único filho só tem 2 anos!
- Eu sabia que você era cego! Eu acabo de beber o seu neto!
Fiquei apavorado! Eu sabia que eu já tinha bebido demais, e talvez por isso desse tanto valor a aquelas palavras enigmáticas que beiravam a loucura. Eu sabia, no fundo de minha alma, que deveria continua a beber. Aquele dia, apenas aquele dia.
- E quem é meu neto? Perguntei, enquanto começava a vê-lo duplicado.
- Seu neto é um ganso.
- E como então você o bebeu?
- Ora! Se eu não bebesse gansos, eu já estaria morto!
Então ele explicou-me que a realidade ultima provinha dos gansos, e que tudo mais era ganso, exceto o nada, o não-ser, o não-aí, isso era o Pato. Explicou-me que a medida que o ganso ganseia o mundo se faz, e a medida que o pato – que não tem um pescoção – se move, o mundo caminha a seu fim, ao apocalipse.
O mais estranho foi que a medida que eu ia bebendo, eu começava a escutar um barulho estranho, um Q, após um U… Tive medo, terror, angustia! Finalmente pude compreender o que era: “Quên, quên”, ouvi aquele barulho assustador em minha mente, como um canhão rosnando em uma guerra… Desmaiei imediatamente.
Quando acordei, percebi que eu não estava mais bêbado, mas algo havia mudado em mim. Vi amendoins jogados no chão, e compreendi a realidade. Peguei-se e os organizei. Comecei a jogar os amendoins como bolas de gude, então começou a chover, e a chuva jorrava de maneira linda! Como eu nunca havia visto antes.
Depois do jogo foi andar na chuva, eu tornei-me um ganso, percebi plenamente a medida que eu batia minhas asas e andava nu por aquelas calçadas. As pessoas passavam e não percebiam a minha nudez, mas afinal, aquilo não tinha mais sentido. Eu era ganso, eles eram ganso, o chão era ganso. Comecei a beijá-los todos, os gansos-gentes, os gansos-chãos e até mesmo os gansos cervejas, em poucos segundos eu fui deslizando pela cidade como uma lesma e uma multidão de animais, pessoas, coisas, me seguia, de maneiras muito diferentes, e partia em direção a algum lugar. Acordei, por volta das três da manhã perto de um lago, achei que eu estivera muito bêbado. Comprei um jornal e fui descobrir que ontem a noite, por volta das 22:00 uma multidão de pessoas parecendo gansos selvagens havia invadido um mercado e “roubado” diversos itens argumentando que os itens roubados eram eles mesmos e numa outra praça publica diversas pessoas, agindo como gansos, haviam tirado suas roupas e feito uma festa, com direito a orgias e muito arroz, segundo o jornalista.
Ruy Garcia.
.Texto dedicado ao excelentíssimo Parrachino, senhor: Dr. Spotin que me proporcionou a maior vivencia da minha existência.
Asa Pada
Que me importam os vultos? Os vultos dizem muito mais do que uma clareira numa noite de verão… versão acabada da neblina, tonteia as vistas dos visores. Só um idiota pode ser engolido por seus olhos. Aquele que de fato vê se esforça por nublar o mundo, acaba por chacoalhar as pedras. Os sonhos de verdade estão nas mãos.
Depois do estilete verbal de Von Darsê, as pessoas fecharam os olhos e abriram as bocas, línguas se entrelaçaram e massas viraram moças, maças fizeram-se em rostos e vermelhas frutas. Quantos cantos não saíram daquele lago aberto ao fechado. Mãos manearam os arquetes e fizeram salgadas comidas: está é a santidade da massa, fazer comida com. Aqueceram-se junto ao fogo, pois é o fogo que queimou a tristeza e a melancolia. E.T.ernidade.
Fraternos irmãos, se aconchegou de suas palavras Gagaya Mana. Que hoje seja um dia e não mais outro, que hoje seja uma noite e não mais outra. Vocês me escutam com as mãos e eu lhe falo com a pele: não queridos concubinatos, o concúbito não é de se fazer de paisagens! Um pintor que se rende a iluminação não passa de um holofote! Imbecil, não consegue criar! Imbecil, não consegue concertar! Imbecil, não consegue construir!
Os meus pés dançam e minha mente morreu para dar lugar a minha alma. A alma não sabe da linguagem, o automatismo da linguagem se contrabalanceia pela fluidez da língua. Não, amados, chega de fotógrafos! Roubam nossa almas as fotografias, roubam todo poder do deus do momento, Jihoku-Uhuban. Uhuban nos deu(s) a luz e a volúpia de tal forma que a forma se perdeu, meu corpo agora é corpo. O circulo, a reta, o hexágono são todos possibilidades. Ninguém nasceu para se perder em fotografias, ninguém nasceu para ser gravador de vozes, ninguém nasceu para repetir, ninguém nasceu para olhar no espelho. Idiotas, ainda não aprenderam o valor que o fogo tem! Idiotas, ainda não tomaram uma ducha de luar! Idiotas, não viram que a aurora era feita com corpos e salivas? Idiotas, não sabem ainda construir!
Meu ódio é de um amor tremendo, e assim me aniquilo, não de palavras, nem de imagens, não de sentimentos, nem de pensamentos. As respostas foram feitas para quem não sabe formular perguntas. Nada é tão visível quanto um neblina. A turvidão é mais reta do que o claridão. Aloha irmãos, toquem pois vossos corpos e estejam a espreita do matagal, pois é do mato que surge o que tem valia. O sapo pula e águia voa, mas ainda nossos espelhos não aprenderam a falar.
Por que o Bela-Parrachianismo não desenvolveu no Brasil ou de como o Sol secou a terra
Por FernandoR.¹
Depois de séculos de bela-parrachianismo é interessante fazermos uma pequena, quiçá ridícula, re-visão crítica. Analisarmos de que forma os Bela-Parrachia sucumbiram na tarefa de chuvar os áridos desertos pomposos de verdades irrefutáveis na região brasileira.
Para quem não sabe o bela-parrachianismo começou na China, não se sabe a data certa dessa gênese, pois os bela-parrachianos tem um sistema de datação muito complexo, que parte da data de nascimento dos sujeitos particulares, p.ex. eu que me auto-denomino “Frei Nando” possuo 42 anos, logo, a data plausível seria: 42 p.F (pós Frei, polícia federal ou prato feito). Existia também, nas sociedades nômades propriamente parrachianas, um sistema de datas coletivo que era dado por uma representação fantasmática, como um Luther Blissett ou Timóteo Pinto modernos. Mas havia uma diferença. Embora esses seres não sejam, em última instância, identidades particulares como nossos nomes próprios, eram nomes que pertenciam a uma única pessoa e que, de tempos em tempos – normalmente uma estação de ano – mudavam de lar.
Esses nomes eram compostos de certa animosidade, como se ao incorporar aquele nome o sujeito tomasse para si um pouco da história do nome, um pouco da herança ancestral que vivia naquele nomina.
Mas vamos às contemporaneidades. Esses seres tão fabulosos, os bela-parrachia, como Jung de Miro, Von Darsê, Kohn Hu, Kai Mai Ching e Fernando Rivelino, Hujará, e, last but not least, Lyn Myn, dominaram o imaginário “underground” chinês durante séculos, entretanto, no Brasil sua aparição é atualíssima. Foi um árabe que se chamava Kohn Hu que trouxe os alfarrábios parrachianos que chegaram a minha mão, ainda em 1994. Este douto árabe já tinha traduzido alguns textos, que na época, muito me interessaram. Em 1999 comecei meu aprendizado de árabe com o professor Arthur e, em algum tempo, pude decifrar o estranho “Bela-Parrachia: Vida e Morte dos Mitos”. Evidente que já haviam outras tentativas de fazer-adentrar o parrachianismo no Ocidente, como na França em 1971. (cf. Contos e Encontros).
O livro trata de assuntos muito diversos, mas procura trazer um pouco de flexibilidade as verdades escritas a diamante. Ora, com tamanha estranheza o livro foi interessar especialmente os discordianos, os freaks, além de alguns anarquistas ontológicos e detratores do mainstream. O fato é que este livro ameaçava as rígidas convicções de estruturas inapeláveis: de diversas formas de “ismo”.
De certa forma é importante considerarmos que o bela-parrachianismo foi derrotado na guerra contra a paranóia. As verdades venceram, o literalismo, a seriedade e o trabalho. Fomos derrotados em nosso próprio terreno tropical. A chuva cessou, o deserto resplandeceu: a comédia morreu.
¹ - FernandoR. é pesquisador da CNPQ para estudos parrachianos, além de membro do comite inter-setorial para divulgação e promoção de realidades alternativas.
http://tudismocroned.blogspot.com.br/p/delirio-coletivo-news-golds-tudo-junto.html
Re: Conheça o Bela-Parrachianismo
Timóteo Pinto wrote:http://tudismocroned.blogspot.com.br/p/delirio-coletivo-news-golds-tudo-junto.html
Conheci. Obrigado.
Santaum- Mensagens : 32
Data de inscrição : 2008-04-26
Bigodismo Pseudo Freudiano
Tive Preguiça de ler, mas acredito na sua palavra por enqto. ZU5
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