‘Manifesto da anti-televisão patafísica’, por Aderbal Freire-Filho
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‘Manifesto da anti-televisão patafísica’, por Aderbal Freire-Filho
Anti-manifesto de ''Arte do Artista''
(ou Manifesto da anti-televisão patafísica)
A televisão nasceu sem preconceito racial: preta e branca.
A anti-televisão já nasceu colorida, logo, contra todos os preconceitos.
A anti-televisão é contra as redundâncias e por isso mesmo seu programa mais conhecido do (sub)mundo se chama Arte do Artista. Que podia se chamar Arte do Artista e da Artista. Para parecer mais redundante ainda, sem ser.
Arte dos Outros é um programa de tv apresentado por Platão, Aristóteles, Sexto Empírico e São Thomas de Aquino e entrevista médicos, militares e até políticos.
O apresentador de Arte do Artista, depois de tentar agarrar a consciência do rei no teatro, entrega a sua própria consciência à armadilha da anti-televisão.
Arte do Artista é regido pelas leis da patafísica, a ciência das exceções e das soluções imaginárias. Em vez de enunciar a lei da queda dos corpos, a patafísica prefere procurar a lei da ascensão do vazio em direção à periferia. O Colégio de Patafísica se declara uma sociedade de pesquisas científicas brilhantes e inúteis.
Arte do Artista está situado geograficamente na Lapa, o ponto maior do mapa do espaço sideral. E moralmente entre o “Chega de Basta”, lema do Pingo, e o “Basta Pum Basta'', manifesto do poeta futurista português Almada Negreiros. E sua bandeira é Manuel Bandeira.
Arte do Artista é um programa de televisão para quem não vê televisão. E também para quem (diz que) só vê na casa da namorada e para quem (diz que) só vê futebol. E, paciência, para quem vê televisão.
Uma anti-entrevista não tem começo, nem fim e nem fins.
Arte do Artista não provoca alergia pois a anti-televisão é antialérgica.
O programa de anti-televisão Arte do Artista saúda seus santos selvagens e sublimes sábios com todos os esses sem erres.
Salve o filósofo catalão Ramon Llul, do século XIII, inventor da Máquina de Pensar, que inspirou a Máquina de Pensar Arte, ou Máquina de Pensar/te!
Salve Borges, que descobriu o Aleph, um círculo de dois centímetros e meio, através do qual se vê tudo que aconteceu e acontece no mundo! O Aleph foi descoberto em um velho casarão de Buenos Aires, hoje demolido, e foi redescoberto no cenário de Arte do Artista!
Salve Alfred Jarry, criador de dois personagens fundamentais para a história da humanidade, o Pai Ubu e o dr. Faustroll!
Salve o grande Faustroll, que nasceu em 1898, com a idade de 63 anos, e a quem se deve a invenção da patafísica!
Salve Pasolini, cujo tratado “Contra a televisão” está na origem da anti-televisão e da famosa aliteração “Pasolini pegando pesado”!
Salve João de Minas, que concebeu em seu romance “A mulher carioca aos 22 anos”, escrito em 1934, o insuperável corrupto, dr. Eusébio Cortes, dono do jornal “A Honra Nacional”!
Salve o Mahatma Patiala, profeta do Comunismo Cristão Científico, candidato a deputado pelos xavantes e cuja doutrina se resume na frase “o universo está errado, a mulher é que está certa”!
Salve Campos de Carvalho, que descobriu a vaca de nariz sutil!
Salve o Barão de Itararé e Rabelais, que criaram a rima em é!
Salve Diniz Machado, Fradique Mendes, a Padaria Espiritual, os cachorros kantianos Seilá e Sambudo, Raul Seixas, Augusto Pontes, Nelson Rodrigues, Hilda Hilst, Hermilo Borba Filho, Felisberto Hernandez, Cortazar, Macedonio Fernandes e Eduardo Mateo!
Salve São Francisco de Assis, creme de papaia com cassis, a cidade ítalo-paulista de Assis e sobretudo salve, salve Machado de Assis!
Salve as artistas e os artistas!
Salve o atormentado Hamlet; a baleia Moby Dick; as carpideiras centenárias; o onipresente Molero; Jacinta, a pior atriz do mundo; o púcaro búlgaro; Orfeu; o bebê; o dilúvio; Ulisses depois do filme; que deixaram suas marcas gravadas a ferro e fogo paulista no cenário de Arte do Artista.
Salve o sifilítico Boris Estrabão, filósofo, crítico de arte e vândalo, procurado vivo ou morto. Enquanto seu ilustre predecessor, o geógrafo grego Estrabão, nasceu em Amaseia, atual Amásia, na Turquia, Bóris nasceu no Vale do Jequitinhonha, onde teve concubinas, atuais amásias na Turquia, na Bahia e na sua própria moradia, pois sua filosofia é a poligamia. Boris Estrabão não tem papas na cara, nem vergonha na língua, frequenta a Câmara dos Lordes nu e campos de nudismo de paletó e gravata. Aluno dos maiores filósofos ocidentais e orientais, Boris Estrabão não aprendeu nada, misturou tudo e tem falsa cultura para não dar e vender fiado só amanhã. É especialista em tudo: teatro, cinema, poesia, música, artes plásticas, culinária, futebol, política, economia, besteira, corte e costura, redes sociais, redes artesanais do Ceará e sobretudo em etc.
Salve Macunaíma, o grande anti-herói nacional
Tupi or not tupi, Catumbi or not Catumbi, zumbi or not zumbi.
Travesti and not travesti. Compulsory.
Só um anti-instituto de pesquisa pode medir o verdadeiro alcance de um anti-programa de tv.
Maio/2015
Aderbal Freire-Filho / Boris Estrabão
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