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Dionisismo

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Post by wodouvhaox Tue Jan 11, 2011 8:50 am

Dioniso, considerado um dos deuses mais populares da Grécia. Conhecido em Roma como Baco, foi caracterizado de duas maneiras: na primeira como deus da vegetação, da fertilidade e do vinho e também como padroeiro e responsável pela criação do teatro grego; na segunda, como divindade responsável e iniciadora do êxtase místico resultante da entrega do corpo às substâncias inebriantes, com ênfase nas bebidas alcoólicas.

De acordo com a mitologia grega, Dioniso era filho de Zeus com uma bela mortal de nome Semele, a quem o grande deus do Olimpo havia prometido satisfazer todos os desejos. Semele pediu a Zeus para vê-lo em toda a sua majestade, mas foi carbonizada pelos raios luminosos procedentes do corpo do deus. Como já estava grávida, esperando Dioniso, ambos foram para o Hades, de onde Zeus o resgatou e levou para o Olimpo. Costurou então o filho à coxa para que a gestação pudesse ser completada e ele escapasse da ira motivada pelos ciúmes de Hera, esposa de Zeus. Ao se tornar adulto, Dioniso fugiu para a região da Índia, onde teria aprendido com Sileno, líder dos sátiros a cultivar e usar a videira. Quando regressou à Grécia, cruzou a região em cortejos compostos por sátiros, bacantes e outros deuses. Reprimido, perseguido e normalmente não aceito aonde quer que fosse, Dioniso acabou sendo aceito por Apolo em Delfos e habitava o templo deste deus durante o inverno, época em que, de acordo com a mitologia, Apolo se retirava desta localidade e as consultas ao oráculo do deus eram suspensas.

Esses dois deuses gregos acabaram tornando-se parâmetros para características humanas que se opõem: os apolíneos – pessoas com traços semelhantes aos de Apolo ou com tendência a agir como este deus – seriam mais racionais, apreciadores da medida, da lógica, da harmonia, das emoções contidas e bem dosadas. Já os dionisíacos seriam aqueles que não davam importância às convenções e, mais ainda, as ultrapassavam em nome da luxúria, das emoções intensas, dos prazeres sem limites, das experiências sensoriais, que para essas pessoas valeriam mais a pena do que qualquer sentimento comedido ou racional. É possível perceber que as características destes dois deuses compunham a dicotomia humana.

Os gregos consideravam, de acordo com os estudos de Jean-Pierre Vernant, a vida religiosa integrada à vida social e política. As funções do cidadão englobavam também os aspectos relacionados à religião. Desta forma, ser ímpio, ou não ter relação alguma com os deuses era também um crime contra o grupo social. O indivíduo que rompesse os laços com sua cidade também estava desligado do mundo divino, visto que a divindade realizava suas ações em prol da cidade. Perdia ao mesmo tempo seu ser social e sua essência religiosa. De acordo com Vernant, não era mais nada:

A impiedade (άσέβεια), falta em relação aos deuses, é também atentado ao grupo social, delito contra a cidade. Neste contexto, o individuo estabelece a sua relação com o divino pela sua participação em uma comunidade. O agente religioso opera como representante de um grupo, em nome deste grupo, nele e por ele. O elo entre o fiel e o deus comporta sempre uma mediação social. Não estabelece o comércio direto entre dois sujeitos pessoais, ele exprime a relação que une um deus a um grupo humano – tal casa, tal cidade, tal tipo de atividade, tal ponto do território. Expulso dos altares domésticos, excluído dos templos de sua cidade, não aceito em sua pátria, o indivíduo encontra-se desligado do mundo divino. Perde ao mesmo tempo o seu ser social e a sua essência religiosa; não é mais nada (1973, p. 278).

A única forma de recuperar o elo com alguma divindade e, desta forma tentar recuperar a sua condição de homem seria apresentar-se perante outra cidade, integrar-se aos grupos deste novo local e freqüentar os seus templos:

Para reencontrar o seu status de homem, deverá apresentar-se como suplicante em outros altares, sentar-se diante da lareira de outras casas e, integrando-se a novos grupos, restabelecer os elos que o enraízam na realidade divina, pela participação em seus cultos (VERNANT, 1973, p. 278).

Entretanto, este não era o único aspecto da religião grega. Havia um outro, inverso ao relacionado à integração social dentro da pólis, e o maior expoente deste teria sido o culto ao deus Dioniso, ou dionisismo. Este culto era dirigido preferencialmente àqueles que não se enquadravam totalmente ao modelo de organização políade, ou seja, aos marginais da sociedade grega como as mulheres, os escravos e os estrangeiros que, através do culto a esta divindade podiam sair de si mesmos, através do íntimo contato com o deus, tornando-se divinos também, pois por certo tempo consideravam-se possuídos pelo próprio Dioniso. O ser humano e a divindade habitando o mesmo corpo por alguns momentos.

Vernant escreveu que “o dionisismo é, de início e por predileção, religião de mulheres”, visto que as bacantes eram sempre mulheres que realizavam os cultos a Dioniso, normalmente em meio às florestas. Os homens gregos da época consideravam que estas mulheres simplesmente se entregavam a rituais ligados à sexualidade, os bacanais, pois não concebiam que o acesso ao divino pudesse ser realizado por mulheres, excluídas da vida política das pólis e sempre vistas como inferiores, mas que neste contexto religioso revertiam tal situação de inferioridade ao encenarem o papel maior no culto dionisíaco (1973, p. 278).

Como bacantes, estas mulheres eram qualificadas com a virtude de possuírem um papel importante no culto dionisíaco. Enfim, os termos thíasoi e orgéones, que Vernant enuncia como os colégios de fiéis associados nas orgias, a lembrança de grupos campesinos relacionados ao dêmos primitivo, que tiveram que aderir a certas frátrias quando a religião cívica estabeleceu uma ordem para os cultos. Alguns dos epítetos do deus, Eleuthérios, Lýsios, conotam uma mescla entre o social e o religioso em uma tentativa de alcançar a liberdade e também a libertação. Vernant descreve que em Atenas as festas invernais de Dioniso – as Oscofórias, Dionísias rurais, Leneanas, Anestérias e Dionísias urbanas – não formavam como em Elêusis, um circuito fechado, mas uma série interrupta e não contínua, repartida no calendário juntamente com as festas e cultos de outros deuses. Sobre sua originalidade, complementar ao caráter oficial, assenta-se o fato de que seu culto vai além da cidade, contradizendo-a e ultrapassando-a.

O culto cívico era permeado pelo ideal de autocontrole, de domínio de si mesmo e situava cada ser em seu lugar nos limites que lhe eram determinados. Seu diverso era o dionisismo. Diferente, apareceu como uma cultura do delírio e da loucura, pela qual o homem se liberava da ordem pré-estabelecida, do ponto de vista da religião oficial e do domínio do próprio hierón. Vernant demonstra que mesmo controlado pelo Estado, como no período clássico, o dionisismo foi uma experiência religiosa diversa ao culto oficial:

Não mais a sacralização de uma ordem à qual precisa integrar-se, mas a libertação dessa ordem, das opressões que faz pressupor em certos casos. Busca de uma expatriação radical, (…) esforço para abolir todos os limites, para derrubar todas as barreiras pelas quais se define um mundo organizado: entre o homem e o deus; o natural e o sobrenatural; entre o humano, o animal, o vegetal; barreiras sociais, fronteiras do “eu” (1973, p. 279).

Deste modo, Dioniso controvertia a ordem, fazendo-a dilacerar-se ao revelar o outro aspecto do sagrado, já não regrado, firme e determinado, mas fora do comum, inapreensível e desorientador. Vernant refere-se ao deus como aquele que nunca está ali onde está sempre presente – ubiqüitário – ao mesmo tempo aqui, noutro lugar e em lugar algum:

Dioniso não é um mestre de magia e de ilusão: deus prestidigitador, que desencaminha e que desconcerta, que não está nunca onde deve estar, e nem é o que é, deus propriamente intangível, o único, pôde-se dizer, de todas as divindades gregas que nenhuma forma poderia encerrar, nenhuma definição saberia circunscrever, porque ele encarna, no homem como na natureza, o que é radicalmente “outro” (Vernant, 1973, p. 280).

O ritual dionisíaco oferecia uma descarga e alívio, no que se pode concluir que Dioniso representava uma necessidade social tão grande quanto Apolo visto que enquanto este representava a promessa de segurança, Dioniso representava a liberdade. Para Vernant nos cultos dionisíacos havia uma fusão com o deus – no caso dos bákchoi, seguidores de Dioniso – que não era realizada através de comunhão, mas sim de possessão. Ele acredita que a comunhão se dê pelos mistérios, como os de Elêusis e os ritos Órficos. Dioniso é o deus que permite ao homem deixar de ser ele mesmo por um rápido período de tempo, transformando-o assim em um liberto:

[...] o dionisismo aparece como uma cultura do delírio e da loucura: loucura divina, que é tomada como encargo, possessão pelo deus. Por esta μανία, o homem libera-se da ordem que constituía, do ponto de vista da religião oficial, o domínio próprio do sagrado [...] o que, a partir de então, o fiel procura atingir por um contato íntimo com o divino, é um estado diverso, de santidade e de pureza totais, ao qual se aplica o termo de όσιος, que marca a consagração completa – no sentido próprio: a liberação com respeito ao sagrado (VERNANT, 1973, p. 279).

Já Marcel Detienne mostra Dioniso como uma divindade epidêmica. De acordo com o autor, o dionisismo se apresentava na forma de uma epidemia, a qual justifica recorrendo à estória do rei Preto da Argólida:

O rei Preto, da Argólida, tinha três filhas. Ao crescerem, são vitimadas pela loucura; recusam-se a prestar culto a Dioniso. Abandonando o palácio paterno, começam a errar pela terra de Argo. Preto convoca Melampo, renomado adivinho e purificador: seus sortilégios, suas ervas medicinais, lhes devolveriam a calma e purificariam. Em retribuição, Melampo pede um terço do reino. O rei não aceita, a doença piora. Suas filhas se tornam cada vez mais agitadas e a loucura toma conta da população feminina. Por toda a parte as esposas saem de casa, desaparecem nos bosques, matam os filhos. Melampo acabará obtendo dois terços do reino (DETIENNE, 1988, p. 11).

Detienne mostra que epidemia é um termo técnico quando se trata dos deuses. São sacrifícios oferecidos às divindades que respondem as apodemias – sacrifícios de despedida. Tal situação se devia ao fato de que entre os deuses havia movimento, como, perante a hospitalidade oferecida por uma cidade a uma ou várias divindades. Eram os deuses migrantes, diz o autor, que possuíam direito às epidemias. Possuíam suas estações e eram evocados por hinos. Eram chamados Dioscuros e como exemplos teríamos Ártemis e Apolo:

Este [Apolo] viaja muito, de um santuário para outro, entre Delo, Mileto, Delfos e o país dos hiperbóreos, onde gosta de passar o inverno. Apolo é um deus com epifanias; tem suas festas e seus aniversários; aparece em meio a seus sacerdotes, à multidão de seus fieis, em todo o esplendor de seu poder (1988, p. 14).

Para Detienne, Dioniso era o mais epidêmico dos deuses gregos pelo fato de ter uma forma de ação privilegiada, ou seja, enquanto os outros deuses possuíam suas epifanias regulares, segundo a ordem das festas oficiais e sem surpresas, Dioniso era itinerante, estava sempre em movimento e mudança:

Há em Dioniso uma pulsão “epidêmica” que o afasta dos outros deuses de epifanias regulares [...] divindade sempre em movimento, forma em perpétua mudança, nunca se sabe se será reconhecido, exibindo entre cidades e aldeias a estranha máscara de uma potência que não se assemelha a nenhuma outra (1988, p. 14-15).

As primeiras epifanias de Dioniso eram marcadas por confrontos, conflitos e hostilidades que iam desde o desdém, o desconhecimento e a negação declarada até à perseguição. Considerado por alguns – os que estavam de acordo com o sistema organizacional das pólis – um estrangeiro, vindo de fora e trazendo os perigos do transe e de uma religiosidade selvagem. Entretanto, para outros – os que não se enquadravam na estrutura políade – era considerado aquele que retornava ao Peloponeso depois de uma longa ausência após a invasão dórica e aristocrática.

À essência da natureza divina de Dioniso e para comprovar o alcance de sua epidemia, Detienne atribui três classificações: a primeira, pelas chegadas indiretas da divindade, através de missões interpostas que introduzem o culto:

Em Elis, onde ele se senta serenamente à mesma mesa que sua madrasta Hera, é por exemplo uma dupla de nativos, mãe e filho, que se supõe haver instituído as cerimônias de seu culto. Em Sícion, vê-se um tebano, chamado Fanes, o Introdutor, servir-lhe de embaixador, trazendo de sua cidade natal uma estatua de Dioniso Lúsios, muito recomendada pelo oráculo de Delfos. Patras, enfim, vê chegar Dioniso na insólita comitiva de um rei meio louco, e que transporta em seu cofre uma aterrorizante estátua do deus (1988, p. 18).

A segunda, como o deus da vinha, pelo poder do jorro e das manifestações mais brutais provocados pela loucura ainda não dosada. E a terceira, pela sua chegada à terra de Licurgo, no palácio das Miníades, e a grande parúsia na cidade de Tebas.

De acordo com Detienne, Dioniso seguia em suas caminhadas um itinerário projetado por sua condição de estrangeiro portador da estranheza, difundida pelo não reconhecimento, o qual o autor define como o “duplo sentido de ksénos”: àquele que não se referia ao não grego, ou ao bárbaro de fala ininteligível, mas ao cidadão de uma comunidade vizinha. Este termo deriva da distância que separava duas cidades: em suas assembléias, seus tribunais e seus sacrifícios. Para ser chamado desta forma, o estrangeiro deveria, pertencer ao mundo helênico, idealmente constituído pelo conjunto de homens que “têm o mesmo sangue, mesma língua, santuários e sacrifícios comuns”.

Sobre a origem grega de Dioniso, Detienne afirma que em nenhum lugar o deus era qualificado de deus bárbaro, mesmo quando as violências pareciam exilá-lo na barbárie. Neste sentido, o autor contrasta Dioniso com a divindade de quem ele se aproximava em mais de um aspecto: Ártemis, divindade essa que o autor nomeia bárbara:

Ártemis, aquela que é chamada de Orthía e cuja estátua transforma em loucos os fiéis em seu altar e faz com que eles se entrematem. Essa Ártemis, pretendem alguns, seria de origem táurica, seria uma divindade bárbara. Em face da qual, precisamente, Dioniso exibe sua qualidade de estrangeiro, de Ksénos, quando entra alegremente em Patras, na Acaia, onde reina uma Ártemis sanguinária (1988, p. 22).

Dioniso encarnava o diferente, como ao apresentar-se mascarado em um desfile juntamente com os outros deuses ao longo de um friso. E a máscara era a insígnia de sua divindade. Um estrangeiro a ser identificado, descoberto, atrás de uma máscara que tanto escondia quanto revelava.

Desta forma, ilustrada por tudo que foi exposto até aqui, podemos perceber que o dionisismo apresentava uma forma de agrupamento para aqueles que estavam fora da ordem social em vigor. Seguir Dioniso era se encher de entusiasmo ao ser habitado pelo deus durante o culto. Entusiasmo este, que era visto como uma espécie de loucura pelos não participantes dos mistérios ligados ao culto dionisíaco.

Referências Bibliográficas:

DETIENNE, Marcel. Dioniso a Céu Aberto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. São Paulo: EDUSP, 1973.

Fonte: Centro de Pesquisas da Antiguidade/RJ
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Post by wodouvhaox Tue Jan 11, 2011 12:09 pm



História e Culto à Dionísio

Divindade grega da natureza, especificamente deus do vinho e mais amplamente da vegetação, que desempenhou um papel de excepcional importância entre os gregos. Suas características separadas são tão iridescentes que apenas com muita dificuldade podem ser juntadas para compor uma figura única. Onde surgiu Dionísio e quando seu culto se disseminou na Grécia são perguntas que não possuem respostas seguras.

De qualquer maneira, a primeira parte de seu nome apresenta o genitivo do nome de Zeus, e foi como filho de Zeus e Sêmele, filha de Cadmo e Harmonia, que ele entrou para os escritos mitológicos.

Na imaginação da antigüidade, o culto de Dionísio veio da Trácia, Lídia (o nome Baco provavelmente é derivação lídia) ou Frígia para a Grécia aproximadamente no oitavo século a.C. Ele é marcado com um tipo de entusiasmo e e êxtase até então desconhecido dos gregos. Por isso o culto do deus se estabeleceu contra muita oposição, principalmente da aristocracia. Significantemente, Homero não reconhece Dionísio como um dos grandes deuses olímpicos.

Nos festivais realizados em sua homenagem, que eram basicamente festas da primavera e do vinho, o deus em forma de touro freqüentemente liderava as Maenads barulhentas , bacantes, sátiros, ninfas e outras figuras disfarçadas para os bosques. Eles dançavam, desmembravam animais e comiam suas carnes cruas, e alcançavam um estado de êxtase que originalmente nada tinha a ver com o vinho. Apenas gradualmente é que foram os componentes licensiosos e fálicos do culto moderados, de forma que Dionísio veio a ocupar um lugar seguro na religião dos gregos.

Mais tarde, seu culto se tornou tão difundido que Dionísio veio a ser cultuado em um momento histórico particular, até mesmo em Delfos, o santuário-chefe de Apolo.

Nos festivais de Dionísio, especialmente em Atenas, performances dramáticas eram representadas, de forma que o culto de Dionísio pode ser visto ligado ao gênero dramático.

Entre os romanos, já em uma época bem antiga, Dionísio foi identificado com o deus Liber, e eventualmente aceito com o nome de Baco. Quando as bacanálias, celebradas em sua honra, degeneraram, o estado interveio para regulá-las, sem nunca, porém, impedir a continuação do culto. A bacanália era o culto secreto romano, celebrado com excessos sexuais. Em 186 a.C. o Senado proibiu sua realização, devido à onda de criminalidade que foi introduzida devido ao festival. Mesmo com a proibição, o culto não desapareceu naquele tempo.

As representações mais antigas do deus mostram-no como um velho de barbas, enquanto que as mais recentes o representam como um belo jovem.

As histórias sobre as andanças de Dionísio, e em particular sua viagem à Índia, são provavelmente surgidas da simples observação da difusão geográfica da videira. Onde essa planta era cultivada, e o vinho extraído, acreditava-se que o deus por lá havia passado, dando aos mortais sua benção ou maldições.

Assim que soube que Sêmele estava esperando um filho do seu marido, Zeus, ela ficou demasiadamente furiosa. Sabendo que as suas reprovações aos atos de Zeus não surtiam nenhum efeito, resolveu vingar-se da jovem e destruí-la. Para Hera, Sêmele era culpada, e carregava em seu ventre a prova de seu ato ilícito.

"Não me chamem mais de de filha de Saturno, se ela não descerá às águas do Estígio, para lá enviado pelo seu Zeus!"

Com essas palavras ela se levantou de seu trono, e envolvida por uma nuvem dourada, aproximou-se da morada de Sêmele. Hera, então, transformou-se em uma velha senhora, seus cabelos tornando-se brancos, e rugas surgindo em sua pele. Ela andava com as costas arqueadas e passos cambaleantes. Sua voz dobrou-se à idade, e ela tornou-se a cópia exata de Beroe, a ama de Sêmele.

Alcançando Sêmele, ela iniciou uma longa conversa, na qual mencionou o nome de Zeus. Então Hera disse que ela deveria pedir uma prova de que seu amante era realmente Zeus, e ainda mais; que, sendo Zeus, aparecesse em sua forma gloriosa, a mesma que ele aparecia perante Hera, e só assim a abraçasse.

"Eu rezo para que seja mesmo Zeus! Mas tudo isso perturba-me: muitas vezes um homem usou deste artifício para penetrar no quarto de uma mulher honesta, fazendo-se passar por um deus."

Assim dizendo, Hera conseguiu colocar a suspeita no coração da jovem, e ela dirigiu-se à Zeus, pedindo uma prova de seu amor. Ele respondeu dizendo que qualquer coisa que ela pedisse lhe seria atendido. Ainda mais, para reforçar seu juramento, chamou o nome do deus do rio Estígio para ser sua testemunha.

Sêmele, feliz com o juramento, selou seu destino com o seu pedido: "Mostre-se a mim. Da mesma maneira como você se apresenta a Hera quando você troca abraços amorosos com ela!" O deus tentou em vão impedir que ela falasse tamanho desatino, mas as palavras já haviam deixado sua boca - e seu juramento não podia ser alterado.

Lamentando muito a tarefa que estava prestes a realizar, Zeus lançou-se ao alto, juntou as névoas obedientes e as nuvens de tempestade, relâmpagos, ventos e trovões. Tentou ao máximo reduzir ao máximo a sua ostentação de glória. Mas a estrutura mortal de Sêmele não podia suportar a visão do visitante celestial, e ela foi queimada até as cinzas pelo seu presente de casamento.

Seu bebê, ainda incompletamente formado, saiu do útero de sua mãe, e alojou-se na coxa de Zeus, até que se completasse a sua gestação. Zeus entregou o bebê a Hermes, que o confiou ao casal Ino e Athamas, advertindo-os a cuidar de Dionísio como se ele fosse uma menina. Entretanto, Hera descobriu que o bebê havia nascido e que estava sendo criado escondido dela. Indignada, levou Ino e Athamas à loucura. Athamas caçou o próprio filho, Learcus, como se fosse um veado, matando-o, e Ino, para livrar seu outro filho, Melicertes, da loucura do pai, o atirou ao mar, onde foi transformado no deus do mar Palaemon (em homenagem a quem Sísifo instituiu os jogos do Istmo).

Finalmente, Zeus iludiu Hera transformando Dionísio em um cabrito, e Hermes o levou para ser criado pelas ninfas de Nysa, na Ásia, quem Zeus posteriormente transformou em estrelas, dando-lhes o nome de Híades. Mais tarde Dionísio resgatou Sêmele dos ínferos e a levou ao Olimpo, onde Zeus a transformou em deusa.

Quando Dionísio cresceu, ele descobriu a videira, e também a maneira de extrair da fruta o seu suco e transforma-lo em vinho. O deus então vagou pela Ásia e foi até a Índia, onde ficou diversos anos, para ensinar os povos a cultivar a vinha. Em seu caminho, chegou até Cibela, na Frígia, onde a deusa Réia, mãe dos deuses, o purificou e o ensinou os ritos de iniciação.

Ele então se dirigiu à Trácia, onde Licurgo era o rei dos Edonianos, que viviam ao lado do rio Strymon. Licurgo foi o primeiro a insultar Dionísio e expulsá-lo. Doinísio soube da intenção de Licurgo através de Carope, pai de Orfeu. Dionísio se refugiou no mar, com Tétis, enquanto qua as maenads foram feitas prisioneiras, juntamente com os sátiros. Mas Dionísio enlouqueceu o rei, e ele matou seu filho com um machado, pensando estar cortando uma videira. Quando acabara de cortar os membros do filho, desfez-se o encanto do deus. O deus tornou a terra improdutiva, causando a revolta dos seus súditos,que o ataram a cavalos que o despedaçaram, pois haviam ouvido que "Enquanto Licurgo estivesse vivo, a terra não mais daria frutos". Dionísio recompensou a ajuda de Carope dando-lhe o reino dos trácios e instruíndo-lhe nos ritos secretos ligados aos seus mistérios.

Ao voltar a Grécia, instituiu seu próprio culto, porém encontrou oposição dos reis devido a desordem e a loucura que o mesmo provocava nos seguidores.



Quando Dionísio se encaminhou à Tebas, ele forçou as mulheres a abandonarem suas casas e segui-lo, em uma espécie de transe. O Rei Penteus tentou por um fim à desordem causada pelo deus, tentando prende-lo. Sua tentativa foi infrutífera, pois os seguidores de Dionísio impediam a prisão do deus. Penteu tentou espionar o culto de Doinísio, mas foi avistado pela sua mãe, Agave, que participava junto com as maenads. Cega pelo deus, Agave pensou ester vendo um javali gigante, e chamou as demais mulheres para correrem atrás dele.

Assim que o alcançaram, despedaçaram-no. Sua mãe percebeu horrorizada que não era um javali que haviam desmembrado, mas sim seu filho. Após o seu enterro, Agave, juntamente com seus parentes deixou Tebas, em exílio.

Depois de Tebas, Dionísio foi para Argos, e por que eles não quiseram honrá-lo, ele fez as mulheres ficarem loucas, e elas carregaram seus filhos no colo até uma montanha e os devoraram.

Dionísio era também um deus das árvores, e os antigos gregos faziam sacrifícios para "Dionísio das Árvores". Sua imagem, muitas vezes, era meramente um poste ereto, sem braços, mas enrolado em um manto, com uma mascara barbada para representar o rosto, e com arbustos projetando da cabeça ou do corpo, para indicar o caráter do deus. Ele era o patrono das árvores cultivadas, a ele eram endereçadas preces para que fizesse as árvores crescerem, e ele era especialmente venerado por fruticultores, que faziam uma imagem dele em seus pomares.

Entre as árvores especialmente dedicadas à ele estava, além da videira, o pinheiro,e em diversas imagens artísticas o deus, ou seus seguidores, aparecem portando um bastão com um cone de pinha em cima.

Assim como os demais deuses da vegetação, acreditava-se que Dionísio havia morrido uma morte violenta, mas que havia sido trazido novamente à vida; e sua morte, ressurreição e sofrimentos eram representados em ritos sagrados.

Um dia, narra a lenda, a grande deusa Deméter chegou à Sicília, vinda de Creta. Trazia consigo sua filha, a deusa Perséfone, filha de Zeus. Deméter planejava chamar a atenção do grande deus, para que ele percebesse a presença de sua filha.

Deméter descobriu, próximo à fonte de Kyane, uma caverna, onde escondeu a donzela. Pediu-lhe, então, que fizesse com um tecido de lã, um belo manto, bordando nele o desenho do universo. Desatrelou de sua carruagem as duas serpentes e colocou-as na porta da caverna para proteger sua filha.

Neste momento Zeus aproximou-se da caverna e, para entrar sem despertar desconfiança na deusa, disfarçou-se de serpente. E na presença da serpente, a deusa Perséfone concebeu do deus.

Depois da gestação, Perséfone deu luz a Dionísio na caverna, onde ele foi amamentado e cresceu. Também na caverna o pequeno deus passava o tempo com seus brinquedos: uma bola, um pião, dados, algumas maçãs de ouro, um pouco de lã e um zunidor. Mas entre seus brinquedos havia também um espelho, que o deus gostou de fitar, encantado.

Entretanto, o menino foi descoberto por Hera, a esposa de Zeus, que queria vingar-se da nova aventura do esposo. Assim, quando o deus estava olhando-se distraído no espelho, dois titãs enviados por Hera, horrendamente pintados com argila branca, aproximaram-se de Dionísio pelas costas e, aproveitando a ausência de Perséfone, mataram-no.

Continuando sua obra deplorável, os titãs cortaram o corpo do menino em sete pedaços e ferveram as porções em um caldeirão apoiado sobre um tripé e as assaram em sete espetos. Atenas viu a cena e, mesmo não podendo salvar o menino, resgatou o coração do deus.

Mal tinham acabado de consumar o assassínio divino, Zeus apareceu na entrada da caverna, atraído pelo odor de carne assada. O grande deus viu a cena e entendeu o que havia se passado. Pegou um de seus raios e atirou contra os titãs canibais, matando-os.

Zeus estava desolado com a morte do filho, quando a deusa Atenas apareceu e entregou-lhe o coração do deus assassinado. Zeus, então, efetuou a ressurreição, engolindo o coração e dando, ele próprio, à luz seu filho.

E essa é a origem do deus morto e renascido, relatada pelos antigos e celebrada nos mistérios...

Muitas vezes Dionísio era representado na forma animal, principalmente na forma de um touro (ou pelo menos com os seus chifres. Assim, ele era conhecido como "Com Face de Touro", "Com Forma de Touro", "Com Chifres de Touro", "Chifrudo", "Touro". Em seus festivais, acreditava-se que ele aparecia como um touro.

"Venha aqui, Dionísio, ao seu templo sagrado junto ao mar; Venha com as Graças ao seu templo, correndo com seus pés de touro, Oh bom touro, Oh bom touro!"

De acordo com uma versão do mito da morte e renascimento de Dionísio, foi como touro que ele foi despedaçado pelos Titãs, e os habitantes de Creta representavam os sofrimentos e morte de Dionísio despedaçando um touro. Aliás, o ato de matar ritualmente um touro e devorar sua carne era comum aos ritos do deus, e não há dúvidas que quando os seus adoradores faziam esses sacrifícios, acreditavam estar comendo a carne do deus e bebendo seu sangue.

Outro animal cuja forma era assumida por Dionísio era o cabrito. Isso porque para salvá-lo do ódio de Hera, seu pai, Zeus, o transformou nesse animal. E quando os deuses fugiram para o Egito para escapar da fúria de Tifon, Dionísio foi transformado em um bode. Assim, seus adoradores cortavam em pedaços um bode vivo e o devoravam cru, acreditando estar comendo a carne e bebendo o sangue do deus.

No caso do cabrito e do bode, quando o deus passou a ter sua forma humana mais valorizada, a explicação para se sacrificar o animal veio de um mito que narrava que uma vez esse animal havia despedaçado uma vinha, objeto de cuidados especiais do deus. Note que neste caso perdeu-se o sentido de sacrificar o próprio deus, tornando-se um sacrifício para o deus.

Uma vez, quando Dionísio quis navegar de Icaria para Naxos, ele entrou em um navio pirata tirreano. Os piratas, entretanto, ignoravam a identidade do deus, e tencionavam vendê-lo como escravo na Ásia. Quando percebeu que estavam indo para outra direção, Dionísio fez brotar heras pelo navio e transformou o mastro em uma grande serpente. Ouvia-se o som de flautas, e o doce aroma do vinho podia ser sentido por toda a embarcação. Os piratas enlouqueceram, e atirando-se ao mar foram transformados em golfinhos.

Quando Teseu chegou em Creta, contou com a ajuda de Ariadne, filha do rei Minos, que estava apaixonada por ele. Ela concordou em revelar o caminho de saída do labirinto se Teseu a levasse como esposa para Atenas. Ela porém foi abandonada em Naxos por Teseu. Dionísio a encontrou naquela ilha e a tomou como esposa. Após sua morte, Dionísio a conduziu ao Olimpo, e colocou no céu, como estrelas, a guirlanda que Hefesto havia preparado para seu casamento.

Aura, filha do Titã Lelantus e da Oceainida Periboea, era uma caçadora Frígia, aversa ao amor. Um dia quando estava dormindo em um bosque, foi violentada pelo deus, e deu à luz dois gêmeos. Sendo indesejados, assim que seus filhos nasceram, ela matou um deles, e em desespero se atirou no rio Sangarius, sendo transformada por Zeus em uma fonte.

Nicaea era uma ninfa de Astacia, e também era uma caçadora. Hymnus se apaixonou pela ninfa, mas ela ficou furiosa e matou-o. Um dia ela bebeu vinho, e se embebedou, e Dionísio aproveitou a oportunidade para tirar sua virgindade.

Aristaeus descobriu o mel, e muito orgulhoso do seu feito, competiu com Dionísio, dizendo ser o mel maior benção que o vinho. Zeus julgou entre os dois e deu o prêmio à Dionísio.

Hera, certa vez, enlouqueceu Dionísio, e ele chegou a um grande pântano, que não conseguia cruzar. Ele então foi ajudado por dois jumentos, um dos quais o carregou pela água, levando-o ao templo de Zeus. Quando o deus chegou ao santuário foi libertado da loucura, e, sentindo-se grato aos jumentos, os colocou entre as estrelas ( Asellus Borealis e Asellus Australis em Câncer).

Fonte: http://members.fortunecity.com/dionisio4/diohisto.htm
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Post by wodouvhaox Tue Jan 11, 2011 12:35 pm


DIONÍSIO (BACO)

Dionísio, ou Baco, para os romanos, era filho de Zeus (Júpiter) e de Semele, fi-lha de Cadmo e Harmonia. Quando a deusa Hera (Juno), esposa de Zeus, descobriu que Semele fora amada por seu marido, encheu-se de ciúmes e induziu a esta a pedir ao amante para que ele se mostrasse a ela em todo o seu esplendor. Atendida nesse desejo, Semele caiu fulminada ao ver o deus dessa forma, e este então recolheu o seu filho ainda informe e o coseu à sua coxa, para que ele aguardasse o momento de nas-cer. Quanto isso aconteceu, a criança foi entregue a Hermes (Mercúrio) para que ele a deixasse com as ninfas de Nisa, que iriam criá-la. Em virtude disso, Dionísio cresceu em meio à natureza selvagem, tendo logo aprendido a plantar e a cultivar a vinha.

Segundo a tradição, Dionísio “triunfou sobre todos os inimigos e todos os perigos a que o expunham as incessantes perseguições de Juno. Mas vencido por tantos aten-tados, terminou por enlouquecer, e tornou-se errante por uma grande parte do mundo”. Nessas andanças ele esteve na ilha de Naxos, onde “consolou e desposou Ariadne, ou Ariana, abandonada por Teseu, e lhe deu a famosa coroa de ouro, obra de Vulcano. Baco foi quem primeiro estabeleceu uma escola de música, e em sua honra deram-se as primeiras representações teatrais”. A mocidade do deus é eterna e por isso ele é comumente representado com a aparência de um jovem risonho e imberbe, segurando em uma das mãos um cacho de uvas ou um chifre em forma de taça, na outra um bastão enfeitado com folhagens e fitas, e vestido com um manto de cor púrpura, que é a mesma do vinho. Os diversos artistas que o retrataram colocam-no algumas vezes sentado em um tonel, outras em um carro puxado por tigres, panteras, ou centauros que tocam lira ou flauta.

De origem estrangeira, Dionísio tornou-se para os gregos o deus do vinho e da vegetação, e seus atributos divinos foram ganhando em complexidade na medida em que o culto que lhe prestavam foi se espalhando por toda a Grécia. As características de sua divindade estavam ligadas ao misticismo religioso, ao êxtase e à embriaguez, e sua figura incluída em numerosas lendas que envolviam Zeus, Apolo e Deméter. Conhecido por diversos nomes, tais como Baco, Brômio, Ditirambo, Zagreu, Sabázio e Évio, Dionísio era representado em suas aventuras sempre seguido por alegre cortejo onde figuravam as divindades Pã, Priapo e Sileno, além de semideuses (sátiros) e sacerdotisas (mênades e bacantes).

Dionísio exerceu entre os gregos uma influência considerável no desenvolvimen-to da sua religião (introduzindo o sentido do mistério); da poesia lírica (transmitindo o sentimento da natureza); e das artes (dando o movimento apaixonado presente nos baixo-relevos dionisíacos). Além do mais, os cultos ao deus também deram origem a diversos gêneros literários, como as poesias órficas (compreendia obras litúrgicas, iniciações, cantos de purificação, discursos sagrados e hinos), o ditirambo (exaltação excessiva de um fato ou das qualidades de uma pessoa) e todo o teatro representado por dramas satíricos, tragédias e comédias.

Em Atenas, as comemorações em honra de Dionísio (Baco) eram realizadas em fevereiro (grandes dionisíacas) e no outono (pequenas dionisíacas), e incluíam concursos de poesia, representações teatrais, corridas e lutas. Já em Roma, onde o deus também era venerado com o nome de Líber, as festas denominavam-se Liberais, e durante seu transcurso as damas romanas “liberavam-se” de seu habitual comportamento prudente e ponderado e aceitavam propostas indecentes, participando ativamente dos procedimentos menos honestas com que a divindade era lembrada. Essa “liberalidade” atingiu tal ponto que no ano 558 a.C. o Senado promulgou um decreto visando coibir o abuso, mas o remédio mostrou-se ineficaz tendo em vista que o costume comprovou ser mais forte que a lei.

Foi no reinado de Padião, filho de Erecteu, rei de Atenas, que Baco, acompa-nhado de Ceres, visitou pela primeira vez a Ática. Esse incidente mitológico tem certa importância na história, para mostrar que na opinião dos atenienses o cultivo da vinha e do trigo foi precedido no país pelo da oliveira, que Minerva lhes ensinara no mesmo instante da fundação da cidade. Baco, chegado, foi à casa de um ateniense chamado Icário, que o recebeu muito bem; como recompensa pela hospitalidade Baco lhe ensinou a maneira de fazer vinho. Icário, fazendo-o, quis que o provassem os camponeses da redondeza, que o acharam delicioso. Mas embriagaram-se completamente, e, julgando que Icário os havia envenenado, atiraram-no a um poço. A visita de Baco a Icário está figurada em vários baixos-relevos.

Tinha Icário uma filha de extrema beleza, chamada Erígone, por quem Baco se apaixonou. A fim de unir-se a ela, metamorfoseou-se em cachos de uvas, e quando a jovem o percebeu sob tal forma, apressou-se em colhê-lo e comê-lo. Foi assim que se tornou esposa do deus, de quem teve um filho chamado Estáfilos, cujo nome significa uva. Foi ele que, mais tarde, ensinou aos homens que, misturando-se água ao divino licor, este não mais produzia a embriaguez.

Certa vez, seu mestre e pai de criação, Sileno, perdeu-se e dias depois quando Midas o levou de volta e disse tê-lo encontrado perdido, Baco concedeu à ele um pedido. Embora entristecido por ele não ter escolhido algo melhor, deu a ele o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. Depois, sendo ele uma divindade benévola, ouve as súplicas do mesmo para que tirasse dele esse poder.

Fonte: fernandodannemann
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Post by wodouvhaox Tue Jan 11, 2011 12:51 pm

Nietzsche e a arte dionisíaca

Abaixo se encontram reproduzidos os dois parágrafos finais do capítulo 7 do primeiro livro de Nietzsche, O Nascimento da Tragédia, no qual o filósofo desenvolve seus pensamentos sobre a Estética.

"A convulsão do estado dionisíaco, com a sua destruição das habituais barreiras e limites da existência, contém nomeadamente enquanto dura um elemento letárgico, no qual mergulha toda a vivência pessoal do passado. Assim se apartam, através desta clivagem de esquecimento, o mundo da realidade quotidiana e o da realidade dionisíaca. Mas logo que aquela realidade quotidiana se torna de novo consciente, ela é sentida com asco como tal; uma disposição ascética, negadora da vontade, é o fruto daqueles estados. Neste sentido, o homem dionisíaco assemelha-se a Hamlet: ambos lançaram um olhar verdadeiro para a essência das coisas e eles sentem como ridículo ou humilhante que lhes seja imposta a reordenação de um mundo saído dos eixos. O conhecimento mata o agir, requerendo este um envolvimento pelo véu da ilusão – esta é a lição de Hamlet, não aquela sabedoria barata do João-que-sonha, que não chega a agir por um excesso de reflexão, como se se tratasse de um excedente de possibilidades; não o refletir, não! – o verdadeiro conhecimento, o olhar para dentro da tremenda verdade, torna-se preponderante em relação a qualquer motivo que incite a agir, tanto em Hamlet como no homem dionisíaco. Agora já nenhuma consolação resulta, a nostalgia passa para além de um mundo depois da morte, para além dos próprios deuses; a existência vê-se negada, juntamente com o seu fulgurante reflexo nos deuses ou num Além imortal. Consciente da verdade uma vez contemplada, o ser humano vê então por toda a parte apenas o lado horrível ou absurdo do ser, entendendo agora a dimensão simbólica do destino de Ofélia, reconhecendo agora a sabedoria do deus da floresta Sileno: sente repugnância.
Aqui, neste supremo risco da vontade, aproxima-se a arte, tal feiticeira redentora com poderes curativos: só ela pode transformar aquela idéia de repugnâncias sobre os aspectos horríveis ou absurdos da existência em representações, com as quais se tornara possível viver: estas constituem o sublime, enquanto dominação artística do horrível, e o cômico, enquanto descarga artística da repugnância pelo absurdo. O coro dos sátiros do ditirambo é a ação redentora da arte grega; no mundo mediador destes acompanhantes dionisíacos, esgotam-se aquelas convulsões anteriormente descritas."

Friedrich Nietzsche.

fonte: O Pavão Branco
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Post by wodouvhaox Fri Jan 14, 2011 7:23 am

Zagreu/Dioniso: identidade com Hades

Junito Brandão informa que o mito de Zagreu seria bastante mais antigo do que o do próprio Dioniso, e que teria uma possível origem em Creta de onde, pela similitude, fora absorvido ao do deus orgíaco. Nesta fusão mítica fora transformado, nos cultos órficos, na primeira vida de Dioniso - e feito em filho de Zeus com Perséfone. Após ter sido assassinado pelos Titãs, ressurge de Sêmele.[27]

Analisando a história de Zagreu - espécie de reencarnação de Dioniso (o Baco romano) - Walter Otto narra que Zeus procura reparar a injustiça da morte cruel de Dioniso (morto pelos Titãs, após ter-se transmutado num touro); enquanto sua carne era devorada, Zeus interveio, conseguindo salvar vivo ainda seu coração). O autor ressalta que esta morte o liga ao mundo dos mortos, aos poderes do submundo. Zagreu renasce da mortal Sêmele - entrara no Hades tal como entrará no Olimpo. Esta versão explica, ainda, a afirmação de E. Rohde de que o reino dos mortos fazia parte do reino dionisíaco.[28]

Otto relembra os Hinos Órficos 46 e 53, onde se diz explicitamente que Dioniso dormia na casa de Perséfone e que Hades e Dioniso - por quem as mulheres enlouquecem e ficam enraivecidas - seriam a mesma pessoa. Isto, segundo o autor, pode ser lido em Heráclito, que registara: "...Hades e Dioniso, por quem elas ficam loucas e iradas, são um e o mesmo."[29] e conclui que "Agora podemos entender por que os mortos foram homenageados em vários dos principais festivais de Dioniso"[28][30]

Jean Shinoda Bolen, apreciando o arquétipo feminino de Perséfone, alude que a deusa pode se entregar aos prazeres sexuais. Entre os gregos antigos, ressalta a psiquiatra, havia a crença de que os poderes intoxicantes de Dioniso levava as mulheres ao êxtase sexual, transformando-as em mênades cheias de paixão e delírio. As antigas tradições davam conta de que o deus do vinho passava temporadas em casa da esposa de Hades, ou para lá retornava nos intervalos de suas aparições.[12]

fonte: wikipédia
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Post by Vortek Sat Jan 15, 2011 9:10 pm

PALMAS!!! PALMAS!!!!

Ótimo texto!!!!!

HAIL DIONÍSIO!!!!!

EVOÉ! EVOÉ! EVOÉ!

AHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAH!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Vortek

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Post by winter90 Sat Jan 13, 2018 11:05 pm

Eita! Tanto texto! Como eh que vou ter tempo para ler isto tudo? Razz Muito obrigado por um trabalho tao meticuloso e detalhado sobre Dioniso!

winter90

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