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Para entender o Wikileaks

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Post by wodouvhaox Sun Dec 19, 2010 2:55 pm

por André Forastieri

Mito fundador do mundo moderno: a tecnologia nos libertará. Do trabalho, da distância, do tédio, da doença, da feiura e da morte. Esta crença vende carro, pasta de dente, botox, seguro de vida, passagem de avião, curso em faculdade. Vende candidatos. Vende carreiras. Vende estilos de vida. Vende o invendável - por exemplo, um iPad, que custa US$ 700 nos Estados Unidos, chegou esta semana ao Brasil por R$ 2.599.

Não vai sobrar um. Por quê? Porque o iPad encarna a fé no poder da tecnologia perfeitamente - melhor que qualquer outro artefato, neste 2010 que chega ao fim.

Nos anos 90, o culto à tecnologia ganhou uma heresia. Foi na Califórnia, uma Califórnia em depressão econômica, sem perspectivas, sem dinheiro, sem apoio governamental.

As indústrias de armas - “defense industry”, indústria da defesa, há! - foram à lona com o final da Guerra Fria.

Um monte de engenheiros dava sopa a custo baixo. Assistiu a Um Dia de Fúria? Michael Douglas, o nerd crânio desempregado que sai atirando por Los Angeles? É de 1993 e captura bem o espírito da época.

A heresia era: “a tecnologia que nos libertará será criada e dominada por nós mesmos”. Sua bíblia era publicada em capítulos, periodicamente: a revista Wired, lançada em março de 1993, por aí até hoje (li a número três e pedi demissão em agosto seguinte).

No altar tinha uma coisa amorfa, até então quase inútil, com nome de batismo cheirando a ficção científica classe B: internet. “Information Wants To Be Free”, diziam, e acreditamos. Uns menos - só querem ouvir música de graça, baixar filme de graça e tal - outros mais - Julian Assange, preso faz alguns minutos. Julian interessa como ponto focal, como mártir, como personagem pop. Julian fica para amanhã.

A internet floresceu nos Estados Unidos usando a infraestrutura desenvolvida pelo governo americano para a guerra. A internet era uma rede de comunicação interna do complexo militar-acadêmico, projetada para sobreviver a um ataque nuclear soviético. Quando a União Soviética implodiu, a internet progressivamente foi caindo nas mãos de um grupo de:

a) veteranos da contracultura que se redescobriam como homens de negócio; b) engenheiros e técnicos desempregados; c) big business do eixo mídia-entretenimento-telecomunicações-informática procurando pela próxima grande mina de ouro.

A internet se metamorfoseou. Foi virando uma coisa cada vez mais parecida com o mundo real. De um lado, shoppings arrumadinhos. Do outro, o caos. No meio, tudo. O escritor e futurista Bruce Sterling, esses dias no Brasil, usou uma imagem perfeita para ilustrar como se desenvolveu o Facebook: “é como uma favela brasileira”.

Sterling é um dos luminares da ficção cyberpunk e era colaborador da comunidade WELL, de onde veio a turma inicial da Wired. Teve coluna na revista durante anos. Sabe do que fala.

Sterling, como William Gibson, e depois Neal Stephenson, mapearam ficcionalmente o que viria. Jornalisticamente também: escreveram muito para a Wired e outros lugares sobre o interligado mundo novo.

A Wired virou o elo entre os libertários individualistas do Vale do Silício, os hippies-yuppies de San Francisco e os cowboys de cocaína de Hollywood, mega centro do entretenimento ianque-global. A Wired fez tecnologia parecer sexy e fez parecer que qualquer um podia pegar o trem-bala andando.

E depois apareceu uma coisa chamada Web. E depois apareceu um gibi chamado The Invisibles. E depois apareceu um filme chamado Matrix. Eu podia ficar escrevendo até amanhã sobre este assunto. E acho que é o que vou fazer mesmo. Até eu mesmo entender exatamente qual é a importância - política, cultural, profunda - do que está acontecendo com o Wikileaks.

O gancho é: existe uma organização jornalística sem fins lucrativos chamada Wikileaks. Ela se dedica a publicar documentos que o poder quer manter secretos. “O Poder”, no caso, são grandes governos, grandes empresas, grandes instituições públicas ou intergovernamentais. “O Poder” é ocupado e mantido por gente que apronta. “Leaks” quer dizer “vazamentos”, porque estes documentos foram sempre “vazados” por alguém.

“Wiki” é um termo genérico para atividades colaborativas realizadas na internet, de onde vem a famosa Wikipedia. Todos os documentos são verificados pela equipe antes de serem publicados. Nunca se provou que um documento publicado pelo Wikileaks seja falso.

O Wikileaks funciona à base de doações. Começou em dezembro de 2006. Tem um comitê que o fundou e dirige, onde está um brasileiro, Francisco Whitaker. Tento falar com ele desde quinta-feira. Me respondeu ontem. Não tem nada a comentar neste momento. Compreensível.

O Wikileaks tem cinco funcionários full-time e mais de oitocentos voluntários. Não tem sede. Não está em um servidor só. É incensurável, porque seu endereço é o ciberespaço. Sempre trabalha junto com órgãos de imprensa para divulgar as informações - o mais conhecido é o inglês e respeitadíssimo Guardian, possivelmente o melhor jornal do mundo.

Era, até uma semana atrás, coisa para iniciados, gente que se interessa por política e novas mídias. O Wikileaks já ganhou prêmios da Economist, da Anistia Internacional, e por aí vai. Não é brincadeira de irresponsáveis.

Mas o Wikileaks iniciou a publicação de mais de 250 mil documentos secretos do governo americano. Governos do mundo caíram de costas, e de pau. Obama proibiu funcionários públicos de lerem. A Amazon impediu o Wikileads de usar seus servidores, o Paypal de usar seu sistema de doações. Políticos americanos às raias da histeria pediram prisão de todos os integrantes do Wikileads.

A face pública do Wikileads é um australiano, Julian Assange. É bocudo. Estava sendo procurado por estupro - de duas voluntárias do Wikileads na Suécia. Ele diz que o sexo foi consensual. Assange foi declarado inimigo público número 2 dos Estados Unidos, atrás apenas de Osama Bin Laden.

Nos últimos dias, a imprensa de todo mundo reporta minuto a minuto novos documentos publicados pelo Wikileaks. Os documentos comprometem os Estados Unidos. O militar que ajudou o Wikileaks a conseguir estes documentos está preso sob segurança máxima e incomunicável.

Assange se entregou à polícia londrina às nove e meia da manhã nesta terça-feira, por conta do mandado da justiça da Suécia, pelas acusações de estupro. Seu advogado já afirmou que vai contestar o pedido de extradição da Suécia.

A batalha legal começa. “The first info-war has begun”, twittou estes dias John Perry Barlow, uma das luzes libertárias que guiaram o caminho da internet até aqui. A guerra da informação começou - e quem não escolher lado será tragado pelos acontecimentos. Muitos decidiram que o Wikileaks não enfrentará os poderosos sozinho.

Desde que começaram os ataques contra a organização, mais de 500 sites-espelho publicam simultaneamente os documentos americanos. Não é possível mais impedir que a publicação continue.

A batalha moral está vencida. Se Assange é culpado de estupro, que pague. O Wikileaks não é Assange e não é de Assange. Como a Wikipedia e a internet, é de todos nós. O único crime do Wikileaks - e É CRIME - é nos permitir crer que, sim, a tecnologia nos libertará. A nossa tecnologia, não a deles.

Tron, Blade Runner, Matrix, Wikileaks: Anotações sobre uma mitologia para o novo milênio

“You're invisible now, you got no secrets to conceal” - Bob Dylan, Like a Rolling Stone.

Lou Stathis: “Toda a obra de Philip K. Dick é atravessada por duas perguntas: o que é humano? O que é real?”

Philip K. Dick, França, 1977: “Posso estar falando sobre algo que pode existir ou não. Então tenho liberdade para dizer tudo. Ou nada. Em meus livros, escrevi sobre mundos falsificados, mundos semirreais, alucinados mundos particulares. Muitas vezes habitados por uma só pessoa - enquanto os outros personagens vivem em seus próprios mundos. Nunca tive uma teoria sobre por que este tema dominou meus 27 anos como escritor. Agora entendo. O que percebia eram realidades parcialmente manifestas, que tangenciam a mais concretizada de todas - esta, em que a maioria de nós consensualmente acredita. Estamos vivendo em uma realidade programada por computador. A única pista que recebemos sobre isso é quando alguma variável muda, alguma alteração na realidade acontece.”

Uma história: máquinas inteligentes controlam um mundo virtual. Ele pode ser acessado por humanos, que ganham lá versões digitais de si mesmos e poderes especiais. Para isso, o humano precisa aceitar um desafio: descobrir quem realmente é. No mundo virtual, enfrentará combates mortais contra as máquinas que preparam um ataque definitivo para dominar completamente a Terra. Somente ele, o escolhido, pode impedir que isso aconteça. Mas, para isso, precisa aceitar os ensinamentos de um mentor místico e o amor de uma bela e misteriosa guerreira. É Matrix? É. É Tron - O Legado? É.

1980: Jean Giraud, o mais importante criador do quadrinho francês de sua geração, é recrutado para participar da criação de Tron. Assina Moebius. Criará cenários e roupas para o filme. É convidado para criar conceitos para um novo filme chamado Blade Runner. Recusa: está ocupado com a animação Les Maîtres des Temps. Absurdo - Moebius é pai de Blade Runner. Giraud é co-fundador, em 1974, e colaborador frequente da Metal Hurlant, revista que reúne os artistas mais visionários da década. 1976: Giraud ilustra uma história de Dan O'Bannon, The Long Tomorrow. É uma homenagem aos detetives noir dos anos 40, estilo Philip Marlowe - o futuro é uma cidade violenta. Dan O'Bannon: animador em Star Wars, autor da história original de Alien - O Oitavo Passageiro - e, anos depois, de Total Recall e Screamers, baseados em histórias de Philip K. Dick. 1977: a Métal Hurlant ganha uma versão americana, Heavy Metal.

1980: Syd Mead é contratado como designer de produção de dois filmes:

Tron: todos os veículos. A moto, o tanque, o veleiro, a nave.

Blade Runner: todos os veículos e mais a cidade.

Syd Mead: ilustrador comercial e conceitual para empresas como Ford, US Steel, Phillips. Vai para Hollywood (clique aqui).

Mead cria o visual de V'Ger - a super-inteligência artificial que ameaça a Terra em Jornada Nas Estrelas, o filme de 1979 que ressuscitou o seriado cultuado dos anos 60. V'Ger não é do mal. V'Ger só quer se unir ao “Criador”. V'Ger é a sonda especial americana Voyager, lançada em 1976, que retorna 300 anos depois após uma tour no espaço. Para cumprir sua missão: coletou dados, agora vai entregar a quem a criou. A ameaça termina em um abraço máquina-homem - ou, no caso, mulher.

25 de junho de 1982: estreia Blade Runner nos Estados Unidos. Fracasso: US$ 6,15 milhões no primeiro final de semana. Hoje: o filme mais cultuado de seu tempo.

9 de julho de 1982: estreia Tron nos Estados Unidos. Fracasso: US$ 4,8 milhões no primeiro final de semana. Hoje: origem da maior aposta multimídia da Disney em muito tempo - filme, desenho animado, videogames, merchandising. Explicação na época para o fracasso: a concorrência direta de outra aventura de ficção científica, Jornada Nas Estrelas: a Ira de Khan. Khan Noonien Singh é o tirano transgênico super-humano obsecado pela vingança. Kirk e Spock: emoção x razão, instinto x lógica, homem x máquina. Separados em A Ira de Khan, reunidos em A Viagem para Casa - imbatíveis juntos. Spock: as necessidades de muitos são mais importantes do que a necessidade de um. Kirk: as necessidades de um podem ser mais importantes do que as necessidades de muitos.

Julho de 1982, meio do terceiro colegial, Distribuidora Gianetti, praça da Catedral, Piracicaba: meu mais recente ídolo, Lou Stathis, escreve na minha revista favorita o obituário de Philip K. Dick: “ele nunca verá sua obra transformada em filme”. O artigo é ilustrado com fotos da versão cinematográfica do romance Do the Androids Dream of Electric Sheep?. É de Ridley Scott, o mesmo diretor do filme que mais me assustou até então, Alien. O filme é Blade Runner. Nunca ouvi falar de Philip K. Dick antes. A revista é a Heavy Metal. É cara. Economizo todo mês dinheiro da cantina para comprar.

2010, agora: descubro de onde veio o nome Blade Runner: de um roteiro escrito por William Burroughs. O nome era muito mais fílmico do que Do The Androids Dream of Electric Sheep?. Os produtores compram os direitos. A história de Philip K. Dick muda de nome.

1982: Assisto a Tron no cine Rívoli. Assisto a Blade Runner no Cine Gazetinha. É meu primeiro fim de semana sozinho em São Paulo, para onde mudarei em poucos meses - se (SE) passasse em jornalismo na USP. Tron é novidade. Blade Runner é revolução. Frankenstein punk: a criatura se volta contra o criador. A máquina conquista inteligência e vontade próprias. Pode escolher. É “humana”. A história é velha. A sensação é um furacão de frescor.

Blade Runner hoje: velho, porque aconteceu. Foi influência determinante em tudo que importou dos 80 para a frente. Foi o pontapé inicial da literatura cyberpunk. Foi o futuro a ser desejado/desdenhado destruído. Mudou as roupas, a música, o discurso. Assistir a Blade Runner hoje é impossível, salvo por nostalgia - tudo o que está lá você já viu e viveu um milhão de vezes. Tem um único herdeiro em ambição e influência: Matrix.

Temas iguais não significam mensagem idênticas. Às vezes, as semelhanças escondem sinais opostos. Matrix e Tron são gêmeos bivitelinos; O Exterminador do Futuro é um primo; 1984, Metrópolis, Super-Homem e Admirável Mundo Novo são avós; a família é enorme e tem muitos ramos. Todos lidam com nossa crescente dependência da tecnologia; com a influência disruptiva da aceleração do conhecimento; a sedução da técnica; com “o sistema” e como ele exige e se alimenta de nossa desumanização; com a sedução da rendição; com a possibilidade de fuga e de resistência.

Mas Tron - O Legado e Matrix são irmãos corsos. Suas mensagens são diamestralmente opostas. Cada qual se insere organicamente em uma das duas correntes mitológicas centrais da cultura popular do século 21. O século 20 foi o império da técnica: estados superpoderosos concentrando superpoder militar supertecnológico. O século 21 será - já é - diferente. Exige novas odisséias. Matrix abriu a primeira década do milênio e deu o tom do que viria. Tron - O Legado não a fecha. Tem outro nome típico da ficção científica que merece esta honra: Wikileaks.

Tron é fantasia. Blade Runner e Matrix são ficção científica. Nem sempre é fácil diferenciar. O que 99% dos cidadãos entendem como ficção científica é um micronicho - Space Opera, o lugar onde a fantasia se traveste de ficção científica; uma aventura romântica, idealizada, com os dois pés no passado, mas com roupagem futurista. Em duas palavras: Star Wars.

Carta de Philip K. Dick sobre o filme Blade Runner, após ver cenas do filme que ainda não tinha estreado na TV: “não é ficção científica. Não é fantasia. É, como Harrison Ford disse, Futurismo... não é escapismo, é super-realismo, tão detalhado e autêntico e explícito e convincente que minha 'realidade' cotidiana se tornou instantaneamente pálida em comparação”.

Todo mundo é a favor do avanço tecnológico, do progresso, do futuro - da boca para fora. A maioria dos que batem palmas para o avanço propõem que as coisas mudem para que permaneçam como estão. A revista semanal excitada com engenhocas quer que as coisas permaneçam como estão. O político que discursa sobre a necessidade de investimento em inovação quer que as coisas permaneçam como estão. As empresas que pregam a sustentabilidade querem que as coisas permaneçam como estão. Por quê? Porque o verdadeiro amanhã é impenetrável e muito diferente do hoje e, portanto, assustador. Esta certeza é um veio fundamental da cultura global. Medo da morte, que vem certa, e do que vem depois dela, se é que vem. O terror do futuro será atávico na única espécie que sabe que vai morrer?

A Matrix é uma alucinação consensual: um mundo virtual criado e habituado por máquinas. Nela passeiam as consciências anestesiadas dos seres humanos, enquanto seus corpos aprisionados no mundo real geram a energia que alimenta as máquinas.

A primeira Matrix foi uma utopia, mas falhou, porque os humanos se recusavam a aceitá-la e muitos morreram. A segunda Matrix refletia a história e cultura da humanidade. Era, portanto, um mundo imperfeito. E mesmo assim falhou. A solução do problema: uma nova Matrix, que desse aos humanos a escolha insconsciente de aceitá-la ou não. Só 1% rejeita a Matrix e acordam “no mundo real”, onde se integrarão à resistência ao domínio das máquinas. Mas são poucos, e o risco é pequeno e aceitável pelo sistema.

No final da trilogia, Matrix Revolutions, o herói Neo faz um acordo com as máquinas: aceitem uma trégua na guerra com os humanos, e Neo cuidará do inimigo que ameaça a sobrevivência de todos, o vírus renegado Smith. Neo enfrenta Smith, mas é impossível derrotá-lo. A única saída é assimilá-lo. Neo faz isso e se sacrifica. Sua morte revigora o mundo. Robôs-sentinela carregam seu corpo, como no funeral de um rei. A Matrix, mundo virtual imperfeito onde humanos adormecidos e subjugados pelo sistema pensam viver, foi recriada. Mas há um novo acordo: daqui para frente, todos os humanos que assim desejarem poderão se libertar do jugo das máquinas. Fim.

Matrix: nos enganamos ao pensar que a grande novidade nada trará de novo. Que a invenção do automóvel, da vacina, do celular, do caixa automático, bomba atômica e fast food, derivativos de crédito e bolsa família, iPad e banda larga - que tudo isso vai aparecer e as coisas vão permanecer fundamentalmente como são. Porque o autoengano? Porque intuímos intimamente que as coisas nunca mais serão as mesmas. E alguns de nós não só intuem, mas percebem claramente a mudança e se posicionam claramente contra ela. A estes vamos chamar de inimigos. Temos vários tipos de conservadores no século 21. A mocinha pseudoletrada que fantasia com uma utopia pastoril na loja de produtos orgânicos. O banqueiro que financia tanto ONG politicamente correta quanto o instituto de defesa da liberdade - e do capitalismo financeiro mais selvagem. O jornalista confiável, mais realista do que o rei que taxa qualquer opção fora do cardápio de “irresponsável”. O movimento popular que espanta a classe média, só para aliviar quando recebe uma gorjetinha governamental. Todo mundo que dá de ombros e se conforma porque “é assim mesmo”. A lista é longa.

1974: chapado de sódio pentatol após extrair um dente, Dick vê Deus. O nome dele é VALIS - Vast Active Living Inteligent System. Dick: a história congelou no primeiro século DC, e o Império Romano nunca terminou. Roma: império do aterialismo e da autoridade. Humanidade: escravizada, hipnotizada pela sedução dos bens materiais. Resistência: Gnósticos que secretamente planejam a derrubada do Império.

1994: O escritor de quadrinhos Grant Morrison é abduzido por alienígenas pentadimensionais no alto do BajaRat hotel, em Katmandu. Descreveu seu corpo sendo retalhado, destruído e reconstruído com um grau mais alto de conhecimento. Viu o total fluido do espaço-tempo. No dia seguinte, enche cadernos e cadernos tentando descrever o que viveu. Processo xamânico ativa geração de sincronicidades e ocorrências estranhas. Passará seis anos tentando fazer sentido da experiência por meio de um sigilo mágico, um feitiço em forma de narrativa gráfica. É a série em quadrinhos que acaba de iniciar: The Invisibles. Grant Morrison: “Praticamente não li Philip K. Dick... li VALIS.”

Não-conservador - ou progressista; ou revolucionário; as matizes são múltiplas - é quem está aberto para a mudança, um agente ativo que tenta perceber seus riscos e oportunidades com tanta clareza quanto possível. No século 21, é principalmente quem se articula com outros, como ele mesmo, para causar a mudança. Progresso: a ideia de que, como uma civilização, aprendemos com nossos errros e temos capacidade de fazer nosso futuro melhor do que nosso passado. Missão que desafia não só a nossa cultura, como nossa natureza. Porque temos infinitas histórias que nos alertam para o risco da criação, do progresso, da tecnologia. Prometeu deu o fogo - a primeira supertecnologia - aos homens, e Zeus o condenou à tortura eterna no Tártaro. Foi só colocar as asas criadas pelo pai que Ícaro quis voar até o sol, que derrete a cera que grudava as penas, e lá vai Ícaro se espatifar nas montanhas de Creta.

No romance fundador da ficção científica, Victor Von Frankenstein criou vida da morte, e a criatura se voltou contra ele. Todo cientista louco de almanaque é um alerta: não ouse tomar o lugar dos deuses porque eles o punirão.

1994 - 2000: The Invisibles são um grupo de rebeldes contra o super-sistema autoritário artificial criado por deuses alienígenas. Violento coquetel tecno-oculto de Robert Anton Wilson, magia moderna, pop e rock e super-heróis. Conclusão de Invisíveis: os inimigos somos nós.

Ao mesmo tempo e depois: Morrison escreve alucinante sequência de histórias da Liga da Justiça. Depois: New X-Men, “uma lição para os super-humanos que já andam entre nós”. Hoje: tornando Batman vital para o novo século. The Invisibles dissecado aqui:

1998: Os Wachowski, em Hollywood, buscam financiamento para Matrix: “vai ser isso, só que com atores de verdade”. Exibem a animação japonesa Ghost In The Shell, de Masamune Shirow - espécie de sequência não oficial dos temas e ambientes de Blade Runner.

Outubro de 2010: Ridley Scott, diretor de Blade Runner, anuncia que produzirá minissérie sobre o mais famoso livro de Philip K. Dick. É O Homem no Castelo Alto - em que o Eixo venceu a Segunda Guerra - ou talvez não.

Grant Morrison, 2009: “a equipe de Matrix ganhou a coleção de minha série em quadrinhos, The Invisibles. Os diretores disseram: "Façam o filme assim. Os irmãos Wachowski são criadores de quadrinhos e fãs do meu trabalho. Fui contatado antes do primeiro filme e convidado a escrever uma história para o site. Não é coincidência que tanto de Matrix tenha sido afanado de Invisibles, argumento, detalhes, imagens. Não tenho mais raiva de que eles tenham feito milhões com um xerox do meu trabalho. No final, fico feliz que eles tenham espalhado as ideias, mas fiquei desapontado com o segundo e terceiro filmes, que distorceram completamente os aspectos transcedentais Gnósticos que fizeram o filme original tão poderoso... eles tropeçaram em um teologia Católica chatíssima, o que prova que não tiveram a experiência de 'contato' que é o motor de Invisibles.”

Fatura vendendo caro software proprietário, impossível de copiar. O sonho de seu fundador, Kevin Flynn, era usar a tecnologia para revolucionar - salvar? - o mundo. Flynn era um gênio hippie que fez sua primeira fortuna criando os primeiros videogames - Tron foi o big hit. Desapareceu há 20 anos. Deixou um filho, Sam, hoje com 27. Sam não aceita seu papel de maior acionista da Encom, cuja postura abomina; nem as responsabilidades da vida adulta. Já era órfão de mãe quando sofreu o abandono do pai, que não perdoa. Não sabe que Kevin Flynn está desde 1989 aprisionado na Grid, um mundo virtual populado por softwares - máquinas inteligentes. Flynn criou uma cópia de si mesmo, CLU, para administrar a Grid e fazer dela a sociedade perfeita. CLU a transformou em um estado totalitário, violento, intolerante com as diferenças. Criou um exército com o qual vai deixar a Grid e infectar toda a tecnologia da humanidade, dominando a terra.

Falta só a chave: descobrir como sair da Grid, informação que somente Flynn tem e está guardada em um disco de memória que ele carrega o tempo todo. Flynn vive escondido em um refúgio afastado do centro da Grid. Plano de CLU: atrair para a Grid o filho de Flynn, Sam. O amor de Flynn por Sam vai retirá-lo de seu esconderijo; juntos, e acompanhados de Quorra, uma misteriosa discípula de Flynn, eles tentarão fugir da Grid, mas serão capturados, e CLU dominará a Terra...

Seguem-se correrias até o final do filme. Flynn reabsorve CLU. A Grid é destruída/renovada para a sequência que virá - se (SE) o filme for um gigantesco sucesso.

Sam volta à Terra com uma namorada muito especial, e a missão de levar a Grid e a Encom ao seus potenciais. Fim. Fim desta história, que não queremos mais. Fim da década. Fora do cinema, outra história sobre mundos virtuais excita mais, importa mais: o caso Wikileaks.

James Cascio: “A tensão entre as mil maneiras em que nossas ferramentas - nossas tecnologias - nos afetam está no núcleo das discussões sobre o futuro. Elas nos enfraquecem? Destróem nossas memórias, como defendia Sócrates? Nossa abilidade de pensar em profundidade, como argumenta Nicholas Carr? Ou nossas ferramentas nos empoderam? Será que a tecnologia rouba nossa humanidade, ou é justamente ela que nos faz humanos?”

A imprensa tradicional está sempre a procura de um herói - ou vilão. O jornalismo econômico foca no empreendedor, no grande executivo. O esportivo, no técnico e no craque. O jornalismo cultural está a caça dos gênios, e o televisivo, do personagem que ilustra perfeitamente a história. A imprensa tradicional não sabe contar a história do Wikileaks senão listando as mazelas e virtudes de Julian Assange. Concentrar-se somente em Assange é incompleto, como é a maneira mais errada possível de explorar o caso Wikileaks.

A mídia tradicional implode em câmera lenta. Cerca de 20 mil jornalistas perderam suas vagas nos últimos dois anos nos Estados Unidos. Literalmente, bilhões de pessoas produzem e consomem conteúdo, e outras tantas empresas, e outros tantos artistas, e quase sempre de graça. A informação quer ser livre, diziam os ativistas da internet vinte anos atrás. E grátis, responde a meninada hoje.

A nova mídia é isso: todos nós. E esta nova mídia sabe que Assange é um ponto focal e uma bandeira, mas não é “o escolhido”. Os protagonistas do caso não são ele ou o militar que fazou os documentos. Os heróis - ou vilões, escolha seu lado - dessa aventura são os milhões que vocalizam seu apoio ao Wikileaks; os milhares que doam dinheiro e tempo para apoiar a causa; as centenas que criaram sites espelhos, para quando o site Wikileaks fosse impedido de operar, para que o fluxo de informações não paresse. Não sabemos quem são. Não importa. Sabemos quem somos e estamos por toda parte - ou este é o sonho do qual não quero acordar. Vi o parto destes moleques invisíveis que assimilam a tecnologia para sabotar a máquina. O orgulho e a inveja são grandes quando vejo multidões teclando: “Eu sou Spartacus!”

Lou Stathis sobre Philip K. Dick: “E, de repente, você é chocado com a percepção aterrorizante e repentina: a realidade não é o que parece... no universo de Dick, você não pode confiar em nada. Não só as figuras de autoridade mentiram para você - a própria realidade está mentindo para você. Mas por mais paranóica que seja, a visão de Dick não é desesperadora. Na decadência entrópica há sempre esperança; no absurdo encontramos humor e redenção nas abilidades super-humanas das pessoas comuns que lidam com circunstâncias extraordinárias. Nós podemos conseguir. Podemos não triunfar heroicamente (quem consegue uma coisa dessas?), mas, caramba, vamos sobreviver. Humanos sobreviverão por tanto tempo quanto conseguirem manter sua humanidade, diz Dick, e a medida da humanidade é sua capacidade de se importar.”

Eu me sinto jovem.
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Post by wodouvhaox Mon Dec 20, 2010 8:41 am

WikiLeaks ou a vingança do mundo vigiado

Eugênio Bucci - O Estado de S.Paulo


Sorria, você está sendo filmado. Ou chore, você está sendo filmado.

A propósito, não é improvável que você esteja sendo filmado enquanto lê este artigo. Os seus hábitos de consumo estão catalogados em bancos de dados que são vendidos por aí. A marca de papel higiênico que você compra no supermercado faz parte da sua ficha pessoal em algum arquivo de marketing. Os exames do seu check-up, realizados naquele laboratório todo informatizado, bem, eles podem cair na rede. As chamadas do seu celular são rastreáveis, todas elas. A que horas você ligou para quem e de que lugar você chamou, tudo se sabe. Pelas pesquisas que você faz no Google, os administradores podem levantar o seu rol de preferências, mesmo aquelas que você não gostaria de declarar em público. Os radares da cidade registram por onde você passeia de automóvel. As consultas que você faz na Amazon fazem parte do seu perfil, devidamente armazenado. Pelo seu cartão de crédito, podem saber os restaurantes em que você anda almoçando, os vinhos que você pede, a dieta que você segue. As portarias de prédios que você cruzou, as catracas que atravessou, os elevadores em que subiu ou desceu, tudo isso é sabido.

E aqui não estamos falando de vírus espiões instalados em seu computador, das escutas encomendadas pelos rivais (amorosos, religiosos, políticos ou econômicos), mas apenas dos mecanismos supostamente lícitos pelos quais, como já foi dito, você está sendo filmado. Não é bem que a privacidade tenha diminuído de uns tempos para cá. A privacidade, nos moldes em que costumávamos imaginá-la, virou uma categoria impossível, irrealizável. A privacidade foi extinta pela História.

Mais ainda: no nosso tempo a vigilância se massificou. Todos da massa são potencialmente vigiados, o que, em lugar de incomodar, parece excitar o público. A bisbilhotice ganhou status de um gênero lucrativo da indústria do entretenimento, com os reality shows se disseminando como epidemia. Quanto à massa, além de usufruir a vigilância indiscreta, pratica alegremente o esporte de espionar os semelhantes. Câmeras instaladas em celulares fizeram de cada cidadão um agente voluntário a serviço da grande rede de vigilância global. O "Grande Irmão" não é mais o ditador imaginado por George Orwell, aquele que tudo via, protegido em seu bunker supertecnológico. Hoje, o "Grande Irmão" é a massa. Todo mundo bisbilhota todo mundo.

Para chegar a esse estado passamos por duas grandes inversões. A primeira delas transformou o controle de presidiários numa forma de controle dos cidadãos. Há séculos o inglês Jeremy Bentham (1748-1832) imaginou uma prisão que permitiria aos carcereiros verificar a qualquer instante os movimentos de cada um dos prisioneiros. As celas seriam dispostas numa linha circular, alinhadas e empilhadas num imenso edifício arredondado. A parede externa desse edifício, aquela voltada para o lado de fora da circunferência, seria opaca, mas, e aí vem o detalhe perverso, a parede interna do edifício seria transparente, de tal modo que quem se postasse no miolo da prisão poderia ver, ao mesmo tempo, o interior de todas as celas. Por uma fresta em seu escritório central, o carcereiro veria todos, mas não seria visto pelos presidiários, que também não poderiam ver uns aos outros. Muitos anos depois, como se sabe, o filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) refletiu caudalosamente sobre esse sistema, identificando nele uma forma de dominação que extrapolaria em muito a penitenciária de Jeremy Bentham. O panóptico estaria presente em todos os campos sociais e, ao saber-se visível o tempo todo, o sujeito, solto ou encarcerado, não importa, estaria intimidado, controlado, perderia a sua privacidade, a sua liberdade, a sua espontaneidade.

A segunda inversão tem um sabor de anedota: os vigiados, longe de se lamentar, entraram com tudo na brincadeira. Nas redes sociais, intimidades as mais improváveis roubam a cena; as pessoas encenam e vazam suas próprias privacidades. O exibicionismo e o voyeurismo digitais são a marca por excelência do século 21. Foi então que o voyeurismo, cansado de obscenidades da extinta vida privada, começou a explorar os segredos mais valiosos dos que bisbilhotam o planeta em nome dos governos mais poderosos da atualidade. Era inevitável: mais cedo ou mais tarde, a indústria da vigilância total cairia na rede ela também.

Dentro disso, qual a grande surpresa do WikiLeaks? Ora, ora, nenhuma.

Pelo WikiLeaks, a espionagem oficial, antes guardada pelos carimbos de "secreto" ou "confidencial" nos gabinetes diplomáticos, vai-se convertendo em divertimento planetário. A profusão dos documentos vazados e a irrelevância da imensa maioria das informações conferem ao circo um certo ar de banalidade, como se segredos de Estado não fossem lá grande coisa. E talvez não sejam mesmo. O WikiLeaks sobrevém, assim, como a vingança dos que não têm mais privacidade contra os que ainda se imaginavam controladores das privacidades dos comuns. Não há mais segredos bem guardados, nem mesmo na Casa Branca. O panóptico estilhaçou-se, caiu como a velha Bastilha. Reis e rainhas trafegam nus. Os esconderijos esfacelam-se.

Nesse meio tempo, as reações do poder - econômico e político - contra o WikiLeaks revelam uma mentalidade pateticamente totalitária. Num jogo combinado, típico de coalizões militares, as instituições financeiras internacionais fecham o cerco. Governos agem de modo análogo. Será que esse pessoal acreditava que controlava a sociedade de modo tão absoluto?

Quem acreditou nisso errou. O WikiLeaks não é um site, mas uma possibilidade da era digital que se materializou num site. Outros virão. O vazamento indiscriminado vai continuar. Outras caixas de Pandora estão para cair. Que caiam.

Eugênio Bucci - jornalista, é professor da ECA-USP e da ESPM
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Post by wodouvhaox Fri Jan 21, 2011 8:37 am

Julian Assange, criador do Wikileaks, pode ganhar filme

Depois de garantir 1,5 milhão de dólares pela sua autobiografia, Julian Assange, o fundador do Wikileaks, pode também ganhar um filme sobre a sua vida.

Segundo a Variety, o filme vai adaptar o livro The Most Dangerous Man in the World, escrito por Andrew Fowler, e que ainda não tem data para ser lançado, mas certamente chega às lojas ainda este ano. Um dos assuntos principais certamente está o lançamento do site de denúncias, que entrou no ar em 2006, mas vai trazer a história de Assange desde sua infância. Fowler é um repórter do programa australiano Foreign Correspondent e entrevistou Assange diversas vezes,.

Os produtores do projeto são Michelle Krumm, Barry Josephson e L.H. Adonis.

fonte: omelete
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Post by wodouvhaox Tue Feb 01, 2011 11:42 am

“WikiLeaks é jornalismo?”

por Alexandre Matias

E quando as redações começarem a virar assunto?

A pergunta surgiu no meio do debate da Campus Party que eu participei, feita pelo Gil Giardelli, e a Ana Brambilla discordou num dos pontos em que eu e o Forastieri concordamos (o Vinícius comenta o debate melhor do que eu, além de linkar os vídeos). Pra mim, WikiLeaks é jornalismo, ponto.

Se é bom ou mau jornalismo, isso é outra história - mas agora que temos um player jogando no ventilador notícias que não vêm via release de assessoria de imprensa nem com post-it grudado escrito “leia com atenção”. Sim, há a possibilidade de haver interesses escusos e de que seu criador estaria guiando a mídia tradicional de acordo com a sua agenda, mas o não dá para fugir que o site de Julian Assange propõe ao jornalismo tradicional o mesmo enigma digital que a indústria fonográfica enfrentou com o Napster, que pairou com o YouTube sobre o cinema e a TV, que o mercado editorial começa a ter de lidar com o Kindle. São os papéis do Pentágono e Watergate numa mesma tacada, sem intermediários e com um posterboy ególatra o suficiente pra se deixar virar ícone (pessoalmente, não grilo com isso, mas há quem se incomode).

E, na longa véspera de uma revelação que o site promete desde o ano passado sobre um grande banco americano, começam a sair as primeiras reações da mídia tradicional ao contar como foi lidar com Assange. Quem começou foi Bill Keller, editor-chefe do New York Times, que escreveu um texto gigantesco para a capa de sua revista dominical, lembrando a tradição de seu jornal, acusando Assange de manipulador, dizendo que WikiLeaks não é jornalismo e defendendo a imparcialidade sobre a notícia. Chama o jornal inglês Guardian, um dos veículos escolhidos por Julian para expor seus segredos de “abertamente de esquerda” e desqualifica Assange como excêntrico:

“He was alert but dishevelled, like a bag lady walking in off the street, wearing a dingy, light-coloured sport coat and cargo pants, dirty white shirt, beat-up sneakers and filthy white socks that collapsed around his ankles (…). He smelled as if he hadn’t bathed for days.”

O Guardian, por sua vez, veio com sua versão dos fatos, peitando principalmente o fato do WikiLeaks mudar a paisagem do jornalismo em tempos digitais, citando a Hillary, e do site ter mirado nos EUA. Escreve seu editor-chefe Alan Rusbridger:

Unnoticed by most of the world, Julian Assange was developing into a most interesting and unusual pioneer in using digital technologies to challenge corrupt and authoritarian states. It’s doubtful whether his name would have meant anything to Hillary Clinton at the time – or even in January 2010 when, as secretary of state, she made a rather good speech about the potential of what she termed “a new nervous system for the planet“.

She described a vision of semi-underground digital publishing – “the samizdat of our day” that was beginning to champion transparency and challenge the autocratic, corrupt old order of the world. But she also warned that repressive governments would “target the independent thinkers who use the tools”. She had regimes like Iran in mind.

Her words about the brave samizdat publishing future could well have applied to the rather strange, unworldly Australian hacker quietly working out methods of publishing the world’s secrets in ways which were beyond any technological or legal attack.

Little can Clinton have imagined, as she made this much praised speech, that within a year she would be back making another statement about digital whistleblowers – this time roundly attacking people who used electronic media to champion transparency. It was, she told a hastily arranged state department press conference in November 2010, “not just an attack on America’s foreign policy interests. It is an attack on the international community.” In the intervening 11 months Assange had gone viral. He had just helped to orchestrate the biggest leak in the history of the world – only this time the embarrassment was not to a poor east African nation, but to the most powerful country on earth.

O debate segue em aberto, mas eis um novo efeito colateral: sobre o jornalismo. Cada vez mais os bastidores do jornalismo se tornarão notícia e interesse geral e um filme sobre WikiLeaks (cada vez mais palpável) poria a público como as coisas realmente funcionam nas redações como o filme sobre o Facebook começou a expor as entranhas do Vale do Silício. Mas antes de entrarmos na paranóia sobre quem detém o monopólio da notícia, o que é exclusividade no século 21 e a velha discussão entre transparência e segurança, deixo o recado do professor Timothy Garton Ash, que foi ao Fórum Econômico de Davos justamente pra falar sobre WikiLeaks:

“Every organization should think very hard about what it is you really need to protect. You’re probably protecting a whole lot you don’t need to. And then do everything you can to protect that smaller amount”

Ou seja, quem tem, tem medo. Se não tem, é bom ter. Como digo: paranóia é precaução.
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Post by wodouvhaox Mon Mar 07, 2011 9:33 am

DreamWorks prepara filme sobre o WikiLeaks

A DreamWorks, empresa cofundada por Steven Spielberg, comprou os direitos do livro WikiLeaks: a Guerra de Julian Assange Contra os Segredos de Estado, de David Leigh e Luke Harding. A informação é do site do jornal The Guardian.

A produtora quer transformar em filme a obra que retrata a vida de Assange, de sua infância, quando mudava de casa com frequência, passando pela criação do WikiLeaks, em 2006, e incluindo a sua parceria com o jornal The Guardian e o vazamento de documentos secretos no ano passado.

A versão para o cinema deverá seguir a linha de Todos os Homens do Presidente, dando um tom de thriller investigativo para a trama.

Vale lembrar que esse não é o único longa a respeito de Assange e o WikiLeaks que deverá ser feito nos próximos meses. Há também um documentário de Alex Gibney, a cinebiografia feita em parceria pela HBO e a BBC, que será baseada no artigo de Raffi Khatchadourian para o New Yorker, e uma outra cinebio baseada no livro The Most Dangerous Man in the World.

fonte: Rolling Stone
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