::: delArismo :::
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#OOAG9603 :: Religiões, Filosofias & Outros Ismos :: Bundinha - ASSBUTT Brazil :: qualquercoisaismo :: Delarismo
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::: delArismo :::
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Portais de Delariantismo `Patafísico:
http://timoteopinto.wordpress.com/
http://discordiabrasilis.wordpress.com/
http://partidointerestelar.wordpress.com/
http://tudismocroned.blogspot.com.br/
http://freakronedfunk.tumblr.com/
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Tudismocroned BullDada Network ::: arte, anti-arte, pós-arte, `patafísica, absurdismo, discordianismo, concordianismo, meta-discordianismo, realismo, surrealismo, delirismo, lucidismo, neoísmo, anti-neoísmo, qualquercoisaismo, etc...
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"I am infinite jest, garrulous with silence." - Heyoka Yawning (Initiation by the Thunder Gods)
O delArismo é uma alquimia multicabalense entre o Larismo de reverendo wodouvhaox e o Delírio Coletivo de Reverenda Fada Verde.
Enquanto o Larismo abastece a necessidade ontológica de Introversão Meditativa, o Delírio Coletivo alimenta o outro lado do espelho de Alice, a Extroversão Slackronediana -><- Bonobista -><- Muito Confusa.
É também conhecido como DeLariantismo. e um dos motes principais, utilizado quando há uma grande Aflição Espiritual, é: "Cale a boca! Aprecie o silêncio, a não ser que você queira dizer algo engraçado e/ou divertido".
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Hail Harpo!
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::::::::::::::::::::::::::: Cabala Delariantiana David Lynch
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Algumas DesEscrituras Sagradas Delariantianas Discordianas `Patafísicas
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"Ultimately, the idea isn’t to go from identification with form to identification with formlessness. It’s not about going from a somebody to a nobody. You can’t define the truth as something, or as nothing. You can’t ultimately define it as spirit or as matter. You can’t define it as ego or other than ego. Our ultimate nature can’t be described in dualistic terms at all. To our minds, it will always remain a mystery, because the process of thought that we use to apprehend things can only think in dualistic terms. So our minds can never really know reality directly."
Adyashanti
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:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Manifesto sobre o minimalismo patafísico ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
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The (sur)realistic argument as a source of illuminated confusion
“We understand confusion, individual chaos and nonsense as the first moment of de-territorialization of the individual. Through this act, loaded with nonsense felling, comes the initial impulse of a pretended reaction full of meaning, answering by itself.” - Timóteo Pinto, ’pataphysician meta-discordian post-neoist thinker
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::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Textos Sagrados ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
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Meaningness | Better ways of thinking, feeling, and acting—around problems of meaning: self, society, ethics, purpose, and value
“Nebulosity” means “cloud-like-ness.” Meaningness is cloud-like. It is real, but impossible to completely pin down.
Nebulosity is the key to understanding confusions about meaningness.
“Nebulosity” refers to the intangible, transient, amorphous, non-separable, ambiguous nature of meaningness.1
From a distance, clouds can look solid; close-up they are mere fog, which can even be so thin it becomes invisible when you enter it.
If you watch a cloud for a few minutes, it may change shape and size, or evaporate into nothing. But it is impossible to find an exact moment at which it ceases to exist.
Clouds often have vague boundaries and no particular shape.
It can be impossible to say where one cloud ends and another begins; whether two bits of cloud are connected or not; or to count the number of clouds in a section of the sky.
It can be impossible to say even whether there is a cloud in a particular place, or not.
Meanings behave in these ways, too."
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“When we meet somebody whose separate tunnel-reality is obviously far different from ours, we are a bit frightened and always disoriented. We tend to think they are mad, or that they are crooks trying to con us in some way, or that they are hoaxers playing a joke. Yet it is neurologically obvious that no two brains have the same genetically-programmed hard wiring, the same imprints, the same conditioning, the same learning experiences. We are all living in separate realities. That is why communication fails so often, and misunderstandings and resentments are so common. I say "meow" and you say "Bow-wow," and each of us is convinced the other is a bit dumb.”
― Robert Anton Wilson, Prometheus Rising
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Delírio Coletivo
por Fada Verde
Ao longo da história, a maioria dos movimentos literários e artísticos contradiziam o movimento anterior. O Renascimento foi contra tudo o que a Era Medieval disse, o Realismo negava os fundamentos do Romantismo e assim por diante.
Já o movimento Nonsense resolveu que não gostaria de contradizer o movimento anterior, no caso, o Modernismo e a Pop Art, o Nonsense quis negar absolutamente tudo e/ou não negar absolutamente nada.
Sob a máxima "Pra que fazer sentido!?", esse movimento cria uma contradição de tudo e dele mesmo, com raízes em todos os estilos literários e tendo por característica a abolição da linguagem figurada, nada mais era figurativo, tudo era real, e o que era real não existia, ou existia, ou o que quer que o leitor prefira.
O que aconteceu foi que no fim do século XX e começo do século XXI, com o fim da Guerra Fria, a ascensão dos EUA como maior força política e econômica do mundo, detendo um poder quase imperialista e com a estagnação de todo e qualquer movimento revolucionário, o mundo conheceu um período de conformismo em que qualquer coisa era uma revolução. Andar fantasiado, por exemplo, ou simplesmente usar um nariz de palhaço pela rua, já causava um grande choque por quebrar a monotonia cotidiana. O movimento DC, autor da obra Sofia, foi um dos primeiro a notar isso e adotar a idéia do Nonsense.
Da idéia para a prática foi um pulo. Embora no começo, apenas algumas pessoas tivessem adotado essa "revolução", assim como em qualquer outra já ocorrida, o clima e as idéias sem sentido foram tomando proporções mundiais e o mundo conheceu uma época maravilhosa, onde a espontaneidade e a imaginação tomaram conta de todos e tudo passou a ser fantástico e irreal. Chegou até a haver um certa desaceleração nas pesquisas cientificas, afinal não importava mais provar que pode-se dividir uma célula infinitamente.
Antes desse movimento, as pessoas buscavam uma explicação científica para tudo, mas depois ninguém mais queria a explicação lógica e inteligente. Todos perceberam que a fantasia era bem melhor, que cada um poderia formular sua própria teoria para qualquer coisa, todas as lendas sobre os "porquês" voltaram à tona e todos os povos buscavam as raízes de suas culturas para saber algo, quando não encontravam, criavam uma nova cultura.
Em meados da década de 10 do século XXI, o mundo já não fazia sentido algum. Viam-se pessoas fantasiadas, nas ruas, nos supermercados e até nos escritórios você encontrava pessoas vestidas de Pantera Cor-de-Rosa ou Smurffle.
As casas tinham pinturas psicodélicas e, às vezes, achavam-se florzinhas desenhadas no meio da rua.
Com a população nesse incrível estado de espírito, era natural que as artes também seguissem esse caminho.
Leis Absolutas do Delírio Coletivo
1ª Lei Absoluta
PATAFÍSICA- Tudo é decidido pela imaginação e não pela razão.
2ª Lei Não Absoluta
Não encher as caras aos domingos.
Quem quer fazer sentido?
A realidade é relativa;
A Fantasia é bem melhor;
Arte, Poesia e Loucura.
3ª Lei Absoluta
Usar LSD.
4ª Lei Absoluta
Enlouquecer a Política.
5ª Lei Absoluta
Nenhum tipo de censura.
Mandar as preposições e a gramática pro inferno!
6ª Lei Absoluta
O que fazer em casos de incêndio?
Deixe queimar!
7ª Lei Absoluta
Jogar uma garrafa de conhaque no Delírio Coletivo
8ª Lei Absoluta
DELIRAR.
9ª Lei Absoluta
Assassinar a monotonia causada pela razão.
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Loucura Lúcida
por Fada Verde
Não conseguir fugir da realidade significa um excesso de lucidez ou extrema loucura?
A resposta confirmaria minha tese poética-lunática, de que não só o excesso de lucidez leva a loucura como o excesso de loucura leva a lucidez.
Se minha realidade é na verdade uma ilusão, quando tento fugir dela, tento alcançar a realidade? Ou migro de ilusões em ilusões? Se as realidades são múltiplas a tentativa de alcançar a realidade única em que todos se enquadram seria uma farsa. Talvez todos vivam em suas respectivas ilusões, que criamos e recriamos. Se pertence a cada sujeito que a resolva viver, a realidade sim que é uma ilusão, a ilusão da ilusão. A ilusão é uma realidade. A realidade está fora ou dentro? do exterior ou do interior? O que faz pensar quantas realidades seriam possíveis. Infinitas. Nos casos que unem mais indivíduos, podemos denominar precisamente como o fenômeno do Delírio Coletivo.
Se produzimos a realidade ilusória, o que é loucura? Como são diversas as loucuras, digo, ilusões, realidades. A metafísica disso tudo é expressa pela loucura de Deus, o tal dançarino do qual falava Nietzsche, que nos criou a sua imagem e semelhança, como deuses de nossas próprias loucuras. Fato é que nelas podemos fazer o que quisermos dentro dos limites da loucura de Deus.
Dizem por ai, que o sóbrio é aquele que sabe distinguir a realidade da fantasia, mas o que dizer se somos máquinas de produzir fantasias? Certamente jamais será possível olhar um homem despido de seu imaginário. Ilusões sobrepostas numa translucidez aguda. Perceber que está iludido não significa que nos livramos da ilusão se ela é real. As ilusões/realidades se desdobram uma fora da outra. Se trancafiamos alguns de nós dentro das salas estofadas, é porque os condenamos pelo abuso da criatividade.
O excesso de lucidez, faz perceber a ilusão real, que se exacerbada leva a loucura originária. A loucura alucinatória se levada a extremos nos leva a realidade ilusória, que é a realidade possível.
“É grave doutor?!?”
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The Blessings of Sheogorath
For Our Lord Sheogorath, without Whom all Thought would be linear and all Feeling would be fleeting.
Blessed are the Madmen, for they hold the keys to secret knowledge.
Blessed are the Phobic, always wary of that which would do them harm.
Blessed are the Obsessed, for their courses are clear.
Blessed are the Addicts, may they quench the thirst that never ebbs.
Blessed are the Murderous, for they have found beauty in the grotesque.
Blessed are the Firelovers, for their hearts are always warm.
Blessed are the Artists, for in their hands the impossible is made real.
Blessed are the Musicians, for in their ears they hear the music of the soul.
Blessed are the Sleepless, as they bask in wakeful dreaming.
Blessed are the Paranoid, ever-watchful for our enemies.
Blessed are the Visionaries, for their eyes see what might be.
Blessed are the Painlovers, for in their suffering, we grow stronger.
Blessed is the Madgod, who tricks us when we are foolish, punishes us when we are wrong, tortures us when we are unmindful, and loves us in our imperfection.
via Unofficial Elder Scrolls Pages
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"Procurai não dizer que entendestes... A compreensão reside em não compreender... Para ti, essa compreensão é um obstáculo. É preciso escapar dela. Para alcançar o sentido profundo (mani) dissimulado "sob o véu das palavras", somente disponibilidade, ou receptividade não bastam: é necessário um esforço, uma atitude, primeiro passo que faz daquele que questiona - ou se questiona - um peregrino, no Caminho. A utilidade da palavra será portanto a de fazer-te procurar e a de iniciar-te; o que não quer dizer que a coisa que se busca seja obtida pela palavra: se fosse assim, não terias que fazer tanto esforço... A palavra é como algo que vês mover-se de longe: vais à sua procura para vê-la, mas não é por causa de seu movimento que a vês. A palavra do homem, sob seu aspecto oculto, é algo como: ela te faz buscar o sentido, embora na realidade não o vejas".
- Rumi
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Larismo
por woouvhaox
Nós
somos uma tribo
de eremitas, solitários,
introvertidos, monges,
mudos, lacônicos,
e maníacos afins
que estão intrigados
com
Lara
DEUSA DO SILÊNCIO
e com
Seus
Afazeres
O Que Nós Sabemos Sobre LARA (não muito):
"Larunda (ou Larunde, Laranda, Lara) era uma Náiade ou ninfa, filha do rio Almo na Mitologia Romana. Ela era famosa tanto pela sua beleza como pela sua loquacidade - uma característica que os seus pais tentaram refrear. Ela era incapaz de guardar segredos, e assim revelou à esposa de Júpiter, Juno, o seu caso com Juturna (ninfa companheira de Larunda, e esposa de Janus). Por atraiçoar a sua confiança, Júpiter cortou a língua de Lara e ordenou a Mercúrio, o mensageiro, que a conduzisse a Averno, a entrada do Mundo Infernal e reino de Plutão. Mercúrio, no entanto, apaixonou-se por Larunda e fez amor com ela no caminho. Lara então tornou-se a mãe de duas crianças, conhecidas como Lares, deuses invisíveis guardiões dos lares. Contudo, ela teve que permanecer escondida numa casa nos bosques para que Júpiter não a encontrasse." wikipedia
"O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz."
(Aristóteles)
"O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute."
(Sabedoria oriental)
"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."
(Aristóteles)
"O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa."
(Platão)
"O Sábio cala ... a verdade por si fala"
(Ponto de Equilíbrio)
"As palavras não representam a coisa em si. Elas inicialmente eram metáforas para tentar comunicar ou indicar algo. Com a evolução da linguagem e sua crescente complexidade, foram criadas metáforas sobre metáforas, ficando cada vez mais abstratas até o ponto em que sua origem, a expressão da coisa em si, se perdeu completamente. Digamos que palavras são como o NX Zero, a cópia da cópia de recópia da tricópia." Timóteo Pinto
Mais sobre Menos:
Manifesto Clarifesto - Menos é Mais
por Reverenda subMarina
Eu não sei nada sobre as pessoas e isso é muito! E poucas pessoas sabem muito sobre outras pessoas, já que a maioria das pessoas pensa saber muito sobre as pessoas. Talvez saibam sobre uns e outros...Conhece a ti mesmo? Impossível se cada um é um universo, imagina conhecer outras pessoas, saber sobre outras pessoas? Poucas pessoas se conhecem, e eu me conheço muito pouco e isso é muito! Assim, dessa maneira, menos é mais e mais é menos! E eu não sei nada, ninguém sabe nada, o que é muito!Muitas pessoas pensam saber alguma coisa e saber alguma coisa é pouco comparado a não saber nada!"Tudo que sei é que nada sei" , só que eu nem sei o que é tudo, então eu nem sei o que é nada! Menos é mais!!! Então nada é tudo e tudo é nada...
Manifesto Clarifesto=Tudo é Nada?
fnord Tudo é Nada? Não saberemos nunca. Mas, e se eu souber? Como é que faço pra saber se sei? Então o "talvez" seja o "nunca" fnord disfarçado de probabilidade! E as probabilidades de eu saber nada sobre mim nunca serão reais, bem como verdadeiras, bem como saber tudo! Então "não sei" é o "sei" disfarçado de resposta! Ou de pergunta?
Salve Èris
Clarifesto Manifesto=Preço da Vaca
Então, de novo, o negócio é o seguinte: O preço da vaca é cento e vinte!(R$120,00)...Existem gnomos que costuram sua meia rasgada por bem menos e você não precisa ter uma vaca que custe R$120,00. Também existem fadas do dente que levam os dentes caídos por R$120,00, só que como poucas pessoas possuem dentes de ouro , e ou, com amálgamas de prata , então, dificilmente elas aparecem para comprar o seu dente...E por aí vai! O negócio é o seguinte: tenha uma vaca de cento e vinte que seus dentes ficarão na sua boca e suas meias sem rasgos...
Clarifesto Manifesto=23 anos
Eu queria ter 23 anos pra sempre! 2003 foi o ano da Multicabala Lispectoriana, porque esse número é o cabalístico erisiano...E eu que finjo...Enfim, como será que Èris se comunica com glândulas pineais em período de TPM? Na verdade o período de tensão pré-menstrual em garotas regidas por Éris se converte em Tentativa Pineal Magnânima (TPM)!!! Nesse período, garotas FNORDS têm sua comunicação expandida com a deusa e causam o caos em seus lares e adjacências...Quanto mais forte a TPM, mais regida por Èris é...Uma expansão do espectro super estendida chegando ao espectro gama ou nanomicrondas. E Èris nos fala através do sangue perdido:
"Eu sou uma cadeira e uma maçã e eu não me somo"
11:59(1½ horas atrás) Clarifesto Manifesto= 5 propostas
1. Se é cada um com seus problemas, então façamos um mercado de pulgas de problemas...A cada problema comprado garantimos uma plástica para aumentar a parte de trás da sua orelha
2. Vamos distribuir nossos problemas de graça e as pessoas que aceitarem os problemas, terão direito á 120 vacas ordenhadas por fadas ou gnomos...O leite será dourado , pois vacas ordenhadas por gnomos têm o leite coado e pasteurizado em meias de fio de ouro, que provêm dos dentes comprados pelas vacas...
3. De agora em diante tenho apenas 23 anos
4. “Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade” -Clarice Lispector
5. Menos é mais
Clarifesto Manifesto=Clarice Lispector
Clarice Lispector é nossa patrona gran sacerdotisa mor...não há o que dizer a não ser, MENOS É MAIS!
“Mas já que somos pouco e portanto só precisamos de pouco, por que então não nos basta o pouco? É que adivinhamos o prazer. Como cegos que tateiam, nós pressentimos o intenso prazer de viver.”
"Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer- nessa pequena luta por não perder a paciência e entrar no mundo maior- muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então eu vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho."
trilha sonora
mais sobre lara
e é só. mú
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Unindo o Hodge & o Podge
1 - delArismo sexy
“ Por fim amamos o desejo, e não o desejado.” - Nietzsche
faz todo o sentido, certo?
então sejamos sinceros, a título de experimento mergulhemos nesse delírio, na ficção desse desejo. se aparecer algo real não fictício - mas de natureza delirante fictícia, logo real - qual a natureza desse algo afinal?
"o nosso amor a gente inventa" - cazuza
(su)pe(i)[r]realidade)
paradoxos não são sexy, baby?
"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.
É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio acto em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois "amo-te" ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma."
[112 do Livro dos Desassossegos, Fernando Pessoa/B. Soares]
1.2 - Outras Relações
extrapolemos delirantemente esse exemplo incluindo toda e qualquer relação humana. perceba o quanto há de falso, fictício, irreal, surreal.
filosofias e religiões tentam sem sucesso estabelecer Rígidas Regras Morais Universais nessas relações, ignorando e reprimindo as minorias, o diferente, o excêntrico, o inadaptado, o esquisito, o ilegal, até mesmo o inovador (de suma importância à uma existência saudável & divertida).
o delarismo defende a multiplicidade de delírios. múltiplos paradigmas & semi-múltiplos paradigmas convivendo em um só indivíduo ou em um grupo. sendo assim ninguém, seja indivíduo ou grupo, tem o monopólio de um Delírio Salvador Universal Único.
"Felizmente nem tudo podemos apreender ou compreender através da lógica. Em todas as formas de arte, da música à dança, da literatura ao teatro, nem tudo é apenas técnica ou lógica. A emoção e o acaso também fazem parte da estrutura dessas atividades. Com a religião também não poderia ser diferente. Ela também tem seu lado lógico e racional, mas esta é apenas uma, talvez a menor, das várias facetas que possui."
- Timóteo Pinto, pós-pensador `patafísico
::::::::::::::::::::::::::::::::::::: "The feeling is amazing" :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Estratégia Delirante de conteúdo caótico para engajamento em redes sociais do Laboratório de Delariantismo Experimental do #thegame23:
acompanhe como (des)funciona-funcionando:
- quanto mais conteúdo da ConsPiração mais possibilidade de likes
- quando o possível agente fnord clica em like o robô do facebook apresenta para ele em sua timeline mais os conteúdos oriundos da fonte desses likes, no caso o conteúdo consPIRAtório desse grupo (entre e poste seu fnord para maior engajamento de todos os envolvidos). entre o conteúdo desse grupo estão os principais fnords vindos dos nossa rede da ConsPiração. seja também um colaborador consPIRAdor
- assim quanto mais fnords mais aumentaria a possibilidade de que aquilo que o agente está recebendo realmente lhe interessaria
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::: ::: ::: LinKaonia ::: ::: Cura para a Sanidade ::: ::: ::: ::: :::
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Você gostaria de experimentar gratuitamente e sem compromisso a Híper-Surrealidade Delirante da Confraria Secreta (não por que queremos, é porque ninguém liga muito pra gente) MultiCabalense dos Shimonianos Bonobistas Muito Confusos?
Você poderia perguntar: "Por que eu faria isso?"
eu responderia: "Boa pergunta!"
e perguntaria: "Por que não?"
Mergulhe em nossa Confusão, Peixe!
Você é um pouco mais consciente do que os outros?
Você odeia descobrir que algo que você gosta foi parar na tv?
Você não liga tanto se as suas meias combinam?
Você faz piadas inapropriadas frequentemente?
Você é um rádio fora de sintonia?
Um quadro abstrato? Uma música atonal? Um vídeo fora de foco? Uma metáfora muito ruim?
Se você respondeu sim ou não, então você pode ser um
DISCORDIANO MUITO CONFUSO EM POTENCIAL
E deveria ter sua glândula pineal examinada por um charlatão te cobrando uma taxa exorbitante.
O discordianismo latente é a causa número um de muitas condições comumente mal diagnosticadas.
Não deixe passar mais um dia sem saber se você, assim como possivelmente muitas outras pessoas no sistema solar, é afetado por esta terrível desordem!
Nós podemos te endireitar! Nosso método de três passos para a iluminação foi imaginado para trazer à tona resultados palpáveis em uma quantidade de tempo cosmicamente insignificante!
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Visite-nos nessas diferentes portas de entrada (uma para cada ponto de vista):
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LinKaonia
https://fnord.forumeiros.com/t254-linkaonia
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MultiCabala Discordiana Subgeniana Bela-Parrachiana Hihicronediana DeLariantiana SacoPlásticoana dos Shimonianos Metamorfoseanos Ambulantes Muito Confusos
http://discordiabrasilis.wordpress.com/
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Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano
https://partidointerestelar.wordpress.com/
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Seja Timóteo Pinto você também
http://timoteopinto.wordpress.com/
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S.H.I.M.O. Freakroned Funk - Bulldada, BunDada e Bonobismo Loucurista Shimoniano
http://freakronedfunk.tumblr.com/
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Antídoto para a Discordianice Oculta
Os Discordianos Ocultos estão em todos os lugares, espalhando negatividade em suas raras aparições. Aqui a presença de conteúdos dos Discordianos Frutíferos amenizam o cheiro de repolho quando há a presença deles.
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Arquivos da Discórdia Frutífera da MultiCabala F.O.D.A-S.E. | Folclórica Ordem dos Dadaístas Autônomos - A Seita Engraçadista de Discordian Memes By Santos Jo, Dark Night entre outr@s Papas e Papisas da KSTXI:
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- Escritos Sagrados da Discórdia Meta Híper-Surrealista Multi-Confusa
http://discordiabrasilis.wordpress.com/
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- Biblioteca `Patafísica do Discordianismo Pluri-Universal
https://fnord.forumeiros.com/t451-biblioteca-da-multicabala
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Grupos no Facebook:
- Laboratório de Delariantismo Experimental do #thegame23
https://www.facebook.com/groups/LinKaonia/
- Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano - MultiCabala Discordiana Subgeniana Bela-Parrachiana Hihicronediana DeLariantiana Saco-Plásticoana Bonoboniana dos Shimonianos Metamorfoseanos Ambulantes Muito Confusos - Multi-Universal Igreja Erisiana do 23ª Dia dos Illuminati Bávaros da POEE - Faculdade Parrachiana Psiconáutica Meu Pai Von Darsê Dançando Noise-Dub-Funk com Timóteo Pinto nas carrapetas no Centro de BunDada da KSTXI
https://www.facebook.com/groups/slackroned/
- Delírio Coletivo
https://www.facebook.com/groups/deliriocoletivo/
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Filie-se ao P.I.P.A. - Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano
e junte-se a nós na luta por uma Meta-Realidade Multi-Dimensional Pluri-Universal
- Página no Facebook
https://www.facebook.com/partidointerestelar
- Site Oficial
http://partidointerestelar.wordpress.com/
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Mergulhe na Confusão, Peixe!
Bulldada faz os fnords crescerem, e isso é Tudismocroned
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-> LinKaonia MultiCabalense <-
- mais uma produção Operação Mindfuck - Brasil
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Fnord News:
http://timoteopinto.wordpress.com/
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"Sem promoção, algo terrível acontece ... nada!" - P. T. Barnum
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Mergulhe na Confusão, Peixe!
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- Seja bem vindo ao Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta
Seja também Timóteo Pinto e/ou Sarah Gulik e/ou Lucretia Dalencourt e/ou Tae Ateh nos blogs da Rede Tudismocroned de Comunicação `Patafísica. Mande um email para minimalista(arroba)gmail.com com o assunto "Também quero ConsPirar na Rede Tudismocroned"
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- Seja bem vindo a BunDadaland. Estamos precisando de Papas. Você foi escolhido o Papa do Dia. Esperamos um sermão seu.
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Mande sua Poesia , seus Contos, seu Romance, seu Parabullum Discordia, seu Fnord e outra bulldada que você imaginar para o Cogito Fnord
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- Seja bem vindo à MultiCabala dos Delariantes Muito Confusos. Participe da Confusão. Aproveite para dar uma boa primeira impressão e nos confunda agora mesmo!
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Seja um agente da KSTXI
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- Seja bem vindo à Igreja Delariantista do 23º Dia, irmão! Fique à vontade e não se esqueça de espalhar a despalavra para seus amigos & parentes. Que Sheogorath esteja convosco!
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Filie-se ao P.I.P.A. (Partido Interestelar Parrachiano A(Narco)Zen-Discordiano)
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- Seja bem vindo ao Laboratório de Delariantismo Hiper-Bundadaísta Experimental. Colabore com a comunidade científica `patafísica, divulgue suas maravilhosas experiências com exceções.
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Faça sua própria edição do E-zine Discórdia Brasilis
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Fórum OMBR23 - Divulgações de Blogs, Cabalas, Projetos, Traduções, Etc:
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https://fnord.forumeiros.com/f11-operacao-mindfuck
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#thegame23 - the game that you make your own rules
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MultiCabalas de delArismo Slackronediano
pluri-comunidades divididas entre estados (alterados da consciência) para facilitar o Amor Louco entre seus membros & membras e a criação & destruição de delírios de variável prazo de validade:
- Grupo no Facebook
- blog tudismocroned
- Portal Multi-Dimensional
- esse fórum
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The (sur)realistic argument as a source of illuminated confusion
“We understand confusion, individual chaos and nonsense as the first moment of de-territorialization of the individual. Through this act, loaded with nonsense felling, comes the initial impulse of a pretended reaction full of meaning, answering by itself.” - Timóteo Pinto, ’pataphysician meta-discordian post-neoist thinker
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::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: Textos Sagrados ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
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Meaningness | Better ways of thinking, feeling, and acting—around problems of meaning: self, society, ethics, purpose, and value
“Nebulosity” means “cloud-like-ness.” Meaningness is cloud-like. It is real, but impossible to completely pin down.
Nebulosity is the key to understanding confusions about meaningness.
“Nebulosity” refers to the intangible, transient, amorphous, non-separable, ambiguous nature of meaningness.1
From a distance, clouds can look solid; close-up they are mere fog, which can even be so thin it becomes invisible when you enter it.
If you watch a cloud for a few minutes, it may change shape and size, or evaporate into nothing. But it is impossible to find an exact moment at which it ceases to exist.
Clouds often have vague boundaries and no particular shape.
It can be impossible to say where one cloud ends and another begins; whether two bits of cloud are connected or not; or to count the number of clouds in a section of the sky.
It can be impossible to say even whether there is a cloud in a particular place, or not.
Meanings behave in these ways, too."
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“When we meet somebody whose separate tunnel-reality is obviously far different from ours, we are a bit frightened and always disoriented. We tend to think they are mad, or that they are crooks trying to con us in some way, or that they are hoaxers playing a joke. Yet it is neurologically obvious that no two brains have the same genetically-programmed hard wiring, the same imprints, the same conditioning, the same learning experiences. We are all living in separate realities. That is why communication fails so often, and misunderstandings and resentments are so common. I say "meow" and you say "Bow-wow," and each of us is convinced the other is a bit dumb.”
― Robert Anton Wilson, Prometheus Rising
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Delírio Coletivo
por Fada Verde
Ao longo da história, a maioria dos movimentos literários e artísticos contradiziam o movimento anterior. O Renascimento foi contra tudo o que a Era Medieval disse, o Realismo negava os fundamentos do Romantismo e assim por diante.
Já o movimento Nonsense resolveu que não gostaria de contradizer o movimento anterior, no caso, o Modernismo e a Pop Art, o Nonsense quis negar absolutamente tudo e/ou não negar absolutamente nada.
Sob a máxima "Pra que fazer sentido!?", esse movimento cria uma contradição de tudo e dele mesmo, com raízes em todos os estilos literários e tendo por característica a abolição da linguagem figurada, nada mais era figurativo, tudo era real, e o que era real não existia, ou existia, ou o que quer que o leitor prefira.
O que aconteceu foi que no fim do século XX e começo do século XXI, com o fim da Guerra Fria, a ascensão dos EUA como maior força política e econômica do mundo, detendo um poder quase imperialista e com a estagnação de todo e qualquer movimento revolucionário, o mundo conheceu um período de conformismo em que qualquer coisa era uma revolução. Andar fantasiado, por exemplo, ou simplesmente usar um nariz de palhaço pela rua, já causava um grande choque por quebrar a monotonia cotidiana. O movimento DC, autor da obra Sofia, foi um dos primeiro a notar isso e adotar a idéia do Nonsense.
Da idéia para a prática foi um pulo. Embora no começo, apenas algumas pessoas tivessem adotado essa "revolução", assim como em qualquer outra já ocorrida, o clima e as idéias sem sentido foram tomando proporções mundiais e o mundo conheceu uma época maravilhosa, onde a espontaneidade e a imaginação tomaram conta de todos e tudo passou a ser fantástico e irreal. Chegou até a haver um certa desaceleração nas pesquisas cientificas, afinal não importava mais provar que pode-se dividir uma célula infinitamente.
Antes desse movimento, as pessoas buscavam uma explicação científica para tudo, mas depois ninguém mais queria a explicação lógica e inteligente. Todos perceberam que a fantasia era bem melhor, que cada um poderia formular sua própria teoria para qualquer coisa, todas as lendas sobre os "porquês" voltaram à tona e todos os povos buscavam as raízes de suas culturas para saber algo, quando não encontravam, criavam uma nova cultura.
Em meados da década de 10 do século XXI, o mundo já não fazia sentido algum. Viam-se pessoas fantasiadas, nas ruas, nos supermercados e até nos escritórios você encontrava pessoas vestidas de Pantera Cor-de-Rosa ou Smurffle.
As casas tinham pinturas psicodélicas e, às vezes, achavam-se florzinhas desenhadas no meio da rua.
Com a população nesse incrível estado de espírito, era natural que as artes também seguissem esse caminho.
Leis Absolutas do Delírio Coletivo
1ª Lei Absoluta
PATAFÍSICA- Tudo é decidido pela imaginação e não pela razão.
2ª Lei Não Absoluta
Não encher as caras aos domingos.
Quem quer fazer sentido?
A realidade é relativa;
A Fantasia é bem melhor;
Arte, Poesia e Loucura.
3ª Lei Absoluta
Usar LSD.
4ª Lei Absoluta
Enlouquecer a Política.
5ª Lei Absoluta
Nenhum tipo de censura.
Mandar as preposições e a gramática pro inferno!
6ª Lei Absoluta
O que fazer em casos de incêndio?
Deixe queimar!
7ª Lei Absoluta
Jogar uma garrafa de conhaque no Delírio Coletivo
8ª Lei Absoluta
DELIRAR.
9ª Lei Absoluta
Assassinar a monotonia causada pela razão.
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Loucura Lúcida
por Fada Verde
Não conseguir fugir da realidade significa um excesso de lucidez ou extrema loucura?
A resposta confirmaria minha tese poética-lunática, de que não só o excesso de lucidez leva a loucura como o excesso de loucura leva a lucidez.
Se minha realidade é na verdade uma ilusão, quando tento fugir dela, tento alcançar a realidade? Ou migro de ilusões em ilusões? Se as realidades são múltiplas a tentativa de alcançar a realidade única em que todos se enquadram seria uma farsa. Talvez todos vivam em suas respectivas ilusões, que criamos e recriamos. Se pertence a cada sujeito que a resolva viver, a realidade sim que é uma ilusão, a ilusão da ilusão. A ilusão é uma realidade. A realidade está fora ou dentro? do exterior ou do interior? O que faz pensar quantas realidades seriam possíveis. Infinitas. Nos casos que unem mais indivíduos, podemos denominar precisamente como o fenômeno do Delírio Coletivo.
Se produzimos a realidade ilusória, o que é loucura? Como são diversas as loucuras, digo, ilusões, realidades. A metafísica disso tudo é expressa pela loucura de Deus, o tal dançarino do qual falava Nietzsche, que nos criou a sua imagem e semelhança, como deuses de nossas próprias loucuras. Fato é que nelas podemos fazer o que quisermos dentro dos limites da loucura de Deus.
Dizem por ai, que o sóbrio é aquele que sabe distinguir a realidade da fantasia, mas o que dizer se somos máquinas de produzir fantasias? Certamente jamais será possível olhar um homem despido de seu imaginário. Ilusões sobrepostas numa translucidez aguda. Perceber que está iludido não significa que nos livramos da ilusão se ela é real. As ilusões/realidades se desdobram uma fora da outra. Se trancafiamos alguns de nós dentro das salas estofadas, é porque os condenamos pelo abuso da criatividade.
O excesso de lucidez, faz perceber a ilusão real, que se exacerbada leva a loucura originária. A loucura alucinatória se levada a extremos nos leva a realidade ilusória, que é a realidade possível.
“É grave doutor?!?”
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The Blessings of Sheogorath
For Our Lord Sheogorath, without Whom all Thought would be linear and all Feeling would be fleeting.
Blessed are the Madmen, for they hold the keys to secret knowledge.
Blessed are the Phobic, always wary of that which would do them harm.
Blessed are the Obsessed, for their courses are clear.
Blessed are the Addicts, may they quench the thirst that never ebbs.
Blessed are the Murderous, for they have found beauty in the grotesque.
Blessed are the Firelovers, for their hearts are always warm.
Blessed are the Artists, for in their hands the impossible is made real.
Blessed are the Musicians, for in their ears they hear the music of the soul.
Blessed are the Sleepless, as they bask in wakeful dreaming.
Blessed are the Paranoid, ever-watchful for our enemies.
Blessed are the Visionaries, for their eyes see what might be.
Blessed are the Painlovers, for in their suffering, we grow stronger.
Blessed is the Madgod, who tricks us when we are foolish, punishes us when we are wrong, tortures us when we are unmindful, and loves us in our imperfection.
via Unofficial Elder Scrolls Pages
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"Procurai não dizer que entendestes... A compreensão reside em não compreender... Para ti, essa compreensão é um obstáculo. É preciso escapar dela. Para alcançar o sentido profundo (mani) dissimulado "sob o véu das palavras", somente disponibilidade, ou receptividade não bastam: é necessário um esforço, uma atitude, primeiro passo que faz daquele que questiona - ou se questiona - um peregrino, no Caminho. A utilidade da palavra será portanto a de fazer-te procurar e a de iniciar-te; o que não quer dizer que a coisa que se busca seja obtida pela palavra: se fosse assim, não terias que fazer tanto esforço... A palavra é como algo que vês mover-se de longe: vais à sua procura para vê-la, mas não é por causa de seu movimento que a vês. A palavra do homem, sob seu aspecto oculto, é algo como: ela te faz buscar o sentido, embora na realidade não o vejas".
- Rumi
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Larismo
por woouvhaox
Nós
somos uma tribo
de eremitas, solitários,
introvertidos, monges,
mudos, lacônicos,
e maníacos afins
que estão intrigados
com
Lara
DEUSA DO SILÊNCIO
e com
Seus
Afazeres
O Que Nós Sabemos Sobre LARA (não muito):
"Larunda (ou Larunde, Laranda, Lara) era uma Náiade ou ninfa, filha do rio Almo na Mitologia Romana. Ela era famosa tanto pela sua beleza como pela sua loquacidade - uma característica que os seus pais tentaram refrear. Ela era incapaz de guardar segredos, e assim revelou à esposa de Júpiter, Juno, o seu caso com Juturna (ninfa companheira de Larunda, e esposa de Janus). Por atraiçoar a sua confiança, Júpiter cortou a língua de Lara e ordenou a Mercúrio, o mensageiro, que a conduzisse a Averno, a entrada do Mundo Infernal e reino de Plutão. Mercúrio, no entanto, apaixonou-se por Larunda e fez amor com ela no caminho. Lara então tornou-se a mãe de duas crianças, conhecidas como Lares, deuses invisíveis guardiões dos lares. Contudo, ela teve que permanecer escondida numa casa nos bosques para que Júpiter não a encontrasse." wikipedia
"O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz."
(Aristóteles)
"O homem comum fala, o sábio escuta, o tolo discute."
(Sabedoria oriental)
"O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete."
(Aristóteles)
"O sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque tem que dizer alguma coisa."
(Platão)
"O Sábio cala ... a verdade por si fala"
(Ponto de Equilíbrio)
"As palavras não representam a coisa em si. Elas inicialmente eram metáforas para tentar comunicar ou indicar algo. Com a evolução da linguagem e sua crescente complexidade, foram criadas metáforas sobre metáforas, ficando cada vez mais abstratas até o ponto em que sua origem, a expressão da coisa em si, se perdeu completamente. Digamos que palavras são como o NX Zero, a cópia da cópia de recópia da tricópia." Timóteo Pinto
Mais sobre Menos:
Manifesto Clarifesto - Menos é Mais
por Reverenda subMarina
Eu não sei nada sobre as pessoas e isso é muito! E poucas pessoas sabem muito sobre outras pessoas, já que a maioria das pessoas pensa saber muito sobre as pessoas. Talvez saibam sobre uns e outros...Conhece a ti mesmo? Impossível se cada um é um universo, imagina conhecer outras pessoas, saber sobre outras pessoas? Poucas pessoas se conhecem, e eu me conheço muito pouco e isso é muito! Assim, dessa maneira, menos é mais e mais é menos! E eu não sei nada, ninguém sabe nada, o que é muito!Muitas pessoas pensam saber alguma coisa e saber alguma coisa é pouco comparado a não saber nada!"Tudo que sei é que nada sei" , só que eu nem sei o que é tudo, então eu nem sei o que é nada! Menos é mais!!! Então nada é tudo e tudo é nada...
Manifesto Clarifesto=Tudo é Nada?
fnord Tudo é Nada? Não saberemos nunca. Mas, e se eu souber? Como é que faço pra saber se sei? Então o "talvez" seja o "nunca" fnord disfarçado de probabilidade! E as probabilidades de eu saber nada sobre mim nunca serão reais, bem como verdadeiras, bem como saber tudo! Então "não sei" é o "sei" disfarçado de resposta! Ou de pergunta?
Salve Èris
Clarifesto Manifesto=Preço da Vaca
Então, de novo, o negócio é o seguinte: O preço da vaca é cento e vinte!(R$120,00)...Existem gnomos que costuram sua meia rasgada por bem menos e você não precisa ter uma vaca que custe R$120,00. Também existem fadas do dente que levam os dentes caídos por R$120,00, só que como poucas pessoas possuem dentes de ouro , e ou, com amálgamas de prata , então, dificilmente elas aparecem para comprar o seu dente...E por aí vai! O negócio é o seguinte: tenha uma vaca de cento e vinte que seus dentes ficarão na sua boca e suas meias sem rasgos...
Clarifesto Manifesto=23 anos
Eu queria ter 23 anos pra sempre! 2003 foi o ano da Multicabala Lispectoriana, porque esse número é o cabalístico erisiano...E eu que finjo...Enfim, como será que Èris se comunica com glândulas pineais em período de TPM? Na verdade o período de tensão pré-menstrual em garotas regidas por Éris se converte em Tentativa Pineal Magnânima (TPM)!!! Nesse período, garotas FNORDS têm sua comunicação expandida com a deusa e causam o caos em seus lares e adjacências...Quanto mais forte a TPM, mais regida por Èris é...Uma expansão do espectro super estendida chegando ao espectro gama ou nanomicrondas. E Èris nos fala através do sangue perdido:
"Eu sou uma cadeira e uma maçã e eu não me somo"
11:59(1½ horas atrás) Clarifesto Manifesto= 5 propostas
1. Se é cada um com seus problemas, então façamos um mercado de pulgas de problemas...A cada problema comprado garantimos uma plástica para aumentar a parte de trás da sua orelha
2. Vamos distribuir nossos problemas de graça e as pessoas que aceitarem os problemas, terão direito á 120 vacas ordenhadas por fadas ou gnomos...O leite será dourado , pois vacas ordenhadas por gnomos têm o leite coado e pasteurizado em meias de fio de ouro, que provêm dos dentes comprados pelas vacas...
3. De agora em diante tenho apenas 23 anos
4. “Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade” -Clarice Lispector
5. Menos é mais
Clarifesto Manifesto=Clarice Lispector
Clarice Lispector é nossa patrona gran sacerdotisa mor...não há o que dizer a não ser, MENOS É MAIS!
“Mas já que somos pouco e portanto só precisamos de pouco, por que então não nos basta o pouco? É que adivinhamos o prazer. Como cegos que tateiam, nós pressentimos o intenso prazer de viver.”
"Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria. Muitas vezes antes de adormecer- nessa pequena luta por não perder a paciência e entrar no mundo maior- muitas vezes, antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão e então eu vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então eu sonho."
trilha sonora
mais sobre lara
e é só. mú
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Unindo o Hodge & o Podge
1 - delArismo sexy
“ Por fim amamos o desejo, e não o desejado.” - Nietzsche
faz todo o sentido, certo?
então sejamos sinceros, a título de experimento mergulhemos nesse delírio, na ficção desse desejo. se aparecer algo real não fictício - mas de natureza delirante fictícia, logo real - qual a natureza desse algo afinal?
"o nosso amor a gente inventa" - cazuza
(su)pe(i)[r]realidade)
paradoxos não são sexy, baby?
"Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém.
É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio acto em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois "amo-te" ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma."
[112 do Livro dos Desassossegos, Fernando Pessoa/B. Soares]
1.2 - Outras Relações
extrapolemos delirantemente esse exemplo incluindo toda e qualquer relação humana. perceba o quanto há de falso, fictício, irreal, surreal.
filosofias e religiões tentam sem sucesso estabelecer Rígidas Regras Morais Universais nessas relações, ignorando e reprimindo as minorias, o diferente, o excêntrico, o inadaptado, o esquisito, o ilegal, até mesmo o inovador (de suma importância à uma existência saudável & divertida).
o delarismo defende a multiplicidade de delírios. múltiplos paradigmas & semi-múltiplos paradigmas convivendo em um só indivíduo ou em um grupo. sendo assim ninguém, seja indivíduo ou grupo, tem o monopólio de um Delírio Salvador Universal Único.
"Felizmente nem tudo podemos apreender ou compreender através da lógica. Em todas as formas de arte, da música à dança, da literatura ao teatro, nem tudo é apenas técnica ou lógica. A emoção e o acaso também fazem parte da estrutura dessas atividades. Com a religião também não poderia ser diferente. Ela também tem seu lado lógico e racional, mas esta é apenas uma, talvez a menor, das várias facetas que possui."
- Timóteo Pinto, pós-pensador `patafísico
::::::::::::::::::::::::::::::::::::: "The feeling is amazing" :::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Estratégia Delirante de conteúdo caótico para engajamento em redes sociais do Laboratório de Delariantismo Experimental do #thegame23:
acompanhe como (des)funciona-funcionando:
- quanto mais conteúdo da ConsPiração mais possibilidade de likes
- quando o possível agente fnord clica em like o robô do facebook apresenta para ele em sua timeline mais os conteúdos oriundos da fonte desses likes, no caso o conteúdo consPIRAtório desse grupo (entre e poste seu fnord para maior engajamento de todos os envolvidos). entre o conteúdo desse grupo estão os principais fnords vindos dos nossa rede da ConsPiração. seja também um colaborador consPIRAdor
- assim quanto mais fnords mais aumentaria a possibilidade de que aquilo que o agente está recebendo realmente lhe interessaria
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::: ::: ::: LinKaonia ::: ::: Cura para a Sanidade ::: ::: ::: ::: :::
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Você gostaria de experimentar gratuitamente e sem compromisso a Híper-Surrealidade Delirante da Confraria Secreta (não por que queremos, é porque ninguém liga muito pra gente) MultiCabalense dos Shimonianos Bonobistas Muito Confusos?
Você poderia perguntar: "Por que eu faria isso?"
eu responderia: "Boa pergunta!"
e perguntaria: "Por que não?"
Mergulhe em nossa Confusão, Peixe!
Você é um pouco mais consciente do que os outros?
Você odeia descobrir que algo que você gosta foi parar na tv?
Você não liga tanto se as suas meias combinam?
Você faz piadas inapropriadas frequentemente?
Você é um rádio fora de sintonia?
Um quadro abstrato? Uma música atonal? Um vídeo fora de foco? Uma metáfora muito ruim?
Se você respondeu sim ou não, então você pode ser um
DISCORDIANO MUITO CONFUSO EM POTENCIAL
E deveria ter sua glândula pineal examinada por um charlatão te cobrando uma taxa exorbitante.
O discordianismo latente é a causa número um de muitas condições comumente mal diagnosticadas.
Não deixe passar mais um dia sem saber se você, assim como possivelmente muitas outras pessoas no sistema solar, é afetado por esta terrível desordem!
Nós podemos te endireitar! Nosso método de três passos para a iluminação foi imaginado para trazer à tona resultados palpáveis em uma quantidade de tempo cosmicamente insignificante!
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Visite-nos nessas diferentes portas de entrada (uma para cada ponto de vista):
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LinKaonia
https://fnord.forumeiros.com/t254-linkaonia
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MultiCabala Discordiana Subgeniana Bela-Parrachiana Hihicronediana DeLariantiana SacoPlásticoana dos Shimonianos Metamorfoseanos Ambulantes Muito Confusos
http://discordiabrasilis.wordpress.com/
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Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano
https://partidointerestelar.wordpress.com/
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Seja Timóteo Pinto você também
http://timoteopinto.wordpress.com/
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S.H.I.M.O. Freakroned Funk - Bulldada, BunDada e Bonobismo Loucurista Shimoniano
http://freakronedfunk.tumblr.com/
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Antídoto para a Discordianice Oculta
Os Discordianos Ocultos estão em todos os lugares, espalhando negatividade em suas raras aparições. Aqui a presença de conteúdos dos Discordianos Frutíferos amenizam o cheiro de repolho quando há a presença deles.
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Arquivos da Discórdia Frutífera da MultiCabala F.O.D.A-S.E. | Folclórica Ordem dos Dadaístas Autônomos - A Seita Engraçadista de Discordian Memes By Santos Jo, Dark Night entre outr@s Papas e Papisas da KSTXI:
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- Escritos Sagrados da Discórdia Meta Híper-Surrealista Multi-Confusa
http://discordiabrasilis.wordpress.com/
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- Biblioteca `Patafísica do Discordianismo Pluri-Universal
https://fnord.forumeiros.com/t451-biblioteca-da-multicabala
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Grupos no Facebook:
- Laboratório de Delariantismo Experimental do #thegame23
https://www.facebook.com/groups/LinKaonia/
- Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano - MultiCabala Discordiana Subgeniana Bela-Parrachiana Hihicronediana DeLariantiana Saco-Plásticoana Bonoboniana dos Shimonianos Metamorfoseanos Ambulantes Muito Confusos - Multi-Universal Igreja Erisiana do 23ª Dia dos Illuminati Bávaros da POEE - Faculdade Parrachiana Psiconáutica Meu Pai Von Darsê Dançando Noise-Dub-Funk com Timóteo Pinto nas carrapetas no Centro de BunDada da KSTXI
https://www.facebook.com/groups/slackroned/
- Delírio Coletivo
https://www.facebook.com/groups/deliriocoletivo/
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Filie-se ao P.I.P.A. - Partido Interestelar Parrachiano (A)Narco-zenDiscordiano
e junte-se a nós na luta por uma Meta-Realidade Multi-Dimensional Pluri-Universal
- Página no Facebook
https://www.facebook.com/partidointerestelar
- Site Oficial
http://partidointerestelar.wordpress.com/
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Mergulhe na Confusão, Peixe!
Bulldada faz os fnords crescerem, e isso é Tudismocroned
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-> LinKaonia MultiCabalense <-
- mais uma produção Operação Mindfuck - Brasil
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Fnord News:
http://timoteopinto.wordpress.com/
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"Sem promoção, algo terrível acontece ... nada!" - P. T. Barnum
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Mergulhe na Confusão, Peixe!
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- Seja bem vindo ao Clube dos Corações Solitários do Sargento Pimenta
Seja também Timóteo Pinto e/ou Sarah Gulik e/ou Lucretia Dalencourt e/ou Tae Ateh nos blogs da Rede Tudismocroned de Comunicação `Patafísica. Mande um email para minimalista(arroba)gmail.com com o assunto "Também quero ConsPirar na Rede Tudismocroned"
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- Seja bem vindo a BunDadaland. Estamos precisando de Papas. Você foi escolhido o Papa do Dia. Esperamos um sermão seu.
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Mande sua Poesia , seus Contos, seu Romance, seu Parabullum Discordia, seu Fnord e outra bulldada que você imaginar para o Cogito Fnord
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- Seja bem vindo à MultiCabala dos Delariantes Muito Confusos. Participe da Confusão. Aproveite para dar uma boa primeira impressão e nos confunda agora mesmo!
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Seja um agente da KSTXI
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- Seja bem vindo à Igreja Delariantista do 23º Dia, irmão! Fique à vontade e não se esqueça de espalhar a despalavra para seus amigos & parentes. Que Sheogorath esteja convosco!
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Filie-se ao P.I.P.A. (Partido Interestelar Parrachiano A(Narco)Zen-Discordiano)
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- Seja bem vindo ao Laboratório de Delariantismo Hiper-Bundadaísta Experimental. Colabore com a comunidade científica `patafísica, divulgue suas maravilhosas experiências com exceções.
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Faça sua própria edição do E-zine Discórdia Brasilis
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Fórum OMBR23 - Divulgações de Blogs, Cabalas, Projetos, Traduções, Etc:
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https://fnord.forumeiros.com/f11-operacao-mindfuck
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#thegame23 - the game that you make your own rules
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MultiCabalas de delArismo Slackronediano
pluri-comunidades divididas entre estados (alterados da consciência) para facilitar o Amor Louco entre seus membros & membras e a criação & destruição de delírios de variável prazo de validade:
- Grupo no Facebook
- blog tudismocroned
- Portal Multi-Dimensional
- esse fórum
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->:-:=:+<-
Last edited by wodouvhaox on Mon Aug 17, 2020 3:58 pm; edited 88 times in total
Re: ::: delArismo :::
Eu tenho uma coisa a acrescentar. Tenho um dicionário muito velho, furtado à biblioteca do CMS nos idos de 97 ou 98, de mitologia greco-latina, por Tassilo Orpheu Spalding e publicado pela Itatiaia. Depois que eu o tomei para mim ele ficou muito muito muito mais velho acabadiço porque eu o folheio frequentemente.
A definição que ele tem pra Lara é muito semelhante à que wodouvhaoxinho coloca, mas a de Lares, e a de Larunda também, difere um pouco.
primeiro Larunda - Divindade que presidia à ceifa. Alguns a fazem mãe dos Lares.
LARES - Deuses domésticos, guardas e protetores de cada casa e de cada família. Originariamente havia somente dois, os filhos da Ninfa Lara e de Mercúrio. Mas com o decorrer do tempo seu número cresceu extraordinariamente, e cada casa tinha seus Lares particulares. Representavam-nos sob a figura de pequenos bonecos de prata, marfim, madeira ou outro qualquer material. A gente do povo colocava estas figurinhas nos vestíbulos; as famílias de posse e de prestígio expunham-nos num oratório chamado Larário. Além dos Lares das casas residenciais, que se chamavam familiares, havia os Lares da cidade (urbani), os das encruzilhadas (compitales - ou, na Bahia, Exus mesmo), os dos caminhos (viales), os dos campos (rurales); aqueles que tinham a seu cargo afastar o inimigo chamavam-se hostiles; aqueles que socorriam nas conjunturas difíceis tinham o nome de praestites; e aqueles aos quais os navios estavam confiados eram conhecidos pela denominação de marini. Os doze grandes deuses e Harpócrate, o deus do silêncio, faziam parte do número dos Lares (). Tinham, em Roma, um templo no campo de Marte. A vítima que se oferecia aos Lares, quando se tratava de um sacrifício público, era um porco; nos sacrifícios particulares, porém, não se ofereciam vítimas sangrentas; leite, frutos, flores, incenso e um pouco de tudo que se servia nas mesas formavam as oferendas habituais aos deuses Lares. Chamava-se Lar familiaris o primeiro avoengo, o tronco inicial da família, o seu fundador; tornava-se este um deus protetor. De forma geral, Lares eram as almas dos defuntos que, se lhes prestassem as homenagens e os cultos prescritos, presidiam ao bem estar geral da família a que tinham pertencido quando vivos. Frequentemente confundem os Penates com os Lares. Cada habitação familiar tinha um Lare e dois Penates. O Lare que, conforme a expressão de Ênio, "cuida de tudo que diz respeito à casa", formava, com os Penates, uma trilogia subordinada a Vesta. Alguns autores acreditam que o Lare, na sua origem era um espírito infernal (conforme seu parentesco com a Larva, "fantasma" ou "espectro") que perseguia os vivos; com o decorrer do tempo, transformaram-no em divindade tutelar.
Agora vamos ao que ele entende por deus do silêncio:
HARPÓCRATE - Deus do silêncio. É de origem egípcia, filho de Ísis e de Osíris (). Alguns o confundem com Hórus. Na Grécia e em Roma sua estátua era colocada à entrada dos templos, como significando que os deuses devem ser adorados com o silêncio e em silêncio. Nos sinetes antigos, sempre havia uma efígie de Harpócrate, o que valia dizer que se deve guardar o segredo das cartas. Era figurado sob os traços de um jovem nu ou vestido de um manto flutuante, com a mitra na cabeça; às vezes, em lugar da mitra punham um cesto. Nas mãos tinha tanto a cornucópia quanto uma flor de loto ou um carcaz. O símbolo que sobretudo o distingue é o dedo sobre os lábios. Ao seu lado, não raro, encontra-se a coruja. Afirma Plutarco que o pessegueiro lhe era consagrado por duas razões: a folha do pessegueiro tem a forma de uma língua e o seu fruto, a do coração; a língua e o coração devem sempre estar de acordo.
Que sexy. Eu te pego, Joice. Ops, as pessoas que não são da Bahia nem andam por Salvador não entenderão. O que eu quero dizer é: eu te pego, Harpócrate.
Esse texto comprido e meio confuso a respeito dos Lares me chamou atenção pela história dos olimpianos; porque os doze grandes deuses devem ser os do Olimpo, aí inclusos papai e titia malvada que mandou cortar a língua de mamãe!
Haja habilidade para fazer das coisas um caruru absoluto, e transformar um par de irmãos numa legião infindável de deidades, com elementos de loop temporal dignos de lost.
zöl
A definição que ele tem pra Lara é muito semelhante à que wodouvhaoxinho coloca, mas a de Lares, e a de Larunda também, difere um pouco.
primeiro Larunda - Divindade que presidia à ceifa. Alguns a fazem mãe dos Lares.
LARES - Deuses domésticos, guardas e protetores de cada casa e de cada família. Originariamente havia somente dois, os filhos da Ninfa Lara e de Mercúrio. Mas com o decorrer do tempo seu número cresceu extraordinariamente, e cada casa tinha seus Lares particulares. Representavam-nos sob a figura de pequenos bonecos de prata, marfim, madeira ou outro qualquer material. A gente do povo colocava estas figurinhas nos vestíbulos; as famílias de posse e de prestígio expunham-nos num oratório chamado Larário. Além dos Lares das casas residenciais, que se chamavam familiares, havia os Lares da cidade (urbani), os das encruzilhadas (compitales - ou, na Bahia, Exus mesmo), os dos caminhos (viales), os dos campos (rurales); aqueles que tinham a seu cargo afastar o inimigo chamavam-se hostiles; aqueles que socorriam nas conjunturas difíceis tinham o nome de praestites; e aqueles aos quais os navios estavam confiados eram conhecidos pela denominação de marini. Os doze grandes deuses e Harpócrate, o deus do silêncio, faziam parte do número dos Lares (). Tinham, em Roma, um templo no campo de Marte. A vítima que se oferecia aos Lares, quando se tratava de um sacrifício público, era um porco; nos sacrifícios particulares, porém, não se ofereciam vítimas sangrentas; leite, frutos, flores, incenso e um pouco de tudo que se servia nas mesas formavam as oferendas habituais aos deuses Lares. Chamava-se Lar familiaris o primeiro avoengo, o tronco inicial da família, o seu fundador; tornava-se este um deus protetor. De forma geral, Lares eram as almas dos defuntos que, se lhes prestassem as homenagens e os cultos prescritos, presidiam ao bem estar geral da família a que tinham pertencido quando vivos. Frequentemente confundem os Penates com os Lares. Cada habitação familiar tinha um Lare e dois Penates. O Lare que, conforme a expressão de Ênio, "cuida de tudo que diz respeito à casa", formava, com os Penates, uma trilogia subordinada a Vesta. Alguns autores acreditam que o Lare, na sua origem era um espírito infernal (conforme seu parentesco com a Larva, "fantasma" ou "espectro") que perseguia os vivos; com o decorrer do tempo, transformaram-no em divindade tutelar.
Agora vamos ao que ele entende por deus do silêncio:
HARPÓCRATE - Deus do silêncio. É de origem egípcia, filho de Ísis e de Osíris (). Alguns o confundem com Hórus. Na Grécia e em Roma sua estátua era colocada à entrada dos templos, como significando que os deuses devem ser adorados com o silêncio e em silêncio. Nos sinetes antigos, sempre havia uma efígie de Harpócrate, o que valia dizer que se deve guardar o segredo das cartas. Era figurado sob os traços de um jovem nu ou vestido de um manto flutuante, com a mitra na cabeça; às vezes, em lugar da mitra punham um cesto. Nas mãos tinha tanto a cornucópia quanto uma flor de loto ou um carcaz. O símbolo que sobretudo o distingue é o dedo sobre os lábios. Ao seu lado, não raro, encontra-se a coruja. Afirma Plutarco que o pessegueiro lhe era consagrado por duas razões: a folha do pessegueiro tem a forma de uma língua e o seu fruto, a do coração; a língua e o coração devem sempre estar de acordo.
Que sexy. Eu te pego, Joice. Ops, as pessoas que não são da Bahia nem andam por Salvador não entenderão. O que eu quero dizer é: eu te pego, Harpócrate.
Esse texto comprido e meio confuso a respeito dos Lares me chamou atenção pela história dos olimpianos; porque os doze grandes deuses devem ser os do Olimpo, aí inclusos papai e titia malvada que mandou cortar a língua de mamãe!
Haja habilidade para fazer das coisas um caruru absoluto, e transformar um par de irmãos numa legião infindável de deidades, com elementos de loop temporal dignos de lost.
zöl
salix- Mensagens : 3
Data de inscrição : 2008-11-12
Re: ::: delArismo :::
Imagem Sagrada do DelArismo. contemplem e meditem:
Last edited by wodouvhaox on Tue Jan 13, 2015 9:30 am; edited 1 time in total
Re: ::: delArismo :::
Frase canonizada pelo Sacerdote Wodouvhaox da Igreja Delariantista do 23º Dia:
"Quem procura pêlo em ovo acha que tudo é um saco." Edson Aran
"Quem procura pêlo em ovo acha que tudo é um saco." Edson Aran
Re: ::: delArismo :::
:::
Salvador Dalí, santo de primeira classe do Delarismo:
"um dia terá que ser admitido oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão até maior do que o mundo dos sonhos"
:::
"Se te falo, adapto instintivamente frases a um sentido que me esqueço de ter."
"Reconhecer a realidade como uma forma de ilusão, e a ilusão como forma de realidade, é igualmente necessário e igualmente inútil."
- Fernando Pessoa, Papa Delariantiano
:::
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“The fish trap exists because of the fish. Once you’ve gotten the fish you can forget the trap. The rabbit snare exists because of the rabbit. Once you’ve gotten the rabbit, you can forget the snare. Words exist because of meaning. Once you’ve gotten the meaning, you can forget the words. Where can I find a man who has forgotten words so I can talk with him?” - Chuang Tzu
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
O Pivô
Texto de Chuang Tzu (*)
O Tao se obscurece quando os homens compreendem
apenas um, dentre um par de opostos, ou se concentram
apenas num aspecto parcial do ser. E, depois, a expressão
clara perde-se no mero jogo de palavras, afirmando este
aspecto, e negando todos os outros.
Daí a polêmica entre os Confucianos e os Moístas, cada qual
negando o que o outro afirma, e afirmando o que o outro
nega. Qual a vantagem dessa polêmica, de colocar o «Não»
contra o «Sim», e o «Sim» contra o «Não»? O melhor é
desistir desse esforço inútil e procurar a verdadeira luz!
Nada há que não possa ser contemplado do ponto de vista
do «Não-Eu». E nada há que não possa ser contemplado do
ponto de vista do «Eu». Se começo por olhar qualquer coisa
do ponto de vista do «Não-Eu», não a vejo, realmente,
porque é o «Não-Eu» que vê. Se começo de onde estou, e
vejo-a como eu vejo, pode suceder então que a veja como o
outro a vê.
Como quer que isso aconteça, a vida é seguida da morte; a
morte é seguida da vida. O possível torna-se impossível; o
impossível, possível. O certo torna-se errado, e o errado,
certo… O fluxo vital altera as circunstâncias e, assim, as
coisas por si mesmas alteram-se, por sua vez. Mas os
polemistas continuam a afirmar e a negar as mesmas coisas
que sempre afirmaram e negaram, ignorando os novos
aspectos da realidade apresentada pela mudança de
condições.
O sábio, portanto, em vez de tentar provar este ou aquele
ponto pela disputa lógica, vê todas as coisas à luz da intuição
direta. Não se prende aos limites do «Eu», pois o ponto de
vista da intuição direta é tanto o «Eu» como o «Não-Eu». Daí
ele nota que, tanto de um como de outro lado de cada
argumento, há o certo e o errado. Também vê que, no final,
eles se reduzem à mesma coisa, uma vez que estão
relacionados com o pivô do Tao.
Quando o sábio se apodera deste pivô, ele está no centro do
círculo, e lá fica enquanto o «Sim» e o «Não» perseguem-se
um ao outro, em torno da circunferência.
O pivô do Tao passa pelo centro para onde convergem todas
as afirmações e todas as negações. Todo aquele que se
apoderar do pivô, coloca-se no ponto-morto de onde podem
ser vistos todos os movimentos e oposições, em sua correta
interdependência. Por conseguinte, ele vê as possibilidades
ilimitadas, tanto do «Sim», como do «Não». Quando
abandona toda idéia de impor limites ou de tomar partidos,
repousa na intuição direta. Portanto, é como eu dissera
antes: «É melhor desistir das discussões e procurar a
verdadeira luz!»
(*) Chuang Tzu foi um grande filósofo taoísta do Séc. IV a.C. (e declarado santo no Delarismo)
Fonte: Sabedoria do Tao no TdC
:::
:::
A Arte Dionisíaca
Abaixo se encontram reproduzidos os dois parágrafos finais do capítulo 7 do primeiro livro de Nietzsche, O Nascimento da Tragédia, no qual o filósofo desenvolve seus pensamentos sobre a Estética.
"A convulsão do estado dionisíaco, com a sua destruição das habituais barreiras e limites da existência, contém nomeadamente enquanto dura um elemento letárgico, no qual mergulha toda a vivência pessoal do passado. Assim se apartam, através desta clivagem de esquecimento, o mundo da realidade quotidiana e o da realidade dionisíaca. Mas logo que aquela realidade quotidiana se torna de novo consciente, ela é sentida com asco como tal; uma disposição ascética, negadora da vontade, é o fruto daqueles estados. Neste sentido, o homem dionisíaco assemelha-se a Hamlet: ambos lançaram um olhar verdadeiro para a essência das coisas e eles sentem como ridículo ou humilhante que lhes seja imposta a reordenação de um mundo saído dos eixos. O conhecimento mata o agir, requerendo este um envolvimento pelo véu da ilusão – esta é a lição de Hamlet, não aquela sabedoria barata do João-que-sonha, que não chega a agir por um excesso de reflexão, como se se tratasse de um excedente de possibilidades; não o refletir, não! – o verdadeiro conhecimento, o olhar para dentro da tremenda verdade, torna-se preponderante em relação a qualquer motivo que incite a agir, tanto em Hamlet como no homem dionisíaco. Agora já nenhuma consolação resulta, a nostalgia passa para além de um mundo depois da morte, para além dos próprios deuses; a existência vê-se negada, juntamente com o seu fulgurante reflexo nos deuses ou num Além imortal. Consciente da verdade uma vez contemplada, o ser humano vê então por toda a parte apenas o lado horrível ou absurdo do ser, entendendo agora a dimensão simbólica do destino de Ofélia, reconhecendo agora a sabedoria do deus da floresta Sileno: sente repugnância.
Aqui, neste supremo risco da vontade, aproxima-se a arte, tal feiticeira redentora com poderes curativos: só ela pode transformar aquela idéia de repugnâncias sobre os aspectos horríveis ou absurdos da existência em representações, com as quais se tornara possível viver: estas constituem o sublime, enquanto dominação artística do horrível, e o cômico, enquanto descarga artística da repugnância pelo absurdo. O coro dos sátiros do ditirambo é a ação redentora da arte grega; no mundo mediador destes acompanhantes dionisíacos, esgotam-se aquelas convulsões anteriormente descritas."
Friedrich Nietzsche.
fonte: O Pavão Branco
:::
Maturidade e imaturidade
Osho
Pensar que você sabe é ser imaturo. Funcionar a partir do conhecimento, da conclusão, é ser imaturo. Funcionar a partir do não-conhecimento, da não-conclusão, do não-passado é maturidade.
A maturidade é a confiança profunda em sua consciência; a imaturidade é a desconfiança em sua consciência. Quando você desconfia de sua consciência, confia no conhecimento, mas este é um substituto muito fraco. Tente compreender isso — é importante.
Em sua vida, você tem experimentado muitas coisas; tem lido, escutado, pensado. Agora, todas essas conclusões estão aí. Diante de determinadas situações, você pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar por meio de todo o passado acumulado, de acordo com ele — é o que eu chamo de funcionar através de um centro, de conclusões, da experiência banal, morta —, e, não importa o que você faça, sua resposta nunca será de fato uma resposta, e sim uma reação. Ser reacionário é ser imaturo.
Ou, se você funcionar agora, neste momento, por meio de sua consciência, de sua percepção, deixando de lado tudo que sabe - o que eu chamo de funcionar através do não-conhecimento —, estará funcionando por meio da inocência. Isso é maturidade.
:::
"...todas essas coisas são coisas velhas, a interpretação, a tentativa de buscar significados, todas essas coisas são superadas, na realidade, tudo o que resta é a grande invenção." - Hélio Oiticica
:::
Salvador Dalí, santo de primeira classe do Delarismo:
"um dia terá que ser admitido oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão até maior do que o mundo dos sonhos"
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"Se te falo, adapto instintivamente frases a um sentido que me esqueço de ter."
"Reconhecer a realidade como uma forma de ilusão, e a ilusão como forma de realidade, é igualmente necessário e igualmente inútil."
- Fernando Pessoa, Papa Delariantiano
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“The fish trap exists because of the fish. Once you’ve gotten the fish you can forget the trap. The rabbit snare exists because of the rabbit. Once you’ve gotten the rabbit, you can forget the snare. Words exist because of meaning. Once you’ve gotten the meaning, you can forget the words. Where can I find a man who has forgotten words so I can talk with him?” - Chuang Tzu
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O Pivô
Texto de Chuang Tzu (*)
O Tao se obscurece quando os homens compreendem
apenas um, dentre um par de opostos, ou se concentram
apenas num aspecto parcial do ser. E, depois, a expressão
clara perde-se no mero jogo de palavras, afirmando este
aspecto, e negando todos os outros.
Daí a polêmica entre os Confucianos e os Moístas, cada qual
negando o que o outro afirma, e afirmando o que o outro
nega. Qual a vantagem dessa polêmica, de colocar o «Não»
contra o «Sim», e o «Sim» contra o «Não»? O melhor é
desistir desse esforço inútil e procurar a verdadeira luz!
Nada há que não possa ser contemplado do ponto de vista
do «Não-Eu». E nada há que não possa ser contemplado do
ponto de vista do «Eu». Se começo por olhar qualquer coisa
do ponto de vista do «Não-Eu», não a vejo, realmente,
porque é o «Não-Eu» que vê. Se começo de onde estou, e
vejo-a como eu vejo, pode suceder então que a veja como o
outro a vê.
Como quer que isso aconteça, a vida é seguida da morte; a
morte é seguida da vida. O possível torna-se impossível; o
impossível, possível. O certo torna-se errado, e o errado,
certo… O fluxo vital altera as circunstâncias e, assim, as
coisas por si mesmas alteram-se, por sua vez. Mas os
polemistas continuam a afirmar e a negar as mesmas coisas
que sempre afirmaram e negaram, ignorando os novos
aspectos da realidade apresentada pela mudança de
condições.
O sábio, portanto, em vez de tentar provar este ou aquele
ponto pela disputa lógica, vê todas as coisas à luz da intuição
direta. Não se prende aos limites do «Eu», pois o ponto de
vista da intuição direta é tanto o «Eu» como o «Não-Eu». Daí
ele nota que, tanto de um como de outro lado de cada
argumento, há o certo e o errado. Também vê que, no final,
eles se reduzem à mesma coisa, uma vez que estão
relacionados com o pivô do Tao.
Quando o sábio se apodera deste pivô, ele está no centro do
círculo, e lá fica enquanto o «Sim» e o «Não» perseguem-se
um ao outro, em torno da circunferência.
O pivô do Tao passa pelo centro para onde convergem todas
as afirmações e todas as negações. Todo aquele que se
apoderar do pivô, coloca-se no ponto-morto de onde podem
ser vistos todos os movimentos e oposições, em sua correta
interdependência. Por conseguinte, ele vê as possibilidades
ilimitadas, tanto do «Sim», como do «Não». Quando
abandona toda idéia de impor limites ou de tomar partidos,
repousa na intuição direta. Portanto, é como eu dissera
antes: «É melhor desistir das discussões e procurar a
verdadeira luz!»
(*) Chuang Tzu foi um grande filósofo taoísta do Séc. IV a.C. (e declarado santo no Delarismo)
Fonte: Sabedoria do Tao no TdC
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A Arte Dionisíaca
Abaixo se encontram reproduzidos os dois parágrafos finais do capítulo 7 do primeiro livro de Nietzsche, O Nascimento da Tragédia, no qual o filósofo desenvolve seus pensamentos sobre a Estética.
"A convulsão do estado dionisíaco, com a sua destruição das habituais barreiras e limites da existência, contém nomeadamente enquanto dura um elemento letárgico, no qual mergulha toda a vivência pessoal do passado. Assim se apartam, através desta clivagem de esquecimento, o mundo da realidade quotidiana e o da realidade dionisíaca. Mas logo que aquela realidade quotidiana se torna de novo consciente, ela é sentida com asco como tal; uma disposição ascética, negadora da vontade, é o fruto daqueles estados. Neste sentido, o homem dionisíaco assemelha-se a Hamlet: ambos lançaram um olhar verdadeiro para a essência das coisas e eles sentem como ridículo ou humilhante que lhes seja imposta a reordenação de um mundo saído dos eixos. O conhecimento mata o agir, requerendo este um envolvimento pelo véu da ilusão – esta é a lição de Hamlet, não aquela sabedoria barata do João-que-sonha, que não chega a agir por um excesso de reflexão, como se se tratasse de um excedente de possibilidades; não o refletir, não! – o verdadeiro conhecimento, o olhar para dentro da tremenda verdade, torna-se preponderante em relação a qualquer motivo que incite a agir, tanto em Hamlet como no homem dionisíaco. Agora já nenhuma consolação resulta, a nostalgia passa para além de um mundo depois da morte, para além dos próprios deuses; a existência vê-se negada, juntamente com o seu fulgurante reflexo nos deuses ou num Além imortal. Consciente da verdade uma vez contemplada, o ser humano vê então por toda a parte apenas o lado horrível ou absurdo do ser, entendendo agora a dimensão simbólica do destino de Ofélia, reconhecendo agora a sabedoria do deus da floresta Sileno: sente repugnância.
Aqui, neste supremo risco da vontade, aproxima-se a arte, tal feiticeira redentora com poderes curativos: só ela pode transformar aquela idéia de repugnâncias sobre os aspectos horríveis ou absurdos da existência em representações, com as quais se tornara possível viver: estas constituem o sublime, enquanto dominação artística do horrível, e o cômico, enquanto descarga artística da repugnância pelo absurdo. O coro dos sátiros do ditirambo é a ação redentora da arte grega; no mundo mediador destes acompanhantes dionisíacos, esgotam-se aquelas convulsões anteriormente descritas."
Friedrich Nietzsche.
fonte: O Pavão Branco
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Maturidade e imaturidade
Osho
Pensar que você sabe é ser imaturo. Funcionar a partir do conhecimento, da conclusão, é ser imaturo. Funcionar a partir do não-conhecimento, da não-conclusão, do não-passado é maturidade.
A maturidade é a confiança profunda em sua consciência; a imaturidade é a desconfiança em sua consciência. Quando você desconfia de sua consciência, confia no conhecimento, mas este é um substituto muito fraco. Tente compreender isso — é importante.
Em sua vida, você tem experimentado muitas coisas; tem lido, escutado, pensado. Agora, todas essas conclusões estão aí. Diante de determinadas situações, você pode funcionar de duas maneiras. Pode funcionar por meio de todo o passado acumulado, de acordo com ele — é o que eu chamo de funcionar através de um centro, de conclusões, da experiência banal, morta —, e, não importa o que você faça, sua resposta nunca será de fato uma resposta, e sim uma reação. Ser reacionário é ser imaturo.
Ou, se você funcionar agora, neste momento, por meio de sua consciência, de sua percepção, deixando de lado tudo que sabe - o que eu chamo de funcionar através do não-conhecimento —, estará funcionando por meio da inocência. Isso é maturidade.
:::
"...todas essas coisas são coisas velhas, a interpretação, a tentativa de buscar significados, todas essas coisas são superadas, na realidade, tudo o que resta é a grande invenção." - Hélio Oiticica
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Last edited by wodouvhaox on Fri Aug 24, 2018 10:25 pm; edited 11 times in total
Re: ::: delArismo :::
Thinking
It started out innocently enough. I began to think at parties now and then to loosen up. Inevitably though, one thought led to another, and soon I was more than just a social thinker.
I began to think alone —"to relax," I told myself — but I knew it wasn't true. Thinking became more and more important to me, and finally I was thinking all the time.
I began to think on the job. I knew that thinking and employment don't mix, but I couldn't stop myself.
I began to avoid friends at lunchtime so I could read Thoreau and Kafka. I would return to the office dizzied and confused, asking, "What is it exactly we are doing here?"
Things weren't going so great at home either. One evening I had turned off the TV and asked my wife about the meaning of life. She spent that night at her mother's.
I soon had a reputation as a heavy thinker. One day the boss called me in. He said, "Skippy, I like you, and it hurts me to say this, but your thinking has become a real problem. If you don't stop thinking on the job, you'll have to find another job." This gave me a lot to think about.
I came home early after my conversation with the boss. "Honey," I confessed ... "I've been thinking..."
"I know you've been thinking," she said, "and I want a divorce!" "But Honey, surely it's not that serious."
"It is serious," she said, lower lip aquiver. "You think as much as college professors, and college professors don't make any money, so if you keep on thinking we won't have any money!"
"That's a faulty syllogism," I said impatiently, and she began to cry. I'd had enough. "I'm going to the library," I snarled as I stomped out the door.
I headed for the library, in the mood for some Nietzsche, with an AM station on the radio. I roared into the parking lot and ran up to the big glass doors ... they didn't open. The library was closed.
To this day, I believe that a Higher Power was looking out for me that night.
As I sank to the ground clawing at the unfeeling glass, whimpering for Zarathustra, a poster caught my eye. "Friend, is heavy thinking ruining your life?" it asked. You probably recognize that line. It comes from the standard Thinker's Anonymous poster.
Which is why I am what I am today: a recovering thinker. I never miss a TA meeting. At each meeting we watch a non-educational video; last week it was "Porky's." Then we share experiences about how we avoided thinking since the last meeting.
I still have my job, and things are a lot better at home.
Life just seemed ... easier, somehow, as soon as I stopped thinking. —
--------------------------------------------------------------------------------
"Less than fifteen percent of the people do any original thinking on any subject ...
The greatest torture in the world for most people is to think."
Luther Burbank
fonte: tysknews.com
via Papa Duubhglas
It started out innocently enough. I began to think at parties now and then to loosen up. Inevitably though, one thought led to another, and soon I was more than just a social thinker.
I began to think alone —"to relax," I told myself — but I knew it wasn't true. Thinking became more and more important to me, and finally I was thinking all the time.
I began to think on the job. I knew that thinking and employment don't mix, but I couldn't stop myself.
I began to avoid friends at lunchtime so I could read Thoreau and Kafka. I would return to the office dizzied and confused, asking, "What is it exactly we are doing here?"
Things weren't going so great at home either. One evening I had turned off the TV and asked my wife about the meaning of life. She spent that night at her mother's.
I soon had a reputation as a heavy thinker. One day the boss called me in. He said, "Skippy, I like you, and it hurts me to say this, but your thinking has become a real problem. If you don't stop thinking on the job, you'll have to find another job." This gave me a lot to think about.
I came home early after my conversation with the boss. "Honey," I confessed ... "I've been thinking..."
"I know you've been thinking," she said, "and I want a divorce!" "But Honey, surely it's not that serious."
"It is serious," she said, lower lip aquiver. "You think as much as college professors, and college professors don't make any money, so if you keep on thinking we won't have any money!"
"That's a faulty syllogism," I said impatiently, and she began to cry. I'd had enough. "I'm going to the library," I snarled as I stomped out the door.
I headed for the library, in the mood for some Nietzsche, with an AM station on the radio. I roared into the parking lot and ran up to the big glass doors ... they didn't open. The library was closed.
To this day, I believe that a Higher Power was looking out for me that night.
As I sank to the ground clawing at the unfeeling glass, whimpering for Zarathustra, a poster caught my eye. "Friend, is heavy thinking ruining your life?" it asked. You probably recognize that line. It comes from the standard Thinker's Anonymous poster.
Which is why I am what I am today: a recovering thinker. I never miss a TA meeting. At each meeting we watch a non-educational video; last week it was "Porky's." Then we share experiences about how we avoided thinking since the last meeting.
I still have my job, and things are a lot better at home.
Life just seemed ... easier, somehow, as soon as I stopped thinking. —
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"Less than fifteen percent of the people do any original thinking on any subject ...
The greatest torture in the world for most people is to think."
Luther Burbank
fonte: tysknews.com
via Papa Duubhglas
Re: ::: delArismo :::
Crenças, preconceitos, dogmas e idéias
por Jiddu Krishnamurti
Considero importante compreender a relação que deve estabelecer-se entre um orador e seus ouvintes, entre mim e vós, porquanto eu não estou representando a Índia nem filosofia indiana, e tampouco vou falar sobre os ideais e doutrinas do Oriente. A meu ver, nossos problemas humanos, quer sejamos orientais, quer ocidentais, são idênticos. Cada um de nós pode ter costumes diferentes, diferentes hábitos, diferentes valores e pensamentos, mas, fundamentalmente, sinto que temos todos os mesmos problemas.
Muitos são os nossos problemas, não é verdade? — problemas sociais, econômicos e, mais especialmente, talvez, problemas religiosos; e atualmente todos nos aplicamos a eles de diferentes maneiras. Consideramo-los, apenas, parcialmente, como cristãos, como hinduístas, comunistas, ou seja, o que for, ou os separamos como problemas orientais ou ocidentais. E, por considerarmos os nossos problemas parcialmente, com essas diferentes formas de condicionamento, parece-me que não os estamos compreendendo. Creio que a maneira de considerar o problema é muito mais significativa do que o próprio problema e que, se pudéssemos aplicar-nos às nossas numerosas dificuldades sem nenhuma espécie de condicionamento ou preconceito, chegaríamos, provavelmente, a compreendê-los a fundo.
Assim sendo, permito-me salientar quanto é importante descobrirmos por nós mesmos, cada um de nós, a maneira como estamos tentando resolver os numerosos problemas humanos que nos assediam; porque, se a esse respeito não estivermos bem esclarecidos, então, penso eu, por mais que nos empenhemos para compreender os complexos problemas da vida e toda a confusão e contradição em que nos vemos envolvidos, nunca o conseguiremos. Por isso mesmo, bem valeria a pena, parece-me, examinarmos as crenças, os preconceitos, os dogmas e as idéias que, de diferentes maneiras, estão agora corrompendo a mente e impedindo-a de ser livre para descobrir o que é a verdade, a realidade, Deus(a), ou como quiserdes chamá-lo(a). E devo afiançar-vos que se necessita de um interesse extraordinário para tal fazer — para descobrirmos, no decorrer desta palestra, os numerosos obstáculos à compreensão e percebermos como a mente — o único instrumento de descobrimento com que contamos — está embotada em virtude de tantos pensamentos, emoções, temores, hábitos e condicionamentos que compõem a sua estrutura.
Para descobrirmos tudo isso, considero essencial não escutar o que se está dizendo como se tratasse de mera conferência ou discurso — pois não é nada disso — porém, antes, acompanhar, cada um, enquanto vou falando, as reações de sua própria mente. Pois o importante, naturalmente, é compreendermos o verdadeiro funcionamento de nossa mente. O mero concordar ou discordar não cria a compreensão; cria só confusão e contradição, não é verdade? Mas se, ao contrário, pudermos acompanhar, paciente e inteligentemente, o que se está dizendo, sem julgar, sem comparar, sem concordar ou discordar, de modo que vejamos a mente funcionar, então, talvez, descobriremos por nós mesmos a maneira de considerarmos os nossos inúmeros problemas.
Nosso pensar se tornou dependente de nosso ambiente, porque estamos atados por inúmeros preconceitos — preconceitos nacionalistas, ideológicos, religiosos, etc. Estamos sempre a buscar segurança, a buscar algum meio de confiarmos em nós mesmos, tanto interior como exteriormente, não é exato? E quer-me parecer que enquanto estivermos empenhados nessa busca de segurança, de confiança em nós mesmos, de certeza, não estaremos livres para examinar os nossos problemas e descobrir se é possível dar-lhes solução definitiva. Por certo, só quando compreendemos a nós mesmos, quando observamos o nosso próprio processo mental — o que, afinal, é auto- conhecimento — só então existe a possibilidade de descobrirmos por nós mesmos o que é verdadeiro, o que é a realidade. Para isso, não há necessidade de instrutor, de guia, de escrituras, de nenhuma autoridade, enfim. O descobrir e compreender os movimentos de nosso pensar e de nosso sentir dá-nos a possibilidade de resolver nossos próprios problemas, que são também problemas sociais.
Mas é muito difícil pensarmos sem ser de determinada maneira, sem ser de acordo com determinado conjunto de valores, dogmas, crenças ou teorias. Tanto ansiamos por uma solução aos nossos problemas, que nunca nos detemos para considerar se o instrumento de que nos estamos servindo — a mente, minha e vossa — está verdadeiramente livre para investigar. A mente repleta de conhecimentos, crenças, teorias, não está, por certo, livre para investigar o verdadeiro. Mas, se pudermos compreender e dissolver o condicionamento, os preconceitos e dogmas que nos estão
enevoando a mente, talvez então esta se torne livre para descobrir, pois, assim, a própria verdade atuará sobre o problema, em vez de ficar a mente lutando por uma solução por meio de seu próprio condicionamento — que não pode levá-la a parte alguma.
Eis porque acho tão importante saber escutar. Mui poucos de nós somos capazes de escutar verdadeiramente; mui poucos dentre nós ouvimos ou vemos as coisas com verdadeira clareza, porque tudo o que observamos ou ouvimos é imediatamente interpretado, traduzido pela mente, de acordo com nossas próprias idéias e idiossincrasias. Pensamos estar compreendendo, mas não estamos, por certo. De tal maneira estamos sendo distraídos por nossas opiniões e conhecimentos, pelo aprovar ou reprovar, que nunca vemos o problema como ele de fato é. Mas, se pudermos desembaraçar-nos de nossos peculiares pontos-de-vista e, escutando, seguindo o funcionamento da mente, perceber o fato tal qual é, acho que veremos então manifestar-se um processo completamente diferente, o qual nos habilitará a considerar os nossos problemas com plena liberdade e clareza.
Por essa razão, creio necessário escutar totalmente. Atualmente, escutamos apenas com uma parte de nossa mente, sendo-nos dificílimo dispensar atenção completa não só ao que se está dizendo agora, mas a tudo que se nos depara na vida. Temos problemas inúmeros — os problemas religiosos, sociais, econômicos, e mais os problemas da vida, da subsistência, da morte; e quer-me parecer que o próprio processo de nosso pensar está aumentando esses problemas. O modo como funciona o nosso pensar — nossa mente é condicionado, não? Condicionado pela religião em que fomos criados, por nossa nacionalidade, nossos pontos-de-vista políticos, nossas circunstâncias econômicas, e inumeráveis outras influências. Tudo isso concorreu para moldar a nossa mente de uma determinada maneira; e, se desejarmos libertar-nos dessa pressão, dessa influência, então, decerto, é inútil tratarmos meramente de abandonar uma dada forma de autoridade para procurarmos uma forma nova, um método novo, uma nova crença. É isso, no entanto, o que sempre estamos fazendo. Por certo, só a mente que está livre, por inteiro, de toda e qualquer autoridade, consciente ou inconsciente, é capaz de descobrir se existe uma realidade que transcende as meras concepções mentais. A mente livre é aquela que se libertou de toda crença, de todos os padrões de pensamento, conscientes ou inconscientes. Na atualidade, todo o nosso pensar resulta de nosso especial condicionamento, nossas experiências, lembranças, temores, esperanças, acumulados através do tempo. Em tais condições, é bem óbvio que a mente não está livre. Só existe liberdade quando o processo do pensamento, no seu todo, foi compreendido e transcendido; e só então se torna possível o surgir de uma mente nova, regenerada.
Assim sendo, pode a mente libertar-se de seu próprio condicionamento, para considerar de maneira nova os seus problemas? Pode ser livre a mente? — não como cristã, hinduísta, sueca, comunista, ou seja o que for, nem puramente no sentido de abandonar um dado ideal, crença ou hábito, porém livre para descobrir o que significa transcender todas as influências e contradições, mentais e sociais.
Como está reagindo agora a mente? Reagir, concordando ou discordando, é de todo vão, uma vez que tal reação é produzida por nosso próprio fundo, nosso acervo de saber e de crença. Mas, “experimentar” o que se está passando em nós mesmos, isso parece-me verdadeiramente proveitoso.
Ora, pode-se investigar inteligentemente, pacientemente, para descobrir se há alguma possibilidade de libertarmos a nossa mente de todo parcialismo, toda influência, habilitando-a, assim, a transcender suas próprias atividades? Do contrário, nossa vida será sempre muito superficial, vazia — e talvez quase todos estejamos nesse caso. Temos um enorme acervo de informações, conhecimentos, inumeráveis crenças, credos, dogmas, mas na realidade somos muito superficiais e infelizes.
Embora, em certos países, externamente, se haja estabelecido a segurança econômica, contudo, interiormente, psicologicamente, o indivíduo permanece incerto, inseguro. E a segurança exterior, física, que todos os entes humanos, sem distinção de nacionalidade, desejam e necessitam, torna-se impossível para todos nós, em virtude de nossa ânsia de segurança interior, psicológica. A própria ânsia de segurança interior impede a compreensão. Só quando a mente já não é ambiciosa, já não busca nem exige nada, está livre para descobrir o que é verdadeiro.
É por esta razão que tanto importa compreendermos a nós mesmos — não analiticamente, ou seja, uma parte da mente analisando outra parte, pois daí só pode resultar mais confusão — porém verdadeiramente cônscios, sem julgar nem condenar, da maneira como agimos, das palavras que empregamos, de todas as nossas variadas emoções, nossos recônditos pensamentos. Se formos capazes de nos olharmos sem paixão, de modo que as emoções ocultas não sejam recalcadas, porém trazidas à luz e compreendidas, nossa mente se tornará então deveras serena; e só aí encontraremos a possibilidade de viver a pleno a vida.
São essas as coisas que penso devemos sondar juntos. Podemos ajudar-nos uns aos outros a achar a porta da Realidade, mas cada um tem de abrir a si mesmo essa porta; tal é, a meu ver, a única ação positiva.
Assim sendo, urge operar-se, em cada um de nós, uma revolução interior; porque só esta revolução poderá mudar a direção de nosso pensar. E para que possa produzir-se esta revolução, é necessária a silenciosa observação das reações da mente, sem julgamento, condenação ou comparação. A mente é agora estéril, não criadora, no legitimo sentido da palavra, não é exato? Ela é uma coisa artificial, constituída das acumulações da memória. Enquanto existir inveja, ambição, busca interesseira, não pode haver o criador. Parece-me, por conseguinte, que o mais que podemos fazer é compreendermos a nós mesmos, as operações de nossa mente; e esse processo de compreensão representa uma enorme tarefa. Não é coisa que se faz esporadicamente, que se deixa para mais tarde, para amanhã, mas que deve ser feita todos os dias, a cada momento, continuamente. Compreender a si mesmo é estar cônscio, espontaneamente, naturalmente, dos movimentos do pensar. Começa-se, assim, a perceber todos os ocultos motivos e intenções que nutrem os nossos pensamentos, e resulta, daí, a libertação da mente dos processos que a tolhem e limitam. Ela está então tranqüila; nessa tranqüilidade pode manifestar-se, de modo espontâneo, algo que não é produto da mente.
Há algumas perguntas para responder e acho que seria bem proveitoso apurarmos o que se entende por “fazer uma pergunta” e o que se entende por “obter uma resposta”. Afinal de contas, existem respostas para as momentosas e fundamentais questões do amor, da vida, da morte, da existência futura? Só fazemos perguntas quando nos vemos confusos, não é verdade? Por conseguinte, as respostas, também, terão de ser confusas. Assim sendo, muito importa não ficarmos dependendo das respostas de outros, e examinarmos o problema diretamente, por nós mesmos. A dificuldade, pois, não está em fazer a pergunta ou obter a resposta, mas, sim, em ver o problema claramente. E quando há clareza, já não há necessidade de perguntas nem de respostas.
Krishnamurti - 1ª Conferência em Estocolmo – Do livro: A VERDADE LIBERTADORA – ICK
por Jiddu Krishnamurti
Considero importante compreender a relação que deve estabelecer-se entre um orador e seus ouvintes, entre mim e vós, porquanto eu não estou representando a Índia nem filosofia indiana, e tampouco vou falar sobre os ideais e doutrinas do Oriente. A meu ver, nossos problemas humanos, quer sejamos orientais, quer ocidentais, são idênticos. Cada um de nós pode ter costumes diferentes, diferentes hábitos, diferentes valores e pensamentos, mas, fundamentalmente, sinto que temos todos os mesmos problemas.
Muitos são os nossos problemas, não é verdade? — problemas sociais, econômicos e, mais especialmente, talvez, problemas religiosos; e atualmente todos nos aplicamos a eles de diferentes maneiras. Consideramo-los, apenas, parcialmente, como cristãos, como hinduístas, comunistas, ou seja, o que for, ou os separamos como problemas orientais ou ocidentais. E, por considerarmos os nossos problemas parcialmente, com essas diferentes formas de condicionamento, parece-me que não os estamos compreendendo. Creio que a maneira de considerar o problema é muito mais significativa do que o próprio problema e que, se pudéssemos aplicar-nos às nossas numerosas dificuldades sem nenhuma espécie de condicionamento ou preconceito, chegaríamos, provavelmente, a compreendê-los a fundo.
Assim sendo, permito-me salientar quanto é importante descobrirmos por nós mesmos, cada um de nós, a maneira como estamos tentando resolver os numerosos problemas humanos que nos assediam; porque, se a esse respeito não estivermos bem esclarecidos, então, penso eu, por mais que nos empenhemos para compreender os complexos problemas da vida e toda a confusão e contradição em que nos vemos envolvidos, nunca o conseguiremos. Por isso mesmo, bem valeria a pena, parece-me, examinarmos as crenças, os preconceitos, os dogmas e as idéias que, de diferentes maneiras, estão agora corrompendo a mente e impedindo-a de ser livre para descobrir o que é a verdade, a realidade, Deus(a), ou como quiserdes chamá-lo(a). E devo afiançar-vos que se necessita de um interesse extraordinário para tal fazer — para descobrirmos, no decorrer desta palestra, os numerosos obstáculos à compreensão e percebermos como a mente — o único instrumento de descobrimento com que contamos — está embotada em virtude de tantos pensamentos, emoções, temores, hábitos e condicionamentos que compõem a sua estrutura.
Para descobrirmos tudo isso, considero essencial não escutar o que se está dizendo como se tratasse de mera conferência ou discurso — pois não é nada disso — porém, antes, acompanhar, cada um, enquanto vou falando, as reações de sua própria mente. Pois o importante, naturalmente, é compreendermos o verdadeiro funcionamento de nossa mente. O mero concordar ou discordar não cria a compreensão; cria só confusão e contradição, não é verdade? Mas se, ao contrário, pudermos acompanhar, paciente e inteligentemente, o que se está dizendo, sem julgar, sem comparar, sem concordar ou discordar, de modo que vejamos a mente funcionar, então, talvez, descobriremos por nós mesmos a maneira de considerarmos os nossos inúmeros problemas.
Nosso pensar se tornou dependente de nosso ambiente, porque estamos atados por inúmeros preconceitos — preconceitos nacionalistas, ideológicos, religiosos, etc. Estamos sempre a buscar segurança, a buscar algum meio de confiarmos em nós mesmos, tanto interior como exteriormente, não é exato? E quer-me parecer que enquanto estivermos empenhados nessa busca de segurança, de confiança em nós mesmos, de certeza, não estaremos livres para examinar os nossos problemas e descobrir se é possível dar-lhes solução definitiva. Por certo, só quando compreendemos a nós mesmos, quando observamos o nosso próprio processo mental — o que, afinal, é auto- conhecimento — só então existe a possibilidade de descobrirmos por nós mesmos o que é verdadeiro, o que é a realidade. Para isso, não há necessidade de instrutor, de guia, de escrituras, de nenhuma autoridade, enfim. O descobrir e compreender os movimentos de nosso pensar e de nosso sentir dá-nos a possibilidade de resolver nossos próprios problemas, que são também problemas sociais.
Mas é muito difícil pensarmos sem ser de determinada maneira, sem ser de acordo com determinado conjunto de valores, dogmas, crenças ou teorias. Tanto ansiamos por uma solução aos nossos problemas, que nunca nos detemos para considerar se o instrumento de que nos estamos servindo — a mente, minha e vossa — está verdadeiramente livre para investigar. A mente repleta de conhecimentos, crenças, teorias, não está, por certo, livre para investigar o verdadeiro. Mas, se pudermos compreender e dissolver o condicionamento, os preconceitos e dogmas que nos estão
enevoando a mente, talvez então esta se torne livre para descobrir, pois, assim, a própria verdade atuará sobre o problema, em vez de ficar a mente lutando por uma solução por meio de seu próprio condicionamento — que não pode levá-la a parte alguma.
Eis porque acho tão importante saber escutar. Mui poucos de nós somos capazes de escutar verdadeiramente; mui poucos dentre nós ouvimos ou vemos as coisas com verdadeira clareza, porque tudo o que observamos ou ouvimos é imediatamente interpretado, traduzido pela mente, de acordo com nossas próprias idéias e idiossincrasias. Pensamos estar compreendendo, mas não estamos, por certo. De tal maneira estamos sendo distraídos por nossas opiniões e conhecimentos, pelo aprovar ou reprovar, que nunca vemos o problema como ele de fato é. Mas, se pudermos desembaraçar-nos de nossos peculiares pontos-de-vista e, escutando, seguindo o funcionamento da mente, perceber o fato tal qual é, acho que veremos então manifestar-se um processo completamente diferente, o qual nos habilitará a considerar os nossos problemas com plena liberdade e clareza.
Por essa razão, creio necessário escutar totalmente. Atualmente, escutamos apenas com uma parte de nossa mente, sendo-nos dificílimo dispensar atenção completa não só ao que se está dizendo agora, mas a tudo que se nos depara na vida. Temos problemas inúmeros — os problemas religiosos, sociais, econômicos, e mais os problemas da vida, da subsistência, da morte; e quer-me parecer que o próprio processo de nosso pensar está aumentando esses problemas. O modo como funciona o nosso pensar — nossa mente é condicionado, não? Condicionado pela religião em que fomos criados, por nossa nacionalidade, nossos pontos-de-vista políticos, nossas circunstâncias econômicas, e inumeráveis outras influências. Tudo isso concorreu para moldar a nossa mente de uma determinada maneira; e, se desejarmos libertar-nos dessa pressão, dessa influência, então, decerto, é inútil tratarmos meramente de abandonar uma dada forma de autoridade para procurarmos uma forma nova, um método novo, uma nova crença. É isso, no entanto, o que sempre estamos fazendo. Por certo, só a mente que está livre, por inteiro, de toda e qualquer autoridade, consciente ou inconsciente, é capaz de descobrir se existe uma realidade que transcende as meras concepções mentais. A mente livre é aquela que se libertou de toda crença, de todos os padrões de pensamento, conscientes ou inconscientes. Na atualidade, todo o nosso pensar resulta de nosso especial condicionamento, nossas experiências, lembranças, temores, esperanças, acumulados através do tempo. Em tais condições, é bem óbvio que a mente não está livre. Só existe liberdade quando o processo do pensamento, no seu todo, foi compreendido e transcendido; e só então se torna possível o surgir de uma mente nova, regenerada.
Assim sendo, pode a mente libertar-se de seu próprio condicionamento, para considerar de maneira nova os seus problemas? Pode ser livre a mente? — não como cristã, hinduísta, sueca, comunista, ou seja o que for, nem puramente no sentido de abandonar um dado ideal, crença ou hábito, porém livre para descobrir o que significa transcender todas as influências e contradições, mentais e sociais.
Como está reagindo agora a mente? Reagir, concordando ou discordando, é de todo vão, uma vez que tal reação é produzida por nosso próprio fundo, nosso acervo de saber e de crença. Mas, “experimentar” o que se está passando em nós mesmos, isso parece-me verdadeiramente proveitoso.
Ora, pode-se investigar inteligentemente, pacientemente, para descobrir se há alguma possibilidade de libertarmos a nossa mente de todo parcialismo, toda influência, habilitando-a, assim, a transcender suas próprias atividades? Do contrário, nossa vida será sempre muito superficial, vazia — e talvez quase todos estejamos nesse caso. Temos um enorme acervo de informações, conhecimentos, inumeráveis crenças, credos, dogmas, mas na realidade somos muito superficiais e infelizes.
Embora, em certos países, externamente, se haja estabelecido a segurança econômica, contudo, interiormente, psicologicamente, o indivíduo permanece incerto, inseguro. E a segurança exterior, física, que todos os entes humanos, sem distinção de nacionalidade, desejam e necessitam, torna-se impossível para todos nós, em virtude de nossa ânsia de segurança interior, psicológica. A própria ânsia de segurança interior impede a compreensão. Só quando a mente já não é ambiciosa, já não busca nem exige nada, está livre para descobrir o que é verdadeiro.
É por esta razão que tanto importa compreendermos a nós mesmos — não analiticamente, ou seja, uma parte da mente analisando outra parte, pois daí só pode resultar mais confusão — porém verdadeiramente cônscios, sem julgar nem condenar, da maneira como agimos, das palavras que empregamos, de todas as nossas variadas emoções, nossos recônditos pensamentos. Se formos capazes de nos olharmos sem paixão, de modo que as emoções ocultas não sejam recalcadas, porém trazidas à luz e compreendidas, nossa mente se tornará então deveras serena; e só aí encontraremos a possibilidade de viver a pleno a vida.
São essas as coisas que penso devemos sondar juntos. Podemos ajudar-nos uns aos outros a achar a porta da Realidade, mas cada um tem de abrir a si mesmo essa porta; tal é, a meu ver, a única ação positiva.
Assim sendo, urge operar-se, em cada um de nós, uma revolução interior; porque só esta revolução poderá mudar a direção de nosso pensar. E para que possa produzir-se esta revolução, é necessária a silenciosa observação das reações da mente, sem julgamento, condenação ou comparação. A mente é agora estéril, não criadora, no legitimo sentido da palavra, não é exato? Ela é uma coisa artificial, constituída das acumulações da memória. Enquanto existir inveja, ambição, busca interesseira, não pode haver o criador. Parece-me, por conseguinte, que o mais que podemos fazer é compreendermos a nós mesmos, as operações de nossa mente; e esse processo de compreensão representa uma enorme tarefa. Não é coisa que se faz esporadicamente, que se deixa para mais tarde, para amanhã, mas que deve ser feita todos os dias, a cada momento, continuamente. Compreender a si mesmo é estar cônscio, espontaneamente, naturalmente, dos movimentos do pensar. Começa-se, assim, a perceber todos os ocultos motivos e intenções que nutrem os nossos pensamentos, e resulta, daí, a libertação da mente dos processos que a tolhem e limitam. Ela está então tranqüila; nessa tranqüilidade pode manifestar-se, de modo espontâneo, algo que não é produto da mente.
Há algumas perguntas para responder e acho que seria bem proveitoso apurarmos o que se entende por “fazer uma pergunta” e o que se entende por “obter uma resposta”. Afinal de contas, existem respostas para as momentosas e fundamentais questões do amor, da vida, da morte, da existência futura? Só fazemos perguntas quando nos vemos confusos, não é verdade? Por conseguinte, as respostas, também, terão de ser confusas. Assim sendo, muito importa não ficarmos dependendo das respostas de outros, e examinarmos o problema diretamente, por nós mesmos. A dificuldade, pois, não está em fazer a pergunta ou obter a resposta, mas, sim, em ver o problema claramente. E quando há clareza, já não há necessidade de perguntas nem de respostas.
Krishnamurti - 1ª Conferência em Estocolmo – Do livro: A VERDADE LIBERTADORA – ICK
Re: ::: delArismo :::
"Minhas desequilibradas palavras são o luxo do meu silêncio." - Clarice Lispector
Re: ::: delArismo :::
da impermanência do delírio
A Impermanência
“Nunca podeis descer duas vezes no mesmo rio, pois novas águas escoarão sobre vós” 83:52.
Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.)
A ciência atual vê o mundo como algo em constante mudança e inter-relação. A criação e o aniquilamento de subpartículas são características do mundo subatômico. Continuamente partículas se transformam em energia (desaparecem no seu campo quântico, no “vazio”) para logo em seguida ressurgirem como partículas. Todas as subpartículas são criadas e aniquiladas, continuamente, do mesmo modo que o deus hindu Shiva cria e destrói o mundo, e dessa forma o mantém 14:183. A impermanência é uma característica fundamental do vazio. Partindo dessa menor parte da matéria que conhecemos e ascendendo até o homem, notamos que tudo na natureza é mutável, tudo é uma constante mudança, como já dizia Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.). E é esse movimento e transformação constante que reforça o conceito de ilusão das coisas manifestadas: toda a matéria é Maya (ilusão), ou Kosmos (aparência), que esconde Kaos (o grande vazio não manifestado).
É difícil crer que do “Nada” surge “algo” que, após uma análise mais detalhada, percebe-se que não tem existência “real”. Seria melhor intelectualizarmos que a realidade é um campo energético quântico universal, do qual emergem formas compostas, pequeníssimas formas, às quais damos o nome de subpartículas. Todas essas formas têm existências limitadas, pois seu destino é retornar ao campo quântico de onde vieram, para em seguida tomarem forma novamente em outras situações e locais. Partículas materiais isoladas são abstrações dinâmicas.
Carl Gustav Jung (1.875-1.961) afirmava que tudo o que existia eram apenas imagens psíquicas 19:61. Dessa forma, apesar de todas as impressões sensoriais do homem quererem forçá-lo a crer num mundo de objetos individuais que ocupam um lugar no espaço, ele não acreditava em algo além da realidade psíquica. Essa era quem interpretava as freqüências exteriores (de som ou de cor, por exemplo) dando-lhes existências “reais”.
A impermanência é a realidade para o budismo. O mundo é ilusório (Maya), para o hinduísmo e para o budismo. Tudo é e não é. Tudo o que se pode chamar de individualidade, é composto de várias outras individualidades, que por sua vez são compostas de várias outras partes, até se chegar à subpartícula, que não pode ser chamada de individual, posto que está em constante transformação e inter-relação com todas as outras subpartículas.
“Tudo existe, é um dos extremos. Nada existe, é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos e seguir o Caminho do Meio” 17:51.
Sidarta Gautama, O BUDA (563-483 a.C.)
“...tomamos como real a multiplicidade, damos realidade à pluralidade [das coisas] e acabamos por nos considerar, a nós mesmos, como identidades ou realidades separadas, autônomas e independentes num mundo hostil, indiferente, perigoso e quase inimigo” 83:38.
Georges da Silva
Quando o homem aceitar que ele também é impermanente, sua angústia perante a morte sumirá. Quando o homem perceber que o tempo linear não existe, mas um eterno presente é a verdadeira realidade, ele deixará de viver no passado e de se angustiar com o futuro para viver o presente em toda a sua plenitude. Afinal chamamos o corpo físico de “meu”, chamamos nossas emoções de “minhas” e chamamos à nossa mente de “minha”. Eu não sou o que é meu. Se o corpo, as emoções e a mente são meus, eu não posso me identificar com nenhum deles. Eu, na verdade sou alguém que possui um corpo físico, um corpo emocional e um corpo mental, todos em constante mudança, impermanentes, variáveis e vivificados por mim, o Eu.
“Enquanto viveres, estarás sujeito ao variável, ainda que não queiras... O sábio, porém, e instruído na vida espiritual, está acima desta inconstância..., concentrando todo o esforço de sua alma no devido e almejado fim”.
Thomas de Kempis (IC III,33:1)
Observando o presente, o homem percebe que ele não é o seu corpo mutável, que se renova por completo a cada cinco anos, cresce, envelhece e morre. Alguma coisa observa o corpo. Então o homem começa a achar que ele é a sua mente. Mas novamente observando, no presente, a sua mente, o homem vê que a mente muda a cada piscar de olhos e arrasta consigo todo um leque de sensações, ditas condicionadas. A mente é muito mais instável que o corpo. A mente é uma sucessão de desejos, emoções, sentimentos e pensamentos. A individualidade, no verdadeiro significado da palavra, dura o ínfimo lapso de tempo de uma combinação de um corpo e de um estado mental. Analisando mais profundamente, vemos que se podemos observar a nossa mente, então não somos a nossa mente, somos algo que é capaz de observar a sua própria mente.
Somos, na realidade, um vórtice de consciência dentro e em torno do qual circula matéria em diversos níveis de sutileza, Skandhas em constante mudança (Cf. adiante e com detalhes no Capítulo III). E essa “essência interna” vai além de si mesma ligando-nos ao Universo, aos nossos semelhantes e a Deus:
“Na realidade, somos pessoas vividas por uma energia sutil, nossa essência interna 95:24s”.
Trigueirinho
Tudo o que é composto de partes será decomposto em algum momento. Vemos que o ser humano, em vida, é composto de seu corpo físico, de sua mente, a qual cria a sua própria realidade, e de sua Consciência, o “programador escondido”, conhecido também como “Eu superior”, que observa o corpo e a mente. A tríade corpo, mente e “Eu superior” tem ligação estreita com a tríade corpo, alma e Espírito.
A neurociência até hoje não conseguiu explicar onde está localizada a área responsável pela memória (o engrama) 98:21, nem demonstrar que existam áreas que expliquem todos os processos de pensamentos, sentimentos e emoções. O tronco cerebral, o hipotálamo, o tálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico, estão envolvidos no processamento das emoções e sentimentos, o córtex temporal está envolvido em funções complexas como memória e emoção, os hemisférios cerebrais direito e esquerdo pelo raciocínio e pensamentos subjetivo e objetivo, respectivamente, e a memória parece ser arquivada difusamente pelo cérebro (Cf. no próximo capítulo). Registros de experiências religiosas, experiência de quase morte e alucinações ocorreram em casos de epilepsia do sistema límbico. Crises do lobo temporal algumas vezes levam a experiências de êxtase religioso e a hipo-atividade da área de associação e orientação do lobo parietal, região que estabelece a fronteira entre o eu físico e o ambiente externo, leva a sensações de percepção ilimitada e fusão com um espaço infinito.
Disso tudo resultam duas hipóteses bastante racionais: ou a mente e a espiritualidade são criações do cérebro, ou o cérebro foi “projetado” de forma que ele pudesse se conectar e experimentar um outro plano, mental ou espiritual. Nenhuma das duas pode ser excluída, atualmente, pela neurociência
Andrew Newberg, radiologista americano, é um dos conceituados cientistas que pesquisam a inter-relação entre o cérebro e a espiritualidade 65. Em 2.001 publicou um estudo em que realizou tomografias computadorizadas em dois grupos de religiosos, oito budistas tibetanos e um grupo de freiras franciscanas, ambos em estados de intenso clímax religioso (meditação profunda e êxtase contemplativo, respectivamente) 66. Observou que nesses momentos de clímax, aquela área cerebral responsável pela orientação no tempo e no espaço e associação (lobo parietal superior), que nos possibilita distinguir os limites entre nós mesmos e o resto da existência, através de um fluxo constante de informações neurais sensitivas, era bloqueada quase totalmente, e seu fluxo sangüíneo drasticamente reduzido. Dessa forma, eles se sentem parte do infinito, conectados e fundidos com tudo e todos.
Essas mesmas pesquisas mostraram que o lobo temporal inferior reconhece imagens religiosas (velas, cruzes e pinturas), o lobo temporal central produz êxtase, alegria e calma, e o lobo frontal administra a atenção. Parece que o cérebro foi projetado para ter a capacidade de nos fazer sentir indivíduos separados de tudo a nossa volta, mas que uma chave, que bloqueia essa programação, existe e foi descoberta há milênios atrás. Essa chave é a chave de nossa felicidade.
Em 1.966, Karl Pribram, respeitado neurocientista inglês, viu no holograma uma forma atraente de explicar o funcionamento do cérebro. Para ele o cérebro para ver, ouvir, cheirar e saborear interpreta matematicamente as freqüências de energia que capta, provindas de uma dimensão que transcende tempo e espaço, e as armazena holograficamente. Mais ainda, o próprio corpo humano é um holograma, constituído de partes que tem potencial de reproduzir o todo (clonagem). Talvez o mundo fosse um holograma que o cérebro interpreta holograficamente.
Mas quem é o responsável, “dentro do cérebro”, pela interpretação desses hologramas? Quem é o “homenzinho dentro do homem” dos filósofos gregos? “Onde está o Eu, a entidade que usa o cérebro?” E onde fica aquilo a que Sigmund Freud chamou de personalidade?
“O que estamos procurando é o que está olhando” 98:25.
São Francisco de Assis (1.181-1.226)
fonte: orion.med.br
A Impermanência
“Nunca podeis descer duas vezes no mesmo rio, pois novas águas escoarão sobre vós” 83:52.
Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.)
A ciência atual vê o mundo como algo em constante mudança e inter-relação. A criação e o aniquilamento de subpartículas são características do mundo subatômico. Continuamente partículas se transformam em energia (desaparecem no seu campo quântico, no “vazio”) para logo em seguida ressurgirem como partículas. Todas as subpartículas são criadas e aniquiladas, continuamente, do mesmo modo que o deus hindu Shiva cria e destrói o mundo, e dessa forma o mantém 14:183. A impermanência é uma característica fundamental do vazio. Partindo dessa menor parte da matéria que conhecemos e ascendendo até o homem, notamos que tudo na natureza é mutável, tudo é uma constante mudança, como já dizia Heráclito de Éfeso (540-480 a.C.). E é esse movimento e transformação constante que reforça o conceito de ilusão das coisas manifestadas: toda a matéria é Maya (ilusão), ou Kosmos (aparência), que esconde Kaos (o grande vazio não manifestado).
É difícil crer que do “Nada” surge “algo” que, após uma análise mais detalhada, percebe-se que não tem existência “real”. Seria melhor intelectualizarmos que a realidade é um campo energético quântico universal, do qual emergem formas compostas, pequeníssimas formas, às quais damos o nome de subpartículas. Todas essas formas têm existências limitadas, pois seu destino é retornar ao campo quântico de onde vieram, para em seguida tomarem forma novamente em outras situações e locais. Partículas materiais isoladas são abstrações dinâmicas.
Carl Gustav Jung (1.875-1.961) afirmava que tudo o que existia eram apenas imagens psíquicas 19:61. Dessa forma, apesar de todas as impressões sensoriais do homem quererem forçá-lo a crer num mundo de objetos individuais que ocupam um lugar no espaço, ele não acreditava em algo além da realidade psíquica. Essa era quem interpretava as freqüências exteriores (de som ou de cor, por exemplo) dando-lhes existências “reais”.
A impermanência é a realidade para o budismo. O mundo é ilusório (Maya), para o hinduísmo e para o budismo. Tudo é e não é. Tudo o que se pode chamar de individualidade, é composto de várias outras individualidades, que por sua vez são compostas de várias outras partes, até se chegar à subpartícula, que não pode ser chamada de individual, posto que está em constante transformação e inter-relação com todas as outras subpartículas.
“Tudo existe, é um dos extremos. Nada existe, é o outro extremo. Devemos sempre nos manter afastados desses dois extremos e seguir o Caminho do Meio” 17:51.
Sidarta Gautama, O BUDA (563-483 a.C.)
“...tomamos como real a multiplicidade, damos realidade à pluralidade [das coisas] e acabamos por nos considerar, a nós mesmos, como identidades ou realidades separadas, autônomas e independentes num mundo hostil, indiferente, perigoso e quase inimigo” 83:38.
Georges da Silva
Quando o homem aceitar que ele também é impermanente, sua angústia perante a morte sumirá. Quando o homem perceber que o tempo linear não existe, mas um eterno presente é a verdadeira realidade, ele deixará de viver no passado e de se angustiar com o futuro para viver o presente em toda a sua plenitude. Afinal chamamos o corpo físico de “meu”, chamamos nossas emoções de “minhas” e chamamos à nossa mente de “minha”. Eu não sou o que é meu. Se o corpo, as emoções e a mente são meus, eu não posso me identificar com nenhum deles. Eu, na verdade sou alguém que possui um corpo físico, um corpo emocional e um corpo mental, todos em constante mudança, impermanentes, variáveis e vivificados por mim, o Eu.
“Enquanto viveres, estarás sujeito ao variável, ainda que não queiras... O sábio, porém, e instruído na vida espiritual, está acima desta inconstância..., concentrando todo o esforço de sua alma no devido e almejado fim”.
Thomas de Kempis (IC III,33:1)
Observando o presente, o homem percebe que ele não é o seu corpo mutável, que se renova por completo a cada cinco anos, cresce, envelhece e morre. Alguma coisa observa o corpo. Então o homem começa a achar que ele é a sua mente. Mas novamente observando, no presente, a sua mente, o homem vê que a mente muda a cada piscar de olhos e arrasta consigo todo um leque de sensações, ditas condicionadas. A mente é muito mais instável que o corpo. A mente é uma sucessão de desejos, emoções, sentimentos e pensamentos. A individualidade, no verdadeiro significado da palavra, dura o ínfimo lapso de tempo de uma combinação de um corpo e de um estado mental. Analisando mais profundamente, vemos que se podemos observar a nossa mente, então não somos a nossa mente, somos algo que é capaz de observar a sua própria mente.
Somos, na realidade, um vórtice de consciência dentro e em torno do qual circula matéria em diversos níveis de sutileza, Skandhas em constante mudança (Cf. adiante e com detalhes no Capítulo III). E essa “essência interna” vai além de si mesma ligando-nos ao Universo, aos nossos semelhantes e a Deus:
“Na realidade, somos pessoas vividas por uma energia sutil, nossa essência interna 95:24s”.
Trigueirinho
Tudo o que é composto de partes será decomposto em algum momento. Vemos que o ser humano, em vida, é composto de seu corpo físico, de sua mente, a qual cria a sua própria realidade, e de sua Consciência, o “programador escondido”, conhecido também como “Eu superior”, que observa o corpo e a mente. A tríade corpo, mente e “Eu superior” tem ligação estreita com a tríade corpo, alma e Espírito.
A neurociência até hoje não conseguiu explicar onde está localizada a área responsável pela memória (o engrama) 98:21, nem demonstrar que existam áreas que expliquem todos os processos de pensamentos, sentimentos e emoções. O tronco cerebral, o hipotálamo, o tálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico, estão envolvidos no processamento das emoções e sentimentos, o córtex temporal está envolvido em funções complexas como memória e emoção, os hemisférios cerebrais direito e esquerdo pelo raciocínio e pensamentos subjetivo e objetivo, respectivamente, e a memória parece ser arquivada difusamente pelo cérebro (Cf. no próximo capítulo). Registros de experiências religiosas, experiência de quase morte e alucinações ocorreram em casos de epilepsia do sistema límbico. Crises do lobo temporal algumas vezes levam a experiências de êxtase religioso e a hipo-atividade da área de associação e orientação do lobo parietal, região que estabelece a fronteira entre o eu físico e o ambiente externo, leva a sensações de percepção ilimitada e fusão com um espaço infinito.
Disso tudo resultam duas hipóteses bastante racionais: ou a mente e a espiritualidade são criações do cérebro, ou o cérebro foi “projetado” de forma que ele pudesse se conectar e experimentar um outro plano, mental ou espiritual. Nenhuma das duas pode ser excluída, atualmente, pela neurociência
Andrew Newberg, radiologista americano, é um dos conceituados cientistas que pesquisam a inter-relação entre o cérebro e a espiritualidade 65. Em 2.001 publicou um estudo em que realizou tomografias computadorizadas em dois grupos de religiosos, oito budistas tibetanos e um grupo de freiras franciscanas, ambos em estados de intenso clímax religioso (meditação profunda e êxtase contemplativo, respectivamente) 66. Observou que nesses momentos de clímax, aquela área cerebral responsável pela orientação no tempo e no espaço e associação (lobo parietal superior), que nos possibilita distinguir os limites entre nós mesmos e o resto da existência, através de um fluxo constante de informações neurais sensitivas, era bloqueada quase totalmente, e seu fluxo sangüíneo drasticamente reduzido. Dessa forma, eles se sentem parte do infinito, conectados e fundidos com tudo e todos.
Essas mesmas pesquisas mostraram que o lobo temporal inferior reconhece imagens religiosas (velas, cruzes e pinturas), o lobo temporal central produz êxtase, alegria e calma, e o lobo frontal administra a atenção. Parece que o cérebro foi projetado para ter a capacidade de nos fazer sentir indivíduos separados de tudo a nossa volta, mas que uma chave, que bloqueia essa programação, existe e foi descoberta há milênios atrás. Essa chave é a chave de nossa felicidade.
Em 1.966, Karl Pribram, respeitado neurocientista inglês, viu no holograma uma forma atraente de explicar o funcionamento do cérebro. Para ele o cérebro para ver, ouvir, cheirar e saborear interpreta matematicamente as freqüências de energia que capta, provindas de uma dimensão que transcende tempo e espaço, e as armazena holograficamente. Mais ainda, o próprio corpo humano é um holograma, constituído de partes que tem potencial de reproduzir o todo (clonagem). Talvez o mundo fosse um holograma que o cérebro interpreta holograficamente.
Mas quem é o responsável, “dentro do cérebro”, pela interpretação desses hologramas? Quem é o “homenzinho dentro do homem” dos filósofos gregos? “Onde está o Eu, a entidade que usa o cérebro?” E onde fica aquilo a que Sigmund Freud chamou de personalidade?
“O que estamos procurando é o que está olhando” 98:25.
São Francisco de Assis (1.181-1.226)
fonte: orion.med.br
Re: ::: delArismo :::
Do Humor
“O grau de liberdade que há em qualquer sociedade é diretamente proporcional ao riso que nela existe”
(Zero Mostel, in Humor Judaico)
O palhaço foi considerado por C. G. Jung como um representante do trickster, uma figura arquetípica do herói trapaceiro, ambíguo e contraditório, que zomba e transgride normas. O palhaço teria ligações estreitas com o trickster e seria, acima de tudo, uma exteriorização de algo íntimo, universal, primitivo e puro do indivíduo, que se encontra no riso e no exagero. Figura que pode ser amada, admirada ou temida por todos, que assume a dor, a ternura e o ridículo, integrando estes opostos.
Fazendo uma breve retrospectiva histórica do “palhaço”, encontramos já na Idade Média as figuras do bobo da corte ou bufão sábio. A trupe dos saltimbancos surgiu nas festividades da Idade Média e Renascimento. Nesta época, a concepção do cômico opunha-se à cultura oficial, ao tom sério, feudal e religioso da época. Encontramos esta figura cômica também como o “coringa” dos baralhos e como o “louco”, na carta 22 do Tarô. Somente se tornou realmente a figura do “palhaço” na Renascença italiana com a Commedia dell’ arte ( com a dupla “Branco e Augusto”). Passou a frequentar os palcos das festas populares, representando uma “concepção carnavalesca do mundo, uma segunda vida do povo”, assim como o lado jocoso, grotesco e alegre, recusando o poder instituído e afirmando a vida (Bakhtin, apud Sampaio, 1992, p.40). Surge, assim, uma visão do homem e das relações humanas alternante, necessária e revigoradora. Mas, este poder regenerador positivo do palhaço vai decrescendo após o século 17, mantendo-se atenuado em algumas formas do cômico sobreviventes, ligadas ao folclore, ao circo e à feira.
O trickster é considerado por Jung uma imagem arquetípica do inconsciente coletivo, que se insurge para brincar com a lei. É uma imagem eterna, arquetípica. Um herói mítico que é solitário, mas que se efetiva na relação com o outro, embora se volte sempre para si. O trickster é a imagem arquetípica do brincalhão com impulsos infantis, de natureza ambígua (animal e humana, sublime e grotesca). É o infantil no adulto, o infrator de normas.
(...)
Investigando o espírito cômico, observamos que ele é dialético, costuma dizer “não” a um “sim” aceito, ou dizer “sim” a um “não“ aceito e conservado culturalmente. Tem a capacidade de criar a súbita inversão, na qual a familiaridade do mundo comum é posta em questão, para que possamos ver a surpresa e experimentar o espanto que o familiar tende a esconder. A piada, por exemplo, depende muito de uma espontânea e súbita inversão do comum, da conserva cultural, da ordem das coisas geralmente aceitas. Por isto, há um certo atrativo inevitável na brincadeira.
Segundo Richard Underwood (apud Campbel, 2001, p. 166), “é cômico ver a súbita inversão da certeza ou familiaridade em incerteza ou surpresa”. Ou até pode ser trágico, indicando uma íntima ligação dialética entre tragédia e comédia. Como diz um velho cancioneiro popular, “o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida”.
J. L. Moreno (1889-1974), criador do Psicodrama, tinha plena consciência da força da brincadeira, da alegria e do jogo no trabalho terapêutico. Afirmou que devolveu a alegria à Psiquiatria e buscou no jogo, dramático ou não, o clima lúdico e o riso como condições para promover um estado espontâneo-criador, que ele considerava condição fundamental à saúde mental. Diremos que Moreno desenvolveu um método que visava também despertar o espírito cômico, com seu caráter transformador e transgressor, para que o sujeito com ele pudesse rir do seu drama, ver além da sua tragédia, além do seu modus operandi submerso e submetido às conservas culturais, a atitudes e padrões estereotipados.
Moreno deu, assim, credibilidade e valor à brincadeira como via de acesso ao poder criativo, e em especial no seu poder de colocar em questão o familiar, o conservado, desmontando “certezas”, princípios ou objetivos fixos, cristalizados e não questionados. Vai buscar na atitude lúdica a sua força criativa, para desmontar, desorganizar ou destruir certezas absolutas, pesquisando suas origens, numa perspectiva também genealógica.
(...)
Destacamos também a perspectiva dionisíaca presente do Psicodrama e na figura do palhaço. Dioniso, deus mitológico grego, é um deus do povo, da natureza, do vinho, da liberação pelo êxtase, das emoções, da promoção da vida, da não repressão, da expressão corporal, da dança, do teatro, do sexo e da alegria. Em seu lado sombrio, é o deus da tragédia e da loucura. Mas, é este deus que promove uma via de acesso ao mundo interior, a união das dualidades, do princípio masculino com o feminino, da luz e da sombra, do divino e humano, do alegre e triste, do bom e mau.
Na mitologia e na tragédia grega, é Dioniso quem aponta para a condição humana, que nos vem ensinar o mesmo que os poetas sempre transmitiram, que a vida é um jogo de pares de opostos, são parte de uma unidade permanente. Segundo Albor Reñones (2002, p. 148), “por trás de cada herói e cada sofrimento, ali estaria o deus Dioniso, apontando seu bastão para a nossa cara e dizendo: dance”. Para combater os excessos e a falácia da seriedade, aponta para a dança, para a permissão da alegria e da embriaguês, pois o mundo dá voltas e nada permanece, devendo a cada um de nós entendê-lo como passagem. Este autor (Ibidem, p. 156) nos aponta: “ante a insolubilidade da dor, temos a possibilidade de uma ação solidária, quando não amorosa”. Diríamos que nos resta a poesia, que está presente na alegria.
Segundo López-Pedraza (2002, p.44-45), “Dioniso permite uma perspectiva arquetípica para se relacionar e para diferenciar emoções, como uma via de acesso ao mundo interior”. Segundo Alvarenga (2000, p.143) Dioniso “prega a interação eu-outro de forma simétrica, restituindo a dinâmica do coração”. Dioniso é entendido com representante do arquétipo canalizador da agressividade, da força ou da corporalidade, transformando-a em manifestações criativas. Ao contrário de Apolo (deus do sol, da consciência, da ordem e do pensamento, defensor do patriarcado), Dioniso defende o feminino, é o deus lunar, do inconsciente, da intuição e do sentimento. Representa a dinâmica da alteridade, das relações simétricas, pós-patriarcal (Sousa, apud Alvarenga, 2007).
(...)
Diante do paradoxo e da indivisibilidade da vida, com seus pares de opostos, outros autores assinalam a ambivalência do riso, que este pode ter como fonte uma dor, uma defesa, um temor, mas ao mesmo tempo uma sabedoria. H. Adorno já afirmou que o riso sereno ou terrível marca sempre o momento em que desaparece um temor. Afirmou Platão, em A República, que ”um acesso excessivo de riso quase sempre produz uma reação violenta” (ibidem, p.4). De fato, ainda é difícil definir o senso de humor, embora Shopenhauer já tenha afirmado que a única qualidade divina de um homem era o seu senso de humor. Por outro lado, sabemos que o ser humano é um ser lúdico, ele é apenas completamente humano quando está brincando, um importante anseio humano é o de jogar.
Mas, o que significa o humor? Indicando algo que flui, líquido, a palavra “humor” simboliza também o movimento de forças inconscientes que gradualmente se desenvolvem, porém o “senso de humor” em si pode se originar no senso de proporção das partes com o todo, tanto no mundo externo como interno. Para haver senso de humor maduro deverá haver, além do riso, consciência e afetividade. Charles Williams, no seu livro All Hallow’s eve (apud Luke, 1992, p.16) considerava que “aqueles que apreciam e compreendem, penetram no riso, no coração das coisas. A humildade está intimamente relacionada com senso de humor”. Há muitos tipos de riso, ele pode ocultar uma rejeição destrutiva ou o desprezo, e quando nos rendemos a isto perdemos o senso de humor, que sempre fortalece a compaixão, onde todas as nossas dores e alegrias se tornam inteiras. Ressentimentos, humilhações, culpas, etc. podem ser aceitos com dor e conhecidos também como ocasiões para o riso que cura.
Ainda segundo Williams, no meio da dor emocional é importante manter o senso de humor sobre a própria importância e a dos outros, com a intenção de alegria. Quando nos sentimos absolutamente comuns, adquirimos a simplicidade e o senso de humor; assim, poderemos começar a brincar na liberdade e na simplicidade da criança, poderemos alcançar a filosofia do momento, também defendida por J. L. Moreno, e vivermos no aqui e agora, com o espírito presente em cada momento, sabendo o que realmente se é.
Quando Jesus Cristo diz que “aquele que não receber o reino de Deus como uma criança pequena, nele não entrará” (São Marcos, 10:15), estava se referindo a esta sabedoria divina do riso. Jung considerava que, além da ética essencial, além da beleza da ciência, filosofia, psicologia e teologia, além de todos os esforços da humanidade para compreender o bem e o mal, ainda restava uma porta final para encontrar a liberdade: o caminho para a brincadeira espontânea, não imatura, mas inocente, do espírito feminino. Segundo Luke (1992, p. 17), sem isto não haverá “qualquer criação que conheça a eternidade, depois da longa jornada de retorno, na dimensão do tempo. Ela está e sempre esteve brincando no mundo, na alegria da Criança escondida em cada um de nós”. É quando se encontra a liberdade de todas as convenções e não se importa mais em mostrar as deficiências, como um palhaço. O Tolo ou a Criança dentro de nós nunca é ingênua, pois é a própria sabedoria brincando no mundo.
J. L. Moreno, por sua vez, acreditava nesta criança eterna e livre que deveria ser despertada, com sua centelha divina da espontaneidade, desenvolvendo seu método para trabalhar o acesso a este senso de humor, a este riso, a esta alegria, esta criança livre do aprisionamento das conservas culturais. Ao trabalhar numa realidade suplementar, Moreno valorizava o poder do mágico, do ilusionista, da liberdade transformista de multiplicar formas e possibilidades, produtora de mundos impensados. Neste ponto, afirmamos que Moreno e Jung se encontram num mesmo diapasão: ambos percebem no riso a afirmação de um princípio criador.
Quando um sujeito está em crise, quando o poder ordenador e racional do ego se descontrola, a tensão é demasiada e o ser se sente fragilizado - é preciso que se imponha outra força, em alternância. E o que surge como força capaz de propor outros sentidos à trágica situação, é o expediente da comédia e da magia que existem dentro de cada um.
O palhaço em particular, traz a visão carnavalesca, dionisíaca, ousada e grotesca do mundo, anteriormente citada. E o seu valor de renascimento, regenerador e de renovação positiva, “pois ao inferiorizar, rebaixar, aproxima da terra, favorece a comunhão com a parte inferior do corpo, conduz à comunhão com uma força regeneradora e criadora” (Bakhtin, apud Sampaio, 1992). Segundo Bakhtin, o riso renascentista está ligado ao novo, ao futuro, ao nascimento, a abrir caminhos. A figura do palhaço nos leva a enxergar o mundo de modo diferente, mais móvel, intenso e imaginativo.
Fonte: Psicodrama do Palhaço –o riso como via de acesso ao criativo transformador.
O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.
multipessoa.net
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O Caminho do Palhaço Sagrado: Onde o Trickster e o Xaman convergem
"Se o tolo persistisse em sua tolice, ele se tornaria sábio. " - William Blake
A maioria de nós estão familiarizados com os palhaços prototípicos: palhaços de nariz vermelho, bobos da corte, e tolos do Tarô.
Mas palhaços sagrados levam os palhaços a um outro nível.
Os Ne'wekwe "lama-eaters" eram o equivalente Zuni de um palhaço sagrado. Os Cherokee tem palhaços sagrados conhecidos como Boogers que realizaram "Danças Booger" em torno de uma fogueria comunitária.
No budismo tibetano é chamada de Louca Sabedoria, em que o Guru adota a fim de chocar seus alunos para fora dos padrões culturais e psicológicos fixos. Mas talvez o mais popular tipo de palhaço sagrado é o equivalente Lakota de Heyoka, um xamã trovão, que ensinou através do humor reverso.
Quase todos os tipos de palhaços sagrados combinam o espírito trickster com sabedoria xamânica para criar uma espécie de palhaçada sagrada que mantém o espírito da época em cheque. Seus métodos são pouco convencionais e tipicamente antiéticos ao status quo, mas extremamente eficaz. Eles indiretamente re-impôem os costumes da sociedade, aplicando diretamente o seu próprio senso de humor poderoso na dinâmica social. Eles mostram pelo mau exemplo de como não se comportar.
A principal função de um palhaço sagrado é esvaziar o poder do ego, lembrando os que estão no poder a sua própria falibilidade, ao mesmo tempo, lembrando que aqueles que não estão no poder que o poder tem o potencial para corromper se não for equilibrado com outras forças, ou seja, com humor. Mas palhaços sagrados não derivam de fora simplesmente. Eles não são comediantes, per si, embora possam ser. Eles são mais como trapaceiros, abrindo buracos em coisas que as pessoas levam muito a sério.
Através de atos de sátira e exibições vistosas de blasfêmia, palhaços sagrados criam uma dissonância cultural nascida de sua sabedoria da loucura, de que a ansiedade é livre para entrar em colapso sobre si mesma na gargalhada. Seriedade sagrada se torna ansiedade sagrada que então se torna riso sagrado. Mas sem a sátira corajosa do palhaço sagrado, só voltaria a ser excessivamente sério, estado prescrito de condicionamento cultural.
Para que nós escrevamos nossas vidas para fora de tais estados estagnados, devemos nos tornar algo que tem o poder de superar-se perpetuamente. O palhaço sagrado tem esse poder. Cristo era um palhaço sagrado, zombando da ortodoxia. Buda foi um palhaço sagrado, zombando do ego. Mesmo Gandhi era um palhaço sagrado, zombando de dinheiro e poder.
Como Thomas Merton escreveu, "Em um mundo de tensão e desagregação, é necessário para aqueles que procuram integrar suas vidas interiores não evitar a angústia e fugir dos problemas, mas enfrentá-los em sua realidade nua e em sua simplicidade." Palhaços sagrados são o epítome de tal integração.
Heyokas, por exemplo, lembram ao seu povo que Wakan tank, o grande mistério, está além do bem e do mal; que sua natureza primordial não corresponde a platitudes humanas de certo e errado. Heyokas atuam como espelhos, refletindo as dualidades misteriosas do cosmos de volta para seu povo. Eles andam a Estrada Vermelha, seguindo as pegadas de sangue deixadas para trás por seus irmãos Heyoka.
Eles vão para a frente, para aquele lugar onde o vazio está cheio, a plenitude vazia. "Como representante do Pássaro do Trovão e do Trickster,", escreve Steve Mizrach, "O heyoka lembra seu povo que a energia primordial da natureza está além do bem e do mal. Não corresponde às categorias humanas de certo e errado. Nem sempre seguir os nossos preconceitos do que é esperado e adequado. Realmente não nos preocupamos com nossos problemas e preocupações humanas. Como a eletricidade, pode ser perigoso, ou aproveitado para grandes usos. Se formos demasiados estreitos ou paroquiais na tentativa de compreendê-lo, ele vai nos dar um tiro no meio da noite ".
Palhaços sagrados são adeptos a unir alegria com dor, agindo sobre os imperativos mais altos e inescrutáveis do grande mistério. Eles tendem a governar transição, introduzir paradoxo, limites-borrão, e misturar o sagrado com o profano. Eles são chamados a restabelecer a ponte entre os mundos físico e espiritual. Eles se atrevem a fazer as perguntas que ninguém quer respondidas.
Eles são os avatares incontroláveis do arquétipo Trickster, lembretes constantes da contingência e da arbitrariedade da ordem social, botando buracos em qualquer coisa levada muito a sério, especialmente qualquer coisa assumindo o disfarce de poder. Eles são um canal para as forças que desafiam a compreensão, e por seu absurdo, comportamento reverso, eles estão apenas mostrando o irônico, dualidades misteriosas que existem dentro do próprio universo.
Palhaços sagrados entendem que seres humanos falham, e a falha significa que às vezes é preciso mudar. Eles nos lembram que o objetivo não é manter sempre o mesmo caminho, mas para abraçar as vicissitudes da vida e descobrir novos caminhos e coragem que leva para se adaptar e superar. Levando em consideração o universo profundo, deixando-o ser, e, em seguida, deixá-lo ir, é muito superior ao apego a uma "crença" e ficar preso em uma visão particular. Palhaços sagrados percebem que a maior sabedoria reside neste tipo de descolamento contra-intuitivo, em aceitar que nada permanece o mesmo, e, em seguida, ser pró-ativo sobre o que significa mudar.
Mais importante, eles nos ensinam que não há tal coisa como um mestre iluminado. Estamos todos espiritualmente tolos. O mais próximo que se pode chegar a ser "iluminado" é simplesmente entender que somos ingênuos a isso, e depois rir sobre isso juntos, como uma comunidade. Palhaços sagrados têm a capacidade de plantar esta semente de humor sagrado. Eles são constantemente no meio de uma metanoia, perturbar o imperturbado, confortando o desconfortável e liberando o não libertado. Eles nos lembram, como fez Rumi, que "o ego é apenas um véu entre o homem e Deus."
Fonte: Fractal Enlightenment
“O grau de liberdade que há em qualquer sociedade é diretamente proporcional ao riso que nela existe”
(Zero Mostel, in Humor Judaico)
O palhaço foi considerado por C. G. Jung como um representante do trickster, uma figura arquetípica do herói trapaceiro, ambíguo e contraditório, que zomba e transgride normas. O palhaço teria ligações estreitas com o trickster e seria, acima de tudo, uma exteriorização de algo íntimo, universal, primitivo e puro do indivíduo, que se encontra no riso e no exagero. Figura que pode ser amada, admirada ou temida por todos, que assume a dor, a ternura e o ridículo, integrando estes opostos.
Fazendo uma breve retrospectiva histórica do “palhaço”, encontramos já na Idade Média as figuras do bobo da corte ou bufão sábio. A trupe dos saltimbancos surgiu nas festividades da Idade Média e Renascimento. Nesta época, a concepção do cômico opunha-se à cultura oficial, ao tom sério, feudal e religioso da época. Encontramos esta figura cômica também como o “coringa” dos baralhos e como o “louco”, na carta 22 do Tarô. Somente se tornou realmente a figura do “palhaço” na Renascença italiana com a Commedia dell’ arte ( com a dupla “Branco e Augusto”). Passou a frequentar os palcos das festas populares, representando uma “concepção carnavalesca do mundo, uma segunda vida do povo”, assim como o lado jocoso, grotesco e alegre, recusando o poder instituído e afirmando a vida (Bakhtin, apud Sampaio, 1992, p.40). Surge, assim, uma visão do homem e das relações humanas alternante, necessária e revigoradora. Mas, este poder regenerador positivo do palhaço vai decrescendo após o século 17, mantendo-se atenuado em algumas formas do cômico sobreviventes, ligadas ao folclore, ao circo e à feira.
O trickster é considerado por Jung uma imagem arquetípica do inconsciente coletivo, que se insurge para brincar com a lei. É uma imagem eterna, arquetípica. Um herói mítico que é solitário, mas que se efetiva na relação com o outro, embora se volte sempre para si. O trickster é a imagem arquetípica do brincalhão com impulsos infantis, de natureza ambígua (animal e humana, sublime e grotesca). É o infantil no adulto, o infrator de normas.
(...)
Investigando o espírito cômico, observamos que ele é dialético, costuma dizer “não” a um “sim” aceito, ou dizer “sim” a um “não“ aceito e conservado culturalmente. Tem a capacidade de criar a súbita inversão, na qual a familiaridade do mundo comum é posta em questão, para que possamos ver a surpresa e experimentar o espanto que o familiar tende a esconder. A piada, por exemplo, depende muito de uma espontânea e súbita inversão do comum, da conserva cultural, da ordem das coisas geralmente aceitas. Por isto, há um certo atrativo inevitável na brincadeira.
Segundo Richard Underwood (apud Campbel, 2001, p. 166), “é cômico ver a súbita inversão da certeza ou familiaridade em incerteza ou surpresa”. Ou até pode ser trágico, indicando uma íntima ligação dialética entre tragédia e comédia. Como diz um velho cancioneiro popular, “o que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e medida”.
J. L. Moreno (1889-1974), criador do Psicodrama, tinha plena consciência da força da brincadeira, da alegria e do jogo no trabalho terapêutico. Afirmou que devolveu a alegria à Psiquiatria e buscou no jogo, dramático ou não, o clima lúdico e o riso como condições para promover um estado espontâneo-criador, que ele considerava condição fundamental à saúde mental. Diremos que Moreno desenvolveu um método que visava também despertar o espírito cômico, com seu caráter transformador e transgressor, para que o sujeito com ele pudesse rir do seu drama, ver além da sua tragédia, além do seu modus operandi submerso e submetido às conservas culturais, a atitudes e padrões estereotipados.
Moreno deu, assim, credibilidade e valor à brincadeira como via de acesso ao poder criativo, e em especial no seu poder de colocar em questão o familiar, o conservado, desmontando “certezas”, princípios ou objetivos fixos, cristalizados e não questionados. Vai buscar na atitude lúdica a sua força criativa, para desmontar, desorganizar ou destruir certezas absolutas, pesquisando suas origens, numa perspectiva também genealógica.
(...)
Destacamos também a perspectiva dionisíaca presente do Psicodrama e na figura do palhaço. Dioniso, deus mitológico grego, é um deus do povo, da natureza, do vinho, da liberação pelo êxtase, das emoções, da promoção da vida, da não repressão, da expressão corporal, da dança, do teatro, do sexo e da alegria. Em seu lado sombrio, é o deus da tragédia e da loucura. Mas, é este deus que promove uma via de acesso ao mundo interior, a união das dualidades, do princípio masculino com o feminino, da luz e da sombra, do divino e humano, do alegre e triste, do bom e mau.
Na mitologia e na tragédia grega, é Dioniso quem aponta para a condição humana, que nos vem ensinar o mesmo que os poetas sempre transmitiram, que a vida é um jogo de pares de opostos, são parte de uma unidade permanente. Segundo Albor Reñones (2002, p. 148), “por trás de cada herói e cada sofrimento, ali estaria o deus Dioniso, apontando seu bastão para a nossa cara e dizendo: dance”. Para combater os excessos e a falácia da seriedade, aponta para a dança, para a permissão da alegria e da embriaguês, pois o mundo dá voltas e nada permanece, devendo a cada um de nós entendê-lo como passagem. Este autor (Ibidem, p. 156) nos aponta: “ante a insolubilidade da dor, temos a possibilidade de uma ação solidária, quando não amorosa”. Diríamos que nos resta a poesia, que está presente na alegria.
Segundo López-Pedraza (2002, p.44-45), “Dioniso permite uma perspectiva arquetípica para se relacionar e para diferenciar emoções, como uma via de acesso ao mundo interior”. Segundo Alvarenga (2000, p.143) Dioniso “prega a interação eu-outro de forma simétrica, restituindo a dinâmica do coração”. Dioniso é entendido com representante do arquétipo canalizador da agressividade, da força ou da corporalidade, transformando-a em manifestações criativas. Ao contrário de Apolo (deus do sol, da consciência, da ordem e do pensamento, defensor do patriarcado), Dioniso defende o feminino, é o deus lunar, do inconsciente, da intuição e do sentimento. Representa a dinâmica da alteridade, das relações simétricas, pós-patriarcal (Sousa, apud Alvarenga, 2007).
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Diante do paradoxo e da indivisibilidade da vida, com seus pares de opostos, outros autores assinalam a ambivalência do riso, que este pode ter como fonte uma dor, uma defesa, um temor, mas ao mesmo tempo uma sabedoria. H. Adorno já afirmou que o riso sereno ou terrível marca sempre o momento em que desaparece um temor. Afirmou Platão, em A República, que ”um acesso excessivo de riso quase sempre produz uma reação violenta” (ibidem, p.4). De fato, ainda é difícil definir o senso de humor, embora Shopenhauer já tenha afirmado que a única qualidade divina de um homem era o seu senso de humor. Por outro lado, sabemos que o ser humano é um ser lúdico, ele é apenas completamente humano quando está brincando, um importante anseio humano é o de jogar.
Mas, o que significa o humor? Indicando algo que flui, líquido, a palavra “humor” simboliza também o movimento de forças inconscientes que gradualmente se desenvolvem, porém o “senso de humor” em si pode se originar no senso de proporção das partes com o todo, tanto no mundo externo como interno. Para haver senso de humor maduro deverá haver, além do riso, consciência e afetividade. Charles Williams, no seu livro All Hallow’s eve (apud Luke, 1992, p.16) considerava que “aqueles que apreciam e compreendem, penetram no riso, no coração das coisas. A humildade está intimamente relacionada com senso de humor”. Há muitos tipos de riso, ele pode ocultar uma rejeição destrutiva ou o desprezo, e quando nos rendemos a isto perdemos o senso de humor, que sempre fortalece a compaixão, onde todas as nossas dores e alegrias se tornam inteiras. Ressentimentos, humilhações, culpas, etc. podem ser aceitos com dor e conhecidos também como ocasiões para o riso que cura.
Ainda segundo Williams, no meio da dor emocional é importante manter o senso de humor sobre a própria importância e a dos outros, com a intenção de alegria. Quando nos sentimos absolutamente comuns, adquirimos a simplicidade e o senso de humor; assim, poderemos começar a brincar na liberdade e na simplicidade da criança, poderemos alcançar a filosofia do momento, também defendida por J. L. Moreno, e vivermos no aqui e agora, com o espírito presente em cada momento, sabendo o que realmente se é.
Quando Jesus Cristo diz que “aquele que não receber o reino de Deus como uma criança pequena, nele não entrará” (São Marcos, 10:15), estava se referindo a esta sabedoria divina do riso. Jung considerava que, além da ética essencial, além da beleza da ciência, filosofia, psicologia e teologia, além de todos os esforços da humanidade para compreender o bem e o mal, ainda restava uma porta final para encontrar a liberdade: o caminho para a brincadeira espontânea, não imatura, mas inocente, do espírito feminino. Segundo Luke (1992, p. 17), sem isto não haverá “qualquer criação que conheça a eternidade, depois da longa jornada de retorno, na dimensão do tempo. Ela está e sempre esteve brincando no mundo, na alegria da Criança escondida em cada um de nós”. É quando se encontra a liberdade de todas as convenções e não se importa mais em mostrar as deficiências, como um palhaço. O Tolo ou a Criança dentro de nós nunca é ingênua, pois é a própria sabedoria brincando no mundo.
J. L. Moreno, por sua vez, acreditava nesta criança eterna e livre que deveria ser despertada, com sua centelha divina da espontaneidade, desenvolvendo seu método para trabalhar o acesso a este senso de humor, a este riso, a esta alegria, esta criança livre do aprisionamento das conservas culturais. Ao trabalhar numa realidade suplementar, Moreno valorizava o poder do mágico, do ilusionista, da liberdade transformista de multiplicar formas e possibilidades, produtora de mundos impensados. Neste ponto, afirmamos que Moreno e Jung se encontram num mesmo diapasão: ambos percebem no riso a afirmação de um princípio criador.
Quando um sujeito está em crise, quando o poder ordenador e racional do ego se descontrola, a tensão é demasiada e o ser se sente fragilizado - é preciso que se imponha outra força, em alternância. E o que surge como força capaz de propor outros sentidos à trágica situação, é o expediente da comédia e da magia que existem dentro de cada um.
O palhaço em particular, traz a visão carnavalesca, dionisíaca, ousada e grotesca do mundo, anteriormente citada. E o seu valor de renascimento, regenerador e de renovação positiva, “pois ao inferiorizar, rebaixar, aproxima da terra, favorece a comunhão com a parte inferior do corpo, conduz à comunhão com uma força regeneradora e criadora” (Bakhtin, apud Sampaio, 1992). Segundo Bakhtin, o riso renascentista está ligado ao novo, ao futuro, ao nascimento, a abrir caminhos. A figura do palhaço nos leva a enxergar o mundo de modo diferente, mais móvel, intenso e imaginativo.
Fonte: Psicodrama do Palhaço –o riso como via de acesso ao criativo transformador.
O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o têm atingido na curta extensão já tão longa do tempo que, humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra.
multipessoa.net
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O Caminho do Palhaço Sagrado: Onde o Trickster e o Xaman convergem
"Se o tolo persistisse em sua tolice, ele se tornaria sábio. " - William Blake
A maioria de nós estão familiarizados com os palhaços prototípicos: palhaços de nariz vermelho, bobos da corte, e tolos do Tarô.
Mas palhaços sagrados levam os palhaços a um outro nível.
Os Ne'wekwe "lama-eaters" eram o equivalente Zuni de um palhaço sagrado. Os Cherokee tem palhaços sagrados conhecidos como Boogers que realizaram "Danças Booger" em torno de uma fogueria comunitária.
No budismo tibetano é chamada de Louca Sabedoria, em que o Guru adota a fim de chocar seus alunos para fora dos padrões culturais e psicológicos fixos. Mas talvez o mais popular tipo de palhaço sagrado é o equivalente Lakota de Heyoka, um xamã trovão, que ensinou através do humor reverso.
Quase todos os tipos de palhaços sagrados combinam o espírito trickster com sabedoria xamânica para criar uma espécie de palhaçada sagrada que mantém o espírito da época em cheque. Seus métodos são pouco convencionais e tipicamente antiéticos ao status quo, mas extremamente eficaz. Eles indiretamente re-impôem os costumes da sociedade, aplicando diretamente o seu próprio senso de humor poderoso na dinâmica social. Eles mostram pelo mau exemplo de como não se comportar.
A principal função de um palhaço sagrado é esvaziar o poder do ego, lembrando os que estão no poder a sua própria falibilidade, ao mesmo tempo, lembrando que aqueles que não estão no poder que o poder tem o potencial para corromper se não for equilibrado com outras forças, ou seja, com humor. Mas palhaços sagrados não derivam de fora simplesmente. Eles não são comediantes, per si, embora possam ser. Eles são mais como trapaceiros, abrindo buracos em coisas que as pessoas levam muito a sério.
Através de atos de sátira e exibições vistosas de blasfêmia, palhaços sagrados criam uma dissonância cultural nascida de sua sabedoria da loucura, de que a ansiedade é livre para entrar em colapso sobre si mesma na gargalhada. Seriedade sagrada se torna ansiedade sagrada que então se torna riso sagrado. Mas sem a sátira corajosa do palhaço sagrado, só voltaria a ser excessivamente sério, estado prescrito de condicionamento cultural.
Para que nós escrevamos nossas vidas para fora de tais estados estagnados, devemos nos tornar algo que tem o poder de superar-se perpetuamente. O palhaço sagrado tem esse poder. Cristo era um palhaço sagrado, zombando da ortodoxia. Buda foi um palhaço sagrado, zombando do ego. Mesmo Gandhi era um palhaço sagrado, zombando de dinheiro e poder.
Como Thomas Merton escreveu, "Em um mundo de tensão e desagregação, é necessário para aqueles que procuram integrar suas vidas interiores não evitar a angústia e fugir dos problemas, mas enfrentá-los em sua realidade nua e em sua simplicidade." Palhaços sagrados são o epítome de tal integração.
Heyokas, por exemplo, lembram ao seu povo que Wakan tank, o grande mistério, está além do bem e do mal; que sua natureza primordial não corresponde a platitudes humanas de certo e errado. Heyokas atuam como espelhos, refletindo as dualidades misteriosas do cosmos de volta para seu povo. Eles andam a Estrada Vermelha, seguindo as pegadas de sangue deixadas para trás por seus irmãos Heyoka.
Eles vão para a frente, para aquele lugar onde o vazio está cheio, a plenitude vazia. "Como representante do Pássaro do Trovão e do Trickster,", escreve Steve Mizrach, "O heyoka lembra seu povo que a energia primordial da natureza está além do bem e do mal. Não corresponde às categorias humanas de certo e errado. Nem sempre seguir os nossos preconceitos do que é esperado e adequado. Realmente não nos preocupamos com nossos problemas e preocupações humanas. Como a eletricidade, pode ser perigoso, ou aproveitado para grandes usos. Se formos demasiados estreitos ou paroquiais na tentativa de compreendê-lo, ele vai nos dar um tiro no meio da noite ".
Palhaços sagrados são adeptos a unir alegria com dor, agindo sobre os imperativos mais altos e inescrutáveis do grande mistério. Eles tendem a governar transição, introduzir paradoxo, limites-borrão, e misturar o sagrado com o profano. Eles são chamados a restabelecer a ponte entre os mundos físico e espiritual. Eles se atrevem a fazer as perguntas que ninguém quer respondidas.
Eles são os avatares incontroláveis do arquétipo Trickster, lembretes constantes da contingência e da arbitrariedade da ordem social, botando buracos em qualquer coisa levada muito a sério, especialmente qualquer coisa assumindo o disfarce de poder. Eles são um canal para as forças que desafiam a compreensão, e por seu absurdo, comportamento reverso, eles estão apenas mostrando o irônico, dualidades misteriosas que existem dentro do próprio universo.
Palhaços sagrados entendem que seres humanos falham, e a falha significa que às vezes é preciso mudar. Eles nos lembram que o objetivo não é manter sempre o mesmo caminho, mas para abraçar as vicissitudes da vida e descobrir novos caminhos e coragem que leva para se adaptar e superar. Levando em consideração o universo profundo, deixando-o ser, e, em seguida, deixá-lo ir, é muito superior ao apego a uma "crença" e ficar preso em uma visão particular. Palhaços sagrados percebem que a maior sabedoria reside neste tipo de descolamento contra-intuitivo, em aceitar que nada permanece o mesmo, e, em seguida, ser pró-ativo sobre o que significa mudar.
Mais importante, eles nos ensinam que não há tal coisa como um mestre iluminado. Estamos todos espiritualmente tolos. O mais próximo que se pode chegar a ser "iluminado" é simplesmente entender que somos ingênuos a isso, e depois rir sobre isso juntos, como uma comunidade. Palhaços sagrados têm a capacidade de plantar esta semente de humor sagrado. Eles são constantemente no meio de uma metanoia, perturbar o imperturbado, confortando o desconfortável e liberando o não libertado. Eles nos lembram, como fez Rumi, que "o ego é apenas um véu entre o homem e Deus."
Fonte: Fractal Enlightenment
Last edited by wodouvhaox on Tue Jan 13, 2015 7:16 am; edited 5 times in total
Re: ::: delArismo :::
Um experimento de percepção para explodir sua cabeça
por Gustavo Gitti
Compartilho com você uma visão para ampliar nossa experiência além de eu e outro, tempo e espaço, dentro e fora. Para funcionar, é preciso que dedique 10 minutos e conduza sua percepção tomando os 22 itens abaixo como guia.
Estou fazendo isso junto com você, em primeira pessoa, mas escrevo em segunda pessoa para facilitar o entendimento, já que se eu descrevesse meu percurso mental em primeira pessoa você teria uma tendência a me observar de longe em vez de guiar sua própria mente para ver o que estou apontando.
É como se eu estivesse apontando com o dedo para uma rachadura na parede e você virasse a cabeça para ver a rachadura em vez de ficar olhando e analisando o meu dedo. Minha fala servirá como guia, não tanto como objeto de percepção em si mesmo. Ou seja, a partir de agora, você não mais estará lendo um texto, mas contemplando sua própria experiência pelos 5 sentidos e pela mente.
O processo é bem simples e pé no chão, não tem nada a ver com estados alterados da consciência, mas apenas observar o que já acontece naturalmente e fazer uso da imaginação para abrir mais os olhos.
Talvez sua cabeça não exploda, mas é bem possível que após o último item o ambiente em que você está agora (seja ele qual for) se revele um vasto e assombroso espaço não definido, como um sonho sem vigília anterior ou um filme sem cinema. Não porque nossa experiência de mundo é uma ilusão ou porque vamos alucinar outra coisa, mas justamente porque vamos continuar vendo o que já estamos vendo, sem esforço, sem criar, sem alterar nada.
Parando o mundo e olhando ao redor
1. Imagine como seria sua vida se você tivesse outras visões de mundo, outros padrões de comportamento, energias de hábito, pensamentos, emoções, outro corpo, outra vida, enfim. Você poderia ter nascido como o seu amigo que trabalha ao lado ou, se estiver sozinho, como o desconhecido que está passando na sua rua agora. Nesse sentido, todos os outros seres são você mesmo em outros mundos.
2. Agora olhe diretamente para um outro ser. Se estiver sozinho, imagine eu mesmo escrevendo esse texto ou uma aranha no canto da parede. Perceba que esse outro ser está tendo uma experiência sensorial 100% completa ao redor assim como é a sua, mas a partir de outra perspectiva. Se existirem 790 pessoas no seu prédio, existem 790 prédios nesse exato momento, pois o prédio nada mais é do que a experiência que algum ser tem do prédio – fora disso, não dá nem mesmo pra chamá-lo de prédio.
3. Ao sustentar na mente essas 790 perspectivas, atente para o fato de que a sua é apenas uma. Ou seja, você viveu a vida toda apenas com uma perspectiva, como se o centro do universo inteiro fosse a sua cabeça. Não é fantástico? Dá até medo ou vontade de gargalhar. O mundo é um grande filme 3D: sempre parece que aquela abelha vem direto no nosso nariz, não no nariz dos outros.
4. Sinta a textura do seu mouse. O que você pensa ser a verdadeira textura do mouse é apenas o que você experimenta com a sua pele. Se você tivesse um outro tipo de pele, você teria outra experiência da superfície das coisas. Não são os outros que são frios ou quentes, mas nossa experiência deles de acordo com a temperatura do nosso corpo.
5. Bata com a mão na mesa. Depois use uma caneta para bater na mesa. E depois um papel. Qual é o verdadeiro som da mesa? Qual é o verdadeiro “som” das pessoas, qual é a essência do outro, suas características mais definidas? E das situações?
6. Olhe para a sua realidade 100% abrangente como se fosse apenas um só tecido luminoso. Contemple como todas as características que parecem existir lá fora são inseparáveis de nossos sentidos. As coisas e seres são vazias de características intrínsecas. São livres, transparentes, abertas. Nada tem um som definido, pois depende de como se dá a experiência, de como surgimos juntos. Acreditar que alguém, um lugar ou uma situação é isso ou aquilo, bem, isso é tão inteligente quanto dizer que um belo chocolate é horrível depois de encher nossa boca com leite condensado estragado, com nossas papilas gustativas totalmente alteradas.
7. Olhe a parede e atente para sua cor. Agora lembre que átomos não tem cor e que não há nenhuma informação definida de cor chegando pela luz, entrando nos olhos e sendo processada no cérebro. Se houvesse, uma abelha veria a mesma cor. Mas ela não vê e não temos a prepotência de achar que a abelha está processando errado, entendendo errado, alucinando. Se ela está alucinando, nós também estamos. Melhor então achar que são duas experiências de realidade em vez de achar que a realidade é de um jeito e a abelha está maluca.
8. Do mesmo modo, contemple a experiência de um deficiente visual ou auditivo e veja como ela é uma experiência 100% completa. Nada falta ao “portador de deficiência”. A deficiência só existe quando comparamos as experiências de realidade. Nesse sentido, todos nós somos deficientes se comparado com um ser que tem 12 sentidos ou com um morcego que se relaciona com coisas inacessíveis aos humanos.
9. Agora atente para a continuidade do mundo: não existe pausa nem intervalo, as experiências continuam surgindo como num filme sem frames. Mesmo quando vamos dormir, as experiências seguem em forma de sonho ou no vazio do sono sem sonhos. O mundo não cessa. Olhe para tudo agora e lembre de como as coisas estavam há 10 minutos. Onde está aquele presente agora? Se o passado é lembrado como um sonho ou um filme, isso significa que o presente já é esse sonho, com a diferença de estarmos vivendo-o agora, com essa experiência de realidade.
10. Depois de dissolver a ilusão de solidez e nosso “olhocentrismo” (pois o heliocentrismo é apenas uma teoria que lembramos de tempos em tempos), veja que não existe “o mundo”, mas mundos experimentados como sonhos vividos em primeira pessoa por incontáveis seres. Para cada mundo, um corpo, um sentido de vida, um leque de experiências possíveis, alguns impulsos naturais, algumas filosofias ou instintos, uma corrida para sensações positivas e um afastamento de condições dolorosas.
Olhando para dentro
11. Foque nas sensações do seu corpo. O frio nos dedos, a língua tocando o céu da boca, o olho piscando, os pés no chão, alguma tensão nas costas, a bunda na cadeira. Se você consegue observar tudo isso, então você é outra coisa além dessas sensações.
12. Atente para as emoções e pensamentos. Suas opiniões sobre esse post, suas ideias sobre a realidade, alguma ansiedade ou impaciência, impulsos, desejos, listas de afazeres, planejamentos, lembranças da noite passada… Você consegue testemunhar tudo isso, você é o espaço no qual todas as imagens surgem. Você é livre para direcionar tais pensamentos e emoções, para surfar no que surge ou deixar aquilo ficar até cair por conta própria.
13. Note que você pode ouvir o que acontece atrás das paredes, em outras salas ou na rua, fora de seu alcance de visão. Onde está esse som? Lá fora ou aí dentro?
14. Feche os olhos após ler esse item e observe como você continua experimentando objetos externos (a uma certa distância) mesmo quando olha para dentro. Ou seja, é impossível olhar para dentro. Olhando para o exterior ou para o interior, tudo é visto lá fora, externamente, mesmo imagens mentais e sensações corporais. Nesse sentido, todos os objetos surgem em um espaço que não tem dentro e não tem fora. Sons e pensamentos, fenômenos externos e internos são da mesma natureza.
15. Respire e repouse nessa abertura pela qual o mundo se desenrola. Há um grande espaço no qual você surge junto com as coisas. Você é um outro para si mesmo. Você pode se ver como uma outra pessoa, assim como vê sua imagem no espelho e se esforça para lembrar que aquele é você.
16. Enquanto olha para si mesmo como um outro qualquer, você nota que essa espacialidade é livre de todas as coisas com as quais você vai se identificar no minuto seguinte. E então você sorri para tudo o que você acha que você é, todas as identidades que surgiram em suas diversas relações, todos os seus dramas, emoções, achismos, filosofias, medos, orgulhos, vitórias, derrotas. Qualidades negativas e positivas, nada disso é seu, por mais que você seja capaz de incorporá-las e vivê-las. Tudo dança nesse espaço imóvel sem dono.
17. Olhe para o olho que está observando tudo isso até aqui. Esse olho é tímido, chato, ciumento, ansioso, alegre, triste, depressivo, cansado, desorganizado, carente, orgulhoso? Ele fica dentro ou fora de você? Houve algum momento na sua vida em que ele não estava presente?
Olhando para tudo e “voltando” ao mundo
18. Olhe novamente para os outros seres ao seu redor (ou imagine-os). Veja como eles são idênticos a você. Vivem em mundos de significação, tomam fatos como naturais, tem metas e desejos, prioridades, impulsos, certezas. Observe como cada um deles não é uma pessoa, mas uma bolha, um mundo inteiro.
19. Observe como eles chegam para trabalhar sem perceber o assombro que é nascer e não saber de onde, morrer e não entender por quê. Contemple como eles rodopiam a partir de seus próprios referenciais, deixando comentários em blogs, fofocando, sorrindo, chorando, falando alto, se debatendo, reclamando, se empolgando, se frustrando, construindo histórias, nascendo e morrendo sob um mesmo imperturbável céu.
20. Sabendo que cada um está agarrado a um joystick com seu próprio videogame, imersos em vários tipos de jogos, filmes, universos, sonhos, imagine como seria divertido ir além do próprio jogo e ajudar as pessoas a fazer o mesmo. Porém, já que é impossível acordar de um sonho sem cair em outro, então visualize como seria jogar um jogo sabendo que é jogo, atuar sabendo que é um filme, acordar dentro e tornar o sonho lúcido.
21. Esconda o sorriso malicioso que surgiu agora e volte ao mundo com essa loucura de pano de fundo, lembrando que todos os outros também tem esse mesmo sorriso por trás de suas seriedades.
22. De vez em quando, experimente não se restringir a se relacionar com as identidades dos outros dentro desses jogos. Pare de focar a tela e dê um toque no ombro do cara ao lado no sofá, pegue na perna de sua mulher e olhe diretamente nos olhos de jogador, de ator, de sonhador das pessoas.
* Roteiro inspirado em alguns ensinamentos do Lama Padma Samten e por outros experimentos de percepção de Alan Watts, Ken Wilber, Otto Scharmer, Douglas Harding, Carlos Castaneda e Richard Linklater. Credito os benefícios a eles e assumo responsabilidade por qualquer confusão adicional que esse texto possa criar.
fonte: papodehomem
por Gustavo Gitti
Compartilho com você uma visão para ampliar nossa experiência além de eu e outro, tempo e espaço, dentro e fora. Para funcionar, é preciso que dedique 10 minutos e conduza sua percepção tomando os 22 itens abaixo como guia.
Estou fazendo isso junto com você, em primeira pessoa, mas escrevo em segunda pessoa para facilitar o entendimento, já que se eu descrevesse meu percurso mental em primeira pessoa você teria uma tendência a me observar de longe em vez de guiar sua própria mente para ver o que estou apontando.
É como se eu estivesse apontando com o dedo para uma rachadura na parede e você virasse a cabeça para ver a rachadura em vez de ficar olhando e analisando o meu dedo. Minha fala servirá como guia, não tanto como objeto de percepção em si mesmo. Ou seja, a partir de agora, você não mais estará lendo um texto, mas contemplando sua própria experiência pelos 5 sentidos e pela mente.
O processo é bem simples e pé no chão, não tem nada a ver com estados alterados da consciência, mas apenas observar o que já acontece naturalmente e fazer uso da imaginação para abrir mais os olhos.
Talvez sua cabeça não exploda, mas é bem possível que após o último item o ambiente em que você está agora (seja ele qual for) se revele um vasto e assombroso espaço não definido, como um sonho sem vigília anterior ou um filme sem cinema. Não porque nossa experiência de mundo é uma ilusão ou porque vamos alucinar outra coisa, mas justamente porque vamos continuar vendo o que já estamos vendo, sem esforço, sem criar, sem alterar nada.
Parando o mundo e olhando ao redor
1. Imagine como seria sua vida se você tivesse outras visões de mundo, outros padrões de comportamento, energias de hábito, pensamentos, emoções, outro corpo, outra vida, enfim. Você poderia ter nascido como o seu amigo que trabalha ao lado ou, se estiver sozinho, como o desconhecido que está passando na sua rua agora. Nesse sentido, todos os outros seres são você mesmo em outros mundos.
2. Agora olhe diretamente para um outro ser. Se estiver sozinho, imagine eu mesmo escrevendo esse texto ou uma aranha no canto da parede. Perceba que esse outro ser está tendo uma experiência sensorial 100% completa ao redor assim como é a sua, mas a partir de outra perspectiva. Se existirem 790 pessoas no seu prédio, existem 790 prédios nesse exato momento, pois o prédio nada mais é do que a experiência que algum ser tem do prédio – fora disso, não dá nem mesmo pra chamá-lo de prédio.
3. Ao sustentar na mente essas 790 perspectivas, atente para o fato de que a sua é apenas uma. Ou seja, você viveu a vida toda apenas com uma perspectiva, como se o centro do universo inteiro fosse a sua cabeça. Não é fantástico? Dá até medo ou vontade de gargalhar. O mundo é um grande filme 3D: sempre parece que aquela abelha vem direto no nosso nariz, não no nariz dos outros.
4. Sinta a textura do seu mouse. O que você pensa ser a verdadeira textura do mouse é apenas o que você experimenta com a sua pele. Se você tivesse um outro tipo de pele, você teria outra experiência da superfície das coisas. Não são os outros que são frios ou quentes, mas nossa experiência deles de acordo com a temperatura do nosso corpo.
5. Bata com a mão na mesa. Depois use uma caneta para bater na mesa. E depois um papel. Qual é o verdadeiro som da mesa? Qual é o verdadeiro “som” das pessoas, qual é a essência do outro, suas características mais definidas? E das situações?
6. Olhe para a sua realidade 100% abrangente como se fosse apenas um só tecido luminoso. Contemple como todas as características que parecem existir lá fora são inseparáveis de nossos sentidos. As coisas e seres são vazias de características intrínsecas. São livres, transparentes, abertas. Nada tem um som definido, pois depende de como se dá a experiência, de como surgimos juntos. Acreditar que alguém, um lugar ou uma situação é isso ou aquilo, bem, isso é tão inteligente quanto dizer que um belo chocolate é horrível depois de encher nossa boca com leite condensado estragado, com nossas papilas gustativas totalmente alteradas.
7. Olhe a parede e atente para sua cor. Agora lembre que átomos não tem cor e que não há nenhuma informação definida de cor chegando pela luz, entrando nos olhos e sendo processada no cérebro. Se houvesse, uma abelha veria a mesma cor. Mas ela não vê e não temos a prepotência de achar que a abelha está processando errado, entendendo errado, alucinando. Se ela está alucinando, nós também estamos. Melhor então achar que são duas experiências de realidade em vez de achar que a realidade é de um jeito e a abelha está maluca.
8. Do mesmo modo, contemple a experiência de um deficiente visual ou auditivo e veja como ela é uma experiência 100% completa. Nada falta ao “portador de deficiência”. A deficiência só existe quando comparamos as experiências de realidade. Nesse sentido, todos nós somos deficientes se comparado com um ser que tem 12 sentidos ou com um morcego que se relaciona com coisas inacessíveis aos humanos.
9. Agora atente para a continuidade do mundo: não existe pausa nem intervalo, as experiências continuam surgindo como num filme sem frames. Mesmo quando vamos dormir, as experiências seguem em forma de sonho ou no vazio do sono sem sonhos. O mundo não cessa. Olhe para tudo agora e lembre de como as coisas estavam há 10 minutos. Onde está aquele presente agora? Se o passado é lembrado como um sonho ou um filme, isso significa que o presente já é esse sonho, com a diferença de estarmos vivendo-o agora, com essa experiência de realidade.
10. Depois de dissolver a ilusão de solidez e nosso “olhocentrismo” (pois o heliocentrismo é apenas uma teoria que lembramos de tempos em tempos), veja que não existe “o mundo”, mas mundos experimentados como sonhos vividos em primeira pessoa por incontáveis seres. Para cada mundo, um corpo, um sentido de vida, um leque de experiências possíveis, alguns impulsos naturais, algumas filosofias ou instintos, uma corrida para sensações positivas e um afastamento de condições dolorosas.
Olhando para dentro
11. Foque nas sensações do seu corpo. O frio nos dedos, a língua tocando o céu da boca, o olho piscando, os pés no chão, alguma tensão nas costas, a bunda na cadeira. Se você consegue observar tudo isso, então você é outra coisa além dessas sensações.
12. Atente para as emoções e pensamentos. Suas opiniões sobre esse post, suas ideias sobre a realidade, alguma ansiedade ou impaciência, impulsos, desejos, listas de afazeres, planejamentos, lembranças da noite passada… Você consegue testemunhar tudo isso, você é o espaço no qual todas as imagens surgem. Você é livre para direcionar tais pensamentos e emoções, para surfar no que surge ou deixar aquilo ficar até cair por conta própria.
13. Note que você pode ouvir o que acontece atrás das paredes, em outras salas ou na rua, fora de seu alcance de visão. Onde está esse som? Lá fora ou aí dentro?
14. Feche os olhos após ler esse item e observe como você continua experimentando objetos externos (a uma certa distância) mesmo quando olha para dentro. Ou seja, é impossível olhar para dentro. Olhando para o exterior ou para o interior, tudo é visto lá fora, externamente, mesmo imagens mentais e sensações corporais. Nesse sentido, todos os objetos surgem em um espaço que não tem dentro e não tem fora. Sons e pensamentos, fenômenos externos e internos são da mesma natureza.
15. Respire e repouse nessa abertura pela qual o mundo se desenrola. Há um grande espaço no qual você surge junto com as coisas. Você é um outro para si mesmo. Você pode se ver como uma outra pessoa, assim como vê sua imagem no espelho e se esforça para lembrar que aquele é você.
16. Enquanto olha para si mesmo como um outro qualquer, você nota que essa espacialidade é livre de todas as coisas com as quais você vai se identificar no minuto seguinte. E então você sorri para tudo o que você acha que você é, todas as identidades que surgiram em suas diversas relações, todos os seus dramas, emoções, achismos, filosofias, medos, orgulhos, vitórias, derrotas. Qualidades negativas e positivas, nada disso é seu, por mais que você seja capaz de incorporá-las e vivê-las. Tudo dança nesse espaço imóvel sem dono.
17. Olhe para o olho que está observando tudo isso até aqui. Esse olho é tímido, chato, ciumento, ansioso, alegre, triste, depressivo, cansado, desorganizado, carente, orgulhoso? Ele fica dentro ou fora de você? Houve algum momento na sua vida em que ele não estava presente?
Olhando para tudo e “voltando” ao mundo
18. Olhe novamente para os outros seres ao seu redor (ou imagine-os). Veja como eles são idênticos a você. Vivem em mundos de significação, tomam fatos como naturais, tem metas e desejos, prioridades, impulsos, certezas. Observe como cada um deles não é uma pessoa, mas uma bolha, um mundo inteiro.
19. Observe como eles chegam para trabalhar sem perceber o assombro que é nascer e não saber de onde, morrer e não entender por quê. Contemple como eles rodopiam a partir de seus próprios referenciais, deixando comentários em blogs, fofocando, sorrindo, chorando, falando alto, se debatendo, reclamando, se empolgando, se frustrando, construindo histórias, nascendo e morrendo sob um mesmo imperturbável céu.
20. Sabendo que cada um está agarrado a um joystick com seu próprio videogame, imersos em vários tipos de jogos, filmes, universos, sonhos, imagine como seria divertido ir além do próprio jogo e ajudar as pessoas a fazer o mesmo. Porém, já que é impossível acordar de um sonho sem cair em outro, então visualize como seria jogar um jogo sabendo que é jogo, atuar sabendo que é um filme, acordar dentro e tornar o sonho lúcido.
21. Esconda o sorriso malicioso que surgiu agora e volte ao mundo com essa loucura de pano de fundo, lembrando que todos os outros também tem esse mesmo sorriso por trás de suas seriedades.
22. De vez em quando, experimente não se restringir a se relacionar com as identidades dos outros dentro desses jogos. Pare de focar a tela e dê um toque no ombro do cara ao lado no sofá, pegue na perna de sua mulher e olhe diretamente nos olhos de jogador, de ator, de sonhador das pessoas.
* Roteiro inspirado em alguns ensinamentos do Lama Padma Samten e por outros experimentos de percepção de Alan Watts, Ken Wilber, Otto Scharmer, Douglas Harding, Carlos Castaneda e Richard Linklater. Credito os benefícios a eles e assumo responsabilidade por qualquer confusão adicional que esse texto possa criar.
fonte: papodehomem
Re: ::: delArismo :::
“When we remember we are all mad, the mysteries disappear and life stands explained.” - Mark Twain
O Louco
Gibran Kalil Gibran
"Tem gente que me pergunta como foi que enlouqueci. Foi assim: certo dia,muito antes dos deuses nascerem, acordei de um longo sono e descobri que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu tinha feito e usado em sete vidas - e sai correndo pelas ruas apinhadas de gente, gritando:
_ Ladrões, ladrões, malditos ladrões!
Os homens e as mulheres riam, mas alguns correram pra casa com medo de mim. E, quando cheguei à praça do mercado, um jovem que estava no terraço de uma casa gritou:
_É um louco!
Ergui os olhos para ele e o sol beijou meu rosto nu pela 1ª vez.
Pela 1ª vez o sol beijou meu rosto nu e minha alma inflamou-se de amor pelo sol e não quis saber mais de máscaras. E gritei em transe:
_Abençoados, abençoados ladrões que roubaram minhas máscaras!
Foi assim que enlouqueci. E encontrei liberdade e segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem nos escravizam de algum modo. Mas não quero ficar orgulhoso demais de minha segurança. Nem na cadeia um ladrão está a salvo de outro ladrão"
O Louco
Gibran Kalil Gibran
"Tem gente que me pergunta como foi que enlouqueci. Foi assim: certo dia,muito antes dos deuses nascerem, acordei de um longo sono e descobri que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas - as sete máscaras que eu tinha feito e usado em sete vidas - e sai correndo pelas ruas apinhadas de gente, gritando:
_ Ladrões, ladrões, malditos ladrões!
Os homens e as mulheres riam, mas alguns correram pra casa com medo de mim. E, quando cheguei à praça do mercado, um jovem que estava no terraço de uma casa gritou:
_É um louco!
Ergui os olhos para ele e o sol beijou meu rosto nu pela 1ª vez.
Pela 1ª vez o sol beijou meu rosto nu e minha alma inflamou-se de amor pelo sol e não quis saber mais de máscaras. E gritei em transe:
_Abençoados, abençoados ladrões que roubaram minhas máscaras!
Foi assim que enlouqueci. E encontrei liberdade e segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aqueles que nos compreendem nos escravizam de algum modo. Mas não quero ficar orgulhoso demais de minha segurança. Nem na cadeia um ladrão está a salvo de outro ladrão"
Last edited by wodouvhaox on Fri Apr 11, 2014 3:33 pm; edited 2 times in total
Re: ::: delArismo :::
“I like nonsense — it wakes up the brain cells. Fantasy is a necessary ingredient in living. It’s a way of looking at life through the wrong end of a telescope… and that enables you to laugh at all of life’s realities.” — Dr Seuss
Re: ::: delArismo :::
"Não é o vício nem a experiência que desflora a alma: É só o pensamento. Este perpétuo analisar de tudo é que tira a inocência verdadeira." Fernando Pessoa
Re: ::: delArismo :::
O Direito de Permanecer em Silêncio
James Hillman
Deixem-me observar logo no começo minhas duas suposições chaves. Primeiramente eu assumo que como membro das profissões da ajuda, provavelmente vocês fazem um trabalho terapêutico com crianças ou ainda pessoas mais jovens, onde o termo terapêutico é usado para cobrir o largo campo das profissões de ajuda. Em segundo lugar, por crianças e pessoas ainda mais jovens eu não quero dizer apenas aqueles a quem encontramos em escolas, escritórios e consultórios. Eu me refiro também ao infante interno, a criança e o adolescente dentro delas, que rebelde, sem iniciação, algumas vezes um pouco retardada ou deixada para trás, outras vezes uma pessoa mais jovem hiperfantástica e bem sucedida que nós levamos a qualquer lugar a que vamos e que nos dá tanto trabalho que ele ou ela tem que usar senhas como “Ei, sem problema”, e “Tudo bem”.
Esta figura é a parte de nós a quem nos referimos quando dizemos de nós mesmos ou quando alguém diz de nós, que somos imaturos, pueril, subdesenvolvido, infantil, auto-erótico, narcisista, ou apenas um grande bebê. E esse grande bebê, que aparece em nossos humores e exigências e vagueia por nossos sonhos sob a forma de crianças que conhecemos nos primeiros anos de escola, mantém-nos em terapia com nós mesmos. Nós estamos na profissão de ajuda parcialmente porque nós estamos trabalhando em nome do comportamento perturbado e necessitado das crianças lá fora, e também parcialmente porque nós estamos trabalhando em nome do comportamento perturbado e necessitado das crianças aqui dentro, em nós mesmos (Guggenbühl-Craig, 1971). Somos todos terapeutas e (somos) todos casos na medida em que estamos trabalhando em nós mesmos, na maior parte das vezes.
Desta forma eu estou tanto falando sobre alguma coisa quanto estou me dirigindo a alguma coisa em você a partir de alguma coisa em mim. Este estilo de procedimento é o que eu chamo de “conversa psicológica”: o elemento subjetivo nunca está muito longe além do alcance da vista. Nós nunca poderemos sair da psiquê. O que quer que falemos sobre qualquer coisa, diz alguma coisa a nosso respeito.
A metáfora básica para o trabalho terapêutico a ser explorado aqui é tirada da lei: “Você tem o direito de permanecer em silêncio. Qualquer coisa que diga, pode e vai ser usada contra você”. Uma declaração mais completa deste aviso é taquigraficamente chamada de “Miranda” a partir de uma decisão da Suprema Corte.
Eu uso esta declaração firme deliberadamente para cortar através do otimismo ingênuo que permeia, se não perverte, muito do trabalho realizado com crianças. Do naturalismo romântico de Jean-Jacques Rousseau, passando pela bondade paternalista de Spencer Tracy em “Boystown” e as crianças assexuadas e inocentes de Alice Miller, existe uma imagem idealizada da criança. E esta criança idealizada nos influencia a sermos educadores enfáticos e reformadores sociais irrealistas e sentimentais. In loco parentis veio a significar não apenas no lugar de parentes mas melhor do que parentes.
O que eu estou tentando cortar através não é a idealização da criança — o que, por falar nisto, eu considero ser absolutamente necessário para o nosso trabalho: nós devemos idealizar a juventude e deixar que seus ideais nos inspirem — mas antes eu quero mostrar a ofuscação sentimental de nossa conscientização, esta idealização narcisística de nós mesmos como sendo boas, útil, salvando pessoas, o que nos leva a uma redução de nossa perspicácia. Quando ajudando pessoas mais jovens a “crescer”, nós temos a tendência a nos tornarmos sentimentais, e o sentimentalismo nos tira a eficácia.
“Você tem o direito de permanecer em silêncio.” Hah! Que piada! Se ao menos eles fossem ficar em silêncio e sentados quietos. Zunindo pelo quarto como mísseis ou caminhões gigantescos com 18 rodas. Reclinados, extravasando, hiper, incessantes. Ou eles abusam do direito de se fechar, monossilábicos e taciturnos.
Uma mulher cuja terapia artística eu supervisionei por uns tempos acalmou a confusão e conseguiu ser o foco da atenção de cerca de 15 crianças de 4 a 7 anos ao lhes contar uma história. Elas ficaram fascinadas. Ao final ela pediu a cada uma para desenhar a história. A maioria fez uma figura a partir da história, o pato, a casa, a menininha sob a árvore. Então ela pediu que fizessem um novo desenho da história. Este segundo desenho se mostrou de um modo geral menos uma ilustração de uma figura ligada com a história, e mais uma descida ao estado de ânimo de cada um deles e ao tema que libertava a fantasia para prosseguir além.
Duas ou três coisas úteis emergem deste exemplo. Primeiramente, ao contar uma história ela leva as crianças ao silêncio. Este tipo de silêncio produz uma qualidade de atenção diferente do silêncio disciplinar. O silêncio disciplinar, é claro, é repressivo. Daí o jogo de corpo no limite entre a rizadinha reprimida e a rebelião ou a lacuna de não escutar. Em segundo lugar, o exemplo mostra que a imaginação se aprofunda com o silêncio. Os desenhos variaram de ilustrações ainda vinculada ao referencial exterior, a história com pato, casa e a menininha sob a árvore, ao que não foi contado, ao menos não na história. Em termos atuais a imaginação se deslocou da presença para a ausência: a imaginação tende a ir para o que não está lá. É por isto que chamamos o tornar visível o que não está lá de expressão criativa.
Repare em meu relato os trocadilhos com a palavra “desenho”. As crianças foram arrastadas ao silêncio pela história e, como a história foi contada em seus detalhes, foram feitos desenhos dela e a partir dela. A imaginação “desenha”. Ela arrasta a atenção juntamente com ela, e ela desenha, esboça ou configura imagens delineadas. Para colocar tudo isto de outra forma, a imaginação delineia a si mesma por meio de imagens; estas imagens arrastam e prendem a atenção. Elas concentram pensamentos e sentimentos, deixando a ação em suspenso (Robertson, 1982). Quer se requeira silêncio para que possa acontecer este desenho ou quer que o silêncio resulte deste arrasto para si mesmo ou a retirada da concentração da psiquê em meio as imagens, existe uma relação importante, necessária e curiosa entre o silêncio e o poder “desenhativo” da imaginação.
Eu tenho a tendência de sentir o silêncio como um silêncio animal, assim como um gato à espreita, um cachorro apontando a caça, um lagarto imóvel na parede. Parece existir um nível filogenético da alma, um ser animal que se liga com os animais reais em silêncio, e que se dá especialmente bem com o lado criança da psiquê. Eu me inclino a pensar que este ser animal, o qual é muito velho e não de todo estúpido, é aquele a quem a terapia deve atrair e com quem ela deve se relacionar para que a terapia tenha lugar. E essa relação requer o silêncio de um animal atento. As noções de confiança terapêutica, empatia, segurança e apoio parecem a mim se referir e se apoiar num silêncio animal mais básico. A questão para nós então se torna como falar sem usar o que dissemos contra o silêncio?
INTERPRETAÇÃO CONTRA A IMAGINAÇÃO
É claro que a frase “qualquer coisa que você diga, pode e vai ser usada contra você.” se refere na realidade à interpretações. Temos a tendência de usar o que as pessoas disseram para nós contra elas ou qualquer outra pessoa — pais que abusem dos filhos, um inspetor de liberdade condicional, um burocrata anônimo. A idealização da juventude e do crescimento freqüentemente evoca uma tendência, contrária. Nós queremos ser realistas, moer tudo e esfregar um nariz na poeira. Talvez nós não possamos fazer este enfrentamento diretamente. Poderemos talvez fazê-lo indiretamente com explicações redutivas, especialmente sexuais. O que realmente está acontecendo neste caso é resultado de um abuso sexual, fantasia sexual, maturação psicosexual, inferioridade sexual, obsessão, sedução, ciúmes, ou a falta de uma identidade sexual, e daí por diante. As interpretações sexuais de problemas não são mais reais do que as outras interpretações. Elas parecem ser mais realistas apenas porque propiciam uma contrapartida mundana e talvez suja, antagônica às idealizações.
De forma similar, idealizações sentimentais de uma infância inocente e assexuada propiciam uma contrapartida antagônica a sexualidade e nega a criança seu ou sua própria autêntica sexualidade precoce. Além do mais, as interpretações sexuais tendem a fazer a nós, conselheiros, nos sentirmos mais sábios e mais experientes do que nossos jovens clientes, desta forma enfraquecendo seu poder de imaginar suas próprias experiências.
Existem outras interpretações efetivas que resultam em usar as interpretações contra o cliente. Por exemplo, “Você deve odiar o seu pai; eu suponho que você quer bater nele” ou “Você está com ciúmes de sua mãe ter amantes quando você não consegue ir adiante com nenhum rapaz.” Interpretações contra a família do cliente são as preferidas. Outras explicações redutivas que supostamente dizem porque um comportamento ocorre, soa mais ou menos assim: “Você pensa que ninguém liga, você se sente inútil e fracassado; você pensa que não deveria sentir o que você sente.” Mais uma vez esses exemplos apontam estruturas negativas. eles explicam por dizer o que está errado. Eles “shoot down the stars”.
Mas existe um veneno maior ainda escondido na interpretação que damos aos nossos clientes. Nossos relatos tendem a ser racionais, causais e conceituais. Eles estão numa freqüência diferente, que cria uma estática que interfere no silêncio e interrompe a imaginação. A imaginação é um processo de elaboração significativa. Ela avança por si elaborando seu próprio material, assim como as crianças elaboraram o pato, a casa, e a menina debaixo da árvore, passando para um sapo num lago com um carro vazio próximo e uma nuvem de chuva com relâmpagos se aproximando, como um menino que não quer que seu pai chegue em casa enquanto imagina a si mesmo numa motocicleta com uma garota na garupa e indo para o México com os rapazes.
Esta atividade de elaboração significativa canaliza as emoções em imagens, ou por meio de imagens. A imaginação não é impetuosa e descuidada. Ela procede em padrões definidos que são quase estereótipos ou clichês. Então, mais uma vez e de novo, existem significados básicos: cair e voar e cruzar um riacho; construindo e destruindo; forças opostas e reconciliações; climas e altitudes; fogo e água; partes do corpo e coisas do corpo; áreas desperdiçadas, abrigos subterrâneos; florestas escuras e mares. Existem máquinas e ferramentas e cores e números, animais e estrelas, personagens do poder, da bondade e do ensino, da proteção, da perseguição e da crueldade. Estas figuras e estes temas ou mitemas aparecem em contos folclóricos e de fadas, em histórias, em parques temáticos e na televisão, em ritos religiosos e jogos da vizinhança, e em sonhos e em desenhos por clientes. Eles dão padrões de significados para nossas vidas. Eles são os universais da imaginação, os arquétipos. Uma vez que nunca poderemos sair da psiquê, nós teremos que estar num ou noutro destes padrões.
Nossas vidas já eram significativas antes que nós as entendêssemos, antes que nós as explicássemos. Ou, melhor dizendo, nossas vidas se tornam significativas no momento em que nós reconhecemos um padrão de imaginação em meio a uma bagunça. Cada bagunça é uma elaboração da imaginação. Uma bagunça é de fato “tudo na mente”.
Então, interpretações, explicações e relatos do que você está fazendo e o porque — todas as respostas “porque” para a pergunta “por que?” — basicamente traduzem imagens em conceitos. Pessoas amontoando-se sob o vão da porta torna-se “abrigando”; sangue pingando de um dedo perfurado torna-se “ferindo”; árvores com troncos salpicados de manchas marrons e largas raízes traduzem-se ao conceito de “crescimento”. Nós começamos a pensar em crescimento e ao usar a palavra crescimento, nós perdemos a árvore. Seus galhos e ramos e tronco e largas raízes, todos os quais estão crescendo e em decadência. A árvore, vital com sua própria beleza e ricamente elaborando a si mesma, desaparece. Nós trocamos esta árvore por “crescimento” quando nós trocamos a imagem para o conceito. A cobra negra do sonho da qual você tenta correr torna-se seu “problema com a mãe”, seu “problema sexual”, ou a sua “ansiedade da morte”. A cobra, que é uma cobra, torna-se um “problema”. Uma cobra, que deve ser vigiada com atenção e respondida à altura , torna-se uma “ansiedade”. Agora é uma cobra morta, empalhada com conceitos psicológicos. Ela foi interpretada: o que quer que tenhamos dito, foi usada contra ela. Para manter o imaginário em andamento com sua vida de elaborações significativas, estas interpretações conceituais devem ser silenciadas (McConeghey, 1981). Nós temos que respeitar o amontoado de pessoas debaixo do vão da porta, o sangue que pinga, o tronco salpicado da árvore, e a cobra negra como tal. Elas são silenciosas como as pinturas são silenciosas, como a dança é, e como a música também é.
Resumindo, a imagem é primária; o conceito é secundário. A imagem é poética; a interpretação, prosaica. A imagem é emocionalmente significante como tal; a interpretação reúne novamente a emoção na racionalidade. A imagem é intensamente vívida. Ela se move com sua própria vida. Ela é desencorajadora, fascinante, repugnante, deslumbrante, dolorosa, com energia particularizante, intensamente individual, isto é, sua imagem sozinha chegando silenciosamente do nada. Apenas você olha para ela. As imagens levantam-se nos indivíduos de forma livre e expontânea. Elas tem um efeito individualizante, quase anárquico em razão de sua imprevisibilidade. Esta autonomia ou anarquia da imagem é a fonte da expressão pessoal, fazendo cada pintura, música, e história diferente. Também esta anarquia é a fonte do conflito que nós temos quando tentamos dar uma expressão de entendimento às nossas imagens particulares.
A boa interpretação fala para a imagem em sua própria linguagem (Watkins, 1981). A boa interpretação não usa grandes e frouxos conceitos como crescimento, sexualidade, criatividade, agressão, e ansiedade, mas responde com imagens compactas como a da cobra negra querendo chegar perto de você, a tocar em você. Ela precisa de mais calor corporal? O amontoado de pessoas debaixo do vão da porta, o que vocês estão vestindo? De quem é essa porta? Que tipo de prédio? Tem alguém por perto? Dá para fazer um a pequena fogueira aqui, ou está ventando muito, ou o quê? Estes comentários não pedem respostas. Eles não explicam nada, ao invés disso eles levam ainda mais para uma imaginação silenciosa. A imaginação é induzida a voltar-se para si própria, a olhar e ouvir e sentir, e a pensar ainda mais. Outra vez este sentimento, sensação, e pensamento é intensamente individual, uma individualidade que afoga no pântano das palavras coletivas como agressão, ansiedade, sexualidade, e daí em diante. Além do mais, estas respostas apelam para a imagem em si estar presente na resposta. Nós respondemos do vão da porta ou na presença da cobra. Quando conversamos com a criança, estamos ao lado do lago do pato. Nós estamos na imagem, não somos observadores externos.
Vamos retornar ao nosso lema, “Qualquer coisa que você diga, pode e vai ser usada contra você.” Existem dois “você” nesta frase: o você que está imaginando e o você que está fazendo perguntas e explicando. Estes dois “você” podem ser encenados por duas pessoas no aconselhamento, e eles podem ser encenados também por cada um de nós isoladamente em nossos diálogos silenciosos para a frente e para trás com nós mesmos quando exploramos nossos sonhos e fantasias particulares. Porque o “você” que interpreta muitas vezes reduz um sonho ao racionalizar o poder de suas imagens, o sonho pede silêncio de forma a ser mantido vital e intacto.
Esta análise coloca um dilema entre dois erros, entre não dizer nada de um lado — apenas um “sim” refletivo Rogeriano, o que muitas vezes é uma não intervenção repetitiva — contra explicações conceitualizadas sobre a matança de cobras do outro lado. Então, para evitar esse dilema, eu não proponho um silêncio literal como se todo discurso fosse destrutivo à imaginação. O silêncio não precisa dizer literalmente silêncio.
A questão não é se falamos ou não falamos. A questão é: como falar, o que dizer, quando proferir? O “quando” da intervenção, o “que” de emolduramento teórico que você usa na interpretação, e o “como” de técnica para assegurar, persuadir, limitar ou confrontar são velhos conhecidos dos conselheiros. Em seu treinamento você tem muita coisa sobre a escolha do tempo mais adequado para fazer algo, teorias e técnicas. Então, ao invés disso, deixem-me forçar meu ponto sobre o “quem”.
Este “quem” que fala deve ter origem no mesmo lugar, e falar no mesmo estilo do material para quem se dirige. Esta correspondência inerente é mais do que empatia. Ela é mais do que uma habilidade na captação da sensibilidade. Mais apropriadamente, ela é a resposta animal que dá uma voz humana ao silêncio da imaginação. É a voz de um agente imaginário livre sentido-se à vontade tanto no sonho quanto nas artes.
DIREITOS HUMANOS
Tendo estabelecido uma relação entre o silêncio e a imaginação e entre o discurso danoso e a imaginação, eu agora quero mostrar que a imaginação é importante para os direitos humanos e que a base para esses direitos está no silêncio. O silêncio pressupõe uma vida interior. Quando a atividade é imobilizada, “stimuli” são paralisados e entorpecidos, e as pressões relacionadas são relaxadas, a imaginação germina livremente — em liberdade. Desta forma, o silêncio tem implicações políticas.
Antes do direito de liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de credo, e eleições livres, há o direito de se permanecer em silêncio porque este direito assume a pessoa livre no interior que fala, que imprime, que reza, e que vota —esse “quem” individualizado que não pode ser maltratado, invadido ou coagido. Os direitos, de acordo com nossa noções políticas, são inalienáveis: eles se alojam na alma individualizada, e a liberdade, de acordo com estas mesmas noções políticas, é exercida por esse agente que tem alguma coisa para dizer ou publicar, que vota em escolhas pessoais e leva em consideração deuses pessoais. Todos os outros direitos requerem, antes de tudo, alguém de imaginação que pode avaliar alternativas, improvisar ações, expressar valores e fantasiar conseqüências.
O silêncio assume a primazia de uma pessoa psíquica. Direitos inalienáveis são os poderes desta pessoa inalienável cuja mente imaginativa não foi alienada. Esta noção deriva de uma visão da alma, a qual assegura que ela é dotada desde o nascedouro, de que existe uma individualidade desde o início, e que este silêncio é a condição para o seu florescimento.
O medo do silêncio então, não é tanto um medo do vazio, o medo de que, se ficarmos quietos, nós cairemos no vazio do nada para dizer, ou mostrar ou contar. Muito pelo contrário, o medo é da plenitude, das fantasias livres incríveis e imprevisíveis, que são inatas na mente e se mostram tão prontamente nos sonhos. O medo é de nossa natureza interna, o que ameaça ser uma caverna de Aladim ou uma floresta primitiva abundante de vida selvagem. Se o silêncio convida o agente da imaginação do qual as liberdades políticas dependem, o enfraquecimento do agente da imaginação enfraquece as raízes da liberdade sem atacar as liberdades diretamente. Não há razão para reprimir a liberdade de expressão ou reunião ou o direito de oração se não há ninguém em casa com alguma coisa para falar ou com a necessidade de rezar. A liberdade implica um alguém que pode imaginar as coisas de outra forma.
Os estados totalitários submetem a imaginação à doutrina. A imaginação individual é colocada num arreio e censurada. Sob essas condições de dureza, o silêncio se apresenta como um dos direitos mais preciosos; ele é agarrado fanaticamente e é interpretado ao pé da letra num segredo paranóico que resiste até a tortura. O direito humano de permanecer em silêncio se transforma numa obrigação sagrada, uma última trincheira para a defesa da alma. De que outra forma poderíamos compreender a incrível testemunha do silêncio até a morte de Salem até a Sibéria, dos mártires cristãos aos radicais do underground? E de que outra forma podemos compreender a relutância por suas vítimas, em contar, depois, do terror sofrido sob tortura: ”não dá para descrever com palavras” eles muitas vezes dizem.
Nós também começamos a entender a repressão nos estados totalitários das outras liberdades (i.é., expressão, reunião, religião). A liberdade pura, sem um agente imaginativo suscetível de reação, provoca revolta e perverte numa libertinagem caótica num círculo vicioso de controle ou caos. Liberdade imaginada como liberdade total permanece totalitária. Essa idéia de liberdade é meramente a imaginação de um cativo ou um escravo, indicando que a imaginação ainda está cativa, ainda escrava de soluções totais. O primeiro passo para fora deste circulo totalitário de controle ou caos não é a restauração de liberdades políticas, mas a restauração da imaginação em si mesma, de forma a que ela imagine adequadamente a liberdade como localizada no silencio interno de um agente da imaginação suscetível de reação e concentrado, no qual depende o exercício livre dos direitos humanos.
Resumindo, o tipo de democracia previsto por nossos documentos de fundação e assegurado – é o que se espera –, pela Suprema Corte, deriva de uma ralé perspicaz e de pessoas vivamente imaginativas. Esta democracia não é a democracia numérica, tantas vezes erroneamente interpretada como a igualitária , de medidas quantitativas de opiniões, que se reduz a uma democracia do menor denominador comum; e tão pouco é a democracia da livre iniciativa, que é na verdade uma interpretação errônea da individualidade da imaginação enquanto exploração individualista.
Nem a visão excessivamente igualitária nem a excessivamente idealista é manifestada nos documentos fundadores. Muito pelo contrário, eles enfatizam a individualidade como o último assento do poder, individualidades bastante diferenciadas, uma condição quase anárquica de cidadãos armados, cada um deles buscando felicidades diferentes e defendendo domínios particulares. As imaginações individuais divergentes se manifestando a si mesmas como diferindo em preocupações religiosas, localizações geográficas, compromissos filosóficos e metas econômicas devem ser fundamentalmente declaradas e não dissolvidas no caldeirão do ogro chamado América, o caldeirão fervente. Os documentos de fundação assumem essas inalienáveis diferenças de imaginação na cidadania e daí a Constituição tem que prover formas de negociar as diferenças — eletivas, judiciais, legislativas — assim como ser referendada pela Carta dos Direitos.
AS ARTES NA EDUCAÇÃO AMERICANA
A relação entre o silêncio, imaginação e direitos humanos na democracia americana levanta questões familiares. As artes pertencem às escolas públicas? Por que deveriam haver cursos de apreciação musical? Por que aprender a tocar um instrumento às custas do público? Por que realizar viagens a museus ou aulas de modelagem em barro ou de pintura em estúdios? Por que decorar poemas ou representar nos teatros? O que tem essas atividades, geralmente classificadas como extra curriculares, enfatizando sua natureza extrínseca, a ver com a ética terrena da democracia social e econômica? Por acaso elas, de alguma forma, produzem cidadãos coletivamente mais informados, constróem uma melhor base de opinião pública com relação aos assuntos do dia? Qual é realmente o valor das artes para os estudos sociais, para a sociedade?
As velhas respostas a essas perguntas dizem que as artes são úteis para se aprender história. Ou que a expressão criativa fomenta o crescimento pessoal, fazem uma pessoa mais feliz, e dessa forma enriquece a sociedade. Ou que esses cursos leves e de curta duração acrescentam realização estética, produzindo um aperfeiçoamento mais refinado, que ampliam as pessoas, tornando-as mais úteis para a comunidade como tocadoras de instrumento nas bandas, locutores públicos, ou administradores de crianças. E claro que as velhas respostas concluíam que as artes eram basicamente para mulheres e “personalidades artísticas” ou desajustados.
As velhas respostas não diziam nada essencial com relação às artes. Elas não eram necessárias, meramente adornos secundários, assim como hobbies ou brincadeiras de “quem sabe mais trivialidades”, que possibilitam a alguém identificar uma música no rádio do carro como sendo de Wagner ou as colunas da entrada do banco como sendo dóricas. Se não for descaradamente um esnobismo, as artes são certamente irrelevantes com relação a itens “de verdade” como proteção ao consumidor, relações raciais ou o debate sobre o salário mínimo.
Mas a reposta que emerge dos meus argumentos diz algo bastante diferente. Diz que sem uma imaginação aplicável existe uma estupidez anestesiante nas coisas públicas, um tipo de resposta sensorial prejudicada ao mundo perceptível. Nós nos tornamos insensíveis para nós mesmos e para nossa própria sensibilidade. Nós teremos perdido a habilidade de sermos persuadidos esteticamente. Se os cidadãos não podem ser movidos por um editorial, a retórica de um político, ou um apelo de um promotor, então a Declaração de Direitos não tem nenhum efeito. A liberdade que ela enuncia assume uma coração imaginário no corpo político que responde em ação. Aquela sensibilidade que os atenienses — onde a democracia começou — chamavam de peitho, a deusa persuasiva em cuja habilidade para afetar nossas almas depende o discurso livre, o julgamento justo, a liberdade de imprensa, e as eleições.
Respostas anestesiadas não são simplesmente inimaginativas e insensíveis; elas acabam se tornando meras reações mecânicas aos estímulos. Nenhuma resposta significa nenhuma responsabilidade. A imaginação anestesiada torna-se sóciopática e amoral. Sem uma imaginação alentada não existe percepção do insulto ou da injúria, nenhum senso de injustiça, e por isso nenhum senso de justiça também. Nós já estamos nos campos de escravos da mente. Sem uma imaginação alentada não pode haver compreensão dos itens em discussão e nenhuma base para um julgamento ético ou decisão política. Por que razão os artistas estão sempre envolvidos em protestos sociais e são tão protetores dos direitos humanos? Por que sua presença é tão ameaçadora para os estados totalitários? A razão deve estar em sua dedicação a uma imaginação treinada no silêncio: Tendo exercido a primeira liberdade, o direito de permanecer em silêncio, eles estão ligados nos outros direitos básicos.
Então, vemos que os direitos devem ser colocados em prática. Assim como as virtudes espirituais, elas existem em actu e não em potentia. Isto é, a não ser que nos manifestemos livremente, lemos, votemos, e nos reunimos, essas virtudes são mera abstrações escritas na lei mas não realizadas na vida. O silêncio também, não é passivamente quieto, mas precisa ser praticado tanto na solidão ou como um momento de eco interno em meio a coisas. A sala dos conselheiros é um lugar para essas práticas, e a terapia é tanto uma educação no silêncio quanto o é na fala.
Os choques éticos que agora devastam nossas instituições necessitam ser vistos à luz do nosso tópico. O ponto chave não é simplesmente o que as regras obtêm; como definir um conflito de interesses numa transação do comprimento de um braço; como diferenciar uma brecha na lei de uma quebra da lei; um presente de um suborno; o que precisamente se constitui em plágio, adultério, eutanásia ou a verdade nas etiquetas de embalagens. Uma precisão técnica de ética apenas repete o mesmo tipo de pensamento do qual vêm a doença, e os remédios não podem ser preparados num curso rápido de ética num seminário de fim de semana. A sensibilidade ética não existe separada da imaginação moral. Porque, antes de tudo, nós devemos ter aquele sentimento de que alguma coisa está faltando, duvidoso ou comprometedor. Nós devemos estar aptos a imaginar erradamente e o que isto pode causar à alma.
A imaginação moral é acordada e treinada pelos confrontos com os grandes dilemas morais de Abraão e Pedro e as tragédias gregas, de Hamlet e Macbeth, de Ana Karenina e Madame Bovary. Romances por Hawthorne, Dostoievsky, Faulkner, Orwell e Roth ultrapassam de longe a instrução ética advinda de casos clínicos e precedentes legais. porque o estudo das grandes vidas e da literatura abrem o coração da imaginação para a perplexidade moral, preferivelmente a suprir regras, convenções e respostas. Se nós não podemos imaginar honra, dignidade, sacrifício, compaixão, coragem, lealdade, assim como feiúra da alma e os pecados da avareza, como poderemos tomar uma decisão ética ou até mesmo reconhecer de que há uma para ser tomada? Além disso, existe a moralidade do ofício, a imaginação moral das mãos, dos ouvidos e olhos. As artes ensinam a fazê-lo corretamente, fazê-lo bem, um trabalho honesto que é verdadeiro a reivindicação do trabalho.
Se esse é o caso, então a nova resposta para a velha pergunta sobre o relacionamento entre as artes e os estudo social seria assim. As artes não são um suplemento; as artes são mais adequadamente o lugar onde o silêncio é fomentado pela leitura, escrita, moldagem de um vaso, treino de clarinete ou relaxando no bar. Essas atividades em silêncio, por desafiar a anestesia coletiva, ativam a pessoa imaginária no coração de toda a vida social e política. Atividades artísticas são mais do que convenientes por si próprias, porque elas trituram o resto do currículo num agente verdadeiramente humano.
Essa conclusão conduz diretamente a dislexia e ao analfabetismo. Por que razão nós, como nação, nos tornamos mais e mais analfabetos? Nós culpamos a televisão e o computador, mas eles não são as causas. Elas são os resultados de uma condição anterior que as convidou a entrar. Elas chegaram para preencher um espaço. Quando a habilidade de imaginação diminui, outras formas de comunicação aparecem. Essas formas trabalham apesar delas também serem estruturalmente disléxicas: simultaneidade de bits, justaposições estranhas, mensagens que não se movem linearmente da esquerda para a direita. No entanto a televisão e o computador pessoal comunicam.
Evidentemente, a leitura não depende unicamente na ordenação de letras em palavras. De fato, os poetas usam estruturas disléxicas deliberadamente. A leitura depende da capacidade da psiquê de entrar na imaginação. Ler é mais ou menos como sonhar, o que também, é válido para o silêncio. Nossa falta de instrução reflete nosso processo educativo que se afastou do terreno silencioso da leitura; salas de estudo silenciosas e períodos de quietude, deveres de casa solitários, aprender decorando, ouvindo por uma aula inteira sem interrupções, escrever um ensaio para o exame à mão, desenhar a partir da natureza ao invés de experiências de laboratório. Este longo negligenciar de condições imaginativas que nutrem a leitura — Sputnik e a nova matemática; problemas sociais e parentescos sociais; motivação auto-centrada; a confusão da informação com o conhecimento, da opinião com o julgamento, e brincadeiras de “quem sabe mais trivialidades” com suas fontes; comunicações como mensagens por ligações telefônicas e secretárias eletrônicas no lugar de uma carta escrita em silêncio; aprendendo a falar sem antes aprender algo para dizer; múltipla escolha e seus resultados como teste de compreensão — produziram o analfabetismo.
A pessoa humana assim como um banco de dados não precisa ler mais do que funcionalmente. Um banco de dados decidindo sim ou não baseado em realimentação (i.é, reforço) não precisa imaginar além de obter, armazenar e gastar. Apenas consiga as instruções corretas; não se preocupe com o conteúdo. Aprenda o “como” no lugar do “que” com suas qualidades, valores e sutilezas. Então o agente humano transforma-se num cartão de crédito materializado desempenhando os rituais religiosos do consumismo. Você precisa apenas ser capaz de assinar seu nome num espaço marcado “X”, como um imigrante, como um escravo, ou um...
Ou um psicopata. Descrições da psicopatia, ou personalidades sociopáticas, falam de sua inabilidade em imaginar os outros. Psicopatas são bem capazes de avaliar situações e seduzir pessoas. Eles percebem, avaliam e relacionam, fazendo uso de cada oportunidade. Daí seu sucesso na manipulação dos outros. Mas o psicopata é bem menos capaz de imaginar os outros além de uma fantasia de utilidade, o outro como uma verdadeira interiorização com suas próprias necessidades, intenções e sentimentos. Uma educação que de qualquer forma negligencia a imaginação é uma educação para a psicopatia. É uma educação que resulta numa sociedade sociopática de manipulações. Nós aprendemos como tratar com os outros e nos tornamos uma sociedade de mercadores.
Nem a mídia, drogas legais ou ilegais, a burocracia da educação, nem a ausência da autoridade moral dos pais devem ser culpadas pelo vácuo ético e a nossa estupefação. Esses bodes expiatórios usuais são os sintomas e, como tal, não são as causas mas a representação de sofrimentos anteriores invisíveis. De fato, os sintomas são tentativas fracassadas de uma cura. A virada para o crack e a cocaína, por exemplo, é parte em busca de imaginações mais altas para acordar os mortos. A burocracia da educação levantou-se para cobrir os grandes espaços na imaginação entre o desejo de aprender e o desejo de ensinar. A autoridade dos pais desvaneceu-se há muito tempo quando habilidades estéticas, e deste modo respostas sensíveis, eram consideradas inferiores às regras morais. A moralidade interpretada ao pé da letra em regras não é outra coisa a não ser um esqueleto mecânico seguindo os mandamentos, que não compreende a luta moral exigida por uma vida de imaginação.
Não, não é a mídia a quem devemos culpar. Se a mídia não pode relatar corretamente o estado do mundo ou as emoções da família ou a piedade da fé, a mídia entretanto relata a sua audiência. Aquele vidro da televisão na sala de estar reflete corretamente a psiquê que senta diante dele. A televisão é um espelho que nos mostra a nossas próprias faces.
Se devemos culpar, então vamos culpar a nós mesmos. Nós conselheiros somos supostamente a força corretiva. Será que nós damos aos nossos clientes o direito de permanecer em silêncio ou nós os bombardeamos com mais informações? Será que nós assumimos uma alma rica com um dote nativo dentro da passividade depressiva ou desordens do aprendizado recalcitrante? Será que nós encorajamos as fantasias e sonhos dos clientes com a nossa fala ou as cortamos para o tamanho reduzido de nossas escassas explicações? Será que nós reconhecemos a necessidade inerente da imaginação na pessoa humana como a garantia da liberdade da pessoa e a vitalidade de nosso sistema político? Nós nos comportamos autoritariamente e administrativamente, ou podemos nos comportar subversivamente, como fizeram Freud, Jung, Adler, Reich e Socrates e Jesus, também. Esses educadores terapêuticos são as figuras fundadoras da profissão da ajuda, postando-se subversivamente contra o estado da sociedade quando ela é antiética, sociopática e sem imaginação. Ou será que nós induzimos uma adaptação à essa sociedade enquanto “ajudamos” nossos clientes a enfrentar, ir embora e a se relacionar. Relacionar-se a que? Nós não pedimos a eles para adaptar-se a um mundo sem imaginação às custas do agente animal imaginativo e silencioso do qual depende a própria vida desse mundo?
CONCLUSÃO
Eu terminarei com um floreio final de retórica política. Conselheiros são os verdadeiros guerreiros da liberdade. Nós somos guerreiros da liberdade não somente em razão de nosso ultraje sobre a discriminação de raças e opressão ao sexo, sobre a exploração corporativa e a pobreza do consumismo, sobre mimar crianças e negligenciar crianças, corrupção das drogas, poluição empedernida, absurdidade do aborto, destruição dos livros-textos escolares, machismo militar, práticas burocráticas mesquinhas, fraude fundamentalista, hipocrisia da angariação de fundos, sem falar da surpreendente gama de tragédias de clientes que os conselheiros tem que encarar diariamente. Nós somos guerreiros da liberdade porque nós somos a guarda avançada da imaginação quando ela tenta invadir nossa civilização ao tocar seus cidadãos através dos sintomas de seus descontentes. E nós somos a guarda avançada porque nós, assim como os artistas, somos aqueles autorizados a encontrar-se com os sintomas por meios imaginários.
Nos foram dados as ferramentas da terapia pela arte, brincar na areia, drama, dança e a argila, e salas para conversação e silêncio. Além do mais, nós, diferentemente dos artistas, recebemos uma autoridade especial para usar essas ferramentas da imaginação com as vítimas da civilização, os sintomáticos privados de seus direitos que são os nossos clientes. Eu vou lembrá-los especialmente das crianças privadas de seus direitos que carregam tanto da imaginação desordenada de nossa civilização, muito convenientemente, muito racionalmente chamadas “desordens de ajustamento” e “desordens comportamentais”. Na Nicarágua, Afeganistão, Transvaal, Iraque e lugares mencionados pelos noticiários ou nem ainda percebidos por eles, crianças jazem em campos de batalha e morrem de fome. Nossas crianças definham na alma, vítimas de uma outra depauperação e outra fome: o sistemático anestesiamento da imaginação em nome do desenvolvimento e da realização. O empurrão para a frente, começando ainda mais cedo, manteve-as fora da sala da fantasia, privando-as desta grande dádiva com a qual cada criança é dotada: a maravilha do silêncio.
Através delas e do nosso trabalho com elas em “silêncio, exílio e astúcia” (Joyce, 1964, p.247), os pequenos princípios de um verdadeiro agente da imaginação pode subversivamente reentrar na comunidade e furtivamente infiltrar o corpo político. “Que a civilização possa não afundar,/sua grande batalha perdida/Aquiete o cachorro, amarre o pônei” pois, como William Butler Yeats escreveu (1952) no mesmo poema, “Como um inseto de longas pernas no córrego/ [a] mente se move no silêncio”.
Nota do Editor
Este artigo é baseado numa adaptação das idéias básicas de um discurso do autor no Simpósio sobre Artes Criativas e Direitos Humanos em Aconselhamentos, na Convenção AACD em Nova Orleans, em 24 de abril de 1987.
Bibliografia
Guggenbühl-Craig, A. (1971). Power in the helping professions. Dallas: Spring Publications.
Joyce, J. (1964). A portrait of the artist as a young man. New York: Viking Press.
McConeghey, H. (1981, Spring). Art education and archetypal psychology. Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Union Thought, pp. 127-135.
Robertson, S. (1982). Rosengarden and labyrinth: A study in art education. Dallas: Spring Publications.
Watkins, M. (1981, Spring). Six approaches to the image in art therapy. Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Union Thought, pp. 107-125.
Yeats, W.B. (1952). Collected poems of W.B.Yeats (pp. 381-382.) London: Macmilla
fonte: Himma: Estudos em Psicologia Imaginal
James Hillman
Deixem-me observar logo no começo minhas duas suposições chaves. Primeiramente eu assumo que como membro das profissões da ajuda, provavelmente vocês fazem um trabalho terapêutico com crianças ou ainda pessoas mais jovens, onde o termo terapêutico é usado para cobrir o largo campo das profissões de ajuda. Em segundo lugar, por crianças e pessoas ainda mais jovens eu não quero dizer apenas aqueles a quem encontramos em escolas, escritórios e consultórios. Eu me refiro também ao infante interno, a criança e o adolescente dentro delas, que rebelde, sem iniciação, algumas vezes um pouco retardada ou deixada para trás, outras vezes uma pessoa mais jovem hiperfantástica e bem sucedida que nós levamos a qualquer lugar a que vamos e que nos dá tanto trabalho que ele ou ela tem que usar senhas como “Ei, sem problema”, e “Tudo bem”.
Esta figura é a parte de nós a quem nos referimos quando dizemos de nós mesmos ou quando alguém diz de nós, que somos imaturos, pueril, subdesenvolvido, infantil, auto-erótico, narcisista, ou apenas um grande bebê. E esse grande bebê, que aparece em nossos humores e exigências e vagueia por nossos sonhos sob a forma de crianças que conhecemos nos primeiros anos de escola, mantém-nos em terapia com nós mesmos. Nós estamos na profissão de ajuda parcialmente porque nós estamos trabalhando em nome do comportamento perturbado e necessitado das crianças lá fora, e também parcialmente porque nós estamos trabalhando em nome do comportamento perturbado e necessitado das crianças aqui dentro, em nós mesmos (Guggenbühl-Craig, 1971). Somos todos terapeutas e (somos) todos casos na medida em que estamos trabalhando em nós mesmos, na maior parte das vezes.
Desta forma eu estou tanto falando sobre alguma coisa quanto estou me dirigindo a alguma coisa em você a partir de alguma coisa em mim. Este estilo de procedimento é o que eu chamo de “conversa psicológica”: o elemento subjetivo nunca está muito longe além do alcance da vista. Nós nunca poderemos sair da psiquê. O que quer que falemos sobre qualquer coisa, diz alguma coisa a nosso respeito.
A metáfora básica para o trabalho terapêutico a ser explorado aqui é tirada da lei: “Você tem o direito de permanecer em silêncio. Qualquer coisa que diga, pode e vai ser usada contra você”. Uma declaração mais completa deste aviso é taquigraficamente chamada de “Miranda” a partir de uma decisão da Suprema Corte.
Eu uso esta declaração firme deliberadamente para cortar através do otimismo ingênuo que permeia, se não perverte, muito do trabalho realizado com crianças. Do naturalismo romântico de Jean-Jacques Rousseau, passando pela bondade paternalista de Spencer Tracy em “Boystown” e as crianças assexuadas e inocentes de Alice Miller, existe uma imagem idealizada da criança. E esta criança idealizada nos influencia a sermos educadores enfáticos e reformadores sociais irrealistas e sentimentais. In loco parentis veio a significar não apenas no lugar de parentes mas melhor do que parentes.
O que eu estou tentando cortar através não é a idealização da criança — o que, por falar nisto, eu considero ser absolutamente necessário para o nosso trabalho: nós devemos idealizar a juventude e deixar que seus ideais nos inspirem — mas antes eu quero mostrar a ofuscação sentimental de nossa conscientização, esta idealização narcisística de nós mesmos como sendo boas, útil, salvando pessoas, o que nos leva a uma redução de nossa perspicácia. Quando ajudando pessoas mais jovens a “crescer”, nós temos a tendência a nos tornarmos sentimentais, e o sentimentalismo nos tira a eficácia.
“Você tem o direito de permanecer em silêncio.” Hah! Que piada! Se ao menos eles fossem ficar em silêncio e sentados quietos. Zunindo pelo quarto como mísseis ou caminhões gigantescos com 18 rodas. Reclinados, extravasando, hiper, incessantes. Ou eles abusam do direito de se fechar, monossilábicos e taciturnos.
Uma mulher cuja terapia artística eu supervisionei por uns tempos acalmou a confusão e conseguiu ser o foco da atenção de cerca de 15 crianças de 4 a 7 anos ao lhes contar uma história. Elas ficaram fascinadas. Ao final ela pediu a cada uma para desenhar a história. A maioria fez uma figura a partir da história, o pato, a casa, a menininha sob a árvore. Então ela pediu que fizessem um novo desenho da história. Este segundo desenho se mostrou de um modo geral menos uma ilustração de uma figura ligada com a história, e mais uma descida ao estado de ânimo de cada um deles e ao tema que libertava a fantasia para prosseguir além.
Duas ou três coisas úteis emergem deste exemplo. Primeiramente, ao contar uma história ela leva as crianças ao silêncio. Este tipo de silêncio produz uma qualidade de atenção diferente do silêncio disciplinar. O silêncio disciplinar, é claro, é repressivo. Daí o jogo de corpo no limite entre a rizadinha reprimida e a rebelião ou a lacuna de não escutar. Em segundo lugar, o exemplo mostra que a imaginação se aprofunda com o silêncio. Os desenhos variaram de ilustrações ainda vinculada ao referencial exterior, a história com pato, casa e a menininha sob a árvore, ao que não foi contado, ao menos não na história. Em termos atuais a imaginação se deslocou da presença para a ausência: a imaginação tende a ir para o que não está lá. É por isto que chamamos o tornar visível o que não está lá de expressão criativa.
Repare em meu relato os trocadilhos com a palavra “desenho”. As crianças foram arrastadas ao silêncio pela história e, como a história foi contada em seus detalhes, foram feitos desenhos dela e a partir dela. A imaginação “desenha”. Ela arrasta a atenção juntamente com ela, e ela desenha, esboça ou configura imagens delineadas. Para colocar tudo isto de outra forma, a imaginação delineia a si mesma por meio de imagens; estas imagens arrastam e prendem a atenção. Elas concentram pensamentos e sentimentos, deixando a ação em suspenso (Robertson, 1982). Quer se requeira silêncio para que possa acontecer este desenho ou quer que o silêncio resulte deste arrasto para si mesmo ou a retirada da concentração da psiquê em meio as imagens, existe uma relação importante, necessária e curiosa entre o silêncio e o poder “desenhativo” da imaginação.
Eu tenho a tendência de sentir o silêncio como um silêncio animal, assim como um gato à espreita, um cachorro apontando a caça, um lagarto imóvel na parede. Parece existir um nível filogenético da alma, um ser animal que se liga com os animais reais em silêncio, e que se dá especialmente bem com o lado criança da psiquê. Eu me inclino a pensar que este ser animal, o qual é muito velho e não de todo estúpido, é aquele a quem a terapia deve atrair e com quem ela deve se relacionar para que a terapia tenha lugar. E essa relação requer o silêncio de um animal atento. As noções de confiança terapêutica, empatia, segurança e apoio parecem a mim se referir e se apoiar num silêncio animal mais básico. A questão para nós então se torna como falar sem usar o que dissemos contra o silêncio?
INTERPRETAÇÃO CONTRA A IMAGINAÇÃO
É claro que a frase “qualquer coisa que você diga, pode e vai ser usada contra você.” se refere na realidade à interpretações. Temos a tendência de usar o que as pessoas disseram para nós contra elas ou qualquer outra pessoa — pais que abusem dos filhos, um inspetor de liberdade condicional, um burocrata anônimo. A idealização da juventude e do crescimento freqüentemente evoca uma tendência, contrária. Nós queremos ser realistas, moer tudo e esfregar um nariz na poeira. Talvez nós não possamos fazer este enfrentamento diretamente. Poderemos talvez fazê-lo indiretamente com explicações redutivas, especialmente sexuais. O que realmente está acontecendo neste caso é resultado de um abuso sexual, fantasia sexual, maturação psicosexual, inferioridade sexual, obsessão, sedução, ciúmes, ou a falta de uma identidade sexual, e daí por diante. As interpretações sexuais de problemas não são mais reais do que as outras interpretações. Elas parecem ser mais realistas apenas porque propiciam uma contrapartida mundana e talvez suja, antagônica às idealizações.
De forma similar, idealizações sentimentais de uma infância inocente e assexuada propiciam uma contrapartida antagônica a sexualidade e nega a criança seu ou sua própria autêntica sexualidade precoce. Além do mais, as interpretações sexuais tendem a fazer a nós, conselheiros, nos sentirmos mais sábios e mais experientes do que nossos jovens clientes, desta forma enfraquecendo seu poder de imaginar suas próprias experiências.
Existem outras interpretações efetivas que resultam em usar as interpretações contra o cliente. Por exemplo, “Você deve odiar o seu pai; eu suponho que você quer bater nele” ou “Você está com ciúmes de sua mãe ter amantes quando você não consegue ir adiante com nenhum rapaz.” Interpretações contra a família do cliente são as preferidas. Outras explicações redutivas que supostamente dizem porque um comportamento ocorre, soa mais ou menos assim: “Você pensa que ninguém liga, você se sente inútil e fracassado; você pensa que não deveria sentir o que você sente.” Mais uma vez esses exemplos apontam estruturas negativas. eles explicam por dizer o que está errado. Eles “shoot down the stars”.
Mas existe um veneno maior ainda escondido na interpretação que damos aos nossos clientes. Nossos relatos tendem a ser racionais, causais e conceituais. Eles estão numa freqüência diferente, que cria uma estática que interfere no silêncio e interrompe a imaginação. A imaginação é um processo de elaboração significativa. Ela avança por si elaborando seu próprio material, assim como as crianças elaboraram o pato, a casa, e a menina debaixo da árvore, passando para um sapo num lago com um carro vazio próximo e uma nuvem de chuva com relâmpagos se aproximando, como um menino que não quer que seu pai chegue em casa enquanto imagina a si mesmo numa motocicleta com uma garota na garupa e indo para o México com os rapazes.
Esta atividade de elaboração significativa canaliza as emoções em imagens, ou por meio de imagens. A imaginação não é impetuosa e descuidada. Ela procede em padrões definidos que são quase estereótipos ou clichês. Então, mais uma vez e de novo, existem significados básicos: cair e voar e cruzar um riacho; construindo e destruindo; forças opostas e reconciliações; climas e altitudes; fogo e água; partes do corpo e coisas do corpo; áreas desperdiçadas, abrigos subterrâneos; florestas escuras e mares. Existem máquinas e ferramentas e cores e números, animais e estrelas, personagens do poder, da bondade e do ensino, da proteção, da perseguição e da crueldade. Estas figuras e estes temas ou mitemas aparecem em contos folclóricos e de fadas, em histórias, em parques temáticos e na televisão, em ritos religiosos e jogos da vizinhança, e em sonhos e em desenhos por clientes. Eles dão padrões de significados para nossas vidas. Eles são os universais da imaginação, os arquétipos. Uma vez que nunca poderemos sair da psiquê, nós teremos que estar num ou noutro destes padrões.
Nossas vidas já eram significativas antes que nós as entendêssemos, antes que nós as explicássemos. Ou, melhor dizendo, nossas vidas se tornam significativas no momento em que nós reconhecemos um padrão de imaginação em meio a uma bagunça. Cada bagunça é uma elaboração da imaginação. Uma bagunça é de fato “tudo na mente”.
Então, interpretações, explicações e relatos do que você está fazendo e o porque — todas as respostas “porque” para a pergunta “por que?” — basicamente traduzem imagens em conceitos. Pessoas amontoando-se sob o vão da porta torna-se “abrigando”; sangue pingando de um dedo perfurado torna-se “ferindo”; árvores com troncos salpicados de manchas marrons e largas raízes traduzem-se ao conceito de “crescimento”. Nós começamos a pensar em crescimento e ao usar a palavra crescimento, nós perdemos a árvore. Seus galhos e ramos e tronco e largas raízes, todos os quais estão crescendo e em decadência. A árvore, vital com sua própria beleza e ricamente elaborando a si mesma, desaparece. Nós trocamos esta árvore por “crescimento” quando nós trocamos a imagem para o conceito. A cobra negra do sonho da qual você tenta correr torna-se seu “problema com a mãe”, seu “problema sexual”, ou a sua “ansiedade da morte”. A cobra, que é uma cobra, torna-se um “problema”. Uma cobra, que deve ser vigiada com atenção e respondida à altura , torna-se uma “ansiedade”. Agora é uma cobra morta, empalhada com conceitos psicológicos. Ela foi interpretada: o que quer que tenhamos dito, foi usada contra ela. Para manter o imaginário em andamento com sua vida de elaborações significativas, estas interpretações conceituais devem ser silenciadas (McConeghey, 1981). Nós temos que respeitar o amontoado de pessoas debaixo do vão da porta, o sangue que pinga, o tronco salpicado da árvore, e a cobra negra como tal. Elas são silenciosas como as pinturas são silenciosas, como a dança é, e como a música também é.
Resumindo, a imagem é primária; o conceito é secundário. A imagem é poética; a interpretação, prosaica. A imagem é emocionalmente significante como tal; a interpretação reúne novamente a emoção na racionalidade. A imagem é intensamente vívida. Ela se move com sua própria vida. Ela é desencorajadora, fascinante, repugnante, deslumbrante, dolorosa, com energia particularizante, intensamente individual, isto é, sua imagem sozinha chegando silenciosamente do nada. Apenas você olha para ela. As imagens levantam-se nos indivíduos de forma livre e expontânea. Elas tem um efeito individualizante, quase anárquico em razão de sua imprevisibilidade. Esta autonomia ou anarquia da imagem é a fonte da expressão pessoal, fazendo cada pintura, música, e história diferente. Também esta anarquia é a fonte do conflito que nós temos quando tentamos dar uma expressão de entendimento às nossas imagens particulares.
A boa interpretação fala para a imagem em sua própria linguagem (Watkins, 1981). A boa interpretação não usa grandes e frouxos conceitos como crescimento, sexualidade, criatividade, agressão, e ansiedade, mas responde com imagens compactas como a da cobra negra querendo chegar perto de você, a tocar em você. Ela precisa de mais calor corporal? O amontoado de pessoas debaixo do vão da porta, o que vocês estão vestindo? De quem é essa porta? Que tipo de prédio? Tem alguém por perto? Dá para fazer um a pequena fogueira aqui, ou está ventando muito, ou o quê? Estes comentários não pedem respostas. Eles não explicam nada, ao invés disso eles levam ainda mais para uma imaginação silenciosa. A imaginação é induzida a voltar-se para si própria, a olhar e ouvir e sentir, e a pensar ainda mais. Outra vez este sentimento, sensação, e pensamento é intensamente individual, uma individualidade que afoga no pântano das palavras coletivas como agressão, ansiedade, sexualidade, e daí em diante. Além do mais, estas respostas apelam para a imagem em si estar presente na resposta. Nós respondemos do vão da porta ou na presença da cobra. Quando conversamos com a criança, estamos ao lado do lago do pato. Nós estamos na imagem, não somos observadores externos.
Vamos retornar ao nosso lema, “Qualquer coisa que você diga, pode e vai ser usada contra você.” Existem dois “você” nesta frase: o você que está imaginando e o você que está fazendo perguntas e explicando. Estes dois “você” podem ser encenados por duas pessoas no aconselhamento, e eles podem ser encenados também por cada um de nós isoladamente em nossos diálogos silenciosos para a frente e para trás com nós mesmos quando exploramos nossos sonhos e fantasias particulares. Porque o “você” que interpreta muitas vezes reduz um sonho ao racionalizar o poder de suas imagens, o sonho pede silêncio de forma a ser mantido vital e intacto.
Esta análise coloca um dilema entre dois erros, entre não dizer nada de um lado — apenas um “sim” refletivo Rogeriano, o que muitas vezes é uma não intervenção repetitiva — contra explicações conceitualizadas sobre a matança de cobras do outro lado. Então, para evitar esse dilema, eu não proponho um silêncio literal como se todo discurso fosse destrutivo à imaginação. O silêncio não precisa dizer literalmente silêncio.
A questão não é se falamos ou não falamos. A questão é: como falar, o que dizer, quando proferir? O “quando” da intervenção, o “que” de emolduramento teórico que você usa na interpretação, e o “como” de técnica para assegurar, persuadir, limitar ou confrontar são velhos conhecidos dos conselheiros. Em seu treinamento você tem muita coisa sobre a escolha do tempo mais adequado para fazer algo, teorias e técnicas. Então, ao invés disso, deixem-me forçar meu ponto sobre o “quem”.
Este “quem” que fala deve ter origem no mesmo lugar, e falar no mesmo estilo do material para quem se dirige. Esta correspondência inerente é mais do que empatia. Ela é mais do que uma habilidade na captação da sensibilidade. Mais apropriadamente, ela é a resposta animal que dá uma voz humana ao silêncio da imaginação. É a voz de um agente imaginário livre sentido-se à vontade tanto no sonho quanto nas artes.
DIREITOS HUMANOS
Tendo estabelecido uma relação entre o silêncio e a imaginação e entre o discurso danoso e a imaginação, eu agora quero mostrar que a imaginação é importante para os direitos humanos e que a base para esses direitos está no silêncio. O silêncio pressupõe uma vida interior. Quando a atividade é imobilizada, “stimuli” são paralisados e entorpecidos, e as pressões relacionadas são relaxadas, a imaginação germina livremente — em liberdade. Desta forma, o silêncio tem implicações políticas.
Antes do direito de liberdade de expressão, liberdade de imprensa, liberdade de credo, e eleições livres, há o direito de se permanecer em silêncio porque este direito assume a pessoa livre no interior que fala, que imprime, que reza, e que vota —esse “quem” individualizado que não pode ser maltratado, invadido ou coagido. Os direitos, de acordo com nossa noções políticas, são inalienáveis: eles se alojam na alma individualizada, e a liberdade, de acordo com estas mesmas noções políticas, é exercida por esse agente que tem alguma coisa para dizer ou publicar, que vota em escolhas pessoais e leva em consideração deuses pessoais. Todos os outros direitos requerem, antes de tudo, alguém de imaginação que pode avaliar alternativas, improvisar ações, expressar valores e fantasiar conseqüências.
O silêncio assume a primazia de uma pessoa psíquica. Direitos inalienáveis são os poderes desta pessoa inalienável cuja mente imaginativa não foi alienada. Esta noção deriva de uma visão da alma, a qual assegura que ela é dotada desde o nascedouro, de que existe uma individualidade desde o início, e que este silêncio é a condição para o seu florescimento.
O medo do silêncio então, não é tanto um medo do vazio, o medo de que, se ficarmos quietos, nós cairemos no vazio do nada para dizer, ou mostrar ou contar. Muito pelo contrário, o medo é da plenitude, das fantasias livres incríveis e imprevisíveis, que são inatas na mente e se mostram tão prontamente nos sonhos. O medo é de nossa natureza interna, o que ameaça ser uma caverna de Aladim ou uma floresta primitiva abundante de vida selvagem. Se o silêncio convida o agente da imaginação do qual as liberdades políticas dependem, o enfraquecimento do agente da imaginação enfraquece as raízes da liberdade sem atacar as liberdades diretamente. Não há razão para reprimir a liberdade de expressão ou reunião ou o direito de oração se não há ninguém em casa com alguma coisa para falar ou com a necessidade de rezar. A liberdade implica um alguém que pode imaginar as coisas de outra forma.
Os estados totalitários submetem a imaginação à doutrina. A imaginação individual é colocada num arreio e censurada. Sob essas condições de dureza, o silêncio se apresenta como um dos direitos mais preciosos; ele é agarrado fanaticamente e é interpretado ao pé da letra num segredo paranóico que resiste até a tortura. O direito humano de permanecer em silêncio se transforma numa obrigação sagrada, uma última trincheira para a defesa da alma. De que outra forma poderíamos compreender a incrível testemunha do silêncio até a morte de Salem até a Sibéria, dos mártires cristãos aos radicais do underground? E de que outra forma podemos compreender a relutância por suas vítimas, em contar, depois, do terror sofrido sob tortura: ”não dá para descrever com palavras” eles muitas vezes dizem.
Nós também começamos a entender a repressão nos estados totalitários das outras liberdades (i.é., expressão, reunião, religião). A liberdade pura, sem um agente imaginativo suscetível de reação, provoca revolta e perverte numa libertinagem caótica num círculo vicioso de controle ou caos. Liberdade imaginada como liberdade total permanece totalitária. Essa idéia de liberdade é meramente a imaginação de um cativo ou um escravo, indicando que a imaginação ainda está cativa, ainda escrava de soluções totais. O primeiro passo para fora deste circulo totalitário de controle ou caos não é a restauração de liberdades políticas, mas a restauração da imaginação em si mesma, de forma a que ela imagine adequadamente a liberdade como localizada no silencio interno de um agente da imaginação suscetível de reação e concentrado, no qual depende o exercício livre dos direitos humanos.
Resumindo, o tipo de democracia previsto por nossos documentos de fundação e assegurado – é o que se espera –, pela Suprema Corte, deriva de uma ralé perspicaz e de pessoas vivamente imaginativas. Esta democracia não é a democracia numérica, tantas vezes erroneamente interpretada como a igualitária , de medidas quantitativas de opiniões, que se reduz a uma democracia do menor denominador comum; e tão pouco é a democracia da livre iniciativa, que é na verdade uma interpretação errônea da individualidade da imaginação enquanto exploração individualista.
Nem a visão excessivamente igualitária nem a excessivamente idealista é manifestada nos documentos fundadores. Muito pelo contrário, eles enfatizam a individualidade como o último assento do poder, individualidades bastante diferenciadas, uma condição quase anárquica de cidadãos armados, cada um deles buscando felicidades diferentes e defendendo domínios particulares. As imaginações individuais divergentes se manifestando a si mesmas como diferindo em preocupações religiosas, localizações geográficas, compromissos filosóficos e metas econômicas devem ser fundamentalmente declaradas e não dissolvidas no caldeirão do ogro chamado América, o caldeirão fervente. Os documentos de fundação assumem essas inalienáveis diferenças de imaginação na cidadania e daí a Constituição tem que prover formas de negociar as diferenças — eletivas, judiciais, legislativas — assim como ser referendada pela Carta dos Direitos.
AS ARTES NA EDUCAÇÃO AMERICANA
A relação entre o silêncio, imaginação e direitos humanos na democracia americana levanta questões familiares. As artes pertencem às escolas públicas? Por que deveriam haver cursos de apreciação musical? Por que aprender a tocar um instrumento às custas do público? Por que realizar viagens a museus ou aulas de modelagem em barro ou de pintura em estúdios? Por que decorar poemas ou representar nos teatros? O que tem essas atividades, geralmente classificadas como extra curriculares, enfatizando sua natureza extrínseca, a ver com a ética terrena da democracia social e econômica? Por acaso elas, de alguma forma, produzem cidadãos coletivamente mais informados, constróem uma melhor base de opinião pública com relação aos assuntos do dia? Qual é realmente o valor das artes para os estudos sociais, para a sociedade?
As velhas respostas a essas perguntas dizem que as artes são úteis para se aprender história. Ou que a expressão criativa fomenta o crescimento pessoal, fazem uma pessoa mais feliz, e dessa forma enriquece a sociedade. Ou que esses cursos leves e de curta duração acrescentam realização estética, produzindo um aperfeiçoamento mais refinado, que ampliam as pessoas, tornando-as mais úteis para a comunidade como tocadoras de instrumento nas bandas, locutores públicos, ou administradores de crianças. E claro que as velhas respostas concluíam que as artes eram basicamente para mulheres e “personalidades artísticas” ou desajustados.
As velhas respostas não diziam nada essencial com relação às artes. Elas não eram necessárias, meramente adornos secundários, assim como hobbies ou brincadeiras de “quem sabe mais trivialidades”, que possibilitam a alguém identificar uma música no rádio do carro como sendo de Wagner ou as colunas da entrada do banco como sendo dóricas. Se não for descaradamente um esnobismo, as artes são certamente irrelevantes com relação a itens “de verdade” como proteção ao consumidor, relações raciais ou o debate sobre o salário mínimo.
Mas a reposta que emerge dos meus argumentos diz algo bastante diferente. Diz que sem uma imaginação aplicável existe uma estupidez anestesiante nas coisas públicas, um tipo de resposta sensorial prejudicada ao mundo perceptível. Nós nos tornamos insensíveis para nós mesmos e para nossa própria sensibilidade. Nós teremos perdido a habilidade de sermos persuadidos esteticamente. Se os cidadãos não podem ser movidos por um editorial, a retórica de um político, ou um apelo de um promotor, então a Declaração de Direitos não tem nenhum efeito. A liberdade que ela enuncia assume uma coração imaginário no corpo político que responde em ação. Aquela sensibilidade que os atenienses — onde a democracia começou — chamavam de peitho, a deusa persuasiva em cuja habilidade para afetar nossas almas depende o discurso livre, o julgamento justo, a liberdade de imprensa, e as eleições.
Respostas anestesiadas não são simplesmente inimaginativas e insensíveis; elas acabam se tornando meras reações mecânicas aos estímulos. Nenhuma resposta significa nenhuma responsabilidade. A imaginação anestesiada torna-se sóciopática e amoral. Sem uma imaginação alentada não existe percepção do insulto ou da injúria, nenhum senso de injustiça, e por isso nenhum senso de justiça também. Nós já estamos nos campos de escravos da mente. Sem uma imaginação alentada não pode haver compreensão dos itens em discussão e nenhuma base para um julgamento ético ou decisão política. Por que razão os artistas estão sempre envolvidos em protestos sociais e são tão protetores dos direitos humanos? Por que sua presença é tão ameaçadora para os estados totalitários? A razão deve estar em sua dedicação a uma imaginação treinada no silêncio: Tendo exercido a primeira liberdade, o direito de permanecer em silêncio, eles estão ligados nos outros direitos básicos.
Então, vemos que os direitos devem ser colocados em prática. Assim como as virtudes espirituais, elas existem em actu e não em potentia. Isto é, a não ser que nos manifestemos livremente, lemos, votemos, e nos reunimos, essas virtudes são mera abstrações escritas na lei mas não realizadas na vida. O silêncio também, não é passivamente quieto, mas precisa ser praticado tanto na solidão ou como um momento de eco interno em meio a coisas. A sala dos conselheiros é um lugar para essas práticas, e a terapia é tanto uma educação no silêncio quanto o é na fala.
Os choques éticos que agora devastam nossas instituições necessitam ser vistos à luz do nosso tópico. O ponto chave não é simplesmente o que as regras obtêm; como definir um conflito de interesses numa transação do comprimento de um braço; como diferenciar uma brecha na lei de uma quebra da lei; um presente de um suborno; o que precisamente se constitui em plágio, adultério, eutanásia ou a verdade nas etiquetas de embalagens. Uma precisão técnica de ética apenas repete o mesmo tipo de pensamento do qual vêm a doença, e os remédios não podem ser preparados num curso rápido de ética num seminário de fim de semana. A sensibilidade ética não existe separada da imaginação moral. Porque, antes de tudo, nós devemos ter aquele sentimento de que alguma coisa está faltando, duvidoso ou comprometedor. Nós devemos estar aptos a imaginar erradamente e o que isto pode causar à alma.
A imaginação moral é acordada e treinada pelos confrontos com os grandes dilemas morais de Abraão e Pedro e as tragédias gregas, de Hamlet e Macbeth, de Ana Karenina e Madame Bovary. Romances por Hawthorne, Dostoievsky, Faulkner, Orwell e Roth ultrapassam de longe a instrução ética advinda de casos clínicos e precedentes legais. porque o estudo das grandes vidas e da literatura abrem o coração da imaginação para a perplexidade moral, preferivelmente a suprir regras, convenções e respostas. Se nós não podemos imaginar honra, dignidade, sacrifício, compaixão, coragem, lealdade, assim como feiúra da alma e os pecados da avareza, como poderemos tomar uma decisão ética ou até mesmo reconhecer de que há uma para ser tomada? Além disso, existe a moralidade do ofício, a imaginação moral das mãos, dos ouvidos e olhos. As artes ensinam a fazê-lo corretamente, fazê-lo bem, um trabalho honesto que é verdadeiro a reivindicação do trabalho.
Se esse é o caso, então a nova resposta para a velha pergunta sobre o relacionamento entre as artes e os estudo social seria assim. As artes não são um suplemento; as artes são mais adequadamente o lugar onde o silêncio é fomentado pela leitura, escrita, moldagem de um vaso, treino de clarinete ou relaxando no bar. Essas atividades em silêncio, por desafiar a anestesia coletiva, ativam a pessoa imaginária no coração de toda a vida social e política. Atividades artísticas são mais do que convenientes por si próprias, porque elas trituram o resto do currículo num agente verdadeiramente humano.
Essa conclusão conduz diretamente a dislexia e ao analfabetismo. Por que razão nós, como nação, nos tornamos mais e mais analfabetos? Nós culpamos a televisão e o computador, mas eles não são as causas. Elas são os resultados de uma condição anterior que as convidou a entrar. Elas chegaram para preencher um espaço. Quando a habilidade de imaginação diminui, outras formas de comunicação aparecem. Essas formas trabalham apesar delas também serem estruturalmente disléxicas: simultaneidade de bits, justaposições estranhas, mensagens que não se movem linearmente da esquerda para a direita. No entanto a televisão e o computador pessoal comunicam.
Evidentemente, a leitura não depende unicamente na ordenação de letras em palavras. De fato, os poetas usam estruturas disléxicas deliberadamente. A leitura depende da capacidade da psiquê de entrar na imaginação. Ler é mais ou menos como sonhar, o que também, é válido para o silêncio. Nossa falta de instrução reflete nosso processo educativo que se afastou do terreno silencioso da leitura; salas de estudo silenciosas e períodos de quietude, deveres de casa solitários, aprender decorando, ouvindo por uma aula inteira sem interrupções, escrever um ensaio para o exame à mão, desenhar a partir da natureza ao invés de experiências de laboratório. Este longo negligenciar de condições imaginativas que nutrem a leitura — Sputnik e a nova matemática; problemas sociais e parentescos sociais; motivação auto-centrada; a confusão da informação com o conhecimento, da opinião com o julgamento, e brincadeiras de “quem sabe mais trivialidades” com suas fontes; comunicações como mensagens por ligações telefônicas e secretárias eletrônicas no lugar de uma carta escrita em silêncio; aprendendo a falar sem antes aprender algo para dizer; múltipla escolha e seus resultados como teste de compreensão — produziram o analfabetismo.
A pessoa humana assim como um banco de dados não precisa ler mais do que funcionalmente. Um banco de dados decidindo sim ou não baseado em realimentação (i.é, reforço) não precisa imaginar além de obter, armazenar e gastar. Apenas consiga as instruções corretas; não se preocupe com o conteúdo. Aprenda o “como” no lugar do “que” com suas qualidades, valores e sutilezas. Então o agente humano transforma-se num cartão de crédito materializado desempenhando os rituais religiosos do consumismo. Você precisa apenas ser capaz de assinar seu nome num espaço marcado “X”, como um imigrante, como um escravo, ou um...
Ou um psicopata. Descrições da psicopatia, ou personalidades sociopáticas, falam de sua inabilidade em imaginar os outros. Psicopatas são bem capazes de avaliar situações e seduzir pessoas. Eles percebem, avaliam e relacionam, fazendo uso de cada oportunidade. Daí seu sucesso na manipulação dos outros. Mas o psicopata é bem menos capaz de imaginar os outros além de uma fantasia de utilidade, o outro como uma verdadeira interiorização com suas próprias necessidades, intenções e sentimentos. Uma educação que de qualquer forma negligencia a imaginação é uma educação para a psicopatia. É uma educação que resulta numa sociedade sociopática de manipulações. Nós aprendemos como tratar com os outros e nos tornamos uma sociedade de mercadores.
Nem a mídia, drogas legais ou ilegais, a burocracia da educação, nem a ausência da autoridade moral dos pais devem ser culpadas pelo vácuo ético e a nossa estupefação. Esses bodes expiatórios usuais são os sintomas e, como tal, não são as causas mas a representação de sofrimentos anteriores invisíveis. De fato, os sintomas são tentativas fracassadas de uma cura. A virada para o crack e a cocaína, por exemplo, é parte em busca de imaginações mais altas para acordar os mortos. A burocracia da educação levantou-se para cobrir os grandes espaços na imaginação entre o desejo de aprender e o desejo de ensinar. A autoridade dos pais desvaneceu-se há muito tempo quando habilidades estéticas, e deste modo respostas sensíveis, eram consideradas inferiores às regras morais. A moralidade interpretada ao pé da letra em regras não é outra coisa a não ser um esqueleto mecânico seguindo os mandamentos, que não compreende a luta moral exigida por uma vida de imaginação.
Não, não é a mídia a quem devemos culpar. Se a mídia não pode relatar corretamente o estado do mundo ou as emoções da família ou a piedade da fé, a mídia entretanto relata a sua audiência. Aquele vidro da televisão na sala de estar reflete corretamente a psiquê que senta diante dele. A televisão é um espelho que nos mostra a nossas próprias faces.
Se devemos culpar, então vamos culpar a nós mesmos. Nós conselheiros somos supostamente a força corretiva. Será que nós damos aos nossos clientes o direito de permanecer em silêncio ou nós os bombardeamos com mais informações? Será que nós assumimos uma alma rica com um dote nativo dentro da passividade depressiva ou desordens do aprendizado recalcitrante? Será que nós encorajamos as fantasias e sonhos dos clientes com a nossa fala ou as cortamos para o tamanho reduzido de nossas escassas explicações? Será que nós reconhecemos a necessidade inerente da imaginação na pessoa humana como a garantia da liberdade da pessoa e a vitalidade de nosso sistema político? Nós nos comportamos autoritariamente e administrativamente, ou podemos nos comportar subversivamente, como fizeram Freud, Jung, Adler, Reich e Socrates e Jesus, também. Esses educadores terapêuticos são as figuras fundadoras da profissão da ajuda, postando-se subversivamente contra o estado da sociedade quando ela é antiética, sociopática e sem imaginação. Ou será que nós induzimos uma adaptação à essa sociedade enquanto “ajudamos” nossos clientes a enfrentar, ir embora e a se relacionar. Relacionar-se a que? Nós não pedimos a eles para adaptar-se a um mundo sem imaginação às custas do agente animal imaginativo e silencioso do qual depende a própria vida desse mundo?
CONCLUSÃO
Eu terminarei com um floreio final de retórica política. Conselheiros são os verdadeiros guerreiros da liberdade. Nós somos guerreiros da liberdade não somente em razão de nosso ultraje sobre a discriminação de raças e opressão ao sexo, sobre a exploração corporativa e a pobreza do consumismo, sobre mimar crianças e negligenciar crianças, corrupção das drogas, poluição empedernida, absurdidade do aborto, destruição dos livros-textos escolares, machismo militar, práticas burocráticas mesquinhas, fraude fundamentalista, hipocrisia da angariação de fundos, sem falar da surpreendente gama de tragédias de clientes que os conselheiros tem que encarar diariamente. Nós somos guerreiros da liberdade porque nós somos a guarda avançada da imaginação quando ela tenta invadir nossa civilização ao tocar seus cidadãos através dos sintomas de seus descontentes. E nós somos a guarda avançada porque nós, assim como os artistas, somos aqueles autorizados a encontrar-se com os sintomas por meios imaginários.
Nos foram dados as ferramentas da terapia pela arte, brincar na areia, drama, dança e a argila, e salas para conversação e silêncio. Além do mais, nós, diferentemente dos artistas, recebemos uma autoridade especial para usar essas ferramentas da imaginação com as vítimas da civilização, os sintomáticos privados de seus direitos que são os nossos clientes. Eu vou lembrá-los especialmente das crianças privadas de seus direitos que carregam tanto da imaginação desordenada de nossa civilização, muito convenientemente, muito racionalmente chamadas “desordens de ajustamento” e “desordens comportamentais”. Na Nicarágua, Afeganistão, Transvaal, Iraque e lugares mencionados pelos noticiários ou nem ainda percebidos por eles, crianças jazem em campos de batalha e morrem de fome. Nossas crianças definham na alma, vítimas de uma outra depauperação e outra fome: o sistemático anestesiamento da imaginação em nome do desenvolvimento e da realização. O empurrão para a frente, começando ainda mais cedo, manteve-as fora da sala da fantasia, privando-as desta grande dádiva com a qual cada criança é dotada: a maravilha do silêncio.
Através delas e do nosso trabalho com elas em “silêncio, exílio e astúcia” (Joyce, 1964, p.247), os pequenos princípios de um verdadeiro agente da imaginação pode subversivamente reentrar na comunidade e furtivamente infiltrar o corpo político. “Que a civilização possa não afundar,/sua grande batalha perdida/Aquiete o cachorro, amarre o pônei” pois, como William Butler Yeats escreveu (1952) no mesmo poema, “Como um inseto de longas pernas no córrego/ [a] mente se move no silêncio”.
Nota do Editor
Este artigo é baseado numa adaptação das idéias básicas de um discurso do autor no Simpósio sobre Artes Criativas e Direitos Humanos em Aconselhamentos, na Convenção AACD em Nova Orleans, em 24 de abril de 1987.
Bibliografia
Guggenbühl-Craig, A. (1971). Power in the helping professions. Dallas: Spring Publications.
Joyce, J. (1964). A portrait of the artist as a young man. New York: Viking Press.
McConeghey, H. (1981, Spring). Art education and archetypal psychology. Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Union Thought, pp. 127-135.
Robertson, S. (1982). Rosengarden and labyrinth: A study in art education. Dallas: Spring Publications.
Watkins, M. (1981, Spring). Six approaches to the image in art therapy. Spring: An Annual of Archetypal Psychology and Union Thought, pp. 107-125.
Yeats, W.B. (1952). Collected poems of W.B.Yeats (pp. 381-382.) London: Macmilla
fonte: Himma: Estudos em Psicologia Imaginal
Why I Don’t Use Labels to Define My Beliefs and Why You Shouldn’t Either
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by Another Hero
I have been thinking about this a lot lately, especially given the current political climate, the Black Lives vs Blue Lives Matter Movement, the rise of the “Alt Right” and their supposed counterpart “Antifa” the two party state of the U.S., (Arȩ ͜y͡ou ͘n̢òţic̀ing̴ ̨a̢ trend̕ ͘h͟e͠r̶e?) and the portrayal of all this on the media. These labels affect the news, our interactions with others, and our understanding of world events. We see the world through a filter of labels, and this filter causes great misunderstanding, conflict and violence.
Labels, by their very definition, limit the understanding of an ideology, a belief, a social movement, a political affiliation to one word or phrase.
Labels did not arise out of necessity. Labels were invented out of a desire to simplify or shorten communication. It is not necessary for us to have shorter conversations or abbreviate the scope of our beliefs, yet it has become common practice in our civilization to do so, almost impulsively, on such a wide scope that it has become truly difficult for an individual to be an individual anymore.
Part of this problem is due to the size of our population and the increasing frequency of our daily interactions with others. This creates a desire for us to speed up our conversations and limit the complexity of our discussion with others since we will be interacting with potentially hundreds of people in any given day. For example, when someone asks you, “how’s it going!” they don’t really expect you to respond with the intricate struggles and successes of your life, they expect a simple response because they really just mean “Hello.”
But then, why not just say hello?
It may seem obvious, why we shorten our beliefs, our ideologies, our desires, to words and phrases which are easily exchanged so we don’t have to spend hours on basic definitions every single time we ask a person “what do you believe?” For we could not possibly get to know every single person we come in contact with or learn the intricate details of their personal ideologies because we could spend an entire lifetime doing so and still not learn all their is to know about even the people in our immediate proximity.
But therein lies a problem: a problem which causes great conflict, violence, argument and allows for easy manipulation of our civilization by an outsider. By our very act of shortening our beliefs, ideologies, social movements, political affiliations to one word or phrase for what we believe is for the benefit of our audience, we at once eliminate all possibility of effective communication with whom we are having our conversation.
The act of saying “I am a _______” (this does not apply to your career) to someone who does not share that label is equivalent to saying “I am different than you.” It creates a wall, a barrier to friendship to brotherhood, to understanding one another. Sure it creates a quick explanation for brevity’s sake, but it also creates a parochial understanding of an otherwise extremely intricate personal ideology and belief system for which you can be misunderstood, and from which you perceive yourself as separate from others.
By subscribing to labels, especially ones regarding politics, religion and social movements, we are instantly creating an array of problems both in our own perspective and in the perspectives of others. It is bordering on an act of violence. To simplify what I mean here I am going to list only a few problems this labeling causes in our society:
We can not possibly agree with (or even be aware of) every single perspective presented by a particular religion, ideology, political group or social movement. Even if we believe we agree with every possible aspect, there will still be members of the same label who we disagree with. This is impossible to avoid.
We create a sense of separation with others which makes us less inclined to view them as “one of us” unless they agree to subscribe to the same label. Similarly we subject ourselves to being separated or excluded in others’ viewpoints.
This separation can create immediate conflict over disagreements in definition, mental biases and prejudices toward a label, and cause misunderstandings between people who share very similar ideologies but disagree over these labels.
It allows for manipulation of public opinion on large groups of people through fake news, propaganda, and the possibility for someone to commit a crime in the name of a label, and subject all other members of that label to the repercussions of the crime. (What better way to decrease the popularity of a social movement than by disguising oneself as a member of the movement and committing acts of violence?)
So what is the alternative? It is quite simple, really. The solution I am going to present has been spoken of by men and women far more wise than myself for countless centuries past. The solution is:
Silence.
When you do not have the time to explain the scope of your beliefs or at least the portions which are most relevant to the current conversation to others, or when they do not have the time (or patience) to listen, then silence is your key to creating no conflict, no misunderstanding, no separation.
When you do not have the time to hear the full perspective of an individual, or at least the portions of their perspective most relevant to the current conversation then silence is your key to creating no misunderstanding, no conflict, no separation.
For if we are to understand only in part, the massive scope of a person’s being for purposes of debate, discussion, or understanding, then what is the point? So we can argue over shallow misconceptions? So we can feel like we agree or disagree, only to find out in later conversation this was not the case? So we can share brotherhood only with those who share our labels, only to find out in future interactions they are not at all how we expected them to be, and exclude those who do not share our label, not realizing those individuals could have been our best friends and deepest connections with another person?
This is a tough solution to grasp the importance of. It is easier said than done. I understand this, even in my own life. Sometimes you don’t feel like explaining the entirety of what you believe just for a person’s benefit whom you may never even see again. But then again, I ask, what is the point of having a partial understanding? Truly, what is the point in dictating our laundry list of labels to others when they cannot possibly understand the details of what we mean? Are we to also describe how our personal beliefs differ from each label at the moment we speak it? That would look something like this:
“Well I’m a Democrat but I believe in a lot of republican viewpoints, and although I feel conservative on some political stances, I am also liberal in others. Religiously, I am an atheist, but I have problems with some of the explanations of science, and I have read a few religious texts which I believe have truth in them”
Though this is agreeably better than saying “I am a Conservative Democrat Atheist.” it still leaves much room for discussion. What points do you agree and disagree with? Why do you define yourself as atheist while still believing in religious texts? How can you call yourself a Democrat when you believe in _______ or _______? It instantly creates opposition, confusion and separation.
To truly be understood, to truly have intelligent, productive discussion and conversation we must eliminate this incessant impulse to shorten our beliefs. We must dictate what is relevant to the topic of discussion in it’s entirety. There is no point in having a conversation if no understanding, or a limited, prejudiced and biased understanding, is made.
In these times silence is the answer, the key to peace, the key to understanding.
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by Another Hero
I have been thinking about this a lot lately, especially given the current political climate, the Black Lives vs Blue Lives Matter Movement, the rise of the “Alt Right” and their supposed counterpart “Antifa” the two party state of the U.S., (Arȩ ͜y͡ou ͘n̢òţic̀ing̴ ̨a̢ trend̕ ͘h͟e͠r̶e?) and the portrayal of all this on the media. These labels affect the news, our interactions with others, and our understanding of world events. We see the world through a filter of labels, and this filter causes great misunderstanding, conflict and violence.
Labels, by their very definition, limit the understanding of an ideology, a belief, a social movement, a political affiliation to one word or phrase.
Labels did not arise out of necessity. Labels were invented out of a desire to simplify or shorten communication. It is not necessary for us to have shorter conversations or abbreviate the scope of our beliefs, yet it has become common practice in our civilization to do so, almost impulsively, on such a wide scope that it has become truly difficult for an individual to be an individual anymore.
Part of this problem is due to the size of our population and the increasing frequency of our daily interactions with others. This creates a desire for us to speed up our conversations and limit the complexity of our discussion with others since we will be interacting with potentially hundreds of people in any given day. For example, when someone asks you, “how’s it going!” they don’t really expect you to respond with the intricate struggles and successes of your life, they expect a simple response because they really just mean “Hello.”
But then, why not just say hello?
It may seem obvious, why we shorten our beliefs, our ideologies, our desires, to words and phrases which are easily exchanged so we don’t have to spend hours on basic definitions every single time we ask a person “what do you believe?” For we could not possibly get to know every single person we come in contact with or learn the intricate details of their personal ideologies because we could spend an entire lifetime doing so and still not learn all their is to know about even the people in our immediate proximity.
But therein lies a problem: a problem which causes great conflict, violence, argument and allows for easy manipulation of our civilization by an outsider. By our very act of shortening our beliefs, ideologies, social movements, political affiliations to one word or phrase for what we believe is for the benefit of our audience, we at once eliminate all possibility of effective communication with whom we are having our conversation.
The act of saying “I am a _______” (this does not apply to your career) to someone who does not share that label is equivalent to saying “I am different than you.” It creates a wall, a barrier to friendship to brotherhood, to understanding one another. Sure it creates a quick explanation for brevity’s sake, but it also creates a parochial understanding of an otherwise extremely intricate personal ideology and belief system for which you can be misunderstood, and from which you perceive yourself as separate from others.
By subscribing to labels, especially ones regarding politics, religion and social movements, we are instantly creating an array of problems both in our own perspective and in the perspectives of others. It is bordering on an act of violence. To simplify what I mean here I am going to list only a few problems this labeling causes in our society:
We can not possibly agree with (or even be aware of) every single perspective presented by a particular religion, ideology, political group or social movement. Even if we believe we agree with every possible aspect, there will still be members of the same label who we disagree with. This is impossible to avoid.
We create a sense of separation with others which makes us less inclined to view them as “one of us” unless they agree to subscribe to the same label. Similarly we subject ourselves to being separated or excluded in others’ viewpoints.
This separation can create immediate conflict over disagreements in definition, mental biases and prejudices toward a label, and cause misunderstandings between people who share very similar ideologies but disagree over these labels.
It allows for manipulation of public opinion on large groups of people through fake news, propaganda, and the possibility for someone to commit a crime in the name of a label, and subject all other members of that label to the repercussions of the crime. (What better way to decrease the popularity of a social movement than by disguising oneself as a member of the movement and committing acts of violence?)
So what is the alternative? It is quite simple, really. The solution I am going to present has been spoken of by men and women far more wise than myself for countless centuries past. The solution is:
Silence.
When you do not have the time to explain the scope of your beliefs or at least the portions which are most relevant to the current conversation to others, or when they do not have the time (or patience) to listen, then silence is your key to creating no conflict, no misunderstanding, no separation.
When you do not have the time to hear the full perspective of an individual, or at least the portions of their perspective most relevant to the current conversation then silence is your key to creating no misunderstanding, no conflict, no separation.
For if we are to understand only in part, the massive scope of a person’s being for purposes of debate, discussion, or understanding, then what is the point? So we can argue over shallow misconceptions? So we can feel like we agree or disagree, only to find out in later conversation this was not the case? So we can share brotherhood only with those who share our labels, only to find out in future interactions they are not at all how we expected them to be, and exclude those who do not share our label, not realizing those individuals could have been our best friends and deepest connections with another person?
This is a tough solution to grasp the importance of. It is easier said than done. I understand this, even in my own life. Sometimes you don’t feel like explaining the entirety of what you believe just for a person’s benefit whom you may never even see again. But then again, I ask, what is the point of having a partial understanding? Truly, what is the point in dictating our laundry list of labels to others when they cannot possibly understand the details of what we mean? Are we to also describe how our personal beliefs differ from each label at the moment we speak it? That would look something like this:
“Well I’m a Democrat but I believe in a lot of republican viewpoints, and although I feel conservative on some political stances, I am also liberal in others. Religiously, I am an atheist, but I have problems with some of the explanations of science, and I have read a few religious texts which I believe have truth in them”
Though this is agreeably better than saying “I am a Conservative Democrat Atheist.” it still leaves much room for discussion. What points do you agree and disagree with? Why do you define yourself as atheist while still believing in religious texts? How can you call yourself a Democrat when you believe in _______ or _______? It instantly creates opposition, confusion and separation.
To truly be understood, to truly have intelligent, productive discussion and conversation we must eliminate this incessant impulse to shorten our beliefs. We must dictate what is relevant to the topic of discussion in it’s entirety. There is no point in having a conversation if no understanding, or a limited, prejudiced and biased understanding, is made.
In these times silence is the answer, the key to peace, the key to understanding.
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